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CONTINUE VOANDO

Para muitos Neymar alçou seu grande vôo. A expectativa acerca de sua transferência para o futebol europeu sempre foi a pauta principal de sua tão jovem, mas já vivida carreira. Mais até do que suas atuações de gala, do resgate do futebol arte em um cenário de valores invertidos como tem sido o futebol brasileiro dos últimos anos. Muitos preferiram viver do oba-oba de sua decantada transferência. O Barcelona sempre foi o favorito a levar o craque, mais ainda pela exaustiva comparação com Messi, que os bons de boca adotaram e adoraram sem se dar conta que aquilo não era boa coisa para o garoto.

Meu título para essa coluna de despedida do camisa 11 santista era “Pobre Menino Rico”. Até por achar já ter visto algo parecido por aí, resolvi mudar. Mas mais que isso, Neymar está longe de se um pobre menino. E nem falo do sentido literal, mas sim do sentido de construção de sua carreira, de seu perfil de estrela da bola.

Ele sabe exatamente onde está e o que deve fazer. Ele é um craque modelo, não um modelo de craque. Foi moldado para ganhar o mundo, coisa que ele já vem fazendo.

Ontem ao término de seu jogo de despedida, uma reporter perguntou se ele já havia se dado conta que estava indo para um dos maiores clubes do mundo. Na hora pensei: “Ele dará a resposta certa”. Não deu. A certa seria dizer que ele já joga por um dos grandes clubes do mundo, não mais por um dos grandes times, dado a tristeza técnica e tática desse atual Santos. Sua resposta foi talvez protocolar, guiada, mas carregada da sabedoria de quem sabe sim o que está acontecendo.

Neymar fez pelo Santos tudo o que podia e tudo pelo qual o Santos lhe deu de oportunidade. No bom time de 2010/11, fez chover. Com companhias qualificadas, foi o maestro, o artista que conduziu o Peixe ao título maior, o da Libertadores. Dentro do cenário sulamericano não tem mais nada para Neymar fazer acontecer.

Seu choro durante o hino nacional deve ter sido o da sensação de dever cumprido, de poder olhar para o torcedor que sempre o apoiou e o adotou com o ídolo dos novos tempos e saber que dele só se tem a certeza do referencial positivo de sua carreira, de sua brilhante passagem pelo Santos.

Não mais tocando com pés descalibrados de André, mas tabelando com a mestria dos pés qualificados de Lionel Messi. Essa é a nova realidade do potencialmente candidato a melhor do mundo.

Que ele venha a ser um dia, num próximo dia. E que continue a ser, mais do que o melhor do mundo, o Neymar do drible curto, da velocidade em direção ao gol, da volupia ofensiva que agora fica orfã no ex país do futebol.

Bons vôos, rapaz!

Neymar(1)

HORA DE RECOMEÇAR

O vice campeonato parece ter escancarado a situação complexa que o Santos vive há um bom tempo. A falta de um planejamento pesou nos fracassos recentes e um recomeço tem se mostrado cada vez mais necessário.

Assim como na Libertadores do ano passado, o Corinthians impediu um “tetra” da equipe da baixada e com o título conquistado na Vila conseguiu amenizar a decepção na luta pelo Bi do Continente.

Novamente o Santos ficou por “uma bola”, um tento não marcado, um detalhe…

Todavia, talvez esse pequeno detalhe, esse gol que não saiu na Libertadores e agora na Final do Paulistão não evidencie, de fato, a real diferença entre os dois times.

Diferenças estas, que não estão relacionadas apenas à qualidade de seus respectivos jogadores, mas também ao planejamento que um conseguiu implantar de forma eficiente e o outro não.

A comparação fica mais clara quando nos remetemos ao ínicio do trabalho de cada comandante dos dois clubes.

Tite chegou a um Corinthians turbulento, em meio a um centenário sem conquistas e com muitas incógnitas. Para piorar foi eliminado precocemente pelo Tolima na Libertadores de 2011 e mesmo com a pressão da torcida foi bancado pela diretoria.

Com tempo para trabalhar, o treinador montou uma equipe mesclada com jogadores até então desconhecidos (Leandro Castán, Paulinho, Ralf) e alguns chamados “refugos” (Alessandro e Fábio Santos).

A partir daí, mantendo a base ao longo dos anos e contratando pontualmente, o Corinthians conquistou tudo que podia e encontrou uma forma de jogar, se não a mais brilhante e vistosa, certamente a mais eficiente e competitiva.

