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Grupo G – Bélgica, Panamá, Tunísia e Inglaterra – Análise

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Atenção ao Grupo G, pois é o primeiro colocado daqui que provavelmente enfrenta o Brasil em um eventual quartas de final. À primeira vista parece um grupo fácil para as duas europeias, Bélgica e Inglaterra, mas o grande barato de Copas do Mundo é que você pode pegar o seu vasto conhecimento de futebol, dobrar bem bonitinho e jogar na lata do lixo, tudo pode acontecer e a empolgação de uma estreante como o Panamá pode complicar a aparente vida fácil dessas duas poderosas. Ou até mesmo a busca pela segunda vitória de sua história em Copas do Mundo da Tunísia pode alterar as ordens naturais do Grupo H.

Mas em condições normais de pressão e altitude, o voo deve ser tranquilo para belgas e ingleses, que se encontrarão na última rodada para, provavelmente, decidir o primeiro lugar. A Bélgica vem com talentos em todas as posições, resta ver se conseguirão fazer com que o coletivo seja tão produtivo quanto o individual é, já a Inglaterra vem com um frescor raro para o tradicionalismo que é peculiar aos ingleses, novos talentos, ótimos jogadores, um técnico que se inspirou na Premier League e finalmente conseguiu encontrar um futebol parecido com o praticado na liga inglesa. A Tunísia vem sem o seu principal talento, Youssef Msakni, e sem uma vitória em copas desde 1978 e o Panamá vem para se divertir, como disse o próprio técnico da equipe, fazer uma estreia leve e torcer para que a tranquilidade crie surpresas e altere o status quo no penúltimo grupo desta Copa.

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Com a sua melhor safra da história, a Bélgica tem nessa Copa de 2018 a sua grande chance de fazer história, mas o céu não é perto para a famigerada geração belga, sem dúvida é um time recheado de talentos, do goleiro ao centroavante, porém, ainda pratica um futebol desequilibrado. Foi eliminado na Euro de 2016 pelo fraco País de Gales, seleção de Gareth Bale, e ainda trouxe na bagagem uma verdadeira aula de futebol defensivo da Itália de Antonio Conte.

O time joga muito intensamente, sempre presente no campo adversário, amassando os oponentes com muitas opções, triangulações, tabelas e por vezes um certo excesso de bolas alçadas na área. Batshuayi quando vem de trás sempre causa problemas, Hazard é o toque de classe do ataque, De Bruyne prende bem a bola e tem uma visão de jogo incrível, Lukaku tem faro de gol, sem contar que do volante pra frente você não vai encontrar um jogador que bata mal na bola, todo mundo chama a redonda de “você”. Mas defensivamente falando, no segundo tempo o ritmo cai um pouco e os espaços para o adversário começam a aparecer, a Bélgica ainda pode contar com o goleiraço Courtois, dando aquela confiança a mais para que a seleção belga continue jogando a frente.

Dona de um futebol muito técnico e de muitos talentos, a Bélgica fez uma eliminatória europeia impecável, se classificou de forma invicta e enfiou sonoras goleadas como o 9 a 0 contra Gibraltar ou o 8 a 1 contra a Estônia, adversários patéticos, é verdade, por isso esse timaço recheado de estrelas precisa ainda evoluir para almejar um título do tamanho de uma Copa do Mundo, pois vem apresentando certa instabilidade e tomando muitos gols de seleções melhores montadas. Sem dúvida protagonizará belos jogos e pode ser encaixada em um segundo pelotão de favoritas, mas por mais clichê que isso seja, a camisa não inspira confiança, mas bem, a camisa da França em 98 e a da Espanha em 2010 também não inspiravam.

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Quer se arrepiar com futebol e bradar a plenos pulmões que o ludopédio é muito mais do que um esporte? Pois bem, entrem no YouTube agora e procurem o gol que classificou o Panamá para uma Copa do Mundo pela primeira vez em sua história. Em apenas 2 minutos você verá o narrador aos 45 do segundo tempo dizendo que está difícil em um sofrido lamento, um clima de tensão no ar, torcedores chorando, uma bica pra frente, uma bola ganha de cabeça, a bobeira da zaga costarriquenha, o gol, o estádio tremendo, a camisa do autor voando, o banco invadindo o campo, o Galvão Bueno deles perdendo a voz e caindo nas lágrimas, o comentarista chorando ao fundo, faixas em russo pelo estádio tremulando, torcida em cima do alambrado, sinalizadores acesos, um milhão de fotógrafos invadindo o campo, merchan de breja no comentário do gol em meio a soluços chorosos, presidente declarando feriado nacional no dia seguinte e quando tudo acaba não restam dúvidas, o menino futebol não só respira, como pratica apnéia de tão bom que o seu fôlego está.

