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O SUPERDIMENSIONAMENTO DAS COISAS POR VEZES NEGLIGÊNCIA A VERDADE.

Se você buscar o significado do termo “bajular”, verá que ele se destina a quem adula o outro ou qualquer coisa, mas com algum fim interesseiro. Ele o faz esperando ter algo em troca.

Detesto verdades absolutas. Elas desestimulam o livre raciocínio em busca da lógica. Cegam o receptor e o torna presa fácil de qualquer bajulador.

A melhor banda de todos os tempos foram os Beatles. O melhor jogador de todos os tempos foi Pelé.

Mas por quê? Baseado em quais comparativos? Quem disse isso?

A torcida mais fanática do mundo é a tal. A maior movimentação de uma torcida foi feita pela torcida tal.

Quais fatores corroboram com essas afirmações? E, o mais importante aqui, a quem interessa que essas afirmações tornem-se verdades absolutas?

Amo os Beatles, mas não é essa a minha banda número 1 da vida.

Ainda acho que Pelé é o maior de todos os tempos, mas já começo a ponderar acerca da possibilidade de Messi tomar esse posto.

O que tornam Pelé e os Beatles intocáveis e inatingíveis pela análise do mundo?

Nada, a não ser a conveniência.

E veja, não estou discordando das afirmações. Defendo apenas o direito em discuti-las.

É conveniente melindrar certas discussões, delimitar os objetos de análise.

Quem tem o maior amor do mundo sabe que a ele aquele sentimento pertence, mas não necessariamente o do meu vizinho é o mesmo maior amor do mundo. O dele é outro.

O sofrimento que você pode ter tido em certo momento da vida pode não ser grandes coisas comparado ao sofrimento de outro e o do outro não chega aos pés do seu.

O superdimensionamento das coisas por vezes negligência a verdade.

Nessa manhã onde o Corinthians fez sua vitoriosa, entretanto decepcionante (no aspecto técnico) estréia no Mundial de Clubes, todos os chavões voltaram a tona. E ainda que fossem de seu torcedor, vá lá. Mas não, eles partem de quem os informa, de quem deveria levar a eles a luz da realidade pura como ela é, não distorcida da maneira como mais lhe convém.

O corintiano deixou de ser sofredor há muitos anos. O Corinthians deixou de obter seus êxitos com penúria há tempos.

É o clube mais bem administrado do país e economicamente está se tornando uma potencia mundial. Em campo esse trabalho de bastidores surte efeito. Está no Mundial pois venceu a Libertadores de forma invicta e sem levar sustos em uma final tranquila contra o Boca Jrs.

Da mesma maneira que hoje venceu pelo placar mínimo, mostrando um futebol mínimo, diante de um adversário de qualidade mínima. Assim foi pois não jogou bem, não por ser o Corinthians um clube sofredor.  Oras, façam-me o favor.

Por que raios as notas após a vitória magra contra o pobre Al Ahly tem que frisar o “eterno sofrimento alvinegro” e não a fraca partida de um time que é sim muito competente, mas que hoje simplesmente jogou mal?

Finalizo aqui recomendando duas leituras que foram as razões por eu ter escrito o texto acima:

A 1ª do jornalista Antônio Carlos Teixeira, do Observatório da Imprensa:

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/midia-empurra-numeros-fantasiosos

A 2ª do jornalista Mauro Cezar Pereira, dos canais ESPN:

http://espn.estadao.com.br/post/298487_os-exageros-sobre-o-corinthians-que-se-arriscou-sem-necessidade-e-o-perigo-para-o-chelsea

Abraços,

Complô contra a memória do futebol brasileiro

Por Antonio Carlos Teixeira em 2/12/2008

No episódio sobre o reconhecimento dos títulos nacionais conquistados por vários clubes nas décadas de 50 e 60, a imprensa esportiva brasileira está de mãos dadas com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Sabe-se que a entidade comandada por Ricardo Teixeira despreza os torneios anteriores a 1971, quando teve início o Campeonato Brasileiro. Entre os times vencedores daquelas competições estão Santos, Botafogo, Palmeiras, Bahia, Cruzeiro e Fluminense.

De acordo com a fraquíssima memória da CBF, Pelé não tem títulos nacionais. É rei sem coroa. O atleta de todos os tempos é órfão de conquistas no país que ajudou a se transformar no maior papão de títulos do mundo.

A entidade máxima do nosso futebol não está só. Tem o apoio de parte da mídia esportiva. O Globo Esporte, da TV Globo, vira e mexe traz reportagens colocando o Flamengo como pentacampeão brasileiro. Justíssimo. Ocorre que a TV Globo, ao mesmo tempo em que “reconhece” o título do time carioca de 1987, ignora as conquistas do Santos de Pelé e do Botafogo, de Jairzinho, por exemplo.

Se a CBF considera o Sport o legítimo campeão nacional daquele ano, por que a Globo contradiz a versão oficial, colocando o Flamengo como penta? O comportamento da emissora carioca seria coerente se também considerasse os títulos vencidos por Santos, Botafogo, Palmeiras, Bahia, Cruzeiro e Fluminense.

