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U2 EM GLASTONBURY E OS 20 ANOS DE “ACHTUNG BABY”

Causou surpresa e dúvida quando os organizadores do prestigiado festival de Glastonbury – realizado anualmente em terras britânicas, mais precisamente na cidade inglesa de Pilton – anunciaram a banda irlandesa U2 como headliner na edição 2011do evento. Surpresa, pois havia muito que Bono Vox e seus asseclas não participavam de festivais, e dúvida, já que, desde o início dos anos 90, o grupo conta com megaestruturas conceituais próprias de palco que festival nenhum no planeta conseguiria absorver.

Agora, considere os fatores mencionados e lembre-se que os caras ainda estão com o tour 360º por aí (no momento, de volta à América do Norte mais precisamente). Pergunta óbvia: Como equacionar a questão?

Capa de Achtung baby

A resposta é o início do período de comemorações de 20 anos de lançamento do álbum “Achtung baby”. Se não ficou claro, basta lembrar que “Achtung baby” foi o álbum que reinventou o U2 como banda e gerou a legendária “Zoo tv tour”.

E foi com a estrutura de palco da Zoo tv tour, e não com o mega palco do tour 360º, que a banda se apresentou em Glastonbury.

Quando surgiu no final dos anos 70, o U2 chamava a atenção pela energia e pelas letras, ora com metáforas bíblicas beirando o gospel, ora com o engajamento político que acompanharia toda a trajetória da banda. Tudo isso aliado a guitarras estilosas sob a batuta de The Edge. Boa parte da temática da banda encontrou território fértil nos anos 80, década do comprometimento e da conscientização musical para causas políticas e sociais. Some-se a abordagem religiosa da banda e pronto. Era tudo que o U2 necessitava para conquistar a América. E, de fato, parece que os caras planejaram estrategicamente a penetração da banda no mercado estadunidense, subindo degraus álbum após álbum.

O auge chegaria em 1987 com “The Joshua tree”, onde todos os ingredientes musicais da banda estavam presentes em doses cavalares. O tour do álbum gerou em 1988 o álbum-filme-documentário “Rattle and hum”. Uma verdadeira viagem que os irlandeses se permitiram fazer pelas entranhas da música e da cultura dos Estados Unidos.

Mas, como nem tudo são flores, a fórmula de sucesso da banda esgotar-se-ia com “Rattle and hum”. Se “The Joshua tree” vendeu zilhões de discos e foi aclamado pela crítica através de mega hits como “Where the streets have no name” e “With or without you”, “Rattle and hum”, apesar do sucesso de vendas, seria considerado por muitos como “pretensioso”.

Resumo da ópera: o U2, após 1988, era considerado “over”, sem perspectiva. A banda havia se tornado um monstro sem ter para onde crescer.

Uma mudança de paradigmas era necessária. E foi providenciada, mais exatamente em 1990. No ano da queda do muro de Berlim, a banda tomaria vantagem dos novos ares da nova ordem mundial. Músicos e equipe se mandaram para Berlim. A dupla Daniel Lanois e Brian Eno foi recrutada para a produção do novo trabalho. A ordem era filtrar e não permitir que nada que se parecesse com U2, até então, passasse pela peneira. Permanecer em Berlim era estratégico. Nada melhor que estar no centro nervoso da nova Europa que nascia para se esquecer das influências musicais americanas.

Só que mudanças radicais geram conflitos radicais. Nas sessões de Berlim ocorre uma aproximação sem precedentes de Bono Vox e The Edge nas ideias e composições. A dupla começara a inspirar-se em sons eletrônicos, música industrial e rock alternativo. Enquanto isso, Adam Clayton e Larry Mullen Jr., mais do que nunca, ouviam blues e rock clássico. Começariam aí sérias tensões entre os integrantes da banda.

Palco do Zoo tv concert

O U2 deixaria Berlim e retornaria a Dublin para o Natal e não sairia mais de casa até o final das gravações. Em 1991, a banda retoma os trabalhos. Os conflitos entre os caras quase causariam o final do grupo. Clayton e Mullen Jr. definitivamente não estavam de acordo com os rumos que o álbum estava tomando. Neste quase divórcio, Bono Vox escreve “One”. A canção que marcou época no repertório da banda era o clamor pela união de todos, seja a união do leste e do oeste na questão “queda do muro de Berlim”, seja a união da banda apesar das brigas, litígios e divergências. Curioso ver “One” sendo tocada em casamentos, noivados e romantismos afins, uma vez que é sobre separação que a canção fala.

Zoo tv

De resto, as mudanças de estilo estavam mais do que claras. “The Fly”, “Mysterious ways”, “Until the end of the world”, “Acrobat”, “Love is blindness” eram faixas que nada lembravam o U2 de outrora. Guitarras distorcidas, letras mais introspectivas, temáticas diferentes, críticas à transformação de algo terrível como a guerra (em 1991, ocorreria a 1ª Guerra do Golfo visando a expulsão das tropas iraquianas de Saddam Hussein do Kuwait) em atração de tv como se fosse um jogo de futebol ou uma novela, além de video clips inovadores como “Even better than the real thing” que está a seguir.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=2y7WmEVj3VE[/youtube]

Todo o novo material gerou um novo giro mundial. Algo jamais visto na história dos concertos de rock: a Zoo tv tour.  

Bono na pele de "The Fly"

Telões gigantes com frases desconexas, mensagens irônicas como “tudo que você sabe está errado” ou “assista mais tv”, brincadeiras com controle remoto e a criação de personagens por parte de Bono Vox. Memorável ver o vocalista com grandes óculos escuros, roupa de couro negra dando vida a “The Fly” ou vestido de diabinho personificando “Mr. MacPhisto”. O U2 conseguira seu objetivo. O bom mocismo da banda estava relativamente deixado de lado. Estava posto à mesa o novo U2. Veja o início do show com a faixa de abertura do álbum: “Zoo station”.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=fMneYa8gJBY[/youtube]

Bono e seu alter ego: Mr. MacPhisto.

Assim era o Zoo tv concert, um show de rock de vanguarda que alterou o conceito de grande concertos de arena e que forçou muita gente boa (como os Rolling Stones) a aderir ao novo nível de excelência.

E lá estavam os telões e várias canções de “Achtung baby” em Glastonbury como início das comemorações de vinte anos do álbum. Surpreendente e conveniente para quem, após longa ausência, retornava a festivais de música, tendo algo como o palco 360º em mãos. Bela “saída pela direita”, ao melhor estilo “Leão da montanha”, aquele velho personagem de desenho animado. Confira o U2 em Glastonbury com “The fly”.

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