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O QUE O TÍTULO DA RECOPA NOS EVIDENCIA?

Mais uma vez, esta seção conta com a colaboração do amigo Samuka, que assistiu no Pacaembu a final da Recopa, e a quem encomendei este texto, que ficou incrível. Confiram.

Por Samuka Araújo

É impressionante como a Conmebol tem a capacidade de desvalorizar seus produtos! Marcar para o mesmo dia e horário os jogos de duas competições continentais é o mais recente exemplo do fogo amigo da confederação que “cuida” do futebol na América do Sul.

A Recopa Sul-Americana não tem, obviamente, o mesmo valor de uma Copa Libertadores, mas tem sua importância. No caso do Corinthians, a Recopa 2013 teve tripla importância. Primeiro, por ser uma disputa direta com um rival (freguês, mas rival). Em segundo lugar, por ser um título internacional, algo que até pouco tempo era o calcanhar de Aquiles do Timão. Por fim, por reafirmar a capacidade do grupo corintiano que, mesmo com modificações de algumas peças titulares, mantém seu padrão tático e técnico.

A perda de importantes jogadores foi suprida com boas peças de reposição trazidas recentemente (não contemos o Ibson) ou que já estavam em período de gestação, como é o caso do bom volante Guilherme. A evolução do substituto de Paulinho demonstra que a saída do ídolo será sentida, mas com menos intensidade do que imaginávamos. Outro que encontrou seu espaço foi Romarinho. O garoto se confirma como um jogador que não é craque, mas é extremamente importante em jogos decisivos. Uma espécie de Tupãnzinho do século XXI! Ele tem jogado bem taticamente, mas ainda precisa fechar um pouco mais na marcação, ao estilo Jorge Henrique. Outro jogador decisivo, Emerson renovou contrato e voltou a jogar bem. Que seus últimos dois anos de carreira sejam tão bons e vitoriosos quanto as duas temporadas que ele já jogou no Timão. E o que falar de Danilo? Suas jogadas e gols falam por si…

Chegar próximo ao nível técnico do time que em 2012 conquistou o continente e o mundo ainda requer tempo. Porém, um dos pontos altos do Corinthians, a liderança de Tite sobre o grupo, ainda é forte, mesmo após os problemas com Jorge Henrique ou depois de ter colocando jogadores como Chicão e Pato no banco. Tais elementos demonstram que o segundo semestre pode ser promissor e alcançar o objetivo de jogar a quinta Libertadores seguida é algo tangível.

                “Chegar ao topo é difícil e mais difícil é se manter lá”, diria o clichê. O Corinthians 2013 já faturou dois títulos, mas não atingiu seu maior objetivo: repetir as importantes conquistas do ano anterior. Conquistar, novamente, uma vaga para a Taça Libertadores é o mínimo que o torcedor espera do segundo semestre. Mal acostumado que está, aguarda a referida vaga com as mãos para cima, pronto para levantar mais um troféu, seja ele da Copa do Brasil ou do Brasileirão. Menos que isso, deixará a sensação de que 2013 poderia ter sido melhor. Quem mandou nos acostumar assim?

samuka

Nota: Tão bacana quanto acompanhar in loco o Timão campeão, foi conhecer os ferozes (e corintianos) Tozo e Viana.  Demais, meus caros!

samukaferozes

SOFREDOR?

Dando sequência aos posts comemorativos do Mundial de Clubes 2012, nosso amigo Samuka Araújo retoma um tema frequentemente discutido aqui no FFC. Ainda vale chamar o torcedor corintiano de sofredor?

Sofredor?

Por Samuka Araújo

Historicamente dizemos que com o Corinthians tudo é na base da raça e é mais sofrido… Corintianos, chega de autoflagelo! As conquistas da Taça Libertadores da América e do Mundial de Clubes da FIFA consolidaram algo que já era uma tendência: o corintiano não é mais sofredor!

Sofredora foi a geração do meu pai que, nascido em 1958, só viu o Corinthians campeão aos 19 anos de idade. Sofredor foi o corintiano que cresceu nos anos 1980 e que, mesmo com a Democracia Corintiana, só viu a conquista de Paulistões. Um dos últimos suspiros do nosso sofrimento aconteceu em um dia 16 de Dezembro. Não de 2012, mas de 1990, quando o time de um craque só levantou nosso primeiro caneco nacional depois de aplicar várias goleadas por 1 a 0.

