Arquivo da tag: Ricardo Gareca

UMA PENA, GARECA

A demissão de Ricardo Gareca é uma enorme judiação. Perde o Palmeiras, mas perde também o futebol brasileiro com a perpetuação das ideias dos xenófobos da bola.

A frase do momento diz que “Gareca era o treinador certo no momento errado”. Uma verdade, diga-se. Mas talvez o Palmeiras seja hoje o clube mais errado para a aplicação de novas ideias. A ebulição de sempre, a terra de ninguém cheia de donos, o vizinho invejoso louco para cortar a grama da casa ao lado.

O erro, porém, nem seja tão grande ao demitir o argentino a essa altura do campeonato. Mas foi enorme ao manter Gilson Kleina na virada do ano, quando a diretoria “entrevistou” outros treinadores e demonstrou ao mundo que não confiava em seu empregado. Um trabalho totalmente novo, com um pensamento diferente ao modus operandi de nosso cenário teria enormes chances de dar certo tivesse lhe sido dada a oportunidade de treinar a equipe desde o Paulistão, um torneio de nível técnico inferior, com características hoje muito mais de pré-temporada. Os testes teriam sido feitos sem a corda no pescoço que agora foi puxada.

Não que Gareca não tenha errado. Errou, sim. Continuar atuando de forma irremediavelmente ofensiva com um time aos frangalhos, pode ter sido corajoso, mas foi fatal. Talvez – e digo talvez, pois ninguém é o dono da verdade – fosse momento de ajustar defensivamente o time, jogar para não perder. Já que enquanto jogou para ganhar, só perdeu. Mas ao menos o treinador foi fiel a sua filosofia de jogo, ofensiva e de enorme sucesso na Argentina.

É uma pena não ter dado certo. Uma pena um vencedor como Gareca se queimar em tão pouco tempo. Uma pena, para variar, o time estar onde está. E sabe-se lá agora para onde ele irá.

gareca

A MELHOR AÇÃO DO CENTENÁRIO

Se a derrota para o São Paulo era algo temerário ao Palmeiras, que agora amarga  um lugar na zona mais desconfortável do Brasileirão, uma perda ainda maior deve ser evitada a qualquer custo: a saída de Ricardo Gareca.

O treineiro argentino dá sinais de que pode repensar a continuidade de seu trabalho frente ao clube, o que no atual momento seria avassalador. Razões para evitar que isso ocorra existem aos borbotões, mas duas delas resumem todo o resto.

Se a diretoria alviverde pena pela falta de trato administrativo, ousou ao buscar um dos técnicos mais cobiçados do futebol argentino. Em meio a uma crise de identidade do futebol brasileiro e com o modus operandi de nossas comissões técnicas sendo colocado em xeque, Gareca surgiu como esperança de novas formatações no estilo de jogo em um clube que precisa reencontrar sua essência.

Acertado o contrato, não falta respaldo ao treinador. Tanto que quase todas as suas solicitações foram atendidas até o momento. Não à toa o Palmeiras tornou-se o mais gringo dos times do Brasil. O que não apenas atende sua visão técnica, como lhe auxilia em uma mais rápida adaptação ao novo local de trabalho.

O problema em toda essa situação é que o time está sendo mais uma vez montado com a competição em andamento. O time que começou o clássico contra o São Paulo não deve tanto assim em qualidade aos ponteiros times brasileiros. Já o time que terminou o clássico, sim.

Contra a crise e contra um time com trabalho bem mais fixado, Gareca conseguiu fazer seu Palmeiras jogar, não apenas de igual para igual, como foi mais agudo em grande parte do jogo. Sobretudo enquanto pode contar com Valdívia. Aqueles parcos 15 minutos foram de pleno domínio tático e técnico do alviverde. É duro para qualquer planejamento ter em Valdívia o seu principal diferencial. Mas é o que se tem e o que se pode fazer. Allione tem condições de assumir esse posto no futuro, mas ainda não pode carregar sozinho essa responsabilidade com os seus 19 anos e 3 jogos pelo clube.

A falha de Fábio, que proporcionou o gol de Pato, desmontou um esquema que anulava o tricolor até então. Ainda assim reencontrou o equilíbrio e na sequencia conseguiu o empate.

Entendendo ser aquela igualdade quase tão prejudicial quanto uma derrota, Gareca ousou e formatou o Palmeiras com 4 atacantes: Cristaldo, Henrique, Leandro e Allione. E foi por essa formação que seu time criou a oportunidade de decretar a vitória, na mesma medida em que definiu sua derrota.

