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“LONDON CALLING”

Londres

Dizem que melhor do que ir a uma grande festa é a expectativa que a antecede. Bom, se esta é a sensação geral, nada melhor que iniciar a semana da grande final da UEFA Champions League parafraseando Joe Strummer e Mick Jones, utilizando-se da faixa-título do antológico álbum do The Clash, como referência à grande decisão de Wembley do principal torneio de clubes do mundo no próximo sábado.

Velho Wembley

Não poderia haver palco mais grandioso para uma partida final entre os poderosos FC Barcelona e Manchested United que o novo e moderno estádio de Wembley, em Londres. Será a sexta vez que lá acontecerá a partida final da Champions. Nas outras cinco ocasiões (1963, 1968, 1971, 1978 e 1992), o templo sagrado do futebol inglês ainda carregava a antiga roupagem arquitetônica. Até que veio a controvertida demolição em 2003 para a construção do “Novo Wembley”, obra terminada em 2007.

Novo Wembley

Falando da badalada competição, a Champions League é um torneio de clubes criado pela UEFA em 1955 ao qual todos os países membros da entidade têm acesso, exceção feita ao minúsculo Liechtenstein, que não possui liga nacional. Seu nome oficial até a temporada 1992-1993 era apenas Copa Europeia. Até 1997, somente os campeões nacionais a disputavam, mas o desmembramento de nações e o interesse mercadológico em ampliar o quadro de participantes com maior quantidade de equipes mais fortes e tradicionais promoveu reformas na competição. Países melhores classificados no ranking da entidade máxima do velho continente ganharam mais vagas. Melhor para os clubes italianos, ingleses, espanhóis e alemães.

Barcelona e Manchester United em Roma, 2009.

Entre os maiores vencedores, destaque para Real Madrid (9 títulos), Milan (7 títulos) e Liverpool (5 títulos). Barcelona e Manchester United estão empatados com 3 conquistas (o Barcelona venceu em 1992, 2006 e 2009 e o Manchester United levou a taça em 1968, 1999 e em 2008). E o equilíbrio estatístico entre ambos não fica por aí. Nos 10 confrontos diretos gerais, cada clube possui 3 vitórias, além de 4 empates. Os catalães marcaram 17 gols contra 14 dos ingleses. Ambos fizeram uma final de Champions, mais precisamente na temporada 2008-2009 em Roma, quando o Barça, ao vencer por 2 a 0, conseguiu devolver a eliminação imposta pelo Manchester no ano anterior.

Lionel Messi

De resto, o Barça possui o melhor time do mundo, é quase unânime. Como assim “quase”? Pois é, só não dá para cravar na unanimidade, pois sempre haverá um fã do Manchester ou mesmo do arquirrival Real Madrid mais ressentido ou melindrado, ou ainda a turma do contra que não fará coro à esmagadora maioria. Trata-se de uma equipe que tem na posse de bola, com porcentagens estratosféricas por jogo, sua maior virtude, resultante na eficiência do passe. E, claro, além de toda a virtuose como equipe, tem a genialidade do argentino Lionel Messi, que encanta cada vez mais os fãs do velho esporte bretão. Já o Manchester United conta com uma estrutura tática invejável, montada à base do trabalho de longo prazo do técnico escocês Alex Ferguson (no comando desde 1986). Sir Ferguson é um dos principais responsáveis pela decolagem do Man U a partir dos anos 90, juntamente com os investimentos do empresário americano Malcolm Glazer (ainda que muitos fãs abominem o controle yankee no clube). Não há dúvida que os “Red Devils” são os mais capacitados para derrotar o Barça na Europa atualmente.

Eis os ingredientes do jogo do ano que estremecerá Londres. O jogo que fará da capital britânica o centro das atenções do mundo. Uma Londres que há muito já é cosmopolita e atrai olhares distantes para si. Assim, Londres chama, como já chamava, via Rádio BBC, os países ocupados na 2ª Guerra Mundial, utilizando a expressão “This is London calling” que inspirou Joe Strummer a compor London calling em 1979. Através do mesmo chamado, Strummer e Mick Jones expressaram suas preocupações frente aos acontecimentos mundiais da época: desde os incidentes nucleares na usina de Three Miles Island nos Estados Unidos, passando por temores de

Elvis debutando

alagamento do Rio Tâmisa, violência social, até a situação da própria banda no pós-explosão do punk de 1977 com um apoteótico SOS em código Morse para encerrar. O álbum é resultado da mescla do estilo punk com rockabilly, reggae e R&B. Paul Simonon adicionou um baixo pulsante, Jones entrou com guitarras cortantes, vocais únicos de Strummer, além da produção heterodoxa de Guy Stevens (reza a lenda que o cidadão chegava a atirar cadeiras em torno da banda para criar uma atmosfera emocional) e da foto de capa de Pennie Smith, que captou com exatidão o espírito do rock ao mostrar Paul Simonon prestes a destruir seu baixo, além das referências estéticas à capa do LP inaugural de Elvis Presley. Lançado em dezembro de 1979 no Reino Unido e em janeiro de 1980 nos Estados Unidos, para muitas publicações, como a revista americana Rolling Stone, foi o maior álbum dos anos 80. Estava construído o legado do Clash para o mundo, diretamente de Londres. Mais uma vez, Londres chamando…

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