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O GRANDE MONTILLO

 

Por João Paulo Tozo

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Ao contar a história de Montillo no futebol, adjetivos como “digno”, “integro” e “honesto” precisam necessariamente vir antes de qualquer tentativa de enquadra-lo como craque ou apenas um bom jogador. A segunda parte compete à visão e entendimento de jogo de cada um. Entender ser Montillo um sujeito raro no esporte é obrigação.

Foram seis meses de Botafogo, um punhado de jogos, nenhum gol marcado, cinco contusões e uma infinidade de exemplos que precisamos olhar com muito carinho e atenção e reproduzi-los também em nosso dia a dia.

O incomodo com suas lesões foram além da impossibilidade de ajudar o time em campo, mas também a de lesar o clube com seus altos vencimentos. A cada lesão uma tentativa de fazer com que a direção não precisasse pagar seus salários até que pudesse voltar a atuar. E o Botafogo rechaçou de prontidão todas as tentativas. Foram dignos, jogador e clube.

Sua coletiva de despedida precisa necessariamente causar comoção em qualquer um que ame o esporte e que queira ter a retidão como conduta de vida. Aos 32 anos, um jogador de alto gabarito encerrou sua carreira por entender não ter mais condições físicas de oferecer o que dele se espera e o que ele próprio sabe que poderia oferecer.

Que o futebol forme outros Montillos. E que não o perca agora por completo.

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PÉS NO CHÃO PARA VOAR MAIS ALTO!

Um dos clássicos mais tradicionais do Brasil, que na década de 60 era certamente o maior de todos, hoje não possui mais o mesmo encanto.

Santos e Botafogo nem de longe tem os elencos gloriosos de tempos passados. O time carioca mal consegue manter o atual plantel, enfrenta grave crise e corre sério risco de voltar à Série B.

Já a situação do Peixe não é tão desastrosa, mas o time ainda enfrenta dificuldades para engrenar e vê na Copa do Brasil a esperança de salvar a temporada.

Em suma, o confronto das quartas de final escancarou a realidade do Botafogo e deu bons indícios para o time da Vila. Porém, quem está no futebol há muito tempo sabe que existe uma máxima que não pode ser ignorada: “pés no chão”.

É fato que os 5×0 foram sonoros, inapeláveis e encheram de moral um time que precisava justamente desse “algo a mais” para galgar degraus e almejar “voos” mais ousados.

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Contudo, o adversário superado não pode criar a ilusão no Santos de que o time está pronto. O foco deve ser mantido, pois o abismo que separa o Botafogo do Cruzeiro (próximo confronto) é do tamanho da goleada aplicada.

Sendo assim, para voltar à disputa pela conquista da América, o Santos precisa de “pés no chão” e regularidade, já que se a meta é salvar o ano e voar mais alto em 2015, agora, só faltam 4 jogos para alcançá-la.

20 ANOS DE ESTÁDIO

Em mais um texto de convidado, nosso camarada Raphael Prado fala sobre os vinte anos de sua primeira ida ao Pacaembu pra ver o nosso Timão jogar. Confere logo aí abaixo:

 

Por Raphael Prado

 

O dia 24 de julho é uma data especial pra mim, pois foi o dia que eu estreei como torcedor de estádio e vou contar aqui em breves palavras como foi esse dia.
Minha madrinha corintiana doente e sempre ligada em esportes queria levar meu primo e eu no ginásio do Ibirapuera pra ver um jogo de basquete, mas logo que vimos no jornal que nesse mesmo dia o Corinthians estaria jogando contra o Botafogo pelo torneio Rio-SP, meu primo e eu ficamos empolgados com a chance de ir pro jogo do Timão, aliás, nosso primeiro jogo no estádio.

24 de Julho de 1993, um sábado à tarde, última rodada da primeira fase do Torneio Rio-SP, Timão já classificado pra jogar as semifinais e o Botafogo sem chance de classificação, um jogo normal, sem nenhum atrativo em especifico, mas que com certeza nunca sairá da minha cabeça.

No caminho até o estádio, já estávamos no clima do jogo, no carro estavam Rogério então namorado da minha prima, um amigo do trabalho dele, minha madrinha e os guris; eu, meu primo e um amigo nosso, ficamos boquiabertos com a torcida andando pela avenida, todos com camisas do timão, e pintando a Avenida Pacaembu de preto branco.