O jornal Folha de S.Paulo também presta desserviço à história do futebol brasileiro. No final do ano passado, o diário paulista publicou ranking dos clubes mais vitoriosos no Brasil. E atribuiu pontuação bem inferior aos campeonatos disputados antes de 1971.

Injusto e imoral

CBF e imprensa esportiva não têm memória. Os argumentos para o não-reconhecimento dos títulos dos anos 50 e 60 são frágeis, superficiais e despropositados. Um deles é o de que os campeonatos anteriores a 71 mudaram de nome várias vezes. Se o critério for este, o que dizer do atual Brasileiro, cuja competição trocou de nome pelo menos cinco vezes? Nasceu Campeonato Nacional, virou Taça de Ouro e Taça de Prata, ressurgiu como Copa União (módulos de várias cores), voltou a ser Brasileiro, apareceu como Copa João Havelange e agora é o “novo” Brasileiro de pontos corridos.

De 1971 para cá, a competição “oficial” da CBF teve um regulamento para cada ano. Bagunça generalizada. Essa babel de regulamentos e desmandos durou pelo menos 32 anos. Muita coisa aconteceu nessas mais de três décadas. As viradas de mesa tornaram-se comuns. O Campeonato Brasileiro só passou a ser mais bem organizado a partir de 2003. Ainda assim, não se observa o tal “caráter nacional” da competição. Somente nove dos 26 Estados, além do Distrito Federal, têm representantes no “novíssimo” Campeonato Brasileiro.
Seria, então, o caso de menosprezar as conquistas entre 1971 e 2002? A julgar pelo entendimento da CBF e mídia esportiva, sim. Mas seria injusto e imoral tirar títulos conquistados dentro de campo, tal qual nos anos 50 e 60. A prova de que as disputas nesses anos eram tão nacionais é que Náutico, Fortaleza, Sport e Bahia chegaram a várias finais, desbancado os “grandes” de São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul.

Torneio continental

Outra coincidência: os títulos ignorados pela CBF foram conquistados entre 1958 e 1970, justamente no momento em que o Brasil passou a dominar o futebol mundial.
Depois disso, o “país do futebol” só voltaria a vencer outra Copa 24 anos mais tarde.

Vale lembrar que muitos campeonatos estaduais chegaram a ser disputados por apenas quatro equipes. O Paulista, por exemplo, chegou a ter dois campeonatos paralelos, além de edições com apenas quatro clubes. Mais: desde 1902, esteve sob a responsabilidade de nove diferentes federações. Mesmo diante de tantas alterações, todos os títulos são reconhecidos.

O Wikipédia traz um texto sobre a Taça Brasil, cuja introdução revela o caráter nacional dessa competição: “A Taça Brasil foi uma competição de futebol de nível nacional disputada em sistema de copa entre 1959 e 1968, antecedendo a criação do Campeonato Brasileiro. Foi criado pela CBD em 1959 para indicar os representantes brasileiros para um torneio continental e que teve sua origem no Congresso da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL), realizado no Rio de Janeiro em 1958, e que passaria a se chamar Taça Libertadores da América. Participavam da Taça Brasil equipes campeãs estaduais de todo o país…”

Será que Pelé existiu?

Para a CBF, o zagueiro Odvan, do Vasco, tem mais história que o grande Mauro Ramos, do Santos. Os laterais Giba, do Corinthians, e Maurinho, do Cruzeiro, têm títulos nacionais. Merecidíssimos, aliás. O contra-senso é descobrir que o grande capitão do tri do Brasil e do grande Santos, Carlos Alberto Torres, não traz essa conquista em sua biografia, mesmo fazendo parte de um time que venceu cinco campeonatos nacionais consecutivos.

Jairzinho, Gérson e Paulo César Caju são, na memória da CBF, nada diante de Bobô, Tupãzinho, Tonhão, Paulo Almeida, entre outros. E quem são Djalma Santos, Dudu e Ademir da Guia perto de Cris, Richarlysson, Wilson Mano e Tóbi? Pode-se comparar, por exemplo, Tostão e Piazza a Vampeta e Luizão? Para a CBF, não só pode como estes levam ampla vantagem sobre aqueles.

Louve-se a notável ferramenta Wikipédia, que mantém intacta a história do futebol brasileiro dos anos 50 e 60. Os torcedores de Botafogo, Santos, Bahia, Cruzeiro, Fluminense e Palmeiras que quiserem olhar pra trás têm de lançar mão do vasto material disponível na internet sobre o período mais vitorioso do futebol brasileiro.

Porque, se depender da mídia esportiva, a história desse esporte no Brasil começa somente em 1971. Foi quando a CBD – e depois a CBF – passaram a gerir o esporte mais apaixonante do planeta de maneira irresponsável e irregular, sob enxurrada de denúncias de corrupção, dentro e fora de campo.

Fica, por fim, pergunta aos burocratas da CBF e aos jornalistas esportivos, principalmente aos da velha guarda: Pelé existiu? Têm certeza? E Garrincha, Gérson, Ademir da Guia, Tostão, Pepe, Gilmar, Piazza, Cafuringa, Marco Antônio e tantos outros campeões das décadas de 50 e 60?

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Fonte: Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=514JDB002