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UM CRAQUE COM ALMA ARGENTINA

A Copa do Mundo está sensacional. O clima, os jogos, tudo. Dentro de campo, já fomos agraciados com belas partidas, recheadas de emoções e, sobretudo, surpresas. A arbitragem tentou tirar o foco daqueles que são os verdadeiros protagonistas, mas graças aos Deuses do Esporte Rei, não conseguiu.

Falando em protagonista, Lionel Messi, um dos principais desse Mundial, desembarcou no Brasil sem a pressão e expectativa de quatro atrás. Porém, neste domingo, na estreia da Albiceleste diante da Bósnia, esperava-se dele mais que uma atuação de alguém que já foi por quatro vezes o melhor do mundo. Esperava-se raça. Alma. Uma característica obrigatória para quem defende as cores azul e branca da bandeira argentina.

No Maracanã, onde hoje tivemos verdadeiros torcedores de futebol, diferente das plateias de teatro dominantes nos estádios brasileiros, Messi, foi no gramado, o reflexo dos 75 mil que preferiram cantar ao invés de apenas aplaudir.

A Argentina mostrou suas falhas. Táticas e humanas. Não mostrou, nem de longe, aquilo que pode render. Mas o potencial individual da equipe de Sabella é enorme, capaz de decidir uma partida em qualquer lance. Em qualquer arrancada de seu principal jogador.

Copa do Mundo é, realmente, um torneio diferente. Nem todos os craques costumam assimilar as toneladas de pressão que cercam essa competição. Ainda mais para um povo que respira futebol. Que tem na seleção, a representação de sua existência. De seu orgulho. E que nunca viu em seu camisa 10 tais características. Que sempre o achou um “estrangeiro”. Um espanhol. Um estranho.

Hoje, Messi não foi o craque brilhante do Barcelona, ou o jogador de Playstation que alguns acham que ele seja. Foi um guerreiro. Combateu, marcou, brigou. Errou. Entretanto, quando teve a chance, acertou. Foi decisivo. Foi Messi.

Desta vez, com alma argentina.

Messi vibrou bastante após marcar o gol da vitória argentina contra a Bósnia, no Maracanã (Foto: Google)
Messi vibrou bastante após marcar o gol da vitória argentina contra a Bósnia, no Maracanã (Foto: Google)

A COPA DO MUNDO E SUAS COINCIDÊNCIAS

deixa falar - copa - foto 4Enfim chegou a hora! Estamos a três dias do início da Copa. Pode parecer loucura, mas vejo que uma energia estranha cerca o Mundial do Brasil. E essa atmosfera diferente faz-se presente desde seu anúncio, em meados de 2007, até os desmandos políticos e, agora, as mortes de profissionais que trabalhariam no evento.

Sim, eu acredito em coincidências. Quando algo tem que acontecer, acontece.

O famoso “clima de copa” em quase nada se parece com o de outras edições. E a razão é simples: grande parte da população não digeriu a incompetência do país na organização do torneio. A antipatia de alguns quanto à própria seleção e, principalmente, o evento é grande. O que, certamente, se tornará ainda mais evidente nos próximos dias.

O corte de grandes jogadores sempre fez parte do roteiro de uma Copa. Entretanto, o número de craques que se lesionaram, quase que na mesma semana, às vésperas do início da competição, assustou até o mais cético dos torcedores. Por outro lado, a expectativa de bons jogos e muita emoção para quem curte futebol parece aos poucos aflorar.

Nesse fim de semana já foi possível notar algumas ruas pintadas. Escolas, prédios, carros, todos com as cores da bandeira brasileira, anunciando, quase que discretamente, a chegada da Copa.

Não vai ser a Copa que todos esperavam. Não será a Copa de todos. Será de poucos. Para poucos. Mas, a emoção de quem ama futebol não terá medidas. Será única. E não acho errado que desfrutemos dela, sem se esquecer do resto, é claro.

Lembremos: o futebol, em sua essência, sempre será democrático.

Como de praxe, no meio de tudo isso está a imprensa. A cobertura feita por alguns veículos de comunicação na Granja Comary chega a beirar o ridículo. Principalmente pela forçação de barra, excesso de otimismo e intimidade que não existe. Porém, Felipão parece ter malandragem suficiente para lidar com situações dessa estirpe que, num piscar de olhos, num clique mal-intencionado, podem colocar tudo a perder.

Só nos resta seguir em frente. Sem desanimar. Agora é torcer para que nada de pior aconteça até o dia 13 de julho. O Brasil não levar essa Copa parece menor diante de tudo que já vivemos antes do esperado dia 12.

Uma boa Copa a todos!

PERTO DO FIM

Desde o dia em que fui convidado pelo nobre João Paulo Tozo para integrar a equipe de colaboradores do F.F.C. e escrever, sempre que possível, sobre a Portuguesa, me senti honrado. Sim, não é demagogia. Já disse isso muitas vezes em meus posts relacionados à ela. Sempre foi (e será) um prazer indescritível brincar com as palavras tendo a Rubro-Verde como protagonista.
Realmente aprendi a gostar. É o time do meu bisavô.