Chegando no estádio Rogério e seu amigo foram para o portão principal e minha madrinha com a criançada foi pro portão de acesso aos menores não pagantes, no caso os três guris. Subindo a escada de acesso a arquibancada já dava pra ver o gramado, a torcida, toda vibração do local.

O ingresso do jogo.
O ingresso do jogo.

Estávamos ao lado do setor das numeradas, quando minha tia perguntou de onde nós queríamos ver o jogo, e a resposta foi unânime; “de lá tia, de lá…” era bem na arquibancada (na época não haviam as cadeiras laranjas), ao lado das torcidas uniformizadas, perto do bandeirão, da bateria…

Encontramos o Rogério e seu amigo, e arrumamos um lugar pra sentar, ficamos entre a curva onde as uniformizadas estavam e a parte mais centralizada do estádio, tudo era novo, até o simples fato de tomar coca cola e comer amendoim antes do jogo era especial. Quando perto das 16hs o timão entra em campo, um sonho se realizando nós três pivetes, de 10, 8 e 7 anos, assistindo ao jogo do Timão no estádio!

O jogo em si foi tenso, o Botafogo ganhava o jogo por 2 a 1, e jogo estava no final, e eu pensando que logo na minha estreia em estádio meu time ia perder e ficar com fama de pé frio, já estava ficando triste, quando aos 42 minutos do segundo tempo, o veterano atacante Bobo [que veio do Bahia], empatou o jogo, alegria e alívio no mesmo instante. Ali foi a minha primeira experiência de sofrimento coletivo ao vivo no estádio.

Na volta pra casa, foi só festa, o resultado de 2×2 não era importante e sim tudo que foi vivido naquele dia, as coisas que não saem e jamais sairão da minha cabeça. Aquela noite nem consegui dormir direito, estava rouco, com a cabeça a milhão ainda pensando e lembrando do jogo, lembrando como foi a minha estreia no Pacaembu, como foi minha estreia em estádio, como foi ver meu querido time de perto pela primeira vez.

Passei um bom tempo procurando o vídeo com os gols desse jogo até que no mês passado em mais uma busca eu finalmente achei.

 

*Postado originalmente no blog do Raphael Prado. http://raphaelprado.wordpress.com/2013/07/24/20-anos-de-estadio/

CLARENCE SEEDORF ME REPRESENTA

O torcedor brasileiro aprendeu a desdenhar dos campeonatos regionais. Sobretudo as novas gerações que já nasceram em uma época onde a Taça Libertadores é o céu e o regional a escória.

Em termos práticos o referencial é esse mesmo. Mas termos práticos são aplicados facilmente ao cotidiano, nem tanto ao futebol.

A geração anterior, talvez a qual eu pertença, cresceu em um tempo onde os regionais viveram talvez sua última grande fase, com times sendo montados para a sua disputa, com estádios lotados, rivalidades acirradas.

Não escondo de ninguém que a minha mais emblemática e apaixonante lembrança dentro do futebol se deu em um Campeonato Paulista, aquele de 1993.

Os tempos são outros, as perspectivas e expectativas mudaram, o torcedor mudou e em grande parte a boleirada também está diferente – em grande parte e infelizmente para pior.

Tenho para mim que time de futebol existe para vencer. Não necessariamente deva vencer, já que essa é a premissa válida para o oponente. Mas uma vez no certame, a obrigação é lutar pela vitória. E a grandeza dessa vitória se dá muitas vezes mais pelo tocante de momento do que pelo peso da competição.

Foi o que disse ontem o meia D´Alessandro, do Internacional, ao final do jogo em que o seu colorado sagrou-se campeão Gaucho. Lembrando da obrigatoriedade que todo profissional da bola deve ter ao entrar em campo defendendo as cores do clube que o abriga.

Foi o que disse, emocionado e segurando o choro, o técnico Osvaldo de Oliveira, comparado o título de seu Botafogo aos outros de sua carreira, muitos deles maiores que essa conquista, mas não menos especiais, pelo simples fato de ter sido ele educado na vida de futebolista através do campeonato carioca dos anos 1950 em diante.

