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FOI NO TAMANHO DO TRABALHO A SER FEITO

Jogadores alemães pediram desculpas ao povo brasileiro após o massacre que empregaram contra a seleção dona da casa. E isso dá uma medida bem sincera do tamanho da surra que empregaram.

O vexame apaga de vez um pseudo vexame decantado, reproduzido e repaginado a cada nova menção feita ao fantasma de 50, ao gol via “falha” de Barbosa e a perda do título em pleno Maracanã. Este foi, por si só, suficientemente grande para deixar qualquer derrota passada com aspecto de triunfo.

Ainda é muito recente, sequer tivemos 24 horas para se levantar do nocaute. Então do mesmo modo que é perigoso apontar os problemas, torna-se fácil escolher o vilão. E o perigo do julgamento falho se sobrepõe ao apontamento direcionado. Uma coisa é certa: Para onde se olhar existem erros. Uma verticalização de erros, onde como pastas virtuais vão se abrindo e mostrando erros pontuais, que se somam e mostram o que foram, de fato, estes 7X1.

É justo apontar o dedo na cara de Felipão e elege-lo o culpado?

Não acho que seja assim. Ele está lá por que alguém o colocou. E quando lá foi colocado, boa parte dos torcedores e dos críticos mostrou-se satisfeita. Lembram-se da situação vivida pela seleção naqueles tempos?

Falo um pouco neste post de 2012, quando da escolha de Scolari:

http://ferozesfc.com.br/felipao-na-selecao/

É óbvio que Scolari tem imensa parcela de culpa. Em textos recentes apontei o estranhamento no pouco trabalho realizado durante os preparativos para a Copa. Mais ainda após a terrível partida contra o Chile, usando menos da metade do tempo para consertar o time. Veja:

http://ferozesfc.com.br/o-arrependimento-de-felipao/

 

Mesmo a principal virtude do treinador, que sempre foi a de aglutinar o grupo em torno de seus objetivos, parece ter sido deixada de lado quando trouxe a público seus arrependimentos sobre os convocados. Felipão parece ter perdido a mão também fora de campo. Dentro dele não a teve durante toda a Copa.

A insistência com jogadores em terrível momento técnico. A nítida falta de estudos sobre os adversários. Entrar completamente aberto e exposto contra uma Alemanha que atua junta há pelo menos 6 anos, sem contar com seus principais expoentes técnicos, é a clara evidência disso. Depois ser passivo ao longo de um primeiro tempo que parecia eterno, não enxergando ou fazendo vistas grossas para o fato de que era necessário povoar o meio campo para ao menos diminuir o vexame. Morrer abraçado com seus comandados é uma metáfora que não precisava ter sido levada tão ao pé da letra.

Mas Felipão é a vidraça da hora. Ao acreditarmos que o Brasil possui uma geração top de linha, erramos também. Não temos sequer um meia. Coisa que Oscar não é e nem tentou ser. Sua Copa foi risível.

Nossos laterais estão arcaicos e a necessidade em fazê-los seguros diminuiu a efetividade de gente que ao menos mostrava estar a fim de fazer algo, como Hulk.

Thiago Silva é um “monstro” de zagueiro, mas fez uma Copa abaixo do esperado, sobretudo no papel de líder. David Luiz, o único a fazer uma Copa excelente, o guardou no bolso.

Neymar, o outro que fez boa Copa e o único a dar poder de fogo a essa seleção, foi retirado de batalha com uma contusão comovente.

Fred foi invisível, assim como Paulinho, como Oscar, como quase o time todo. E olhando para o banco de reservas, o assombro técnico mostra-se mais evidente. Ninguém com condições de dar um xeque-mate no adversário, prover a seleção de alternativas técnicas.

“Mas foi Felipão quem os escalou. A culpa então é dele”.

É, mas não é. Quando a convocação final saiu, poucas eram a reticências. Henrique? Philipe Coutinho? Mas não houve grandes discordâncias, sejamos justos. É o que tinha. É o que temos hoje.