Essa foi a grande conquista da história do futebol panamenho, logo o que vier pela frente é lucro, é a primeira copa do time da América Central que pode ir orgulhosa para a casa se conseguir um terceiro lugar no grupo, claro que torcemos para que seja o azarão do mundial e surpreenda a todos, mas racionalmente, é impossível acreditar nisso, até porque fez um péssimo amistoso contra a Noruega onde perdeu por 1 a 0 no dia 6 e se mostra um time frágil. Vai adotar um sistema diferente das eliminatórias, um 5-4-1 bem conservador, impor uma pressão mais alta e buscar a roubada de bola de forma muito intensa, apostando nas infiltrações dos meias e abusando do pivô executado por um centroavante lento e muito forte.

Aos grandes feitos, inclua também o fato de que o Panamá deixou a poderosa e riquíssima seleção dos EUA de fora da Copa da Rússia com um futebol disciplinado e muito sólido defensivamente, fruto de um bom trabalho do técnico colombiano Hernán Darío Gómez, que já classificou a Colômbia para a Copa de 98 e o Equador para a Copa de 2002. O desafio agora é o maior que ele tem pela frente, aliás, aumentou com a virada de sorte enfrentada na última semana de preparação. Na derrota para a Noruega, Quintero, o jogador mais criativo do Panamá e que participa de quase todos os gols, quebrou um osso do pé direito e ao voltar para o hotel com a delegação panamenha, descobriu que a seleção panamenha conseguiu o feito de ser assaltada em Oslo. Bem, azar de principiante, que a sorte mude e que o Panamá nos dê mais cenas incríveis como o gol da classificação para a Copa.

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A Tunísia chega para essa Copa com um currículo bem modesto, só levantou uma taça em sua história, a da dificílima Copa Africana das Nações em 2004; e venceu apenas um jogo em todas as copas que disputou, contra o México em 1978 por 3 a 1, um feito histórico, já que foi a primeira seleção da África a vencer um jogo em Copas do Mundo. Vai tentar ampliar essas magras estatísticas em um grupo que é muito difícil se você não é a Inglaterra ou a Bélgica.

Olhando mais descuidadamente, a Tunísia cumpre o estereótipo do futebol africano, time bem ofensivo e que por vezes abre muitos espaços atrás, porém, tem atuado com um certo equilíbrio e passou invicta pelas loucas eliminatórias da África, voltando assim à uma Copa depois de 12 anos. Recentemente, segurou um empate em 2 a 2 com Portugal e também com a Turquia, demonstrando muita movimentação ofensiva dos laterais e muita combatividade na recuperação da bola dos dois meias Ferjani Sassi e Mohamed Amine Ben Amor, que jogam atrás de três bons meias ofensivos, aliás, o meio campo poderia ter um acréscimo de qualidade caso o técnico tunisiano conseguisse convencer Rani Khedira, irmão do Sami Khedira, a jogar pela Tunísia ao invés de tentar realizar o sonho de jogar pela Alemanha, o que não aconteceu, azar para os dois. Falando em azar, como ele andou circulando pelas vizinhanças panamenhas, a chance da Tunísia conseguir a sua segunda vitória em Copas do Mundo são grandes contra o time da América Central e quem sabe, visto o histórico pífio recente da Inglaterra, não consegue aprontar alguma nesta Copa. Dentro da normalidade, a seleção tunisiana é apenas a terceira força do grupo.

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Novas caras dão o tom da nova seleção inglesa que desembarcou na Rússia tentando apagar o vexame da última Copa no Brasil, quando foi eliminada logo na primeira fase marcando apenas um ponto e ficando atrás de Costa Rica, Uruguai e Itália. Vencer a desconfiança é o maior desafio desta seleção que vem patinando com campanhas fracas em Copas a algum tempo, há a certeza entre alguns torcedores pelas terras da rainha que o bi só vem com outra Copa na Inglaterra. A eliminação para a Islândia na Euro de 2016 aumentou demais essa descrença, o que fez a Federação Inglesa experimentar um técnico jovem que é a cara dessa nova Inglaterra, Gareth Southgate, promovido da seleção sub-21, assumindo a posição de interino por dois meses e sendo efetivado no cargo no final de 2016 após o pior momento da história dos Three Lions.

