Tento entender a mim mesmo nestes dias em que a Copa do Mundo no Brasil se aproxima. O antagonismo sentimental está instaurado e eu, assumo, não consigo ainda ser muito claro.
Eu amo Copa do Mundo. Torno-me praticamente monotemático neste período e o desfile de escolas do mesmo esporte me encanta. O surgimento de heróis e vilões, a superação de desacreditados escretes ou a queda de favoritos.
Tantos idiomas distintos tratando do mesmo tema. Ou o mesmo tema fazendo o mundo falar o mesmo idioma. O esporte tem esse poder. E dentro do esporte, o futebol é Rei.
Eu amava a seleção brasileira até 1994, depois desencantei um pouco em 1998 e voltei a admira-la em 2002. Ainda exercendo tão somente o ato de torcer, pouco me valia de julgamentos políticos, de interesses ou interesseiros.
Até que meu envolvimento com o esporte Rei transcendeu. Meu instinto crítico em relação ao mundo ganhou direcionamentos. O teor burocrático fincou-se em meio aos arroubos de torcedor. Torcer por uma seleção tão permeada por cifras e cenários políticos não me parecia mais ser um ato cívico. O crítico virou um chato.
Mas a Copa é a Copa. E se minhas ponderações sobre os meandros “cebeéfianos” me levam a preterir a sua seleção, o mesmo rigor devo empregar quando trato de Fifa, logo, a Copa não pode ser também um instrumento do bem. Será?
A Copa em nossos quintais fez o brasileiro avaliar outros campos também. O investimento está sendo feito por quê? E Para quem? Por qual razão cifras tão estonteantes? Por que aqui tem que ser assim? Por que só aqui?
Não é assim, sabemos. Ou sabe aquele que se presta a coletar informações sem o véu do partidarismo, sem qualquer complexo sem nexo. A Copa é assim. Ela se dá e se oferece desse mesmo modo. Dai sim, cabe avaliar quem a aceita e como se lida com ela.
São mais de 500 anos sem qualquer investimento assertivo em segurança, saúde, educação. Não é, portanto, a presença da Copa que está impedindo que o país melhore nessas searas. Manifestar descontentamento, cobrar e se fazer ouvir é mais que direito, mas um ato cívico. Maior que o de torcer pela seleção, embora não excludentes. Mas valer-se do bumba-meu-boi midiático e de visão turva transforma o manifesto em ato político. E então ele perde sentido, fica sem foco.
Mas não quero falar aqui sobre o que está certo ou errado. É mais uma autoanálise sobre como devo encarar nossa Copa. E assumo aos amigos, a climatização, tardia e ainda tímida, é bem verdade, mas que começa a ocorrer pela cidade, me lança de volta aos tempos onde o simples torcer era o ato a se buscar em Copa. Ligar a TV e ver nos canais de esportes uma enxurrada de informações, entrevistas com personagens históricos, mesmo a maçante cobertura feita nos treinos, tudo isso me faz repensar alguns conceitos. E não que eu me enxergue como antigamente, torcendo desenfreadamente pela seleção. Talvez o estrago do senso crítico tenha sido letal nesse sentido. Mas já consigo não torcer contra, consigo ser simpático, consigo não ter que escolher outra seleção pela qual torcer. Ainda que o meu desejo maior seja o de que a bola role solta, os craques estejam em alta e a exaltação maior seja feita a ele – o futebol.
Copa do Mundo sempre foi e será aqui também, um grande barato.
Em 1982 – minha primeira Copa do Mundo.
Como será a Copa do Mundo nos canais FFC:
http://ferozesfc.com.br/o-ffc-e-a-copa/