Para se ter uma noção da discrepância, Joachim Low tem a sua disposição no banco Mario Gotze, André Schürrle e Lucas Podolski. Todos seriam titulares da seleção brasileira com uma das pernas amarradas. E isso sem levarmos em consideração que Marco Reus e İlkay Gündogan foram cortados da lista final por contusão, sendo que o primeiro seria titular do time.

E se essa geração brasileira não é de primeira, muito se dá pela formação. Dai encontramos culpados nos clubes, nos treinadores das bases, mas, sobretudo, na CBF. A entidade dá de costas para as questões intestinas do futebol brasileiro. E isso impacta diretamente no que temos no topo da cadeia.

Nossos treinadores são irrelevantes no cenário do futebol mundial. Todos eles, sem exceções. Alguns com mais êxito em emplacar um trabalho tacanha, mas efetivo, como Tite.

Mas pensando bem. É de mais um que prioriza o resultado a todo custo que a seleção brasileira precisa?

Não creio que seja. E assim sendo, não está na solução caseira uma reformatação estrutural da seleção. Quem sabe essa vergonha histórica já não sirva para derrubarmos o preconceito histórico contra treinadores estrangeiros? Infelizmente, estão lá fora os melhores do mundo, hoje.

Não precisava ter sido 7X1, mas a derrota mostra o tamanho do trabalho a ser feito. E Felipão está longe de ser o único acerto a ser feito a partir desse novo trabalho que precisa começar desde já.

Mas ai tem o Marin. Tem o Del Nero. E há esperanças, que quase morrem quando confrontadas com estes nomes. Mas é o que se tem hoje.

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UMA GERAÇÃO QUE NÃO MERECE O RÓTULO DO FRACASSO

Na semana da final contra a Espanha, ano passado, pela Copa das Confederações, o medo de perder misturava-se com a pressão que uma derrota às vésperas do Mundial causaria. O time canarinho vinha bem, conquistando resultados importantes e imponentes, passando a devida confiança à torcida, que começou a acreditar e jogar junto.

Por outro lado, ainda faltava o grande teste.

Mais que apenas vencer os melhores do mundo na época, a vitória, além do título, traria de volta a confiança e recolocaria o Brasil junto aos tops do futebol – lugar onde sempre esteve.

Vencemos os espanhóis com autoridade e, um ano depois, a semifinal diante da Alemanha tem o mesmo enredo. Mesmo se Neymar estivesse em campo, teríamos aquela pulga atrás da orelha. A incerteza do sucesso, às vezes, tira a vontade de ganhar. E Felipão sabe disso.

Hoje, sabemos que não somos mais a única referência no futebol. Nos tornamos prevísiveis. Comuns. Mas ainda competitivos. Talvez, nos acostumamos mal com Ronaldos, Romários, Rivaldos e demais craques e, por isso, não temos mais a paciência para esperar o amadurecimento dessa nova safra de bons talentos.

Somos imediatistas por natureza. E, se, caso, formos eliminados diante da boa equipe de Joachim Lowe, entendo que não seria justo eleger um vilão, como sempre fizemos. Até porque, essa geração não merece o rótulo do fracasso.

Seleção brasileira posa para foto antes da estréia no Mundial 2014 Créditos: Vipcomm
Seleção brasileira posa para foto antes da estréia no Mundial 2014 Créditos: Vipcomm

Os quatro semifinalistas têm as mesmas condições de cumprimentar a presidente Dilma no próximo dia 13, no Maracanã, antes de receber a taça de campeão. O Brasil, pelo que já fez, é, sim, um vencedor. Afinal, esta Copa é disputada palmo a palmo, com um equilíbrio que transcende a magia desse esporte.

O ARREPENDIMENTO DE FELIPÃO

Que Felipão reuniu um grupo de jornalistas dia desses para esclarecer algumas situações da preparação da seleção e pontuar outros, todo mundo já está careca de saber.

Fez certo o Bigode?

A meu ver, não fez errado. O que é diferente de ter feito o certo. Complicado? Explico.

Reunir jornalistas para conversas informais em meio a competições não é novidade, nem mesmo em se tratando de Felipão. Parreira já fez, Tele já fez. Se o intuito é colocar a par da situação e bater um papo, não há problemas. Se for para pautar a imprensa, sim. Se for para clamar por um “jornalismo parça”, tá errado ele e quem aceitar fazê-lo.

