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AS PERALTICES DE ORIBE

Mais uma vez o Brasil esteve na iminência de vencer a inédita medalha de ouro olímpica no torneio masculino de futebol, mais uma vez fracassou.

Oribe Peralta

E fracassou em partida que praticamente começou com o placar de 1×0 para o México, o adversário da final, uma vez que o erro de passe de Rafael, jogador do Manchester United, permitiu que Oribe Peralta iniciasse seu processo de travessuras para cima da Seleção Olímpica Brasileira ao marcar o gol inaugural da partida aos 28 segundos de jogo.

Daí em diante, foi dado aos mexicanos tudo aquilo que mais desejavam e que, pelo jeito, já estava traçado no plano de jogo do técnico Luis Fernando Tena. O que se viu foi uma fortíssima marcação sobre os dois maiores prodígios do futebol brazuca, Oscar e Neymar.

Mas as chances brasileiras de gol foram escassas.

Na 2ª etapa, Neymar teve raro momento de liberdade para concluir e bateu pelo alto.

Já, os mexicanos, tiveram grande possibilidade de ampliar quando a bola foi roubada de Thiago Silva, que ficou a reclamar toque de braço, e beijou o travessão brasileiro.

Aos 30 minutos, os mexicanos chegaram ao segundo gol via jogo aéreo, mais uma vez Oribe Peralta. As peraltices de Oribe levavam o México a nova vitória sobre o Brasil.

As críticas ao técnico Mano Menezes seriam invitáveis. Todas justas? Provavelmente não, afinal tomar gol a menos de um minuto de jogo é para desmoronar qualquer planejamento tático, ainda mais em partida decisiva.

Contudo, um dos questionamentos mais cabíveis talvez esteja relacionamento ao aproveitamento do atacante Hulk.

Neymar lamenta perda do ouro

Colocado no banco nas duas últimas partidas do Brasil, Hulk entraria em campo para marcar o gol único de sua seleção aos 90 minutos de jogo. Pouco demais, tarde demais.

Talvez não tivesse sido se Oscar, nos acréscimos, tivesse demonstrado melhores fundamentos de cabeceio e concluído no alvo, algo inesperado àquela altura e que levaria o jogo para a prorrogação.

No final, o Brasil ficou com a amarga prata olímpica, mais uma vez aliás. Prata que veio por obra das peraltices de Oribe…Oribe Peralta, o nome do jogo e do ouro mexicano.

GLORIOSOS DE TODAS AS CORES

Da manhã onde a seleção do único esporte onde o Brasil deveria ser sempre ouro teve mais uma vez uma opaca prata de brilho pouco intenso, brilhou o ouro intenso do bicampeonato olímpico de quem quase não se esperava cor alguma. Continuou brilhando e espelhando, nos golpes de prata, mas dourada por merecimento, o esforço e a superação de gente de um esporte sem quase/ ou nenhum apoio. Brilhando intensamente em uma prata dramática que de ouro certo tonalizou uma tristeza passageira pela derrota doida e doída, mas de claridade de um diamante lapidado por mais de década de um trabalho sem parâmetros, de 30 títulos em 40 disputados. E que fechou uma participação de glórias parcas em abundância, mas de glórias inestimáveis em superação e em dedicação, com um 5º e um 8º lugares de um percurso sofrido, dolorido, sem padres, mas com sensação de dever cumprido. Ganhando ainda, de onde sequer se sabia que havia representatividade verde e amarela, uma cor bronzeada de um esporte que na verdade são cinco e nos quais ela esteve sempre no topo.

De uma seleção brasileira de futebol masculino, que vive mais uma vez um papel de “vilã”, a uma sequencia de gloriosos e inestimáveis heróis olímpicos, medalhistas ou não, de cores variadas, tonalidades penduradas no pescoço ou carregadas na pele. Heroínas do vôlei feminino bicampeão na superação e com seu comandante 3 vezes dourado pela história. Do magnífico Esquiva Falcão, herói solitário de um esporte marginalizado pelo sistema. Dos heróis que entristeceram uma manhã dourada pelo sol, por um ouro certo que veio na prata abrilhantada por um trabalho de longuíssimo prazo, nunca menores por uma derrota gigantesca diante de um adversário gigantesco em todos os sentidos. De vitoriosos sem medalhas, como Marilson Gomes dos Santos e sua enorme 5ª colocação na maratona masculina, companheiro de um monstruoso Paulo Roberto de Almeida, que na 8ª colocação fez o Brasil que acompanhava ainda entristecido pela derrota no vôlei, sentir orgulho de um herói que chegou chorando de emoção e de dor, trazendo ainda consigo um Frank Caldeira na 13º. E de uma vitoriosa e bronzeada Yane Marques em um esporte que compreende em si outros 5, nos quais em todos ela esteve no topo e pelo qual nós mal sabíamos que estávamos tão bem representados.