A opção tática correta de Gareca deu a Leandro e depois a Henrique a chance de serem eles os nomes do jogo. Não faltou então ousadia e visão de jogo do técnico. Faltou foi qualidade mesmo. Foi o confronto do vislumbre de novos tempos contra a dura realidade.

Os próximos duelos do Palmeiras são contra Sport (fora) e Coritiba (em casa). São 6 pontos mais do que possíveis e que lançariam o alviverde algumas e importantes posições acima na tabela, dando tranquilidade e boas perspectivas ao time e ao seu comandante.

Em meio aos preparativos para as comemorações do Centenário, a direção alviverde deve mesmo se preocupar é em dar tranquilidade a Gareca. Pode estar na manutenção do trabalho do argentino a melhor de todas as ações do Centenário.

UM GIGANTE QUE NÃO SE ENXERGA MAIS NO ESPELHO

“O Palmeiras sai da série B, mas a série B não sai do Palmeiras”.

Frase dura muito utilizada pelo meu camarada Rene Crema, que ilustra com exatidão a situação do Palmeiras no cenário da bola.

Uma situação e um cenário que não vem de agora, como pode parecer. Mas de décadas, desde o fim dos anos 70, quando dirigentes de visões indecentes e incompatíveis com o tamanho do clube passaram a geri-lo.

Se for por mal que estes senhores de velhas ideias deixam de fazer o que se deve, não cabe agora avaliar. Tenho minhas impressões, que prefiro por ora deixa-las para outro momento. Mas é por eles e através deles que o Palmeiras deixou de ser um clube com foco no futebol e passou a priorizar, em muitos momentos, o social.

Seu último momento de glória como protagonista no futebol sulamericano foi nos anos 90, e todos sabemos através de quem. Tendo a frente pessoas forjadas dentro de suas alamedas, são raros os momentos de glória.

A Gestão Paulo Nobre, que em muitos aspectos parece ter um viés assertivo, peca na condução da alma desse clube quase centenário: Gestão de futebol.

Se é “visionária” ao trazer um técnico estrangeiro e lhe dar a liberdade para trazer seus reforços, mina suas possíveis definições de esquema ao desmontar um time no decorrer da competição, como ilustra muito bem o PVC em sua coluna de hoje. (http://54.236.180.172/blogs/pauloviniciuscoelho#/1)

Desde o início do BR14, que parece já fazer muito tempo, mas que está ainda apenas em sua 13ª rodada, foram embora Alan Kardec e Valdívia, alicerces técnicos de um time que começava a ganhar jeito e que certamente daria a Gareca uma condição muito maior de fazer vingar seu esquema.

Se não conta hoje com nenhum lateral de ofício e Juninho não faz mais parte dos planos, William Matheus vinha ganhando confiança na lateral esquerda e fazendo boas partidas. Emprestado ao clube, bastou a primeira oferta de um time do exterior chegar e o clube sequer conseguiu (ou não quis) cobri-la e o perdeu. Vai ganhar algumas balas Juquinha por ter servido de vitrine. Patético!

Sem Valdívia e com Bruno Cesar aparentemente mais preocupado em consumir hambúrgueres, recaia no banco a solução para situações emergenciais no decorrer das partidas – Marquinhos Gabriel. Mas bastou também chegar uma proposta qualquer pelo jovem jogador que ele já se foi.

Em contrapartida e um exemplo que escancara hoje as diferenças gritantes entres os rivais históricos, diz a boca pequena que o Corinthians recebeu uma oferta em torno de 5 milhões de euros por Guerrero do futebol chinês. Desfazer-se do mediano centroavante deixaria Mano Menezes sem opções e então o negócio não foi feito. Ontem Guerrero abriu o placar no fraco derbi na Arena Corinthians.

O São Paulo lhe tomou Alan Kardec sem nem ter a necessidade tática de um jogador como ele. Trouxe também um Kaká que, se já está longe de sua melhor forma, ainda faz estragos no cenário brazuca. E diz também a boca pequena que o tricolor vive a duras penas para pagar sua alta folha salarial, tendo inclusive alguns atrasos ao longo dos últimos meses.

Fechar o mês no azul e rebaixado para a série B não me parece também uma equação positiva. Só me parece.

A aposta em Gareca é certeira. Dar a ele os jogadores que pede, sobretudo, a promessa Allione, corrobora com este acerto. Mas por outro lado, desmanchar o time a cada 3 derrotas mina qualquer possibilidade de vislumbre futuro.

