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A ERA DOS RENEGADOS

Artilheiro do Brasileirão, Marcelo Moreno, do Cruzeiro, não se destacava desde 2008 (Gazeta Press)
Artilheiro do Brasileirão, Marcelo Moreno, do Cruzeiro, não se destacava desde 2008 (Gazeta Press)

Antigamente, a montagem de um elenco de futebol passava pelo crivo de contar sempre com jogadores de nome. Mas, recentemente, isso não é mais sinônimo de sucesso por aqui. Não sei se posso chamar de moda, mas o fato é que a maioria dos clubes grandes do Brasil tem apostado suas fichas em jogadores “renegados” – aqueles que rodaram por diversas equipes e não deixaram saudades.

O Corinthians de Tite, multicampeão em 2012, é o maior exemplo. Quem imaginaria que uma defesa formada por Cássio (até então desconhecido), Alessandro, Chicão, Paulo André e Fábio Santos entraria para a história conquistando a América e o Mundo?

Outro exemplo é o regular Cruzeiro, prestes a faturar o bi-tetra brasileiro, com jogadores que chegaram à Toca da Raposa outro dia, sob a desconfiança de todos. Para se ter uma ideia, Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro, principais jogadores da equipe de Marcelo Oliveira, são figurinhas carimbadas nas convocações do técnico Dunga.

Ainda em terras mineiras, o que dizer do Galo de Cuca, campeão da Libertadores no ano passado? Sem contar o próprio treinador, famoso pelo estigma de azarão, aquela equipe era composta por nomes como o goleiro Victor (herói do título), o zagueiro Leonardo Silva, o lateral-esquerdo Junior César, o atacante Jô, o volante Pierre e o principal deles, Ronaldinho Gaúcho, que, na época, dava sinais claros de que encerraria a carreira após saída conturbada do Flamengo. No campo, todos sabem o que aconteceu. O time deu liga, desempenhou um ótimo futebol e só não repetiu o feito do Corinthians por erros pontuais. Mas o que vale é que o legado foi positivo. Tanto é que Levir Culpi deu continuidade ao trabalho deixado por Cuca, mantendo a espinha dorsal da equipe, atualmente postulante a uma vaga na Libertadores-2015.

Há outros casos mais específicos, como do atacante Henrique, do Palmeiras, artilheiro do BR14, com 13 gols ao lado de Marcelo Moreno, do Cruzeiro. Teoricamente, ninguém apostaria nos dois antes do início do certame. Principalmente porque o “Ceifador” chegou ao Alviverde após passagens apagadas por Santos e Portuguesa. Já o cruzeirense, pouco empolgou enquanto defendeu Grêmio e Flamengo, antes de acertar seu retorno a Belo Horizonte.

Quando o assunto é custo-benefício, Luiz Álvaro de Oliveira Ribeiro, ex-presidente do Santos, fez duras críticas nesta semana ao camisa 9 do Peixe, Leandro Damião. Suas acusações foram pautadas no modo como a diretoria trouxe o ex-jogador do Internacional, além de sua efetividade em campo. Discordo de LAOR apenas no tom e nas palavras que usou. Porque, ademais, ele pode estar certo, já que o Santos não precisava de Damião. Isso sem contar o modo como foi feita sua contratação. Algo totalmente inviável para os padrões nacionais, mesmo que sob a vanguarda de parcerias. Em campo, o atacante tem até evoluído, mas o fato de carregar o peso de 40 milhões de reais nas costas tem atrapalhado seu desempenho. Foram apenas 4 gols em 17 jogos neste Brasileirão.

A tendência, daqui para a frente, é óbvia: equipes que possuírem folhas salariais exorbitantes certamente terão problemas em um futuro bem próximo. O Fluminense, segundo time que mais gasta no País, atrás apenas do Cruzeiro, possui vencimentos que chegam a  casa dos R$ 11,7 milhões mensais. Por conta disso, e alguns entreveros com a patrocinadora, a cúpula tricolor cogita a hipótese de já na próxima temporada iniciar um processo de reformulação no elenco, visando conter custos. Nomes como Diego Cavalieri, Carlinhos, Fred e Jean devem deixar as Laranjeiras.