Não somos potencia olímpica. Somos potencia em alguns esportes. Temos potencial para potencializarmos a nação olimpicamente. E em um cenário de muitos heróis e poucos vilões, podemos esperar por dias melhores, por edições olímpicas mais vitoriosas. Devemos exigir dias melhores para os que tentam nos dar dias tão intensos como o sábado e o domingo olímpico.

A todos esses – e apenas a eles – que se juntam a tantos outros, medalhados ou não, dessa e de outras edições, deixo aqui o meu enorme muito obrigado.

 

OS VERDADEIROS HERÓIS OLÍMPICOS BRASILEIROS

Ainda que pesem toda a capacidade e competência dos badalados jogadores brasileiros das seleções brasileiras de futebol ou de voleibol, por sinal, com chances de conquistar os respectivos ouros em disputa, é imperativo que outros atletas sejam erguidos à condição de verdadeiros heróis nacionais olímpicos.

Adriana Araújo (com o treinador Luiz Dórea) e Diogo Silva

Não, nada contra o sucesso, o status ou o dinheiro ganhos via meritocracia por prodígios como Neymar Jr., Thiago Silva, Oscar, ou mesmo os craques do vôlei como o capitão Giba, ainda que em menor proporção.

Somente que algumas histórias escritas por brasileiros na atual edição dos jogos olímpicos são comoventes, cativantes, frutos do mais puro amadorismo, no sentido positivo do vocábulo, isto é, algo feito unicamente pelo amor à atividade em questão.

É o caso da pugilista Adriana Araújo. Soteropolitana de 30 anos, treinada pelo conhecido Luiz Dórea, ex-treinador de Acelino “Popó” Freitas e conhecido também no UFC como mentor de Junior “Cigano”.

Araújo lutou contra todas as adversidades para chegar a Londres, principalmente quando ousou comprar briga política com cartolas da categoria.

Com toda a fibra possível, a baiana lutadora garantiu a medalha de bronze ao perder para a russa Sofya Ochigava. Foi a 100ª medalha da história do Brasil nos Jogos Olímpicos e a primeira da nobre arte pós conquista do legendário Servílio de Oliveira em 1968 na Cidade do México.

Com Adriana Araújo não há glamour, badalação ou frisson, mas, pelo menos, houve medalha no peito.

Ainda mais comovente, sobretudo pela ausência de medalha (perdida de forma dramática) é a saga do bravo lutador de Taekwondo, Diogo Silva.

Paulista de São Sebastião, no litoral norte do Estado, Silva foi a maior ilustração de gigantismo brasileiro nos Jogos Olímpicos.

No Taekwondo olímpico, tudo é decidido velozmente. A competição ocorre em dia único. Traduzindo: as medalhas veem a jato, em compensação, as lesões sem tempo de recuperação e as derrotas idem.

E lá estava o atleta militar. Sim, Diogo Silva é da Marinha do Brasil.

Nas quartas-de-final, uma bela vitória contra o jordaniano Mohammad Abulibdeh.

Nas semifinais era a vez de encarar o iraniano Mohammed Bagheri Motamed. Lesionado no pé, Silva levaria a luta de forma emocionante ao empate para ser declarado perdedor na decisão dos juízes. A pior das derrotas.

É aquela história, Abulibdeh é um astro na modalidade. Já Diogo Silva, como ele mesmo diria, é um operário por não possuir os mesmos recursos de treinamento que seu badalado oponente.

Na sequência, era a vez da luta pelo bronze. O adversário era o estadunidense Terrence Jennings, velho conhecido dos Jogos Pan-Americanos.

Silva buscaria improvável novo empate após sair perdendo no combate. Nos décimos finais, os juízes computariam golpe final de Jennings para revolta do brasileiro que sustentaria o fato do cronômetro já zerado antes da configuração do golpe. Placar final de 8×5.

