Golaço literário III

Pois é, meus amigos, dando continuidade à série de pérolas escritas sobre futebol, hoje deixo a dica do último livro que eu li sobre o tema.

Sobre o autor, Nelson Rodrigues, qualquer coisa que eu disser será pouco. Gênio em todas as áreas em que atuou, polêmico, controverso e revolucionário. Sobre o livro, garanto que o que direi aqui já basta para deixar qualquer feroz curioso.

O Berro Impresso das Manchetes reúne na íntegra, pela primeira vez em livro, todas as crônicas esportivas de Nelson escritas para Manchete Esportiva de 1957 a 1959. A vasta gama de personagens dessas crônicas é surpreendente, indo dos grandes times do Rio de Janeiro e seus jogadores e técnicos mitológicos: Yustrich, Feola, Zezé Moreira e Solich, até os maiores símbolos do futebol brasileiro: Pelé, Coutinho, Didi, Mazzola, Zizinho, Zagallo, Barbosa… citar todos aqui seria tarefa impossível.

Além disso, o estilo de Nelson garante o prazer da leitura até mesmo para aqueles que não viveram essa época ou não se interessam tanto pelo futebol. Como um grande dramaturgo, o futebol, os estádios, são o pano de fundo para ação dos jogadores, esses atores trágicos, que encerram em si todo o drama da raça humana. Para Nelson, futebol e teatro caminhavam juntos.

Mais ainda, o livro reúne todas as crônicas sobre a Copa de 58 escritas pelo autor, inclusive aquela onde cunhou o termo exato que define o povo brasileiro desde 1500: o complexo de vira-latas. Seu ufanismo bem justificado, seu olho épico, transformam uma mera partida de futebol numa batalha que encerra em seus 25 participantes (Nelson nunca esquece do juiz e seus auxiliares) tudo o que define a passagem da raça humana na Terra.

Leitura mais do que obrigatória para todos aqueles que gostam não só de futebol, mas de boa literatura.

O Berro Impresso das Manchetes, de Nelson Rodrigues, pela editora Agir.

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