O São Paulo é um dos clubes que possivelmente terá problemas no futuro, principalmente se não conseguir títulos ou um patrocínador master. O Tricolor, de Rogério Ceni, Luís Fabiano, Pato, Kaká e companhia desembolsa cerca de R$ 10,5 milhões por mês, com salários e direitos de imagens. O presidente Carlos Miguel Aidar, recentemente, declarou que o clube precisaria urgentemente vender, ao menos, três atletas para encerrar a temporada no azul. Por enquanto, somente o lateral Douglas foi negociado. Talvez, a vaga (bem encaminhada) para a Libertadores amenize possíveis prejuízos.

O Corinthians, um dos clubes mais ricos do país e detentor da cota de televisão mais alta, aparece em quarto lugar no ranking de “maiores gastadores”. A diretoria do Timão onera todo mês os seus atletas com algo em torno dos R$ 8,3 milhões. Só para constar, o Alvinegro paga parte do salário de outros jogadores, entre eles Alexandre Pato e Emerson Sheik, este, desligado do Botafogo dias atrás e impossibilitado de atuar neste ano.

Por outro lado, economizar demais pode não ser tão lucrativo. Principalmente quando não se repõe as peças com qualidade. Este é o caso do Internacional, que até o ano passado gastava uma quantia acima dos 10 milhões com seus vencimentos. Para esta temporada, a diretoria colorada tratou de enxugar a folha salarial, se desfazendo de alguns atletas. Entretanto, a ação não surtiu efeitos em campo. Mesmo assim, o clube ainda está no G4.

A verdade é que nem só de nomes vive o inflacionado futebol brasileiro. A Lei Pelé, os empresários e a crise financeira que assolam a maioria das equipes contribuem diretamente para que qualquer “Pé de Rato” sinta-se no direito de pedir 300 mil Dilmas mensais.

Enquanto os clubes não criarem políticas saudáveis, baseadas no profissionalismo, seguiremos torcendo pelo acaso. Ou para que nossos times deem a sorte de contratarem algum renegado à preço de banana e que amanhã se torne um “craque”.

filme: 12 DE JUNHO DE 1993 – O DIA DA PAIXÃO PALMEIRENSE

Em campo o Palmeiras continua seu calvário em mais uma tentativa de escapar da série B, sua terceira, justamente no ano de seu Centenário.

Mas Centenário, como a própria palavra diz, são 100 anos, e em 100 anos o Palmeiras tem muito mais a se orgulhar do que lamentar.

E em meio as comemorações de seus 100 anos, um tanto esvaziadas pelo lastimável momento em campo (no escritório, na direção, na presidência), rola nesta quinta-feira, 25 de setembro, o lançamento do aguardado “12 de junho de 1993 – O Dia da Paixão Palmeirense”, filme com direção de Mauro Beting e Jaime Queiroz.

E se você não sabe o que representa o 12 de junho de 1993 para o palmeirense, deixo aqui as minhas impressões:

http://ferozesfc.com.br/o-12-de-junho-de-nossas-vidas/

 

Indispensável para todo palmeirense. Relevante para todo amante do Esporte Rei.

Veja na imagem a programação de exibição do filme.

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É TUDO VERDADE

O Vitória virou o turno com a pior campanha do BR 14 e na lanterna do campeonato. Entre uma série de erros, talvez alguns acertos, hoje está fora do Z4 e é dono da melhor campanha do 2º turno.

 

O Botafogo dá toda a pinta de ser, dos grandes clubes brasileiros, aquele com os maiores problemas administrativos, com meses e meses de salários atrasados. Mas, aos trancos e barrancos, consegue permanecer fora do Z4.

 

O Flamengo era apontado como virtual rebaixado até a chegada do contestado Wanderlei Luxemburgo. A piada virou um excelente trabalho de recuperação de ambos, time e treinador, e hoje o rubro-negro carioca figura em posição relativamente confortável na tabela.

 

Todos estes clubes vivem ano após ano algum tipo de crise. Mas mesmo em seus piores momentos algum brilhareco conseguem produzir. Até as estapafúrdias trocas de treinadores em momentos obscuros geralmente trazem algum reflexo positivo. Erros gerais, acertos pontuais.

 

Nem isso mais o Palmeiras consegue fazer. Até mesmo na melhor de suas temporadas nos últimos anos, em 2009, com o título nacional em seus pés, errando tentando acertar ao trocar de treinador sendo o líder da competição, investindo em nomes consagrados e segurando suas estrelas de investidas do exterior, o resultado foi desastroso.