Não parece ter sido isso. Então legal, prossigamos.

Chegamos então às impressões dessa conversa toda. Vendo ontem o Linha de Passe, da ESPN, PVC, um dos jornalistas presentes na reunião, disse que Felipão deixou escapar que havia se arrependido de convocar somente um jogador entre os 23 que buscam o hexa.

Depois de todo o parto da classificação contra o Chile, os choros por todos os cantos, tremedeiras nas penalidades, o líder da equipe tornar isso público é erro crasso. Não para Neymar, David Luiz, Hulk, Julio Cesar, Oscar e alguns que são peças fundamentais desse time, mesmo que não estejam jogando bem. Mas pense em como pode receber uma informação dessa um Hernanes da vida? Jogador que sequer é cogitado para entrar ao longo das partidas, mesmo a disposição tática do time muitas vezes implorar por um jogador com suas qualificações.

Paulinho está mal, entra Fernandinho, Ramirez, William, entra até Henrique, improvisado, mas nunca o jogador da Inter de Milão.

Se me perguntarem se eu acho que seja ele o arrependimento de Felipão, eu vos respondo que sim, acho que seja. Mas se não for ele, alguém será. E essa dúvida pairando em um ar pesado como tem sido dessa seleção, jovem seleção, com um peso de 200 milhões de cornetas nas costas, não tem como reverberar bem.

Não sei se existe alguma tática scolariana genial nesse contexto todo e que eu não esteja conseguindo captar. Não duvido, conheço bem o trabalho de Felipão e não me surpreenderia ser surpreendido por ele. Mas sem o viés da conspiração, não consigo entender onde tornar essa informação pública possa beneficiar essa assustada equipe.

*

O jogo contra o Chile aconteceu no sábado, às 13:00. O time voltou a trabalhar hoje, quarta-feira, antevéspera do jogo contra a Colômbia. Imaginemos terem sido usados esses dias sem trabalho de campo para recuperar o moral do time. Ainda assim, dos cinco dias que teria para acertar o time em campo, a CT abdicou de metade deles para “descanso”.

Se não me parece momento apropriado para declarações desnecessárias, menos ainda para descansar mais do que trabalhar.

Espero me enganar, claro. Mas enquanto espero, vou achando tudo isso muito errado.quem será

HINO A CAPELLA NÃO FAZ MAIS MILAGRES

Basta empatar e estará classificada, muito embora se trabalhe tão somente com a ideia da vitória. Mas que tipo de vitória será essa?

Camarões é a pior seleção da Copa, tecnicamente e psicologicamente. A chance para uma partida redentora não poderia mostrar-se mais ideal para Felipão e seus comandados. Mas isso, hoje, parece incomodar.

Se vencer, bateu no bêbado. Se não vencer (e nem falo em perder), será vexame nos quintais de casa. Sinuca de bico, portanto.

Há um ano a seleção brasileira chegava à Copa das Confederações desacreditada, em posição mediana no ranking da Fifa. Fez partidas ruins e algumas mais ou menos, até chegar a final, onde, de fato, foi exuberante e atropelou a então melhor seleção do mundo, a Espanha.

Naquele momento uma força que vinha das arquibancadas serviu de mote para essa retomada do bom futebol da seleção. O hino cantado a capella (sem crase e com dois L´s mesmo, como manda o idioma de origem do termo, o italiano), de fato criou algo novo, em meio a um momento de forte contexto político, a seleção sentiu-se “abraçada” e para aquela gente jogou o fino naquela final.

Dai em diante passou a ser uma das favoritas ao titulo desta Copa do Mundo. O time, praticamente o mesmo, tem bons nomes, mas como já frisado, somente um acima da média. E então a Copa teve início e contra a Croácia foi preciso da ajuda da arbitragem e de um momento de brilho de Neymar para a vitória chegar. Contra o México uma partida muito ruim, dessa vez sem arbitragem e sem brilho de Neymar. Variação tática? Nenhuma. Opções no banco para mudar a forma de jogar até existem, mas Felipão sinaliza que irá segurar a onda de seus comandados, mesmo aqueles em péssimo momento como Paulinho, Oscar e Fred.

