As brincadeiras e “memes” por conta de jogos eliminatórios são sempre saudáveis e devem sim continuar, mas o que não se pode confundir é brincadeira com informação errada e isso ser a famosa mentira repetida que vira verdade.
Vamos então esclarecer as coisas sobre os jogos decisivos e mata-mata que o Corinthians jogou em sua casa nova. Foram sim mais classificações do que eliminações, então resolvi fazer esse levantamento para que não usem dados incorretos.
Jogos de mata-matas decididos na Arena Corinthians.
2014 Corinthians 3×0 Bahia (1º Jogo)
Copa do Brasil – Terceira Fase
Corinthians 3×1 Bragantino (2º jogo)
Copa do Brasil – Oitavas de Final CLASSIFICADO
Corinthians 2×0 Atlético-MG (1º Jogo)
Copa do Brasil – Quartas de Final
2015 Corinthians 4×0 Once Caldas (1º Jogo)
Copa Libertadores – Preliminar
Corinthians 1×0 Ponte Preta (jogo único)
Campeonato Paulista – Quartas de Final CLASSIFICADO
Corinthians 2(5)x(6)2 Palmeiras (jogo único)
Campeonato Paulista – Quartas de Final
Eliminado
Corinthians 0x1 Guaraní (Paraguai) (2º jogo)
Copa Libertadores – Oitavas de Final
Eliminado
Corinthians 1×2 Santos (2º jogo)
Copa do Brasil – Oitavas de Final
Eliminado
2016 Corinthians 4×0 Red Bull (jogo único)
Campeonato Paulista – Quartas de Final CLASSIFICADO
Corinthians 2(1)x(4)2 Audax (jogo único)
Campeonato Paulista – Semi de Final
Eliminado
Corinthians 2×2 Nacional-URU (2º jogo)
Copa Libertadores – Oitavas de Final
Eliminado
Corinthians 1×0 Fluminense (2º jogo)
Copa do Brasil – Oitavas de Final CLASSIFICADO
Corinthians 2×1 Cruzeiro (1º Jogo)
Copa do Brasil – Oitavas de Final
2017 Corinthians 1×1 Luverdense (2º jogo)
Copa do Brasil – Terceira Fase CLASSIFICADO
Corinthians 2×0 Universidad Chile (1º Jogo)
Copa Sul Americana – Primeira Fase
Corinthians 1×0 Botafogo-SP (2º jogo)
Campeonato Paulista – Quartas de Final CLASSIFICADO
Corinthians 1(3)x(4)1 Internacional (2º jogo)
Copa do Brasil – Quarta Fase
Eliminado
Corinthians 1×1 São Paulo (2º jogo)
Campeonato Paulista – Semi Final CLASSIFICADO
Corinthians 1×1 Ponte Preta (2º jogo)
Campeonato Paulista – Final CAMPEÃO PAULISTA
*Raphael Prado é fotógrafo. Conheça seu trabalho em http://www.raphaelprado.com
Segunda-feira, 19 de janeiro de 2015, Hotel Trianon. Era para ser um evento secreto, mas como bem disse um torcedor para o diretor do filme “Vai Corinthians”, o inglês Chris Watney, surpreendido pelo número de pessoas presentes muito a cima do esperado, nada com o Corinthians é segredo por muito tempo. Tratava se de uma sessão de autógrafos de um time da oitava divisão inglesa que é protagonista de uma das maiores histórias do futebol, time que, apesar de amador, tem no seu currículo uma goleada por 11 a 3 sobre o Manchester United, que foi o único clube a fornecer um time base a seleção da Inglaterra em toda sua história, seleção essa que usa branco por conta dele, time que foi inspiração, também, para a camisa branca do Real Madrid.
Time que foi o maior do mundo no começo do século XX e que 100 anos atrás teve que abandonar no meio do caminho a primeira visita ao seu filho brasileiro para que seus jogadores ou qualquer um que tivesse identidade britânica, fosse lutar a primeira guerra mundial que começou na Europa enquanto o time estava no navio a caminho do Brasil, quase todos os jogadores foram mortos e a história desse clube mudou para sempre. Trata-se do pai do Corinthians e de uma das maiores paixões do futebol mundial, o Corinthian-Casuals.
Aliás, paixão e histórias foi o que não faltaram nessa quente tarde de segunda. O Corinthian-Casuals vem ao Brasil enfrentar o Corinthians ou, o “Póulishta”, como eles mesmo dizem, em um amistoso que visa financiar um filme que vem sendo rodado sobre sua história, enquanto se cantava o hino corintiano e os ingleses com a cara rosada pelo calor tentavam entender e participar do “poropopó”, eu conversava com o diretor e um dos organizadores do jogo Chris Watney que se dizia surpreendido com a recepção e mal via a hora do time entrar em campo para contar, o que ele considera, a maior história do futebol. E conversando sobre o jogo entre os dois times que aconteceu em 88, ele solta que logo ali no hall do hotel havia um senhor que entregou a camisa para um jogador que trocou de time no meio desse jogo.
Seu nome era David e o jogador em questão era nada mais nada menos do que a lenda Doutor Sócrates. Cheguei em dois homens que observavam a festa de longe e perguntei quem era David, um senhor tímido, magro e já nos seus 70 e poucos anos com uma voz rouca diz que é ele e conta que entregar a camisa do Casuals para Sócrates jogar os 15 minutos finais do amistoso de 88 foi uma das maiores honras da sua vida, já com lágrimas nos olhos ele diz que nada foi maior do que aquele momento. Enquanto ele contava isso, o homem ao seu lado, M. Maidment, que se apresentou como o coordenador das categorias de base do Casuals, conta que na sede, ao sul de Londres, logo na entrada há uma foto enorme do eterno doutor vestindo com a classe de sempre a camisa rosa e chocolate do clube, completa dizendo que no Corinthian-Casuals, todos consideram que aquele foi o maior momento da história, deixando para trás outros incontáveis momentos notáveis do clube.