Já o técnico Muricy chegou ao Santos em um cenário igualmente turbulento, porém em um time já montado e candidato a títulos na temporada 2011. Além disso contava com um fator diferencial, o talento de Neymar.

A conquista do Paulista e da Libertadores vieram, no único semestre de estabilidade do técnico e do time desde a sua chegada. A partir do 2° semestre, o treinador não encontrou mais uma forma de jogar e a equipe “capengou” de lá, até a temporada atual.

A derrota vexatória para o Barcelona, as pífias campanhas nos Brasileiros de 2011 e 2012 e a eliminação para o Corinthians na Libertadores ofuscaram o tri campeonato Paulista e o título da Recopa, evidenciando uma equipe irregular e dependente do talento de Neymar.

Quando o craque não estava em campo, o treinador não conseguia armar a equipe, não existia um padrão tático e a única saída era “joga bola nele, que ele resolve”. Com o calendário ruim do futebol brasileiro e consequentemente com as constantes ausências de Neymar, o Santos não foi o mesmo, oscilou e está colhendo os frutos de um péssimo planejamento.

O sonho do Tetra, não passou de um sonho e talvez analisando friamente a situação, a equipe até que chegou longe demais, tamanha a dificuldade que teve para eliminar o “fraco” Palmeiras e o inexpressivo Mogi, apesar do bom campeonato feito pela equipe do interior. Somado a tudo isso a instável primeira fase e um time sem brio ao longo de toda a temporada.

O fracasso em algumas contratações agravou a situação e porque não dizer o fracasso de Muricy também, que com o mesmo tempo de Tite, não conseguiu dar vida a esse Santos, não encontrando a forma ideal de jogar após a Libertadores/11 e sejamos justos, sofrendo com a falta de planejamento da diretoria.

Chegou a hora de repensar o que foi feito, de aprender com os erros e não se iludir com as glórias recentes. O contexto da coisa até mostra que o Santos foi bem nesse período, se não apresentou sempre um futebol brilhante, ao menos esteve brigando por títulos quase em todos os campeonatos.

Entretanto, uma análise mais profunda escancara as deficiências do clube e indica que as coisas não aconteceram da forma como deveriam.

Uma série de erros e circunstâncias colocaram o Santos, hoje, em um universo sem muitas perspectivas.

Não há uma estrutura para encarar a saída de Neymar, não existe uma forma de jogar e nem uma base formada. O elenco é limitado e não há dinheiro em caixa para mudar a situação.

Essa é a realidade de um clube que se mostrou tão eficiente e vitorioso nas últimas temporadas, mas que no momento vê um ciclo chegar ao fim, de certa forma, até melancólica. É hora de recomeçar!

PRA GARANTIR O SEMESTRE!

Se o Santos teve um Neymar incendiário (embora com poder de fogo limitado), o Corinthians, para ser o campeão paulista de 2013, foi bombeiro, no sentido de que foi explorando estas investidas ofensivas do Santos, quase todas surgidas dos pés do jovem craque, que o Timão fez o resultado. Na cobrança de falta de Neymar, a ajeitada de Durval para Cícero mandar, com voleio, a bola para as redes. Mas a reação foi imediata: Danilo, que havia acabado de voltar para o campo, após receber uma faixa na cabeça por conta de um corte na testa, completou a jogada do gol após rebote de Rafael e definiu o jogo.

A partir daí, teve bola no travessão, com Paulinho e Danilo (os dois melhores jogadores do Corinthians), muitos erros de todos os lados (Romarinho e Edenílson, os dois mais recentes cobiçados pelo futebol internacional, segundo boatos, erraram lances que poderiam resultar em gol do título). Teve (e não teve) Alexandre Pato. Que durante a semana reclamou ‘de leve’, reivindicando um lugar no time titular. E não fez por merecer, perdendo mais um gol, como perdeu contra o Boca na quarta-feira. O Santos ainda lutava pelo gol que levaria a disputa para os pênaltis. Mas não lutava com tanta força. O time parecia entregue ao final, e ficou fácil para o Timão garantir o título.

Dito isso, o Corinthians leva um título que, se não ameniza a eliminação da Libertadores daquela forma tão estranha, ao menos faz justiça a um time que ainda tem aquele espírito de vencedor. Foi o destaque de um campeonato fraquíssimo, é verdade, mas lembremos de que o início foi com o Timão usando o time reserva, então o fato de ter conquistado o campeonato indica que Tite soube usar a medida certa na dosagem de seu elenco.

