ANATOMIA DE UMA SEQUÊNCIA NULA

Houve um tempo em que podíamos bater no peito e dizer ‘O Corinthians tem elenco!’. Mesmo limitado em algumas posições (como continua sendo), dava para dizer que quem entrava no time ao longo do jogo, conseguia manter o nível de quem saía. E assim, fomos campeões de tudo que almejávamos em 2012. E ainda sobrou um pouquinho disso para 2013. Esse ‘restinho’ de ânimo serviu para que muitos torcedores dessem um voto de confiança a um time que ficou estranho depois da conquista do Mundial. Estranheza esta que perdura ainda, em jogos que, se não perdemos, não conseguimos sair do marasmo do zero a zero. E tem sido assim há algum tempo. Foi assim contra os Atléticos, mineiro e paranaense, foi assim contra o São Paulo. Provavelmente será mais vezes ao longo do ano que não termina pra gente ver se dá pra começar do zero. Mas não do zero a zero.

Hoje dá pra dizer que o cenário se inverteu. Ou melhor: de certa forma é o mesmo. Quem entra, mantém o nível de quem saiu. Só que o nível é baixo. E não é desculpa dizer que o nível de todo o campeonato é baixo. É bem verdade que a briga está mais lá na beira do abismo do que no topo da montanha, onde o Cruzeiro parece ainda seguir fora de perigo, embora tenha tido alguns resultados ruins. Mas o Corinthians, pelo passado recente de vitórias, carecia de mais vontade.

Mais vontade, não má vontade, que é o que parece haver. Por parte de alguns jogadores a quem já elogiamos muito. A quem elegemos heróis em alguns momentos históricos. Contra rivais clássicos, em decisões inéditas. Em resultados inéditos. Em campeonatos inéditos. Gente que já fez gols incríveis, impossíveis. E hoje erra o chute na cara do gol. Perde a chance de passar a bola para um companheiro em melhor posição. É tudo muito estranho.

Tite lançou mão de um time mais próximo do tradicional. Edenilson no meio de campo, ao lado de Danilo. E talvez na vertigem das alternâncias entre o meio e a lateral, desta vez Edenilson não foi nada. Nem um nem o outro. Diego Macedo, estreante, lateral de ofício, entrou no lugar de Danilo como meia. Deu bons passes. Foi pivô de um suposto pênalti. Que Rogério Ceni, em momento ruim de uma carreira que caminha para o final, bateu convicto. Mas que Cássio afastou. Cássio, melhor jogador em campo, o que é sintomático em um time que não faz gols. Paulo André, o zagueiro intelectual, também fez partida perfeita. Afastou todo o perigo e ainda tentou fazer o que os atacantes não fizeram. Fez muito, mas a bola, caprichosa, preferiu não estufar a rede. E nisso Rogério Ceni teve sua pequena parcela de herói.

Não há o que se comemorar: nem a frustração de Rogério por ter à frente um Cássio em dia de salvador da pátria, nem a sequência de não-derrotas para o São Paulo no Morumbi. Estamos quase tão mal quanto o rival. Eles um pouco mais na corda bamba, nós um pouco mais organizadamente caminhando rente ao precipício, como dizia uma certa canção.

Vamos seguindo rumo ao fim do ciclo. A luta aqui é para estar acima da linha que nos separa da degola. Houve um tempo quem que se dizia que ‘quem não faz, toma’. O Corinthians mudou esta máxima: não toma, mas também não faz.

A imagem principal do jogo foi esta. Cássio poderia receber o bicho todo do jogo contra o São Paulo.
A imagem principal do jogo foi esta. Cássio poderia receber o bicho todo do jogo contra o São Paulo. Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians

 

 

PORTUGUESA 3X0 SANTOS – RECUPERAÇÃO LUSITANA EM GRANDE ESTILO

Após levar 4 gols do líder Cruzeiro em trinta minutos de jogo, a Lusa se recuperou em grande estilo no BR13 ao vencer, com autoridade, o Santos, em casa, pelo placar de 3 a 0. Embora tenha sofrido a derrota acachapante para a Raposa no meio de semana, a equipe de Guto Ferreira, ainda assim, é a segunda mais regular do segundo turno do certame – com cinco vitórias e apenas duas derrotas. Foram 15 pontos ganhos dos 21 disputados.

O triunfo diante do Peixe, além de marcar a retomada da confiança do elenco, decidiu também a melhor campanha entre os times da capital. Em um ‘pequeno paulistão’, a Lusa lidera, com 4 vitórias, 1 empate, 1 derrota. 12 gols a favor , 6 contra – 13 pontos. Entre esses resultados, estão os 4 a 0 sobre o Corinthians e a vitória contra o alvinegro praiano.