Mas nenhum testemunho joga mais por terra o argumento dos que desdenham da vitória regional do que as palavras ditas por um cara que venceu “somente” quatro Uefa Champions League, sendo o único a realizar o feito por três clubes diferentes. Três instituições do planeta bola como o Ajax, o Real Madrid e o Milan. Desfilando seu talento pelos melhores e mais emblemáticos estádios do mundo, com histórico invejável em sua seleção e já sendo parte do hall dos grandes da história.

Se Clarence Seedorf aceita atuar em gramados pouco ou nada atraentes, em estádios minúsculos, para públicos muitas vezes irrisórios. Se o holandês que fala um português melhor que o de muito boleiro brazuca, chora e valoriza o seu primeiro titulo pelo Fogão, ainda que seja o “carioquinha”, que moral temos nós para desmoralizar este feito?

O máximo que nós podemos fazer é pedir melhorias estruturais, organizacionais e uma adequação ao atual calendário. Desqualificar o título, jamais.

Futebol é muito mais do que a ostentação da taça de ocasião. É a ostentação da simples existência daquelas cores que te representam e que mediante a atuação de sujeitos como Seedorf, as dignificam e as fazem lhe saltar os olhos, lhe saltar da alma.

“É mais uma grande emoção na minha vida profissional. Dedico o título à minha família. Estou muito emocionado e cada título que eu conquistei até hoje tem algo diferente, cada um é sentido de uma forma” – Seedorf, Clarence.

Clarence Seedorf me representa.

O DUELO DOS MAESTROS

O Domingo no Engenhão foi dos camisas 10, tanto do Botafogo quanto do Corinthians. Seedorf, incontestável, fez os dois gols do Fogão e comandou o irregular time botafoguense, sendo ele a estrela solitária que denomina seu time. Se bem que também houve espaço para boas defesas do selecionável goleiro Jefferson, sem culpa nos gols do Corinthians. O primeiro deles sendo o primeiro de Paolo Guerrero com a camisa do Corinthians. Um gol de centroavante, aproveitando o bate e rebate na área. Além disso, o peruano fez bem o papel de “parede” entre Romarinho (que teve boa movimentação, mas não finalizou bem novamente) e Martínez. O segundo gol, da virada corintiana, ainda no começo do jogo, foi de pênalti de Douglas, que também foi destaque, movimentando-se bem, fazendo bons passes e comandando o meio de campo junto com Paulinho (que tentou alguns chutes, mas não foi tão bem desta vez).

Estranha mesmo foi a opção de Tite em escalar Alessandro na lateral-esquerda, na vaga do suspenso Fábio Santos e do lesionado Dener. Entendo a falta de opções, mas infelizmente não funcionou a contento: além de sem cacoete para marcar daquele lado, Alessandro ainda tomou um baile de Lucas, e falhou no primeiro gol de Seedorf, depois de cruzamento de Gabriel. Não é boa opção a ser improvisada. Tite precisa pensar em outro jogador pra suprir esta necessidade. Talvez Chiquinho, meia vindo do Ipatinga, que já jogou na posição…

Se Alessandro foi determinante no primeiro gol do Botafogo, no segundo o problema foi com Wallace, em quem o chute de Seedorf resvalou antes de ir para a rede. Mas no geral, o Corinthians foi aquele time pragmático ao qual já estamos acostumados.

Os gols do Corinthians foram marcados por Guerrero e Douglas.

Agora, o Timão ganha um espaço de uma semana para se preparar um pouco mais para o próximo jogo, dia 30, domingo, no Pacaembu, contra o Sport. Teremos a volta de Danilo e Fábio Santos, após a suspensão, além de ter tempo para recuperar um pouco mais Jorge Henrique, que até atuou alguns minutos contra o Botafogo, mas sem destaque.

Por falar em destaque, vamos ressaltar que aconteceu o sorteio das chaves do Mundial. O adversário do Timão sai entre o vencedor do confronto entre o campeão africano e o Auckland City da Nova Zelândia ou o campeão japonês. Houve quem comemorasse o fato de o Corinthians não ter que enfrentar o Monterrey do México (incluindo aí o diretor Duílio Monteiro Alves). Bobagem. Embora o futebol mexicano tenha sua qualidade, o Corinthians é o atual campeão da América, e não pode se dar ao luxo de escolher adversário, não é mesmo?

Pois é. Abraços.