Maidment me conta mais sobre o seu trabalho e na dificuldade de implantar a filosofia de jogar futebol apenas pelo prazer de se jogar futebol nas crianças, que hoje em dia crescem encantadas com jogadores como o Tévez, que atuou pelo seu outro time, o West Ham, e que troca qualquer clube por alguns milhões a mais em sua conta. Ele também fala com orgulho sobre o Corinthian-Casuals ter sido sempre amador, aliás, foi um dos clubes que brigou com a FA no início do século XX para que a profissionalização do futebol fosse proibida. Futebol acima de tudo, eles dizem.
É quando vem outra surpresa, Maidment aponta para David e diz, ele pode te falar melhor sobre essa paixão pelo futebol amador. A razão? Acontece que esse senhor não só foi o homem que entregou a camisa do Casuals ao Sócrates, mas foi também um jogador do clube por anos, estreou em 1953, e participou da conquista da Surrey Senior Cup, um dos raros títulos do clube, desde então, nunca deixou o Corinthian-Casuals, 62 anos dedicados a uma paixão.
Por um momento todos param e observam emocionados a festa incrível entre jogadores, diretores e torcida, e eu em um inglês tão atrapalhado quanto o centroavante Jamie Byatt, digo que não há grandeza de clube ou dinheiro nesse mundo que pague o que estávamos vendo, e que é uma honra imensa recebermos eles aqui. Nesse momento vejo lágrimas nos olhos dos dois e consigo enxergar como nunca a ligação entre os dois clubes, entre Corinthian e Corinthians. É a ligação de um pai e um filho, é aquela paixão que meu pai me passou quando me levou nos ombros ao Pacaembu pela primeira vez, é a paixão pela simplicidade da bola que o pai inglês passou ao seu filho brasileiro o carregando nos ombros a mais de 100 anos atrás. Dei um abraço no David e pedi uma foto, o que o surpreendeu, talvez tenha o feito se sentir como uma lenda, um ex-jogador do Corinthians Paulista, essa foi a intenção!
Foi quando mais empolgado ele disse seu nome completo em um tom muito claro, como se fosse para eu nunca mais esquecer, e eu nunca irei, Mr. David Harrison, nem dos seus olhos cheios de lágrima denunciando a paixão de ser Corinthians, a mesma paixão que dividimos mesmo separados por um oceano, a simples e inexplicável paixão pelo Corinthians.
O jogo desse sábado é extremamente necessário para a alma corintiana no momento, é uma chance de lembrar de suas raízes, de viver a “corintianiedade” de forma mais intensa e esquecer arena, discussões financeiras e outros assuntos sem vida do futebol moderno e elitizado. Sábado será dia de lembrar e reviver Corinthians, duas paixões se encontrarão para contar a maior história do futebol.
Sai do hotel com uma camisa Rosa e Marrom no ombro e uma certeza, que a paixão é o principal personagem dessa história. O Corinthians hoje é gigante enquanto o Corinthian-Casuals foi e sempre vai ser um time amador, porém a paixão pelos Corinthians vão sempre ser um sentimento simples, divididos por dois países tão distintos, pois como disse a lenda Sócrates.
“O Corinthians é um estado de espírito”.
Os Corinthians são um estado de espírito!
Vai Courântiãns!!
Obs: Agradecimentos especiais ao Felipe Reis! Valeu!
E de repente, do dia para noite, ou da noite para o dia, melhor dizendo, descobriu-se o óbvio, o ululante – futebol às 22 da madrugada não permite que o torcedor retorne para sua casa usufruindo do sistema de metrô.
Só que é assim desde mil novecentos e guaraná com rolha. Quantas centenas de vezes não tive que sair antes do término dos jogos no Pacaembu para poder usar o metrô e não ser obrigado a me desfazer de consideráveis quantias monetárias depositadas nas mãos de taxistas?
Resposta: Nenhuma. Mas é porque muitas vezes me faltam parafusos ou estou de carona. Mas e quem não lida com essa situação da mesma maneira?
Ai sim, se lasca todo.
Mas como num passe de mágica isso virou questão de estado. Os dirigentes passaram a cobrar as autoridades. As autoridades concordaram em receber os dirigentes. A mídia se deu conta, todo mundo agora comenta.
Só que o problema desse imbróglio todo não é o metrô. Ele funciona dentro deste mesmo horário desde sempre. Quem modificou seu modus operandi e f***u o torcedor foi a televisão detentora dos direitos de tudo do esporte Rei. Antes os jogos aconteciam estourando às 21, 21:30 e olhe lá. O que dava um tempinho hábil para um deslocamento estratégico até a estação mais próxima sem ter que se desfazer do lazer adquirido.
Só que ninguém vai marcar audiência com a TV Globo porque aí é mexer num baita de um vespeiro, como bem frisou Antero Greco. Finge-se então que não se sabe onde está o problema, mas todo mundo sabe, sim.
Se eventualmente o metrô descobrir uma maneira de poder atender essa demanda, palmas para o sistema, que terá assumido uma responsabilidade que até agora não é sua. E nessa, mais uma vez, a Globo sai incólume. Parabéns aos envolvidos.
Outra ponderação necessária de se fazer. Se há anos vivemos esse problema e ninguém se “dava conta”, por qual razão, como num passe de mágica, todo mundo ficou incomodado com os torcedores tendo que abandonar um belo jogo corintiano na Arena Corinthians?
Será que é porque antes o deslocamento se dava da “zêéle” para o centro/sul/oeste e agora o trâmite se dá em mão inversa?