Com 100% de aproveitamento em seus domínios, a sexta vitória seguida no Canindé, além subir a equipe para a décima colocação na tabela, fez a Rubro-Verde alcançar números que podem credencia-la a ser o melhor representante paulista na competição, superando, por exemplo, a bela campanha de 96, quando se sagrou vice-campeã, sendo derrotada pelo Grêmio, no Estádio Olímpico, com um gol de Aírton nos minutos finais.

Colada nos rivais, a possibilidade de terminar à frente de Corinthians e Santos, anima a torcida. A diferença para o Botafogo, atualmente 4°colocado, com 43 pontos, é de apenas 9. Se manter a pegada, quem sabe ano que vem não poderemos ter a Lusa na Libertadores.

Fato é que o objetivo – fugir do rebaixamento -, foi alcançado. Matematicamente ainda é possível, mas o futebol apresentado dentro das quatro linhas não me fazem acreditar que isso voltará a acontecer. A Lusa vive uma grande fase, que talvez não atravessasse desde 2011, quando realizou bela campanha na Série B, sendo apelidada como ‘Barcelusa’.

O único ponto negativo em meio a tantos positivos é o descumprimento da diretoria para com os atletas. A maior parte dos salários e direitos de imagens ainda continuam atrasados. Souza, capitão e líder da equipe, em entrevista coletiva após a partida, cobrou os dirigentes, dizendo que dentro de campo os jogadores estão honrando as cores da Portuguesa, só faltam algumas pessoas fazerem seu trabalho com mais responsabilidade.

O próximo compromisso da Lusa será frente ao Goiás, quinta-feira, no Canindé, às 19h30 (horário de Brasília). Se vencer, os comandados de Guto Ferreira, dependendo dos resultados, poderão colar no G4.

VAI, LUSA!!!

Jogadores da Portuguesa comemoram o gol do lateral Luis Ricardo contra o Santos (Foto: Ricardo Nogueira / Agência Estado)
Jogadores da Portuguesa comemoram o gol do lateral Luis Ricardo contra o Santos (Foto: Ricardo Nogueira / Agência Estado)

A RETOMADA DO SANGUE NAS VEIAS

Teria sido a volta de Guilherme? Ou a volta da vergonha na cara, como o próprio volante deu a entender? Não sei. Também não sei se vai perdurar numa sequência de resultados positivos. E não sei se a reunião dos jogadores colocou os pingos nos is que faltavam. Fato é que o Corinthians derrotou com méritos o Bahia, em Mogi, por 2 x 0, em jogo pelo Campeonato Brasileiro.

O que eu sei é que a postura em campo foi muito diferente do que estávamos vendo nas últimas oito rodadas. E muito disso passou pelos pés de Guilherme, consciente de sua função, coisa que seus substitutos não fizeram em momento algum.

Do abraço do grupo ao treinador, a quem a maioria de nós já não dava nenhuma esperança de sucesso, a resposta à altura: time ofensivo, mais corajoso do que vinha se mostrando. Da dupla de zaga reserva, já que ambos os titulares estavam suspensos, uma surpresa: Cléber estreou com gol e encheu o torcedor de esperanças acerca de uma futura dupla de zaga Gil-Cléber (sabemos que Paulo André é esforçado, mas tem suas limitações). Felipe, reserva imediato na zaga, também foi seguro e sem medo de dar bicos na bola quando necessário. É boa opção no banco, aparentemente.

Sheik se excedeu e tomou um cartão ‘de graça’. Levando em conta que já não teremos Pato, a serviço da Seleção, no próximo jogo, ficaremos com poder de ataque menor. Romarinho não vem em boa fase, como sabemos. Mesmo com o cartão bobo, Emerson foi um dos nomes do jogo, cobrando os escanteios que originaram os gols.

Incompreensível mesmo é a improvisação de Alessandro na lateral esquerda. Se o jogador não tem tido poder de fogo pelo lado em que atua, por que teria do outro? Mesmo em má fase, não vejo motivo para que Igor seja preservado.

O importante – e só isso, já que não vejo o time disputando mais nada além de uma vaga na Libertadores, que ainda assim é muito difícil – foi que a postura do time vencedor parece (parece) estar sendo retomada (uma das palavras preferidas de Adenor).

Ainda não é o time que ganhou a Libertadores e o Mundial. Este, ao que parece, ainda passeia por terras nipônicas, e ainda não desembarcou por aqui. Vejamos no que dará esta mudança de postura. Sigamos.