Desde meados dos anos 1990 o sofrimento da Fiel foi minguando e só reapareceu forte em 4 de Dezembro de 2007, com o rebaixamento para a Série B do Brasileirão. Nos anos seguintes ao descenso, o clube retomou e ampliou suas conquistas. O Corinthians atual é baseado na raça, mas também na organização. Organização administrativa, que manteve Tite após a derrota para o Tolima. Organização tática de um técnico que não abriu mão de suas convicções e fez de um grupo de jogadores dedicados o time campeão do mundo.

O planejamento visando o longo prazo e as várias estratégias de marketing fizeram o clube se reerguer. No campo e fora dele. A torcida, que vinha marcando as últimas páginas da história muito mais pelas confusões nos estádios e intimidações aos jogadores, voltou a atuar com o time. O lema “eu nunca vou te abandonar, por que eu te amo” marcou o reinício corintiano e, assim, “o Coringão voltou” mais forte. A mesma torcida que reergueu o gigante foi fundamental para a reconquista do mundo. Invasão ou não, a força dos corintianos que atravessaram o Planeta contribuiu para mobilizar os jogadores na conquista da taça em território japonês.

E não é apenas nos gritos da torcida que a realidade corintiana fica evidente. Nunca o hino do Sport Club Corinthians Paulista fez tanto sentido. O título mundial chancela o trecho “o campeão dos campeões”. “Teu presente, uma lição” é outra parte do hino que ilustra muito bem o momento do Timão.

O ano de 2012 já está “eternamente dentro dos nossos corações”. As condições atuais apontam que o Corinthians figurará durante um bom tempo “entre os primeiros do nosso esporte bretão”. Que assim seja! Corintianos, nosso sofrimento é algo do passado.

ACABOU A ZICA!

Na sequência de guest posts, é a vez de publicar o texto do amigo Samuka Araújo, que faz aqui um apanhado geral da campanha corintiana, até a chegada ao ápice, com a colocação da plaquinha com o símbolo do Corinthians na tão almejada taça.

ACABOU A ZICA!

Por Samuka Araújo

Uma coisa sempre me intrigou. Como um time marcado por ser o time da raça e que tem uma torcida que aplaude carrinho para evitar lateral como se fosse gol, ainda não havia logrado êxito em uma competição que exigia exatamente essas características? Foram 35 anos marcados por desilusões amorosas continentais. A relação entre Corinthians e a Libertadores parecia digna de uma tragédia shakespeariana! Parecia. Em 2012, o ano da profecia maia, finalmente, a zica acabou!

Não entenda a palavra “zica” como coisa dos “antis”, assim como não espere que eu mande um “chupa antis” ao longo do texto! Caso queira tudo isso, vá ler o Lance! A conquista da tão sonhada Copa Libertadores da América é mais importante do que qualquer provocação aos rivais. Afinal, não nos orgulhamos de viver de Corinthians?

A “zica” a que me refiro foi criada por nós mesmos: eliminações inesperadas, perder duas vezes para o maior rival, ser eliminado na Pré-Libertadores, nunca ter vencido um mata-mata contra um campeão da Libertadores, deixar o motor ferver contra argentinos, invasões no Pacaembu, Parque São Jorge e CT… Eram tabus que as participações anteriores do Timão nessa competição tinham criado (e as piadas dos rivais, hoje, engraçadas até para nós, aumentavam). Para ser campeão da América precisamos vencer cada um desses tabus. E assim foi!

Depois de uma primeira fase relativamente tranquila, como não vencíamos um mata-mata de Libertadores desde 2000, a tensão para os jogos das oitavas era grande. Mais pelos nossos próprios fantasmas do que medo do Emelec. A vitória por três gols no Pacaembu permitiu respirarmos aliviados. Agora o assunto era contra o time que, no ano anterior, havia valorizado, rodada a rodada, o nosso oitavo título nacional. Se o Corinthians nunca havia eliminado um campeão de Libertadores, a história precisava ser mudada.