Por outro lado, a realidade é dura. E os moldes no qual está inserido nosso futebol não costumam perdoar gestões amadoras. Como tenho falado há tempos, a Portuguesa se transformou em um clube anacrônico. Retrogrado. Varzeano. Gerido por pessoas da pior estirpe.

Após a polêmica do caso Héverton, na qual foi derrubada por ação do fogo amigo, por bandidos que estavam lá dentro, o clube caminha a passos largos rumo à extinção.

Na 19°colocação da Série B, com 8 pontos em 8 jogos, o futuro é tenebroso. Para não dizer trágico. Principalmente por aqueles, que sempre estiveram no concreto das bancadas do Canindé, estarem desistindo da luta. Jogando a toalha.

Ontem, na goleada acachapante diante do Sampaio Correia por 4 a 1, apenas 800 guerreiros foram ao estádio. A tendência desse número é diminuir. Sumir.

Recentemente, publiquei um texto elogiando algumas atitudes do presidente Ilídio Lico, porém pouco tempo passou e ele se mostrou idêntico aos outros: incompetente.

Um errava por se meter demais no que não entendia. O outro, agora peca pelo excesso de omissão e pura passividade. Enquanto isso, o clube vai agonizando, moribundo e irreconhecível. Jogado às traças.

Torço fervorosamente para que a Lusa volte a ser rival do meu clube, como era no passado.

Torço para que volte a incomodar.

A revelar.

A não ter mais a minha simpatia.

A ser Portuguesa.

Torço…

Torcedor da Portuguesa demonstra orgulho de sua equipe (Foto: Leandro Moraes/UOL)
Torcedor da Portuguesa demonstra orgulho de sua equipe (Foto: Leandro Moraes/UOL)

NO BANCO, NÃO HÁ FAVORITO

Ancelotti e Simeone equilibram final da UCL, que tem Real como melhor equipe (Crédito de imagem: AP)
Ancelotti e Simeone equilibram final da UCL, que tem Real como melhor equipe (Crédito de imagem: AP)

O Atlético de Madrid, finalista da UEFA Champions League, conseguiu diminuir o estigma de ser o primo pobre da capital espanhola. Ganhou respeito. Venceu o campeonato nacional com merecimento e ressurgiu para o cenário mundial.

Toda bela campanha tem um protagonista. E esta, conta com o bom trabalho de uma figura conhecida nos corredores do Vicente Calderón: Diego Simeone. Para muita gente, o sucesso do ex-jogador foi uma surpresa.

Marcador implacável, por vezes até agressivo, Cholo foi um dos líderes de uma Argentina promissora nos anos 90. Com a camisa da seleção, venceu duas vezes a Copa América, uma Copa das Confederações, além de ter sido medalhista de ouro nas Olimpíadas de 1996. Uma carreira de bastante sucesso.

Por outro lado, muitos ídolos têm medo de trocar a chuteira pela prancheta. No caso de Simeone, isso não aconteceu. Sem titubear, o treinador logo mostrou qualidades em seu primeiro ano na nova função, ao ser campeão argentino com Estudiantes e, depois, River Plate. Após passagem pelo Catania, da Itália, o ex-volante chegou ao Atlético.

E não demorou muito para levantar sua primeira taça: a Liga Europa 2011/12. No ano seguinte, faturou a Supercopa da Europa e, de quebra, levou ainda a Copa do Rei. Nessa temporada, batalhou duro para que o Atlético alcançasse o tão sonhado título espanhol, quebrando um jejum de 18 anos. E o troféu veio, na última rodada, num empate suado com o Barcelona, no Camp Nou.

Simeone já está na história. É o craque do time, mesmo estando fora de campo. O ídolo da torcida. A referência. Estudioso, o hermano surpreendeu até José Mourinho, mostrando que, além de saber montar fortes esquemas defensivos, também arma times que jogam bonito e tem boa posse de bola – características que ajudaram a equipe espanhola eliminar o Chelsea, em Londres, nas semifinais.

Simeone é a bola da vez. Após o mundial, seu nome está sendo cotado para assumir o posto de Sabella no comando da Albiceleste, além de equipes importantes do futebol europeu na próxima janela de transferências.  Se vencer a Liga dos Campeões neste sábado, poderá consolidar-se como o melhor técnico da temporada. Algo incontestável até o momento.

Se Simeone é novidade, o mesmo não vale pra Carlo Ancelotti, comandante do Real Madrid. Calmo, sem demonstrar muitas expressões, o italiano de 54 anos possui vasta experiência no cargo de treinador. Até chegar ao clube merengue, Ancelotti passou por Juventus, Milan, Chelsea e Paris Saint-Germain. Por todos esses times, além de deixar boas impressões, foi campeão.

Com 15 títulos no currículo, ele quer, dessa vez, entrar para a história do Real Madrid como o técnico da conquista de “La Décima”. Para isso, precisa confirmar o favoritismo que sua equipe ostenta diante do rival conhecido.

