Chazinho de Coca – O grande risco de Dunga.

E a seleção da CBF terminou sua preparação para a Copa de 2010 com vitória por 2X0 contra a Irlanda. Praticamente jogando em sua casa, já que a partida contra a Irlanda foi a 5ª no Emirates Stadium (das quais venceu quatro e perdeu somente uma), a seleção mostrou suas duas faces.

No 1º tempo foi um time apático, vivendo de contra-ataque, vivendo da esperança de boas jogadas de Kaká e Robinho. Só isso.

Kaká foi mal, como vem sendo na maior parte do tempo no Real Madrid. Robinho tentou, ciscou, mas sozinho, pouco produziu. A Irlanda só não saiu na frente porque o juiz não deu pênalti claro de Juan.

Contra-ataque é uma reação ao ataque. Deve ser uma importante arma de qualquer time. Não a única. Se o adversário não ataca, não há contra-ataque, isso é óbvio. Mas o 1º tempo do Brasil tentou viver disso.

O gol de Robinho, em posição irregular, pode servir para o técnico inventado pela CBF, como mais uma de suas batidas justificativas quando indagado sobre a falta de variação tática de seu time. Afinal, os números não mentem. Mas as vezes eles enganam.

Pode ser que para ele basta – Só pra ele? – Que nada, existe uma extensa turma vivendo do “oba-oba” dessa burocrática seleção.

No 2º tempo o capitão do tetra acertou a mão – sim, ele não vive só errando – o Brasil passou a atacar e ser o contra-atacado.

Daniel Alves, um dos acertos de Dunga ao longo de sua estadia no comando da seleção canarinho, entrou para jogar no meio, como vem sendo no Barcelona, onde ele come a bola.

Dalí surgiram as boas jogadas brasileiras no jogo. Kaká ganhou parceria e também desabrochou, ainda que longe de ser o que se espera da estrela da companhia.

Robinho marcou o 2º gol, mas dessa vez o juizão acertou ao anular. O companheiro de Neymar no Santos continuou sendo o jogador mais agudo e continuava criando oportunidades – e as desperdiçando. Até que em uma linda triangulação – elas também acontecem – envolvendo Kaká, Grafite e Robinho, o santista finalizou bem – um golaço!

Tudo lindo? Para o jogo de ontem até que foi. Para a Copa, pelo menos para mim, não.

O adversário de ontem foi a boa Irlanda. Contra a boa Irlanda o time do Dunga tomou pressão, foi atacado e na busca de seu maior trunfo, o contra ataque, viu a principal engrenagem de sua “máquina” falhar. Kaká esteve em má jornada. Ele vem tendo más jornadas. É um baita jogador, mas ainda não é no Real Madrid o que foi no Milan, além de sofrer com a tal da pubalgia (nome feio pacas) que, numa situação extrema, pode “nos” deixar sem a única estrela com condição de realmente desequilibrar nesse time dunguistico.

Mas pombas, é a única porque o Dunga quer.

Logo na 1ª fase da Copa a seleção encara Costa do Marfim e Portugal. Dois adversários pomposos, de qualidade. Bem mais fortes que a Irlanda de ontem.

E se numa situação, plenamente possível, um desses times abre o placar contra o Brasil, se fecham com 11 atrás da linha da bola e abdicam de atacar? Contra-ataque já era. Kaka é craque, mas não é o cara que destrói defesas com jogadas de habilidade. Quem é nesse time, o Julio Batista? O Elano? Pelo amor de Deus.

Em 2006 Dunga fez parte da sua hoje “inimiga” imprensa. Comentou a Copa pela Bandeirantes e também fez coro contra aquele “oba-oba”, contra aquela falta de comprometimento, que de fato houve.

Que de fato houve e teve como principais “culpados” os mesmos Adriano e Robinho, hoje intocáveis de seu time. Que teve também Ronaldinho Gaucho, hoje, o jogador mais importante do Milan. O jogador brasileiro que mais vem fazendo a diferença em seu clube, dentre todos os selecionáveis, dentre todos os selecionados do Dunga. O jogador que tem inerente a sua condição técnica, a maior possibilidade de ser a peça fundamental para que esse esquema do Dunga vingue quando precisar romper um sistema defensivo de 11 jogadores, tendo já seu time em desvantagem.

Mas se para Robinho e Adriano o perdão foi concedido por vossa majestade Dunguistica, a Ronaldinho Gaúcho parece ter sido destinado “apenas” o clamor público.

Dunga diz que segue hoje o que a imprensa e a opinião pública tanto cobraram em 2006 – comprometimento. E diz isso como uma empáfia característica.

Há uma tremenda contradição nas justificativas do professor.

Se para justificar as presenças de alguns jogadores, a opinião da imprensa e do público serve de muleta, porque a mesma muleta não conduz Ronaldinho Gaúcho a sua vaga na seleção?

Em 1990 a seleção brasileira de Lazaroni fracassou e teve na figura de Dunga o símbolo maior da derrota. A “era Dunga” – designação atribuida a aquele grupo devido ao pobre futebol apresentado naquela Copa – poderia ter entrado para a história como uma das grandes máculas do futebol brasileiro. E até entrou. Mas o seu principal personagem recebeu a oportunidade de apagar aquela triste passagem, e em 1994, o hoje técnico da seleção, foi um legítimo condutor da força e do comprometimento daquele time tetracampeão.

(Dunga na versão “cromo”. Do album de figurinhas que ninguém fez questão de completar.)


Com essa sua atual postura, Dunga comete não apenas um desserviço a uma entidade que não é dele, mas do povo brasileiro. Como também corre o risco de não dar a Ronaldinho Gaúcho a merecida chance que ele próprio recebeu para refazer sua história junto a amarelinha.

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