Southgate montou o time com a terceira menor média de idade desta Copa, ficando atrás apenas de França e Nigéria. Aplicou uma mentalidade mais arejada, jogando um futebol moderno, inclusive, condizente com o que é praticado na Premier League, fonte de inspiração do treinador nascido em Watford. Introduziu um esquema com 3 zagueiros e uma linha defensiva de 5, escalou defensores técnicos, com bons passes para apoiarem as subidas no ataque e abrindo o campo na saída de bola, sendo auxiliados por dois volantes que voltam para buscar o jogo. A defesa é ultra compacta e foi uma das poucas que dificultou de fato o jogo para o Brasil na era Tite, aliás, não só a vida brasileira foi dificultada, a defesa da Inglaterra é muito difícil de ser batida, foram apenas 3 gols sofridos e nenhuma derrota nas eliminatórias europeias.

O ataque tem muita velocidade e também é muito objetivo, jogadores mais habilidosos e criativos como Harry Kane e Sterling foram deslocados para o centro do campo, a fim de buscar espaços e se verticalizar o máximo possível, jogando colados na linha defensiva oponente e saindo com frequência na cara do gol, graças, entre outros fatores, à ótima ligação entre meio campo e ataque do habilidoso, veloz e classudo jogador do Tottenham, Dele Alli. As caras do time inglês também são uma imagem de uma nova Inglaterra, mais miscigenada e tolerante às diferentes culturas que migraram à velha ilha. É uma nova geração que conquistou as Copas do Mundo Sub-20 e Sub-17 e que terá que ser cuidadosa com os dois primeiros jogos contra Tunísia e Panamá, para chegar à última rodada disputando o primeiro lugar do grupo e não uma classificação. Fato é que, a seleção inglesa vem muito bem, quem sabe desta vez o criador domina a criatura e quebra um jejum que já dura 52 longos anos…existem boas chances, mas caso dê errado, a gente põe Stop Crying Your Heart Out do Oasis para tocar de novo.

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Bélgica – Kevin De Bruyne

G-03-destaque-belgicaFonte: Reprodução

Sob a batuta do gênio Guardiola no Manchester City, o belga de 26 anos evoluiu a ponto de ser considerado por muitos o melhor meia da atualidade. Um dos grandes destaques da melhor liga do planeta, De Bruyne é um daqueles jogadores que possuem uma capacidade técnica absurda, muito fora do comum. Passou o ano de 2017 e 2018 inteiros soltando passes sobrenaturais para todos os cantos do campo, tudo graças à sua visão de jogo fantástica, com toques que surpreendem até os mais avisados dos defensores, ele solta a bola e todo mundo para pra assistir o que ele viu que ninguém viu dessa vez. Como se isso não bastasse, um dos expoentes dessa geração de ouro belga ainda bate muito bem na bola, tanto com a direita quanto com a esquerda, sendo sempre certeza de perigo se aproximando quando domina uma bola. O cara também tem personalidade, cornetou a instabilidade defensiva da Bélgica em um amistoso contra o México e dá sinais de que quer trocar o seu milionário salário no City, o comando do melhor técnico do planeta, seu destaque e estabilidade na principal liga do mundo porque o céu de Manchester é sempre cinza, bem, vamos ver se o sol brilhará no céu russo o suficiente para fazer Kevin De Bruyne ser o iluminado desta Copa.

Panamá – Román Torres

G-03-destaque-panamaFonte: Reprodução

Sabe o gol antológico que citei na análise panamenha? Pois bem, eis aqui o autor de tal façanha, o dono do gol mais importante da história do Panamá, Román Torres, jogador sempre atento às oportunidades. Aliás, foi com um certo oportunismo e uma boa dose de esperteza que Román Torres começou a sua carreira, com 12 anos, o jovem era atacante e em uma peneira no Panamá, o técnico pediu para que levantassem as mãos, as crianças que jogavam no ataque, ao constatar que muitos garotos levantaram a mão, ele foi um dos poucos que se declarou um defensor. Estava decidido ali, nas incertezas de sua capacidade, a sua nova posição, e é na zaga que o agora herói nacional, Román Torres, faz história.