No segundo jogo contra o Vasco, a expulsão de Tite, no início da segunda etapa, parecia marcar mais uma página de desequilíbrio emocional na relação com a competição continental. Assim como, por seis segundos, parecia que mais um jogador seria chibatado eternamente pelos corintianos. Hoje, Alessandro está marcado na história como o jogador que teve a honra de levantar a taça. Porém, por seis segundos, ele foi o sexto membro no hall de defensores/laterais odiados pela Fiel, ao lado de Guinei (1991), Alexandre Lopes (1996), Roger (2003), Coelho (2006) e Moacir (2010). Durante seis segundos, corintianos e vascaínos não piscaram, respiraram ou se movimentaram. No sétimo segundo, a sorte (ou competência, como prefere o chefe) de campeão aparecia. Cássio defendeu o chute de Diego Souza e conquistava de vez a confiança da torcida em seu arqueiro, como não acontecia desde Dida.

O segundo momento épico do jogo ocorreu nos minutos finais. “Como os corintianos gostam”, muitos diriam. Paulinho foi comemorar seu gol no meio da torcida, onde já estava o técnico expulso. O Pacaembu pulsava e o Corinthians seguia vivo! Até quando? Era o que os torcedores corintianos e rivais se perguntavam. Afinal, o Corinthians nunca havia eliminado um arquirrival em Libertadores e nunca chegara a final. Nunca, antes de 2012.

Nas últimas vezes que enfrentamos um rival paulista na Libertadores tomamos nossas duas eliminações mais doloridas. Mais dolorosas do que perder 10 vezes para o Tolima e só comparada com o desgosto de cair para a segunda divisão do nacional. Dessa vez, o rival era outro, mas assim como em 1999, era um baita time. Assim como em 2000, era uma semifinal contra o atual campeão da competição.

Na Vila Belmiro, Emerson acertou um chute daqueles! Porém, não contente, o próprio Sheik tratou de deixar o jogo mais emocionante ao ser expulso. Novamente, os fantasmas apareceram e até gostaram do ambiente criado especialmente para eles, já que a escuridão tomou conta da Vila quando, misteriosamente, os refletores se apagaram em um contra-ataque corintiano. Mas a defesa do Timão permaneceu intransponível.

Intransponível até meados do 1º tempo do jogo seguinte, no Pacaembu. Neymar guardou o seu na única vez que me lembro dele ter vencido a forte marcação do time de Parque São Jorge. No início do 2º tempo, o cara mais centrando do elenco corintiano resolveu aparecer para colocar o Timão na final. Nenhum torcedor parecia acreditar. Finalmente, a Libertadores deixava de fazer jogo duro e não resistia aos nossos encantos. Mas uma coisa é o primeiro beijo, outra coisa é o casamento. Para isso, o Corinthians precisava superar um duelo contra aquele que era o mais temido entre os participantes do torneio.

“Ah, mas os brasileiros tremem na Bombonera e o Corinthians não tem estabilidade emocional contra argentinos…”. Tremia. Depois de um primeiro tempo equilibrado, o Boca Juniors veio para cima do Timão e fez seu gol. Quando o jogo estava mais para o segundo gol dos argentinos, o técnico Tite agiu e colocou o candidato a novo talismã da Fiel. Romarinho ficará marcado como a melhor relação toque na bola, bola na rede da história da América!

Assim como na Bombonera, o 1º tempo no Pacaembu foi equilibrado. Porém, nos 45 minutos finais, Emerson resolveu. O primeiro gol foi um presente do Dr. Sócrates, que soprou no ouvido de Danilo para esse dar um belo passe de letra ao Sheik. Já o segundo, foi um presente do zagueirão Schiavi. O Usain Bolt com a camisa do Timão arrancou e acabou com o jogo antes do tempo. Nas arquibancadas víamos torcedores incrédulos, outros chorando e os demais com um sorriso bobo na cara.

Os tabus se foram, o título inédito veio. Invicto e com uma das melhores defesas da história do certame. Sem traumas, vencendo um dos maiores rivais e outros times tradicionais. Dessa vez, a invasão foi pacífica, no Paraguai, Equador, Argentina e Pacaembu. O mote da equipe foi “não temos craques, mas somos um grupo que se respeita”. Discurso? Alguém percebeu qual foi o primeiro jogador que Julio Cesar, antigo titular da meta corintiana, abraçou?

Dos grandes clubes brasileiros, faltava a plaquinha com o nome do Corinthians na taça Libertadores da América. Não falta mais, pois a zica acabou.