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(fdp)

POR FÁBIO VANZO

Juarez, paulistano de 35 anos, é um cara bacana. É fácil gostar dele: simpático, educado, leal aos amigos, honesto em sua profissão. Faz de tudo pelo filho. Só que tem dois “probleminhas” que complicam toda a sua vida: ele traiu a esposa, passou-lhe uma doença venérea, e agora ela dificulta as coisas para que ele não veja o filho, além de ter caso com o advogado. E muitos de seus problemas vêm da profissão que escolheu: Juarez é juiz de futebol.

Estreou este mês (passa aos domingos, 20h30min) no canal HBO a série nacional (fdp), criada por José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, com base em argumento de Adriano Civita e Giuliano Cedroni. Embora tenha sido produzida durante três anos, cabe perfeitamente como solução para a cota de conteúdo nacional que o canal é obrigado a exibir, por decisão recente da Ancine.

Em (fdp)­­, o protagonista Juarez, vivido por Eucir Soares, adora se fazer de vítima, e ficamos até com pena dele, até lembrarmos que o divórcio é recente (três meses) e que a ex-mulher (Cynthia Falabella), traída e sofrendo de DST por sua causa, tem todos os motivos para tratá-lo mal e complicar a vida dele com o filho (Vitor Moretti). Isso inclui se envolver com o advogado (Gustavo Machado), sempre galanteador pra cima da cliente.

Já na parte profissional, ele sofre porque árbitro de futebol é uma profissão ingrata mesmo: embora um de seus sonhos (apitar numa Libertadores da América) é realizado logo nos primeiros capítulos, Juarez, que almeja um dia apitar em Copa do Mundo, passa as agruras mais diversas da vida de árbitro com seus amigos e auxiliares de arbitragem, os bandeirinhas Romeu Carvalhosa (Paulo Tiefenthaler) e Sérgio Roberto de Paula, o Serjão (Saulo Vasconcelos).

E sua vida pessoal desce na mesma proporção que a profissional sobe: sem dinheiro, após perder na justiça a ação pedindo guarda compartilhada do filho, Juarez volta a morar com a mãe, Rosali (Maria Cecília Audi), guarda de trânsito aposentada e viúva. Só que ela tem um caso com o aposentado argentino – que fala portunhol– Guzmán (Adrian Verdaguer), o que vai azedar ainda mais a vida do árbitro.

Os episódios (foram filmados 13 para essa primeira temporada) têm a mesma estrutura: começam com um devaneio de Juarez, como apitar um final de Copa, e terminam com algum personagem (até a própria mãe)o xingando: “filho da puta”.

A série, que teve o ex-árbitro Sálvio Spínola como consultor, conta ainda com nomes importantes do mundo futebolístico fazendo pontas, como Rivellino (padre), Juca Kfouri (jornaleiro), Dentinho (repórter) e Neymar (entregador de água).

Imperdível para amantes de futebol e humor, (fdp) mostra bem o quanto esse anti-herói do esporte tem vida difícil: embora tenha o poder de decidir partidas, não recebe estrutura nenhuma para isso, ficando à mercê de desmandos poderosos que regem o futebol sob a luz e nas profundezas, e da fúria das torcidas de todos os times.

Como afirmou o protagonista Eucir Soares para a Folha de S. Paulo: “As pessoas não o xingam só quando ele prejudica o seu time, é apenas porque ele é juiz. Ele está ali representando a ordem, que a gente sempre quer quebrar. É como um professor ou um guarda. É normal ter raiva dessas figuras”.

À Procura de Eric

Para os que duvidam que futebol é cultura, estampo na lata desses cidadãos a crítica mais do que positiva sobre o filme “À Procura de Eric”. Filme que conta a relação entre um fã ardoroso e seu ídolo.

O ídolo? O francês Eric Cantona, craque histórico do Manchester United. Temperamental, explosivo e polêmico, na mesma medida em que foi brilhante com as bolas nos pés. Uma personalidade digna de filme.

A seguir, segue uma crítica do filme feita pelo site OMELETE (http://www.omelete.com.br/). Mas, antes de acompanhá-la e aproveitando-me do tema, eu lhes pergunto:

Qual desses craques brasileiros e de temperamento e/ou trajetória semelhante ao de Cantona, você gostaria que virasse tema de filme?

-Edmundo
-Casagrande
-Serginho Chulapa
-Adriano

Você responde a enquete no canto superior direito do blog.

Crítica: À Procura de Eric


Comédia dramática mostra o jogador francês sob o ponto de vista de um fã
23/10/2009

Marcelo Forlani

Antes de mais nada, uma apresentação. Durante os anos 90, o Manchester United se consolidou como o time de futebol mais importante da Inglaterra, ganhando títulos e mais títulos. Um dos principais astros da equipe era um francês: Eric Daniel Pierre Cantona, ou Rei Eric, como os torcedores dos Red Devils cantam até hoje. Imponente em campo com a gola de sua camisa para cima e peito cheio, porém, Cantona tem como um dos lances mais famosos a voadora que deu em um torcedor do Crystal Palace, que lhe rendeu uma suspensão de 9 meses fora dos gramados. Na coletiva de imprensa, ele proferiu a célebre frase “Quando as gaivotas seguem o barco dos pescadores, é porque pensam que sardinhas serão atiradas ao mar”, que encerrou a entrevista deixando jornalistas olhando uns para as caras dos outros. O longo período sem contato com a bola só aumentou a voracidade do francês, que ao retornar ao seu palco ajudou o time do norte da Inglaterra a criar uma hegemonia sem igual no futebol mundial.

