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É O QUE RESTA

A projeção feita pela comissão técnica corintiana para o final deste Campeonato Brasileiro, se não desastroso, ao menos decepcionante, é chegar a 46 pontos para ficar livre de qualquer ameaça de rebaixamento. Falta só um ponto. É o que resta, e nada mais.

O time comandado por Tite é o mesmo de sempre. Aquele que marca, marca, marca. Só não marca gols. Aliás, a expressão ‘é o que resta’ serve para definir muita coisa neste time.

É nítido o desgaste do treinador com a torcida, com a diretoria e com a própria equipe, a qual não consegue fazer funcionar como fez no ano passado. Mas uma demissão agora aparentemente não agrada à direção, nem ao técnico. O contrato se encerra no final de ano, e todos esperam para definir o término das relações profissionais. É o que resta, mesmo que se aponte uma possibilidade de renovação. Remota, diga-se.

Fábio Santos, lesionado, não tem jogado. Seu substituto direto, Igor, não tem sido escalado pelo treinador, segundo ele ‘para preservar o jovem’. O que temos é Alessandro, improvisado do lado esquerdo. É o que resta.

Edenilson, visto anteriormente como esperança de se tornar um bom lateral-direito, ou um bom substituto para Paulinho como segundo volante, não é um nem o outro. Na falta de um bom jogador para atuar do lado direito, é o que resta.

O pensamento do treinador premia jogadores por uma suposta disciplina tática que privilegia mais a marcação do que a habilidade, o que faz com que Romarinho e Emerson, ambos em má fase, tenham lugar garantido na equipe, e à torcida só é possível torcer para que consigam acertar um passe ou um chute a gol. É o que resta.

Renato Augusto, num esquema um tanto esquisito que o lançou como centroavante, fez chover, só não fez gol. Mas como tem um histórico de lesões, não há na comissão técnica segurança suficiente que faça com que ele seja mantido até o final do jogo, então ele também entra na filosofia de ser sacado antes do fim do jogo, ‘para ser preservado’. É o que resta.

E Alexandre Pato? Bem, meus caros, a situação é complexa. O jovem jogador, tão desgastado quanto o treinador nesta temporada, é também o que mais fez gols, numa matemática mais voltada a resultados do que por valores. Após aquela displicência que tirou as chances de classificação do Timão na Copa do Brasil, Pato voltou a bater um pênalti, contra o desesperado Fluminense, empurrado para a degola. Desta vez, bateu com força. Força esta que ele usou também para jogar a camisa do Corinthians no chão e esbravejar contra supostos detratores. Pato também usou seu perfil no Instagram para postar uma mensagem indignada, remetendo a Michael Jordan. A mensagem que fica ao jogador é: menos, Pato. Bem menos. Só que daqui para o final do campeonato, este ataque é o que resta.

Com dúvidas sobre quem treinará a equipe no próximo ano, quem sairá do time e quais são os reforços que poderão chegar, nada mais resta. Apenas esperar.

Em tempo: enquanto houver na torcida seres desprovidos de um mínimo de inteligência que achem que atirar o que quer que seja no campo resolva algo, é capaz de que o Corinthians vá mandar algum jogo em casa por volta de 2017.

patoPATO

ANATOMIA DE UMA SEQUÊNCIA NULA

Houve um tempo em que podíamos bater no peito e dizer ‘O Corinthians tem elenco!’. Mesmo limitado em algumas posições (como continua sendo), dava para dizer que quem entrava no time ao longo do jogo, conseguia manter o nível de quem saía. E assim, fomos campeões de tudo que almejávamos em 2012. E ainda sobrou um pouquinho disso para 2013. Esse ‘restinho’ de ânimo serviu para que muitos torcedores dessem um voto de confiança a um time que ficou estranho depois da conquista do Mundial. Estranheza esta que perdura ainda, em jogos que, se não perdemos, não conseguimos sair do marasmo do zero a zero. E tem sido assim há algum tempo. Foi assim contra os Atléticos, mineiro e paranaense, foi assim contra o São Paulo. Provavelmente será mais vezes ao longo do ano que não termina pra gente ver se dá pra começar do zero. Mas não do zero a zero.

Hoje dá pra dizer que o cenário se inverteu. Ou melhor: de certa forma é o mesmo. Quem entra, mantém o nível de quem saiu. Só que o nível é baixo. E não é desculpa dizer que o nível de todo o campeonato é baixo. É bem verdade que a briga está mais lá na beira do abismo do que no topo da montanha, onde o Cruzeiro parece ainda seguir fora de perigo, embora tenha tido alguns resultados ruins. Mas o Corinthians, pelo passado recente de vitórias, carecia de mais vontade.

Mais vontade, não má vontade, que é o que parece haver. Por parte de alguns jogadores a quem já elogiamos muito. A quem elegemos heróis em alguns momentos históricos. Contra rivais clássicos, em decisões inéditas. Em resultados inéditos. Em campeonatos inéditos. Gente que já fez gols incríveis, impossíveis. E hoje erra o chute na cara do gol. Perde a chance de passar a bola para um companheiro em melhor posição. É tudo muito estranho.