Outras considerações:

– Alexandre Pato ainda não está em condições de atuar em um jogo completo. Tem seus lampejos, mas lhe falta ainda o tempo de bola. Pela expectativa que se tinha dele, chegou longe. É peça importante no elenco, mas ainda não é o principal jogador. Falta muito para ser, aliás.

– Seria interessante que o Corinthians conseguisse segurar Edenílson na equipe, tanto pela iminente saída de Paulinho quanto na possibilidade de ser o substituto natural para Alessandro no time titular.

– Já Romarinho não faria falta se houver mesmo proposta por ele. Bom jogador, mas ainda não pode ser titular, como vem sendo. Rende mais quando entra no segundo tempo.

– Jorge Henrique não volta mesmo a atuar pelo Corinthians. Um abraço e muito obrigado pelos serviços prestados. Foi excelente enquanto durou.

– Julio César também não fica mais. Boa sorte a ele.

– Maldonado terá que justificar sua contratação jogando muito. Não boto fé.

– Ibson: não, obrigado.

– Com Paulinho a situação é outra: está se tornando inevitável sua saída. O melhor volante do Brasil provavelmente fez sua última partida pelo Timão. Fará muita falta, se concretizada sua venda.

– Gil foi o jogador com mais destaque no time do Corinthians. Chegou e garantiu seu lugar. Surpresa total.

– Desde que comecei a escrever para o Ferozes FC, o Corinthians ganhou Brasileirão, Libertadores, Mundial e Paulistão. Colunista pé-quente! Hahaha!

Um abraço.

Danilo e Paulinho, os motores da equipe corintiana.
Danilo e Paulinho, os motores da equipe corintiana.

SOBREVIDA

“Massacre”, “Aula”, “Domínio”. Todas essas palavras cabem para definir o que foi, pelo menos, o primeiro tempo da decisão no Pacaembu. De um lado, o atual campeão do Mundo atuando como nunca havia feito em 2013, do outro, o Santos, atuando como sempre na mesma temporada.

De fato, o primeiro embate da final do Paulistão, sem dúvidas, foi o melhor clássico do campeonato. Se bem que pelo nível de toda a competição não seria tão complexo assim alcançar tal “proeza”.

De qualquer maneira, é muito bom ver um estádio paulista completamente lotado e com esse clima ímpar de decisão.

Em relação à partida propriamente dita é pertinente dividi-la em duas partes, não necessariamente na divisão lógica de dois tempos de 45 minutos, mas sim em 60 minutos de amplo domínio corintiano e mais 30 de equilíbrio com ligeira vantagem para o Santos.

Não é de hoje que o técnico Muricy Ramalho se mostra um tanto quanto confuso na hora de escalar a equipe quando a mesma está desfalcada. A ausência de Montillo previa a entrada de um meia, no caso, Felipe Anderson.

Entretanto, a formação com 4 volantes e a presença de um Marcos Assunção completamente sem ritmo foi um equívoco tão grave que quase custou o título.

A escalação pouco audaciosa de Muricy permitiu ao adversário o domínio completo das ações. Só nos primeiros 20 minutos, o Corinthians já tinha cobrado quase 10 escanteios e assustado o gol de Rafael pelo menos 3 ou 4 vezes.

É nesses casos que muitas vezes falta coragem para a maioria dos técnicos brasileiros. Parece que mudar o time logo no primeiro tempo é algo proibido e irracional e talvez a justificativa para esse jogo tenha sido pautada no fator “sorte”, pois mesmo com um volume de jogo tremendo, o Corinthians só chegou ao seu merecido gol aos 41 do 1° tempo.

O fato é que Muricy só mexeu na equipe na 2° etapa, promovendo as entradas de Felipe Anderson e André, nenhuma estupenda mudança de qualidade, mas apenas a consequente alteração tática da equipe foi o suficiente para o Santos equilibrar a partida. O Corinthians continuava perdendo gols, mas o Santos ao menos respondia, não era mais aquele lutador que estava nas cordas praticamente nocauteado.

Contudo, justamente no melhor momento do time veio  o castigo, o 2° gol do Corinthians, o provável “gol do título”.

O que foi o jogo estava ali, escancarado e traduzido em números, a vantagem ampla devidamente construída e a frustração com a atuação santista era imensa. Porém, o futebol sempre tão apaixonante e imprevisível nos reservou mais uma das suas peripécias e aos 38 minutos do 2° tempo, Durval, ele mesmo, diminuiu com um gol de cabeça.

