La Mano de Dios – Agressão/Repressão

Agressão/Repressão

Pois é, meus amigos, na coluna de hoje não vou tratar do futebol. Primeiramente, porque a quarta rodada do Brasileirão foi um sofrimento, “um deserto de homens e idéias”, como já disse o grande cabeção Rui Barbosa. Em segundo lugar, porque os fatores extra-campos acabaram sendo muito mais relevantes do que as partidas em si.

Não é de hoje que a truculência da polícia brasileira é famosa. Inúmeros são os casos de abuso de poder, contravenções, humilhações e violência perpetrados por aqueles responsáveis pela manutenção da ordem. Também não é de hoje que essa mesma polícia orquestra as mesmas cenas sofríveis do cotidiano nas imediações e dentro dos estádios de futebol.

Mas os acontecimentos do último fim de semana acenderam a luz vermelha, mostrando a todos que as coisas estão tomando um rumo muito perigoso. O zagueiro Andre Luis, do Botafogo, não estava nem um pouco certo ao tomar as atitudes que tomou quando foi expulso de campo. Mas ele é um civil, um jogador imerso em um momento de extrema pressão psicológica, e infelizmente teve as atitudes mais primais frente à situação.

Por outro lado, a Polícia de Pernambuco, encarnada naquele momento na figura da aspirante a tenente Lucia Helena, foi de uma truculência descabida. Vestidos como se fossem encarar os piores bandidos da face da Terra, os policias que estavam no estádio tiraram o jogador do recinto à base de torções de braço, agarrões e violência verbal. Como se tudo isso não bastasse, a saída de Andre Luis se deu pelo meio da torcida do Náutico!

Pode-se argumentar que os policiais são apenas humanos e que estão sujeitos a cometer erros como qualquer um. Porém, a partir do momento que vestem o fardamento da corporação, que supostamente recebem treinamento para lidar com situações críticas e que encarnam em sua figura todos os supostos valores de respeito e segurança de uma sociedade, atitudes como as vistas no domingo são inadmissíveis.

A falta de preparo, de planejamento e de monitoramento das ações de seus subordinados é notícia velha na polícia brasileira – qual de vocês, amigos, nunca tomou uma borrachada? Porém, já faz algum tempo que esses defeitos estão gerando ações selvagens no futebol. O despreparo da polícia já acabou com Lori Sandri algemado e autuado por desacato em 2007, após ter invadido o campo do Estádio dos Aflitos para reclamar da arbitragem; já acabou com idosos sendo agredidos pela polícia na ocasião da final paulista entre Palmeiras e Ponte Preta no Palestra Itália; já acabou com gente apanhando nas arquibancadas azuis do Morumbi, enquanto os torcedores que faziam confusão estavam na laranja; já acabou com gente que não tinha nada a ver tomando paulada quando uma massa acéfala tentou invadir o gramado do Pacaembu no jogo Corinthians e River Plate… citar esses fatos basta para exemplificar, mas são migalhas frente à nossa triste história.

Enquanto não houver um planejamento inteligente e responsável, a formação de uma força tática especializada em partidas de futebol e outros eventos aglutinadores de público – como é feito na Europa -, as cenas de domingo tendem a se repetir. Que me desculpem os policiais honestos e profissionais, mas as atitudes daqueles do Aflitos nunca fizeram ser tão verdadeira a pichação que todos os dias eu lia no muro da Faculdade de Letras da USP: “A farda é uma jaula, aonde só cabe um animal”.

A música desse texto não podia ser outra: Ratos de Porão – Agressão/Repressão

Rapidinhas: Cuca no Santos, Abel Braga no Qatar, outros cinco técnicos foram demitidos ou largaram os clubes. E só estamos na quarta rodada. É a dança dos técnicos, meus amigos!

A zica do pântano não assola só o Tricolor paulista. Santos, Botafogo e Internacional também não andam acertando. É cedo para qualquer prognóstico, mas nunca se deve subestimar a zica do pântano…

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