A continuar nessa toada, o trabalho de Gareca pode dar certo com o time retornando a uma divisão que não lhe pertence, mas que insiste em ser o horizonte desse gigante histórico que não consegue mais se enxergar no espelho.Gareca

RICARDO GARECA MARCA PARA A ARGENTINA

Na Copa América de 1983, Argentina e Brasil jogaram em Buenos Aires e a seleção anfitriã venceu por 1×0 com gol do atual técnico palmeirense Ricardo Gareca em jogada que começou com roubada de bola do técnico da própria Seleção Argentina na última Copa do Mundo disputada no Brasil, Alejandro Sabella, e posterior troca de passes entre o artilheiro do jogo e Jorge Burruchaga.

gareca gol argentinaNa conclusão, Gareca chutou firme em direção ao gol brasileiro batendo Emerson Leão. Confira.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=q7OtDbFUcjk[/youtube]

A XENOFOBIA BRASILEIRA QUANTO AO TREINADOR ESTRANGEIRO

Ainda sem treinador, Lúcio, zagueiro e capitão do Palmeiras, deu a entender que não era favorável a chegada de um estrangeiro para comandar a equipe. Os motivos são os de sempre: língua, adapaptação, choque cultural. Causa estranhamento uma declaração dessas. Justamente dele, que viveu sua melhor fase na carreira sob a batuta de José Mourinho e Rafa Benítez, em 2010, defendendo as cores da Inter de Milão. Técnicos que não eram italianos, diga-se.

Cobramos, quase sempre, por uma mudança no cenário futebolístico brasileiro. Principalmente na mentalidade. No modo de se ensinar, enxergar e, principalmente, pensar o jogo. Este, cada vez mais chato e previsível. Parecido em nada com o que um já dia foi. Porém, há ainda uma parcela, assim como o defensor alviverde, que age de má fé. Demonstrando autosuficiência quanto a figura do técnico estrangeiro. Como se tratassemos de alguém que não acompanha e não entende nada do que rola nos gramados tupiniquins. Ao ponto do idioma ser o principal problema. Um dos motivos que alegaram para Guardiola não ser o técnico da seleção após a queda de Mano.

A prova do equívoco é tão gritante que, em 2012, Santos e Palmeiras tentaram a todo custo trazer Marcelo Bielsa. O Verdão ainda insistiu em um novo contato em 2013, para substituir Gilson Kleina, hoje sem clube. No final das contas, o argentino não se acertou com nenhum dos dois, mas surpreendeu jornalistas, imprensa e torcida com o vasto conhecimento que tinha dos clubes daqui. ”El Loco” se destacou por onde passou pela forma inovadora com que armava suas equipes. Outra característica marcante é quanto ao fato de ser um estudioso da bola. Um vencedor.

Acredito que muitos se apegam, ainda, aos insucessos dos gringos que se aventuraram por aqui. Casos mais conhecidos de Daniel Passarela e Jorgi Fossati. Recentemente, o Atlético-PR trouxe dois: o uruguaio Juan Carrasco e o espanhol Miguel Ángel Portugal. Ambos não vingaram. Mas isso não prova nada. A qualidade, sim.

Somos imediatistas. Sendentos por resultados instâneos. Vemos na figura do técnico, muitas vezes, uma espécie de salvador da pátria, ou vilão. Capaz de entrar em campo e resolver, ou não resolver. O reflexo do péssimo panorama está nos números. Estamos em maio e 130 treinadores já perderam o boné Brasil afora.

Gareca e o desafio de vingar em um grande clube brasileiro.
Gareca e o desafio de vingar em um grande clube brasileiro.

O mercado nacional de treineiros está escasso. Nomes inflacionados, e de poucos resultados ao longo de suas carreiras, ainda pipocam constantemente por aí. Vivemos um ciclo vicioso. São sempre os mesmos. Com as mesmas ideias. E os mesmos resultados.

Gareca terá no Palmeiras a chance de quebrar um paradigma. De ser a exceção. E chega com bons olhos daqueles que o conhecem. Dirigiu o Vélez Sarsfield por cinco temporadas, nas quais levou a equipe ao tri-campeonato argentino. Não é qualquer um. Nem um superstar da tática.

A impressão, é que alguns brasileiros ainda acham que as cinco estrelas na camisa da CBF ainda significam que somos os melhores. Tanto dentro, quanto fora do campo.