Eis o retrato do bravo guerreiro Diogo Silva: batalhador sem incentivos maiores e, no final, sem a sonhada medalha.

Eis os verdadeiros heróis olímpicos brasileiros, Adriana Araújo e Diogo Silva, na frente de batalha contra tudo e contra todos.

BRASIL E MÉXICO NA FINAL OLÍMPICA DO FUTEBOL

O México vira sobre o Japão, o Brasil passa com autoridade sobre a Coreia do Sul e ambos farão final olímpica latino-americana no torneio de futebol masculino.

Rôulo comemora gol inaugural brasileiro contra a Coreia do Sul

Pode parecer fácil para o Brasil, afinal os confrontos diretos globais entre os finalistas mostram amplo domínio para os sul-americanos. Mas não se engane, caro leitor. Neste século, o México equilibrou a disputa, a ponto de ter mais vitórias no histórico recente.

 

MÉXICO 3×1 JAPÃO

Wembley, Londres

Apesar do golaço inaugural marcado por Yuki Otsu logo aos 12 minutos de jogo, o México mostrou ter se preparado de fato para a competição olímpica ao buscar a virada com determinação.

Mexicanos vibram com êxito obtido contra os japoneses

O início da recuperação se deu com Marco Fabián aos 31 minutos após cobrança de escanteio. No 2º tempo, a virada chegaria com golaço de Oribe Peralta e Javier Cortés fechando o placar.

Grande resultado da seleção treinada por Luis Fernando Tena.

 

 COREIA DO SUL 0x3 BRASIL

Old Trafford, Manchester

Com autoridade, o Brasil derrotou a Coreia do Sul em Manchester por 3×0 com grandes atuações de Oscar e Leandro Damião.

Apesar do início claudicante dos brasileiros, quando os sul-coreanos tomaram a iniciativa do jogo e criaram algumas boas oportunidades de gol, não houve maiores problemas subsequentes para os favoritos à medalha de ouro.

Em bola roubada na intermediária, Oscar fez grande assistência a Rômulo que chutou rasteiro rente à trave para marcar.

No 2º tempo, Leandro Damião marcaria duas vezes para determinar a consistente vitória brasileira em Old Trafford.

 

BRASIL x MÉXICO

Eis a final olímpica do futebol masculino. Brasil favorito?

Teoricamente, sim. Mas vale lembrar o retrospecto recente deste confronto entre brasileiros e mexicanos no futebol.

Evidentemente, no histórico global (amistosos e jogos oficiais das seleções principais), a vantagem é amplamente brasileira.

Até hoje, foram 29 jogos com 17 vitórias do Brasil, 5 empates e 7 vitórias mexicanas. Algo que mostra boa superioridade técnica de uma seleção sobre a outra.

Entretanto, ao analisar os confrontos recentes entre ambas as seleções, verifica-se maior equilíbrio com pequena vantagem para o México na estatística.

Basta tomar como base os jogos realizados no século atual, ou seja, desde 2001 até 2012. Nesta contabilidade recente são 9 jogos com 4 êxitos mexicanos contra 3 brasileiros, além de 2 empates.

E, de fato, ao puxar pela memória, veem à mente jogos difíceis, truncados e de relativo pouco sucesso para o time da CBF.

O exemplo mais recente é o amistoso realizado neste ano nos Estados Unidos quando os mexicanos impuseram 2×0 sobre o Brasil com autoridade.

Conclusão disso tudo: algo não encaixa no jogo brasileiro contra os mexicanos. Será o fator motivacional que empurra os hermanos do norte contra o Brasil? Haveria um pouco de atitude blasé por parte dos brazucas ao deparar-se com adversário que, pelo fato de não ser a Argentina, o Uruguai ou alguma seleção europeia, não recebe a devida atenção?

Fato é que, apesar do favoritismo brasileiro para a grande final olímpica, atingida após 24 anos de seca, todo cuidado é pouco contra a Seleção Mexicana. Afinal, pelo histórico recente, uma derrota não seria surpreendente.

Para finalizar, que tal recordar o amistoso de 2001, quando, sob dificuldades, Romário, na Seleção comandada por Emerson Leão, foi buscar improvável empate após derrota parcial por 3×1. No final, o amistoso terminaria empatado em 3×3.

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