Tite lançou mão de um time mais próximo do tradicional. Edenilson no meio de campo, ao lado de Danilo. E talvez na vertigem das alternâncias entre o meio e a lateral, desta vez Edenilson não foi nada. Nem um nem o outro. Diego Macedo, estreante, lateral de ofício, entrou no lugar de Danilo como meia. Deu bons passes. Foi pivô de um suposto pênalti. Que Rogério Ceni, em momento ruim de uma carreira que caminha para o final, bateu convicto. Mas que Cássio afastou. Cássio, melhor jogador em campo, o que é sintomático em um time que não faz gols. Paulo André, o zagueiro intelectual, também fez partida perfeita. Afastou todo o perigo e ainda tentou fazer o que os atacantes não fizeram. Fez muito, mas a bola, caprichosa, preferiu não estufar a rede. E nisso Rogério Ceni teve sua pequena parcela de herói.

Não há o que se comemorar: nem a frustração de Rogério por ter à frente um Cássio em dia de salvador da pátria, nem a sequência de não-derrotas para o São Paulo no Morumbi. Estamos quase tão mal quanto o rival. Eles um pouco mais na corda bamba, nós um pouco mais organizadamente caminhando rente ao precipício, como dizia uma certa canção.

Vamos seguindo rumo ao fim do ciclo. A luta aqui é para estar acima da linha que nos separa da degola. Houve um tempo quem que se dizia que ‘quem não faz, toma’. O Corinthians mudou esta máxima: não toma, mas também não faz.

A imagem principal do jogo foi esta. Cássio poderia receber o bicho todo do jogo contra o São Paulo.
A imagem principal do jogo foi esta. Cássio poderia receber o bicho todo do jogo contra o São Paulo. Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians

 

 

A RETOMADA DO SANGUE NAS VEIAS

Teria sido a volta de Guilherme? Ou a volta da vergonha na cara, como o próprio volante deu a entender? Não sei. Também não sei se vai perdurar numa sequência de resultados positivos. E não sei se a reunião dos jogadores colocou os pingos nos is que faltavam. Fato é que o Corinthians derrotou com méritos o Bahia, em Mogi, por 2 x 0, em jogo pelo Campeonato Brasileiro.

O que eu sei é que a postura em campo foi muito diferente do que estávamos vendo nas últimas oito rodadas. E muito disso passou pelos pés de Guilherme, consciente de sua função, coisa que seus substitutos não fizeram em momento algum.

Do abraço do grupo ao treinador, a quem a maioria de nós já não dava nenhuma esperança de sucesso, a resposta à altura: time ofensivo, mais corajoso do que vinha se mostrando. Da dupla de zaga reserva, já que ambos os titulares estavam suspensos, uma surpresa: Cléber estreou com gol e encheu o torcedor de esperanças acerca de uma futura dupla de zaga Gil-Cléber (sabemos que Paulo André é esforçado, mas tem suas limitações). Felipe, reserva imediato na zaga, também foi seguro e sem medo de dar bicos na bola quando necessário. É boa opção no banco, aparentemente.

Sheik se excedeu e tomou um cartão ‘de graça’. Levando em conta que já não teremos Pato, a serviço da Seleção, no próximo jogo, ficaremos com poder de ataque menor. Romarinho não vem em boa fase, como sabemos. Mesmo com o cartão bobo, Emerson foi um dos nomes do jogo, cobrando os escanteios que originaram os gols.

Incompreensível mesmo é a improvisação de Alessandro na lateral esquerda. Se o jogador não tem tido poder de fogo pelo lado em que atua, por que teria do outro? Mesmo em má fase, não vejo motivo para que Igor seja preservado.

O importante – e só isso, já que não vejo o time disputando mais nada além de uma vaga na Libertadores, que ainda assim é muito difícil – foi que a postura do time vencedor parece (parece) estar sendo retomada (uma das palavras preferidas de Adenor).

Ainda não é o time que ganhou a Libertadores e o Mundial. Este, ao que parece, ainda passeia por terras nipônicas, e ainda não desembarcou por aqui. Vejamos no que dará esta mudança de postura. Sigamos.

 

Guilherme voltou de cirurgia e foi o melhor em campo contra o Bahia.
Guilherme voltou de cirurgia e foi o melhor em campo contra o Bahia.

 

 

TUDO ERRADO!

A sintomática partida contra a Portuguesa tinha tudo para marcar o fim de um ciclo para o Corinthians. No dia em que seu treinador, Tite, campeão brasileiro, da Libertadores, do Mundial, do Paulista e da Recopa, se sagrou o segundo treinador com mais jogos pelo clube, atrás apenas do lendário Oswaldo Brandão, o time também foi goleado pelo time lusitano, e isso marcou também a pior sequência do treinador. Curiosamente, a última vitória foi pelo mesmo placar elástico, 4 x 0, contra o Flamengo, à época treinado por Mano Menezes, ex-treinador do Corinthians, que deixou o rubro-negro e hoje está no mercado, fazendo sombra para treinadores ameaçados.