 

Guilherme voltou de cirurgia e foi o melhor em campo contra o Bahia.
Guilherme voltou de cirurgia e foi o melhor em campo contra o Bahia.

 

 

UM DIA GOLEANDO, NO OUTRO GOLEADA!

Foi o encontro dos dois times com melhor campanha no segundo turno do Campeonato Brasileiro. De um lado a Portuguesa, em boa fase, ainda mais após a goleada imposta pra cima do Corinthians no último final de semana. Do outro, um líder cada vez mais campeão. Voando baixo e praticamente imbatível em casa. Provando do próprio veneno, o Cruzeiro, assim como a Lusa diante do Timão, não teve dó e foi para cima logo no início. Resultado? 4 a 0 em meia hora de bola rolando. Foi um verdadeiro baile da Raposa. Borges marcou duas vezes. Willian e Everton Ribeiro fecharam a conta. A Lusa, mesmo com a derrota, ao menos, manteve a distância de seis pontos para o Z4.

Jogadores e comissão técnica seguem com o discurso de que foi um jogo atípico. De fato, foi. Afinal, jogar com o líder do campeonato, prestes a ser campeão, não é tarefa fácil pra ninguém. O grande problema foi a forma como a derrota se desenhou. Com erros infantis e sem sorte (dois gols dos mineiros foram com rebotes de bolas que bateram na trave), o Cruzeiro construiu facilmente sua 17° vitória na competição.

Do lado lusitano, a melhor coisa a se fazer no momento é esquecer a goleada e pensar na próxima partida, que será frente ao Santos, domingo, no Canindé. A vitória neste clássico é imprescindível. A boa fase em seus domínios tranquiliza o torcedor, que ficou assustado com o que viu ontem. O problema é que do outro lado, a equipe praiana está embalada, vindo de vitória emblemática contra o ameaçado São Paulo. Promessa de bom jogo.

Fato é que neste Brasileirão não é possível que o torcedor tenha tempo suficiente para degustar uma vitória. Afinal, as brincadeiras com os corintianos duraram apenas até a noite de ontem. O lado bom é que o mesmo acontece quando se perde. A chance da recuperação é logo ali, no próximo jogo. A Portuguesa foi goleada, enquanto o Corinthians venceu o Bahia e deu um tempo na crise. Coisas do futebol…

Que venha logo a recuperação diante do Peixe. A grande novidade será Diogo e o técnico Guto Ferreira. Reforços de peso na luta da Rubro-Verde para se afastar cada vez mais dos riscos do rebaixamento.

Saudações Lusitanas!

Até a próxima.

Borges comemora um de seus gols na goleada do líder Cruzeiro diante da Lusa, no Mineirão (Foto: Douglas Magno/Brazil - Folhapress
Borges comemora um de seus gols na goleada do líder Cruzeiro diante da Lusa, no Mineirão (Foto: Douglas Magno/Brazil – Folhapress

TERMINA LOGO 2013

Estranho em um ninho onde nenhum outro adversário consegue cantar de galo, o Palmeiras se vê obrigado a terminar uma etapa em sua história onde seu término já está definido desde sempre.

OK, galo e ninho não são exatamente referências complementares. Mas Palmeiras e série B definitivamente não se pertencem. As sobras técnicas, orçamentarias e estruturais com as quais o time alviverde se sobressai ante adversários anos luz inferiores, parecem não servir mais de conforto para o torcedor, que já não aguenta mais os jogos as terças e sábados, as vitórias conquistadas sem grandes esforços, a impiedosa presença em um nível onde o desnível é flagrante.

É cada vez mais evidente a angustia dos torcedores para se livrar o quanto antes deste martírio. A desonrosa missão está definida com honras, com sobras e com a obrigação cumprida.

Se em sua história esse segundo rebaixamento não agregou nenhuma glória a se ostentar futuramente, a não ser a desnecessária comprovação de que sua existência não lhe confere martírio semelhante, deve obrigatoriamente ter servido aos dirigentes como lição de vida e de moral, a obrigação condizente ao posto. Que reside, sobretudo no discurso de Paulo Nobre, quando em sua posse disse que sua missão é fazer com que o torcedor alviverde não tenha mais a sensação de que seu time entra em campeonatos para brigar contra rebaixamentos, a retórica que deve virar mantra de todo e qualquer cidadão que ostentar por períodos a digna função de conduzir este gigante em caminhos que lhe dignifiquem.

E que 2013 termine o mais depressa possível.

Hulk_Palmeiras1

Futebol e Bons Sons!