Muitos destes gols ainda estão na mente dos amantes do futebol até hoje. O roteirista Paul Laverty e o diretor Ken Loach são dois deles. Os dois foram procurados por produtores franceses para montar um filme sobre a relação entre Eric Cantona e um fã e conseguiram criar uma história de amor, com comédia, drama familiar, amizade e, claro, futebol. E provando que são realmente apaixonados pelo esporte bretão, não tentaram mimetizar o imprevisível jogo, preferindo usar imagens de arquivo de lances protagonizados pelo francês.

O lado humano de À Procura de Eric (Looking for Eric, 2009) fica nas mãos de Eric Bishop (Steve Evets), um carteiro que sofre de ataques de pânico. Em uma das primeiras vezes que teve um destes surtos, Bishop saiu de casa, deixando para trás sua jovem esposa Lily e a recém-nascida filha. Vários anos se passaram, a menina está prestes a se formar na faculdade, mas para isso precisa da ajuda de seus dois pais para ajudar a cuidar de sua filhinha enquanto termina sua tese de conclusão de curso.

O peso de ter abandonado sua família ainda pesa sobre os ombros de Eric, que vive com os enteados do segundo casamento, meninos totalmente fora do controle, que não ajudam em casa e estão cada vez mais perdidos pela falta de uma figura paterna. A única forma que Eric acha para relaxar é roubando um punhado da maconha de um dos meninos. E em uma dessas viagens, o próprio Eric Cantona aparece para ouvir, aconselhar com novos provérbios e fazer companhia fumando junto. É Cantona interpretando a si próprio, mas sob o endeusado ponto de vista de um fã.

A imagem icônica de Cantona na parede do quarto de Eric Bishop mostra um cara extremamente confiante e é isso que Cantona tenta passar ao inglês. Em uma das cenas, o francês ensina seu fã a dizer “NON!” com ênfase e significado, o que o ajuda a colocar ordem em sua casa. Com a ajuda dos amigos do correio, ele resolve outros problemas pessoais, dando sentido à frase que abre o filme: um lindo passe de Cantona para um de seus colegas no Manchester United que termina em gol. “É preciso confiar nos amigos de sua equipe”, profetiza o ex-jogador.

Além de fazer rir e emocionar, Loach e Laverty também aproveitam para tecer uma crítica ao atual estágio do futebol, em que clubes cobram fortunas de seus fãs, se tornam cada vez mais ricos e, consequentemente, elitistas, privando de suas arquibancadas o trabalhador comum, como os carteiros. E assim os dois provam mais uma vez que gostam e entendem de futebol.

Não apenas o que acontece dentro das quatro linhas e envolve 22 pessoas correndo atrás de uma bola, mas também de seus bastidores. E que também entendem e amam uma história bem contada, pois você não precisa saber nada disso para entrar no cinema e se divertir com o filme. Basta saber que Eric Cantona é uma lenda dos gramados que acaba de ser eternizado também na sétima arte. Que belo passe ele deu ao chamar Loach e Laverty para contar essa história!

O outro país do futebol

O futebol invadiu de vez os cinemas. Depois das produções brasileiras e inglesas sobre o tema, agora um filme mexicano chega às telonas. Confira:

O outro país do futebol

Por Elaine Guerini, para o Valor, de Park City (EUA)
09/04/2009
Divulgação
Gael García Bernal e Diego Luna protagonizam filme inspirado no documentário “Futebol”, dirigido João Moreira Salles

Jovem fanático por futebol vê no esporte a chance de deixar para trás uma vida miserável. E sua sorte será decidida no momento mais dramático do esporte: na hora de bater o pênalti. Não, não se trata da sinopse de “Linha de Passe” (2008), o último longa-metragem que Walter Salles rodou no Brasil. Esse é o enredo de “Rudo y Cursi”, comédia mexicana sobre dois irmãos que trocam o trabalho duro na plantação de banana pelos campos de futebol profissional. Dirigido pelo estreante Carlos Cuarón, irmão mais novo de Alfonso Cuarón (que aqui atua como produtor), o título deu novo fôlego ao cinema do México, atraindo 3 milhões de espectadores e respondendo pela terceira maior bilheteria doméstica registrada nas duas últimas décadas no país.

Os números de “Rudo y Cursi” só perdem para os de “O Crime do Padre Amaro” (2002), filme de Carlos Carrera visto por 5,2 milhões de pessoas, e para a animação assinada pelos irmãos Rodolfo e Gabriel Rivapalacio “Uma Película de Huevos” (2006), com 3,3 milhões de ingressos vendidos. Desde que foi lançada, em 19 de dezembro, a história dos irmãos Rudo (rude, em espanhol) e Cursi (brega, na tradução) já arrecadou US$ 9,1 milhões nas salas mexicanas. Também estreou na Argentina e no Chile e tem previsão de ser lançado exclusivamente em DVD no mês que vem, quando estreia nos Estados Unidos.

Este é o primeiro título da produtora Cha Cha Cha, criada pelos cineastas mexicanos Guillermo Del Toro, Alejandro González Iñárritu, Alfonso e Carlos Cuarón. Também marca o reencontro nas telas dos dois atores mexicanos de maior repercussão internacional: Gael García Bernal e Diego Luna. A dupla contracenou pela primeira vez na comédia “E Sua Mãe Também” (2001), dirigida por Alfonso, que co-escreveu a trama com Carlos – ambos receberam uma indicação para o Oscar de melhor roteiro original.

“Embora tenha o futebol como pano de fundo, achei que seria muito mais instigante não mostrar as jogadas em campo. Tudo o que vemos são as reações dos torcedores”, disse Carlos, em Park City, onde “Rudo y Cursi” foi apresentado em caráter hors-concours no 25º Festival de Sundance.

A matéria completa está no jornal Valor Econômico de hoje.