 

O Palmeiras não vence mais clássicos. Não consegue mais encarar os rivais que fazia frente mesmo com seus piores elencos. E contra times que antes sonhavam em lhe arrancar um empatezinho que fosse, hoje é praticamente fava contada. Perdeu-se o respeito, não há mais brilho, a relevância parece estar se esvaindo pelo ralo.

 

O ano de 2014 surgia como uma possibilidade de resgate após mais um ano nos quintos dos infernos da 2ª divisão, muito também amparado pelo Centenário tão aguardado. A inauguração do que deverá ser o complexo esportivo mais moderno das Américas também era um dos alicerces da esperança de dias melhores.

 

Patrocinador forte, maior exposição. Tudo isso morreu aos muitos (não aos poucos) nas palavras de seus dirigentes. Para Paulo Nobre, “o Palmeiras não poderia ser refém de seu Centenário”. Já o torcedor pode ser refém de anos e anos de irrelevância no cenário do qual ainda é o maioral em títulos.

 

Paulo Nobre e Brunoro gastaram o verbo para dizer por diversas vezes que não havia jogador inegociável. E assim se foram todos os seus melhores jogadores – Barcos em uma nefasta movimentação que até hoje é difícil de entender. Henrique por conta de 1 milhão devido e cobrado. Alan Kardec por 5 balas juquinhas se debandou para o rival São Paulo e hoje é um dos grandes nomes da competição no vice líder do Brasileirão.

 

Mas sobraram os mais de 30 irrelevantes atletas, esforçados em sua maioria, é verdade, mas sem qualificação técnica para atuar em um gigante do porte do Palmeiras.

 

A contenção de gastos e o pagamento de salários em dia não só é bonito em tese, como assertivo de fato. Mas do que adianta isso e ao final do ano sofrer mais um rebaixamento? Que torcedor se mantém forte comemorando mais um mês no azul e o time na lanterna?

 

São pessoas despreparadas conduzindo um colosso. É um piloto de rally de 5ª categoria na condução da Maclaren do Ayrton Senna.

 

Se Kleina não era o treinador dos sonhos, que tivessem trocado de comandante no início do ano. Se mesmo assim, “apostando” no treinador vencedor da série B os resultados não chegaram, não parecia ser hora de trazer uma enorme novidade para apagar um incêndio que já tomava grandes proporções. E se a ofensividade convicta de Gareca não era o remédio para mais este momento doente do time, investir em Dorival Jr, que em seu grande momento na carreira, no Santos, vencia seus jogos marcando muitos gols, mas levando outros tantos, era um erro crasso até para o menos atento. Menos para Paulo Nobre e Brunoro, que apostaram mais uma vez em lugares comuns como a “ligação” de Dorival com o clube, sobrinho de Dudu, jogador mediano no início dos anos 90.

 

A essa altura do campeonato, já sem perspectiva de glória alguma no restante do ano, com a queda de mais um treinador, era muito mais momento de trazer um retranqueiro que jogasse por uma bola, mas que não corresse o risco de levar 6 gols em um único jogo.

 

É triste, mas tudo o que falam sobre o Palmeiras é verdade: Jogadores que não podem jogar no time hoje são titulares. O técnico vive um momento que não corresponde a necessidade do time. A direção contrata demais, com qualidade de menos. O elenco é fraco, mas não há sequer um time formado.

 

Qual é a escalação do Palmeiras?

 

O Palmeiras vive sua grandeza hoje pura e simplesmente na força que vem da arquibancada, de seus portões para fora, nos livros de história.

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NOSSA ARBITRAGEM DE CADA DIA

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Apita o juiz! É o fim de mais uma rodada do Brasileirão e o recomeço de um assunto interminável: os erros, cada vez mais contínuos, dos árbitros brasileiros. Cruzeiro e São Paulo, as duas melhores equipes do campeonato até o momento, têm motivos plausíveis para reclamar. Assim como as outras 18. Porém, não há critério e, tampouco, provas para transpor os sorrateiros argumentos de possíveis “ajudas de terceiros” para a obtenção dos resultados em campo. Sejam eles positivos e, principalmente, negativos. Entendo que o erro não se dá pela cor da camisa, pela importância de tal clube, mas sim pela fragilidade na qual encontra-se a profissão do árbitro no Brasil, que sucumbe à cada nova falha. À cada novo descaso.