A direção corintiana se apressou em informar que Adenor não corre perigo. Segue prestigiado. À frente de uma equipe desfigurada. Que teve Ibson de titular. Por pouco tempo, diga-se. Aos vinte e nove do primeiro tempo, o meia foi substituído por Danilo, que também pouco produziu. Guerrero perdeu pênalti. O Corinthians teve dois gols, de Sheik e Pato (bem) anulados.

As outras substituições promovidas, Igor e Paulo André por Pato e Jocinei, também não surtiram efeito algum. A goleada já se consumava. A crise se perpetua com o Corinthians a seis pontos de proximidade com a zona de rebaixamento.

Foi a consagração de Gilberto. Aquele que quase assinou com o Corinthians, acabou indo para o Internacional, e – sem muito sucesso – foi parar na Lusa. Pra ser o algoz de seu antigo pretendente. Três gols anotados por ele, um por seu substituto no segundo tempo, Wanderson.

Se a Lusa teve em um Gilberto o grande herói, o Corinthians teve em seu quase xará, Gil, um dos vilões. Em atitude já descontrolada, o zagueiro tentou acertar uma cotovelada em Bergson e acabou expulso.

Poderia significar a queda de Tite. O roteiro corroborava para isso. Mas o elenco se fechou para apoiar o treinador. Até que ponto isso significa que as coisas possam melhorar? Não sabemos.

Por mais que o passado recente seja significativo, digno de boas lembranças, eu não sei mesmo se não é tempo de uma mudança. Mudança esta que talvez passe por reformulação total, de elenco e de comissão técnica. Ou no mínimo de postura (que talvez implique nas demais mudanças). É nítido que deste jeito não dá pra acreditar em mais do que uma posição que nos livre do rebaixamento (ainda não quero imaginar que estejamos correndo o risco de descenso), não dá pra acreditar em classificação na Copa do Brasil e não dá pra imaginar uma recuperação capaz de brigar por vaga na próxima edição da Libertadores.

Pra piorar, um torcedor atingiu o auxiliar Bruno Salgado Rizo com uma garrafa de água, e isso deve representar mais punições para o Corinthians. Como se a fase já não fosse ruim o suficiente.

Contra o Bahia, na quarta-feira, podemos ter a estreia do zagueiro Cleber, já que a zaga titular está suspensa para este jogo, então o ex jogador da Ponte deve formar dupla com Felipe. A se avaliar pela partida contra a Portuguesa, outro que pode ganhar chance é Jocinei, que finalmente estreou e não comprometeu.

É hora de recolher os cacos, antes que os ventos da segundona os espalhem. Sigamos.

Tite sofre com o apagão de sua equipe.
Tite sofre com o apagão de sua equipe.

CHEGOU A HORA DA REFORMULAÇÃO?

Você já deve ter ouvido falar que nenhum time que alcança o status de vencedor se mantém no topo por muito tempo. Exemplos são vários: Palmeiras da Era Parmalat, Santos de Robinho e Neymar, São Paulo de Muricy e, recentemente, o Corinthians de Tite. Os títulos de Campeão Brasileiro, da Libertadores, do Mundo, Paulista e da Recopa fizeram do Timão o grande clube brasileiro dos últimos 3 anos. O desgaste, porém, era algo natural e, principalmente, esperado.

Dono de um dos melhores elencos do Brasil, a equipe paulista dirigida pelo treinador gaúcho parece ter chegado ao seu limite. Tanto técnico, como estrutural. Alguns atletas, inclusive, já estão no clube desde 2008. Outros chegaram em 2009. A grande maioria já venceu muito com o manto alvinegro. Vencer não cansa, mas todo ciclo tem seu fim. O futebol apático apresentado nos últimos jogos do BR13, fizeram o torcedor corintiano perder a cabeça e já cogitar que uma reformulação no plantel se faz necessária ao final da atual temporada. E ela deverá começar pelo banco de reservas.

Há três anos no comando da equipe, Tite não deve renovar seu vínculo, que vence no fim deste ano. Pessoas ligadas ao treinador garantem que seu objetivo é treinar uma seleção visando a Copa de 2018. Nomes como o de Oswaldo Oliveira e Abel Braga já repercutem nos bastidores do Pq. São Jorge. Muricy Ramalho era ‘o cara’ para substituir Adenor, entretanto seu acerto com o São Paulo praticamente inviabilizou a contratação.

Enquanto isso, com a derrota de ontem na abertura do segundo turno para o Botafogo, a distância para o líder Cruzeiro aumentou para 13 pontos. A própria diretoria, comissão técnica e jogadores adotaram o discurso de que é praticamente impossível buscar a sexta estrela. A Libertadores, no entanto, é o objetivo “mínimo”. E mais real.

A duvida que fica é: será que o Corinthians conseguirá se reformular e continuar competitivo? Ou seguirá a linha de seus adversários, que após anos de sucesso passaram a viver no ostracismo e desempenhar papel de coadjuvantes?

Só o tempo dirá.

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Campeoníssimo com o Corinthians, Tite deve deixar o clube no final do ano