Tenho a nítida impressão de que se está esperando um milagre das arquibancadas. Os hinos a capella continuam sendo entoados, o insosso “sou brasileiro com muito amor e bla bla bla” é o que sai daquela plateia travestida de torcida em certos momentos. De resto, silêncio ensurdecedor. Enquanto estamos vendo todas as outras seleções sul-americanas jogando como se estivessem em casa, com seus cânticos fortes e provocativos.

O choro aparentemente crocodiliano dos jogadores durante o hino a capella transparece uma necessidade velada em se sentir algo que, de repente, não se sente. Aquilo já perdeu o impacto, não há novidade. Lá na Copa das Confederações foi algo novo, motivador para uma seleção que há muito havia perdido a simpatia e a magia.

O time vinha em momento crescente, que agora parece ter sido estagnado. Se Camarões é um adversário que caiu do céu, mas pode delinear um caminho ao inferno, deve o time usa-lo para fazer o mínimo com um máximo de qualidade. O mínimo é vencer a partida, o máximo jogar bem e ser este um ponto de partida rumo a retomada do crescimento estagnado.

O time precisa criar o próprio milagre e não esperar que ele venha de sua plateia.

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BESTAS OU BESTIAIS

É inegável que as maiores expectativas em torno de atuações individuais nesta Copa se dão em torno de Neymar, Messi e CR7. Como já destaquei em textos recentes, Alemanha, Espanha e Holanda possuem equipes excelentes, mas não contam com um “fora de série” e apostam suas fichas na força de seus conjuntos.

Na estreia brasileira Neymar não foi brilhante, mas quando precisou mostrar seu talento, ele não decepcionou. A mesma coisa aconteceu com a Argentina de Messi. Se o ex melhor do mundo não encheu os olhos com sua atuação, lhe bastou apenas um momento de brilho pra encaminhar a vitória hermana na estreia.

Neymar tem o suporte de uma equipe mais coesa que a Argentina de Messi, mas com um poderio ofensivo evidentemente inferior. Ambos carregam seus pesos nos ombros, sendo Neymar a de conduzir os donos da casa ao título, ainda que com apenas 21 anos de idade, em sua primeira Copa. Já Messi chega para a sua terceira Copa, mas a primeira onde claramente os olhos do mundo aguardam ansiosamente uma atuação a altura do que ele já cansou de fazer pelo Barcelona. A Copa de 2014 está para Messi como a de 2006 esteve para Ronaldinho Gaucho. Lá o brasileiro naufragou junto do insosso time de Parreira.

Neymar em um jogo de Copa tem 2 gols, Messi em 3 Copas chegou ao mesmo número. Isso não quer dizer nada, mas aponta a indigesta situação a qual Messi terá que conviver.

A situação de Cristiano Ronaldo é claramente mais complexa. O melhor do mundo atua por uma seleção que não lhe dá, nem de longe, condições de sonhar com o título. Ainda assim a cobrança lhe chega como se assim fosse.

Sua estreia, no entanto, não pode ser considerada decepcionante. Visivelmente fora das melhores condições físicas, até que começou bem o jogo diante da favorita de muitos, a Alemanha. Buscou jogo e encontrou certa esperança na postura inicial ofensiva da seleção portuguesa. Mas o gol em um pênalti – que pra mim não foi – seguido da expulsão do destemperado Pepe, além das lesões de Hugo Almeida e Coentrão, minaram as parcas esperanças do Bigode. CR7 sucumbiu, a Alemanha impôs o seu ritmo forte e não venceu por mias por que tirou o pé no segundo tempo.

Neymar e Messi seguem suas vidas “tranquilas” na primeira fase, diante de adversários do escalão intermediário da bola, enquanto CR7 terá que juntar os cacos portugueses e, mesmo contra seleções também inferiores a sua, lutar contra a maré negativa, o forte revés da estreia, além da má vontade de muitos.

A mesma má vontade que certamente terão que conviver Neymar e Messi, dependendo dos papéis de suas seleções na continuação do mundial.

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