Na defesa o homem é um leão, peça essencial no destaque da fraca liga norte americana, o Seattle Sounders, é a base do time. Após a sua lesão no joelho, o time de Seattle teve que lutar para não cair…ah, espera, eles não tem rebaixamento, mas enfim, o time de Seattle passou semanas sem vencer nenhum jogo. Mesmo assim, parece que o desejo de marcar gols nunca abandonou o agora zagueiro Román Torres, e foi esse ímpeto que fez com que ele batesse o último pênalti que deu ao time do Seattle Sounders o primeiro título da MLS e que também subisse ao ataque naquele jogo contra a Costa Rica e marcasse o gol que levou o Panamá à sua primeira Copa do Mundo. Estrela ele tem, uns quilinhos acima do peso também, porém possui ótimos desarmes, alto poder de marcação e aparições perigosas na área adversária, agora resta saber se isso fará história nesta Copa, tomara que sim, porque sem dúvidas trata-se de um dos personagens mais carismáticos e interessantes deste mundial de 2018!

Tunísia – Fakhreddine Ben Youssef

G-03-destaque-tunisiaFonte: Fabrice Coffrini/Getty Images

O grande destaque da seleção tunisiana é o atacante Youssef Msakni, disparado o melhor jogador do time e cotado para o lugar de Mahrez no Leicester, o técnico da seleção tunisiana inclusive declarou certa vez que ir para a Copa da Rússia sem Msakni seria uma tragédia comparada à Argentina ir para a Copa sem o Messi, pois bem, atuando pelo Al Duhail do Catar a apenas 2 meses da Copa, o pior aconteceu, Msakni teve uma lesão no ligamento de um dos seus joelhos e a Tunísia vai sem o seu Messi para a Copa. Quem ficou com a difícil missão de substituir o ídolo de uma nação inteira foi Fakhreddine Ben Youssef, que atualmente joga pelo Al Ittifaq, da Arábia Saudita.

Apesar do 1,93m de altura, o atacante não é um desajeitado, tem boa técnica e joga com muita qualidade pelos lados do campo, atuando com muita inteligência para abrir espaços para os companheiros que chegam de trás. Tem boa finalização e é referência no ataque, faz o pivô muito bem e tem uma importância tática muito maior do que técnica, por isso acabou virando o destaque natural após a lesão de Msakni, vamos ver se consegue fazer a Tunísia esquecer que perdeu a sua grande estrela.

Inglaterra – Harry Kane

G-03-destaque-inglaterraFonte: Nike

Mesmo com todos os holofotes em cima de Harry Kane, o astro mantém-se longe dessa alcunha, simples e dono de uma simpatia rara para uma estrela do campeonato inglês, Kane foi aos poucos, depois do Tottenham o ter emprestado por 4 vezes, cativando o seu lugar como o melhor centroavante do mundo na atualidade.

O jovem atacante inglês de 24 anos vive o seu momento de glória na Inglaterra. Segundo maior artilheiro na temporada da Premier League com 30 gols, foi do pé direito dele que saiu o gol contra a Eslovênia que classificou a Inglaterra para a sua 14ª Copa do Mundo. O atacante do Tottenham tem chamado a atenção dos maiores clubes do mundo, o time londrino logo se apressou e renovou o contrato dele até 2024, aumentando consideravelmente a sua multa rescisória e afastando uma possível transferência para o Real Madrid, onde foi inclusive mencionado pelo ex-técnico da equipe, Zinedine Zidane, como um jogador completo. E de fato ele é, finaliza muito bem com as duas pernas, de cabeça, é rápido, se movimenta muito bem entre os marcadores e tem um raciocínio muito rápido para finalizar e se infiltrar. Com certeza é em Harry Kane que as esperanças de uma sofrida Inglaterra são depositadas.

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BÉLGICA
Bed Rugs – Specks

PANAMÁ
Los Dinamicos Exciters – Let Me Do My Thing

TUNÍSIA
Dalton – Soul Brother

INGLATERRA
Noel Gallagher’s High Flying Birds – She Taught Me How To Fly

 

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