Por: João Paulo Tozo
Eu sou palmeirense e chato. Assim mesmo, nessa ordem ai. Palmeirense chato é pleonasmo, mas se somados os “adjetivos” chegamos a uma definição bem justa do que eu sou. Palmeirense e chato, um palmeirense chato.
Na página 333 do sagrado livro “Palmeiras, 100 Anos de Academia”, o livro oficial do centenário alviverde, em minha raquítica contribuição à obra, o título que escolhi para ficar na eternidade foi “O Palmeiras é o Meu Estilo de Vida”. E creio que isso defina tudo. Inclusive não gostar de piada besta depois que meu time perdeu um clássico.
Outra coisa que eu gosto bastante também são os êxitos dos justos, a sobreposição do fraco ao mais forte, dos desenganados que ludibriam sistemas e imposições, dos descartados que superam adversidades, da volta por cima. Sou chegado numa superação, entende? Acredito e defenderei o seu e o meu direito em sonhar.
E toda essa volta é só para dizer que hoje o dia está uma merda, desde o infeliz pênalti do Bruno Henrique no Guilherme Arana que tudo está uma grande merda. As invencionices do Cuca, as alterações equivocadas do Cuca, o sujeito com a calça roxa do Cuca ao meu lado na arquibancada, o Mina armando o time, o Mina jogando de centroavante, o Dudu não sabendo para que lado correr, o Tchê Tchê, o Borja, o Egídio, os 0X2 para o Corinthians. Uma vastidão de merdas muitíssimo bem aproveitadas pelo improvável Corinthians.
Um clube que não serve de exemplo para quase absolutamente nada atualmente. Gestão equivocada, a pior aquisição de estádio possível, dívidas aos borbotões, tentativas de impeachment recentes, enfim, o mais improvável líder invicto de um BR que não se poderia imaginar.
Liderado por um técnico sem grife, que fora preterido por profissionais com mais cartaz, mas com muito menos entendimento que o responsável pela formatação do excelente sistema defensivo das eras Tite e Mano. Da improvável excelência do desenganado e anacronicamente letal Jô. Do protagonismo low profile de Jadson, aquele mesmo que “sem o Renato Augusto não joga nada”. De Romero, a eterna “piada” dos programas esportivos do almoço, que não consegue fazer uma embaixadinha, mas parece ir contra tudo o que se sabe (ou se imaginou saber) sobre futebol. Esse time do Corinthians é tão improvável, que mesmo em meio a um punhado de exemplos do que podemos chamar de superação, teve condição de fazer surgir o melhor lateral esquerdo do futebol BR.
O Corinthians não é coitadinho. Está, aliás, na contramão disso. Continua sendo o clube da RGT, o preferido “dessa imprensa de gambá, FDP” e dos erros administrativos que podem ainda lhe ser cruciais no médio/ longo prazo.
Só que nada disso parece abalar o inabalável time de Fábio Carile. Enquanto tudo parece fragilizar o até outro dia favorito a ganhar tudo.
A sinceridade de Cuca em assumir que não consegue dar padrão ao seu trilhardário Palmeiras nas coletivas é louvável. Assumir a culpa por terminar o clássico com Mina de centroavante também. Dizer que pode repetir a dose se necessário, não. É inadmissível depois de tanto estardalhaço, tanta expectativa criada, que o atual campeão brasileiro use como “carta na manga” o melhor zagueiro das Américas na função de homem gol.
Tem que se virar, parar de inventar rodas quadradas e, diante de tantos cenários adversos, usar cada um na sua. Zagueiro é zagueiro, lateral é lateral. Por melhores valores que se tenha, o nível do futebol BR é hoje muito parelho para se garantir nas individualidades. Um time organizado e taticamente responsável tem tudo para prevalecer diante de outros que (não) se bancam em elenco farto.