Na última edição da Copa do Rei, o Real conseguiu duas vitórias confortáveis diante do Atlético. Um 5 a 0 no placar agregado, se vingando da eliminação sofrida na edição anterior. Mas, de um modo geral, há um equilíbrio aparente nos dérbis recentes.

Nos últimos cinco jogos, cada um saiu vencedor por duas vezes, e houve um empate. O último encontro aconteceu no segundo turno da Liga BBVA, quando houve um 2 a 2 emocionante no Vicente Calderón. No primeiro turno, a vitória foi colchonera em pleno Santiago Bernabéu, vitória por 1 a 0, gol de Diego Costa, duvida para o jogo de logo mais.

Com 45 vitórias, seis empates e cinco derrotas em 56 jogos dirigindo o Real Madrid (um aproveitamento de 80,36%), Ancelotti leva vantagem sob Simeone. Os números do argentino são bem inferiores, mas ele possui mais jogos à frente do Atlético. Em 143 partidas, Cholo viu sua equipe vencer 95 delas, empatar 26 vezes e sofrer 22 derrotas – 66,43% de aproveitamento.

É óbvio: estatística não ganha jogo. É papo para jornalista. Ainda mais quando se trata de técnicos, que não marcam gol. No entanto, com grandes jogadores à disposição, qualquer alteração, seja no emocional ou no fator tático, pode fazer a diferença.

O Real é mais time que o Atlético. Porém, no banco de reservas este duelo não tem favorito.

A XENOFOBIA BRASILEIRA QUANTO AO TREINADOR ESTRANGEIRO

Ainda sem treinador, Lúcio, zagueiro e capitão do Palmeiras, deu a entender que não era favorável a chegada de um estrangeiro para comandar a equipe. Os motivos são os de sempre: língua, adapaptação, choque cultural. Causa estranhamento uma declaração dessas. Justamente dele, que viveu sua melhor fase na carreira sob a batuta de José Mourinho e Rafa Benítez, em 2010, defendendo as cores da Inter de Milão. Técnicos que não eram italianos, diga-se.

Cobramos, quase sempre, por uma mudança no cenário futebolístico brasileiro. Principalmente na mentalidade. No modo de se ensinar, enxergar e, principalmente, pensar o jogo. Este, cada vez mais chato e previsível. Parecido em nada com o que um já dia foi. Porém, há ainda uma parcela, assim como o defensor alviverde, que age de má fé. Demonstrando autosuficiência quanto a figura do técnico estrangeiro. Como se tratassemos de alguém que não acompanha e não entende nada do que rola nos gramados tupiniquins. Ao ponto do idioma ser o principal problema. Um dos motivos que alegaram para Guardiola não ser o técnico da seleção após a queda de Mano.

A prova do equívoco é tão gritante que, em 2012, Santos e Palmeiras tentaram a todo custo trazer Marcelo Bielsa. O Verdão ainda insistiu em um novo contato em 2013, para substituir Gilson Kleina, hoje sem clube. No final das contas, o argentino não se acertou com nenhum dos dois, mas surpreendeu jornalistas, imprensa e torcida com o vasto conhecimento que tinha dos clubes daqui. ”El Loco” se destacou por onde passou pela forma inovadora com que armava suas equipes. Outra característica marcante é quanto ao fato de ser um estudioso da bola. Um vencedor.

Acredito que muitos se apegam, ainda, aos insucessos dos gringos que se aventuraram por aqui. Casos mais conhecidos de Daniel Passarela e Jorgi Fossati. Recentemente, o Atlético-PR trouxe dois: o uruguaio Juan Carrasco e o espanhol Miguel Ángel Portugal. Ambos não vingaram. Mas isso não prova nada. A qualidade, sim.

Somos imediatistas. Sendentos por resultados instâneos. Vemos na figura do técnico, muitas vezes, uma espécie de salvador da pátria, ou vilão. Capaz de entrar em campo e resolver, ou não resolver. O reflexo do péssimo panorama está nos números. Estamos em maio e 130 treinadores já perderam o boné Brasil afora.

Gareca e o desafio de vingar em um grande clube brasileiro.
Gareca e o desafio de vingar em um grande clube brasileiro.

O mercado nacional de treineiros está escasso. Nomes inflacionados, e de poucos resultados ao longo de suas carreiras, ainda pipocam constantemente por aí. Vivemos um ciclo vicioso. São sempre os mesmos. Com as mesmas ideias. E os mesmos resultados.

Gareca terá no Palmeiras a chance de quebrar um paradigma. De ser a exceção. E chega com bons olhos daqueles que o conhecem. Dirigiu o Vélez Sarsfield por cinco temporadas, nas quais levou a equipe ao tri-campeonato argentino. Não é qualquer um. Nem um superstar da tática.

A impressão, é que alguns brasileiros ainda acham que as cinco estrelas na camisa da CBF ainda significam que somos os melhores. Tanto dentro, quanto fora do campo.