O mais engraçado é que o assunto cai na vala comum do achismo e levantamento de teorias da conspiração. Principalmente quando abordado nas mesas redondas de domingo à noite, ou nos tradicionais programas sensacionalistas da hora do almoço. A pauta não sai do erro em si. Poucos são aqueles que enumeram soluções para o problema principal. A tônica é, basicamente, chamar a atenção para quem está sendo mais prejudicado durante o certame, não para quem é a causa.

Só na última rodada, três lances saltaram aos olhos. No sábado, na vitória do Flu sobre o Verdão, Wagner cruzou e Renato cortou, tendo a bola rebatido em sua mão. O juiz, rapidamente, assinalou pênalti, convertido, em seguida, por Fred. Na mesma partida, um lance idêntico, só que, desta vez, a favor da equipe paulista, não foi marcado, gerando polêmica.

No Morumbi, onde o São Paulo reacendeu a disputa pelo título após bater o ainda líder Cruzeiro, Dedé cometeu falta em Ganso dentro da área e não foi expulso, mesmo já estando amarelado. Muito se questionou a atitude de Leandro Vuaden, que não expulsou o zagueiro celeste. Mesmo com a vitória, o presidente são-paulino, Carlos Miguel Aidar, fez questão de emitir uma nota no site oficial do clube dizendo que estão favorecendo a Raposa.

Ainda no domingo, o gol irregular de Wallace, que deu os três pontos ao Flamengo sobre o Corinthians, acentuou novamente a discussão em torno das falhas e critérios utilizados pelo “Senhores do Apito”. Além disso, Eduardo da Silva poderia ter colocado mais um gol na conta de Sandro Meira Ricci e sua turma, caso não tivesse desperdiçado uma cobrança de pênalti que não existiu.

Por falar em Ricci, é espantoso seu desempenho pós-copa. Bastou voltar o Brasileirão para voltar ao normal. Para virar “mais um a errar”. No Mundial, ele foi bem, trazendo certo alento a uma classe que clama por mudanças que visem a profissionalização. Significativas ao ponto de ultrapassarem a superficialidade dos que acham que apenas o auxílio eletrônico resolveria todo o problema.

Enquanto isso, tenho a impressão que estamos nos acostumando a conviver com erros que parecem cada vez mais normais. Afinal, que graça teria o futebol sem uma polêmica, não é mesmo?

 

UMA PENA, GARECA

A demissão de Ricardo Gareca é uma enorme judiação. Perde o Palmeiras, mas perde também o futebol brasileiro com a perpetuação das ideias dos xenófobos da bola.

A frase do momento diz que “Gareca era o treinador certo no momento errado”. Uma verdade, diga-se. Mas talvez o Palmeiras seja hoje o clube mais errado para a aplicação de novas ideias. A ebulição de sempre, a terra de ninguém cheia de donos, o vizinho invejoso louco para cortar a grama da casa ao lado.

O erro, porém, nem seja tão grande ao demitir o argentino a essa altura do campeonato. Mas foi enorme ao manter Gilson Kleina na virada do ano, quando a diretoria “entrevistou” outros treinadores e demonstrou ao mundo que não confiava em seu empregado. Um trabalho totalmente novo, com um pensamento diferente ao modus operandi de nosso cenário teria enormes chances de dar certo tivesse lhe sido dada a oportunidade de treinar a equipe desde o Paulistão, um torneio de nível técnico inferior, com características hoje muito mais de pré-temporada. Os testes teriam sido feitos sem a corda no pescoço que agora foi puxada.

Não que Gareca não tenha errado. Errou, sim. Continuar atuando de forma irremediavelmente ofensiva com um time aos frangalhos, pode ter sido corajoso, mas foi fatal. Talvez – e digo talvez, pois ninguém é o dono da verdade – fosse momento de ajustar defensivamente o time, jogar para não perder. Já que enquanto jogou para ganhar, só perdeu. Mas ao menos o treinador foi fiel a sua filosofia de jogo, ofensiva e de enorme sucesso na Argentina.

É uma pena não ter dado certo. Uma pena um vencedor como Gareca se queimar em tão pouco tempo. Uma pena, para variar, o time estar onde está. E sabe-se lá agora para onde ele irá.

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