Certamente foi uma das mais “comemoradas” derrotas do Santos nos últimos tempos. Saber como lidar positivamente com isso é que será o grande desafio da equipe até o jogo final.

O “chato” Campeonato Paulista, ao menos, será realmente decidido na última partida e talvez no último suspiro de um Santos que parece passar pelo fim de um ciclo.

UMA AULA DE FUTEBOL COM PAUL BREITNER

Dono de uma personalidade irreverente comparada a sua época, Paul Breitner entrou para a história do futebol mundial. Dentro de campo, um grande lateral-esquerdo. Fora dele, um verdadeiro líder.

Apelidado de “Afro” devido a vasta cabeleira estilo Black Power, Breitner fez história com a camisa da seleção alemã e, também, do Bayern de Munique. No esquadrão germânico, foi peça fundamental na equipe que conquistou a Eurocopa de 72 e Mundial de 74, batendo a famosa Holanda na final (Breitner, inclusive, deixou sua marca).

Com o manto vermelho dos bávaros, foi campeão alemão cinco vezes e uma vez da Champions Legue – na época, ainda chamada de “Copa dos Campeões da Europa”.

Defendeu também o Real Madrid.

Polêmico, causou impacto na imprensa ao declarar-se socialista e leitor de “Mao Tsé Tung”, um político, teórico, líder comunista e revolucionário chinês.

Com a mesma contundência dos tempos de jogador, Breitner, em entrevista concedida ao programa da Espn Brasil, Bola da Vez, teceu críticas – a maioria construtivas – aos assuntos mais trepidantes e delicados do planeta bola.

Sem menosprezar e agir com desdém, embora o Coordenador Técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira, tenha se mostrado incomodado com as críticas do ex-jogador ao atual cenário do futebol brasileiro, o ex-lateral mostrou que entende muito de gestão esportiva, além de conhecer cada detalhe sobre os bastidores do Esporte Rei.

Sobrou até para Neymar – principal nome do futebol verde-amarelo. Paul Breitner é mais um dáqueles que reforçam o argumento de que a joia santista deve deixar o Brasil rumo ao Velho Continente.

Além disso, Breitner diz que o futebol brasileiro parou no tempo, pois “até hoje colhe os louros de 2002“. Com uma Liga Nacional fraca em termos técnicos comparados à Europa, o melhor caminho para Neymar provar que tem bola é jogar com os melhores.

Ainda sobre o futebol brasileiro, diz que devemos seguir os passos do que fez o futebol alemão. Que buscou nas categorias de base e na reestruturação dos clubes nacionais a solução para reconquistar o espaço que lhe convém entre as grandes seleções.

Com autonomia, fala ainda sobre seus principais projetos à frente do candidato a se tornar logo menos a grande potência do futebol mundial: o Bayern de Munique. Este, que segundo ele, sob a batuta de Pep Guardiola, se tornará o novo Barcelona.

Em visita ao Brasil para observar novos talentos que disputam um campeonato patrocinado pela Allianz Arena, Breitner impõe sua visão de forma clara e objetiva sobre temas que pouco são discutidos. Ou melhor: que são simplesmente ignorados pelos que comandam nosso futebol.

Ao certo, a visão de Breitner vai muito além das quatro linhas. Para ele, o futebol hoje em dia se transformou em um grande e valioso negócio. Capaz de movimentar quantias exorbitantes, como os 1 bilhão de reais arrecadados pelo Bayern nos últimos anos. Inclusive, o time alemão é o único clube “saudável” da Europa segundo ele, pois sobrevive de suas próprias economias. Ao contrário, por exemplo, de alguns clubes da Premier League, outro alvo do afiado e competente gestor.

Poderia ficar aqui por horas descrevendo detalhe a detalhe esta espetacular entrevista e todos os méritos do entrevistado, porém espero que vocês assistam e tirem suas próprias conclusões.

Vale a pena enriquecer-se com os ensinamentos do grande Paul Breitner.

PS: O fato a lamentar é que, provavelmente, a maioria de nossos incompetentes cartolas não devem ter visto este programa! 

 

Paul Breitner durante participação na Soccerex, no Rio (Foto: O Globo)
Paul Breitner durante participação na Soccerex, no Rio (Foto: O Globo)

Confira aqui a entrevista do alemão ao Bola da Vez, da Espn Brasil

Vídeo: