SANTA CRUZ, O MAIS QUERIDO

Tiago Pimentel é corintiano, paulistano, adotou Recife como sua nova residência e apaixonou-se pelo Santa Cruz.

Por: Tiago Pimentel

Aceitei a incumbência que me foi dada pelo FFC para escrever sobre o acesso do Santa Cruz à Série C do Campeonato Brasileiro. Então, mãos a obra.

Primeiramente, cumpre esclarecer que não sou jornalista, portanto, me reservarei o direito de abordar o tema de forma bastante pessoal. Quem quiser uma análise meramente técnica sobre futebol, é melhor ler algo escrito por um especialista.

Quando cheguei ao Recife, comecei a acompanhar o futebol local, e em pouco tempo entendi o papel de cada clube da cidade. O Náutico, um clube com sede em área nobre da cidade, representa a elite da Zona Norte, uma torcida apática que se apega ao lema “Hexa é luxo” (após a batalha dos aflitos em 2005 e outros fracassos ridículos é candidato seríssimo ao título de time mais frouxo do mundo *). O Sport…bem, o Sport, é o grande bicho papão de Pernambuco, campeão brasileiro, campeão da Copa do Brasil e um porrilhão de títulos estaduais. Consequentemente, tem os torcedores mais arrogantes que eu já conheci.

No que pertine ao Santa Cruz, a princípio tive uma antipatia, pois tem as mesmas cores do São Paulo (esqueci de mencionar que sou corinthiano). Mas logo, compreendi o papel do Santinha no esquema futebolístico do Estado. O Santa Cruz é o clube da massa, com sede na periferia, do “povo feio”, enfim, da “mundiça”, como gostam de dizer por aqui. Sendo eu, corinthiano, maloqueiro e suburbano, era questão de tempo até eu adotar o tricolor pernambucano. Então ignorei as cores e me concentrei no conteúdo. Em outras palavras, dei preferência à matéria em detrimento da forma, e passei a torcer pro Santinha.

Há seis anos, 2005 para ser mais preciso, quando me mudei de São Paulo para o Recife, o Santa Cruz passava por uma grande fase. No primeiro semestre, o Campeonato Estadual. No fim do ano o acesso, à Série A do Brasileirão. Depois disso a coisa degringolou, e o Santinha experimentou uma vertiginosa queda até a Série D, onde permaneceu por três anos.

Foram anos difíceis, mas o que mais impressionou foi que, em proporção inversa à queda, o média de público em jogos do Santa Cruz só fazia aumentar. Por incrível que pareça, o torcedor tricolor se mostrou mais assíduo do que corinthianos, palmeirenses, flamenguistas, são-paulinos, etc. Mesmo assim, nada do time apresentar algum sinal de que as coisas seriam melhores.

Isso até o corrente ano. Sob o comando do técnico Zé Teodoro, o Santa Cruz garantiu mais um título estadual, na final contra o rival Sport, também conhecido como “a coisa”. E o cenário que estava em tons de cinza, passou a ter três cores. Não que o futebol apresentado fosse lá grande coisa. Mas empurrado por sua imensa e apaixonada torcida, o time, ainda que aos trancos e barrancos, foi galgando o caminho da Série C.

E o que se viu no último domingo foi algo para ser eternamente lembrado: a festa em vermelho, preto e branco de 59966 torcedores num jogo da Série D! Após o empate em 3 x 3, na raça, contra o Treze, em Campina Grande, bastava não tomar nenhum gol para dar adeus à Quarta Divisão.

E o que se viu foi um 0 x 0 sofrido, que valeu mais que uma goleada. Um jogo nervoso, em que o Santa Cruz dominou a maior parte do tempo, embora o Treze, mesmo com 2 jogadores a menos, em determinado momento tenha ensaiado uma pressão.

Quando o juiz apitou o final da partida, não restou dúvida que o grande vencedor de 2011 foi o Santa Cruz. Ainda falta o título da Série D, mas para o tricolor pernambucano, o ano vai terminar com sabor de missão cumprida. E isso não seria possível sem a massa coral, que deu uma lição de dedicação, lotando o Mundão do Arruda nesses anos difíceis, nunca deixando de apoiar o Santinha. Mundiça querida, a Série C é tua!

*Vai no google e procura por “time mais frouxo do mundo”, é sério, não é de zua

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *