“Guarani da Capital”, “Lusinha do século XXI”, termos pejorativos (e depreciativos inclusive aos clubes usados como referencial pejorativo) utilizados pelos rivais alviverdes para diminuir a importância deste quase centenário clube, tendo como base os maus resultados obtidos nos gramados nos últimos anos, além dos dois rebaixamentos.
Não bastasse a piada das ruas, internamente, no mundo da pelota, o Palmeiras passou a ser preterido por uma série de boleiros quando suas ofertas eram confrontadas com as de rivais. Os problemas políticos e a cobrança pesada da torcida também sempre pesaram contra o clube na hora da montagem de seus elencos.
Doravante todos estes cenários, que sim, existiram, soa incompreensível a sustentação do discurso dos que enxergam o alviverde como obsoleto na chancela de “vitrine”.
Como explicar a situação de Hernán Barcos?
Jogador b-side no cenário do esporte rei, tornou-se referência na arte de marcar gols quando aportou em terras verdes, muito embora já tivesse essa característica quando atuava pela LDU. Passou então a ser “percebido” atuando pelo Palmeiras.
Sua promessa de 27 gols em 2012 foi cumprida, já o clube arcou com a sua missão, a de mostra-lo ao mundo, tanto que Barcos passou a ser figurinha constante nas convocações da seleção argentina (quando o próprio jogador cogitava atuar pelo Equador). E ali, naqueles tempos, quase a totalidade dos fãs do esporte enxergavam nele préstimos para ser opção hermana na Copa aqui em nossos quintais.
A temporada de Barcos em 2012 foi positiva, mas ainda assim o Palmeiras, campeão da Copa do Brasil daquele ano, terminou a temporada rebaixado. Uma novela arrastada então surgiu sobre a permanência do “Pirata”. Ao final do processo Barcos pulou fora do barco (sic) e aportou sua nau no Olimpico, onde defenderia o Grêmio, time de 1ª divisão, com participação assegurada na Libertadores (muito embora o Palmeiras também). No rolo, até hoje mal explicado, o Verdão recebeu uma série de jogadores, dentre os quais Leandro, jovem atacante, tido por muitos como problemático e, até pela situação apresentada, peça descartada nas projeções gremistas.
A terrível temporada de 2013 seguia seu curso, mas algo estranho passou a acontecer. Os gols em profusão que Barcos anotava no rebaixado Palmeiras desapareceram no Grêmio. Em contrapartida, o “refugo” Leandro ganhou destaque em São Paulo. E uma convocação para a seleção de Felipão pintou para o garoto. No sul Barcos desapareceu das listas de Sabella.
Paralelamente a isso, Henrique, zagueiro e capitão alviverde, passou a ser constantemente chamado para a seleção da CBF. E Barcos simplesmente sumiu do contexto Copa do Mundo. Tudo isso com o Palmeiras jogando a segunda divisão.
O ano de 2013 virou o fio, o Palmeiras retornou à elite, Leandro não foi mais chamado para a seleção, mas se valorizou. Henrique nutre ainda esperanças de Copa, mas hoje no Napoli, não teve seu nome lembrado pelo Bigode para o amistoso contra a Africa do Sul. Já Barcos…
Temos que ponderar, claro, tratar-se a seleção argentina hoje uma equipe com muito mais possibilidades ofensivas que a seleção brasileira. Ainda assim, os fatos saltam aos olhos.
Para este amistoso Felipão chamou a galera que atua fora do país, pondo na meia 3 posições as quais ele pretende preencher com boleiros aqui do nosso cenário. Duas dessas vagas, segundo o chefe, de atacantes. Descrições técnicas ditas, um nome ganhou força e é tido como certo – Alan Kardec, do Palmeiras.
Contratado por empréstimo junto ao Benfica, onde pouco jogou, Kardec caiu nas graças da torcida e se adaptou rapidamente ao esquema de Gilson Kleina, virando a referência ofensiva do time campeão da série B, onde foi o artilheiro do time, além do excelente início de temporada em 2014, onde tem 4 gols (dois deles contra São Paulo e Corinthians) e duas assistências no único invicto da competição.
Pesa favoravelmente ao centroavante alviverde, além do bom momento, o entrosamento com Neymar, já que atuaram juntos e bem pelo Santos. A proximidade com Felipão, que vem desde os tempos de Portugal, além da mística acerca dos 5 títulos da seleção, onde o Palmeiras e o São Paulo são os únicos clubes que tiveram representantes nos 5 êxitos.
E ainda que a convocação não venha, Kardec passou a ser selecionável meteoricamente, fato que nunca havia acontecido em sua carreira. Muito fruto de sua competência, mas muito também – e os fatos listados acima corroboram – com a exposição que o clube de Parque Antarctica gera.
Como sustentar a piada das ruas e a marra do meio?