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Os Dois Lados da Moeda: …as cadeiras vazias do Engenhão.


O bom de um espaço digital como o Ferozes é isso, cada um de nós escreve sob sua ótica acerca dos assuntos que lhes interessam. Esse não será um texto leve.

Hoje assisti a algumas mesas redondas comentando o horripilante jogo da seleção de ontem – o jogo em si vi picotado, depois dos 20 primeiros minutos já percebi que seria perda de tempo e me concentrei num programa qualquer do History Chanel.

Não tenho nada a dizer sobre a partida em si – quanto a isso a mesma coisa de sempre, salvo quando um ou outro pisa nos calos dos nossos craques. Um time com mobilidade risível, criatividade nula… tão estimulante quanto dançar tango com a avó.

Meu comentário vai acerca da cobertura da imprensa esportiva de TV durante uma semana em que a seleção goleou o Chile e deu vexame contra a Bolívia. Esse é o assunto que tende sempre a me chamar a atenção quando estou vendo qualquer programa esportivo: “que diabo de idéia esses negos estão tentando me vender?”

Segunda-feira tudo era festa em grande parte da imprensa esportiva. Vamo lá Brasil! Assisti os comentários no Sportv e no Jogo Aberto. No canal fechado era só alegria e diversão. Salvo momentos de sobriedade no “Bem Amigos”, o oba oba parecia generalizado. “É a visita do Fenômeno aos seus amigos de seleção!” Agora vai Brasiu-iu-iu-iu. “A Bolívia está no papo, vai ser de goleada”. Todos pareciam subscrever a infeliz frase deixada por Robinho no quadro branco de algum lugar do Chile. Voltamos a ser os melhores!!!!

Epa! Epa! Mas há uma semana nosso técnico não estava para cair!?

A cobertura do Jogo Aberto foi mais sóbria, não diria nem sóbira, coerente é mais o termo – a antes e depois do jogo a opinião geral era de que o Chile era uma porcaria de time (não concordo), o ufanismo não baixou na Band – nem a melancolia chegou por lá após o empate coma Bolívia.

Chegamos a opinião na quinta-feira. Dunga não é técnico e Ronaldinho não tem condições de jogar na seleção – opinião generalizada.

Daí esse que vos escreve fica perplexo.

Quando o Dunga não convoca o Ronaldinho ele está fazendo pirraça. Quando convoca é porque a CBF pressiona, não devia mesmo convocar. E a imprensa, não pressiona pela convocação do Ronaldinho?

Pressiona… com meios sórdidos: mostrando aquele golaço que ele fez com a camisa do Barcelona há quatro anos, suas arrancadas ainda pelo Grêmio – isso quando não nos conta sobre qualquer espirro que ele dá por ai. Eu não sei o quanto disso é o encanto que os canais da mídia tem pela mitologia que que eles próprios criam e o quanto disso é perversidade mesmo. Vamos e venhamos: o Ronaldinho não joga lhufas, em lugar algum, há mais de dois anos. Até quando vamos esperar por uma jogada genial dele?

As possíveis razões para isso deixo para um outro artigo. Mas para não parecer que lhe jogo sobre os ombros o peso de 180 milhões de torcedores insatisfeitos, digo apenas que: sei lá se ele ainda tem motivação pra essa coisa de “ser atleta”. Veja, não deve ser fácil ser jogador de futebol – em que pese ser o sonho de 9 entre dez garotos brasileiros. Você se sujeita há N fatores desgastantes. Ok, “em qual profissão não se passa por isso?”, alguém pode me dizer. De acordo, mas a essa pergunta eu retrucaria: “Caso você tivesse dinheiro suficiente para nunca mais trabalhar, continuaria se subentendo a elas?”

Fechamos as aspas.

Acabada a copa de 2006 o discurso era unânime: jogador não deve ter lugar cativo na seleção. Seis meses depois, seleção sem Ronaldinho não é seleção. Não deve ter trabalho mais descompromissado que fazer cobertura esportiva – especialmente da seleção: quando o time está mal e ganha algo fazemos uma festa, todo mundo está feliz e ninguém cobra coerência mesmo. Quando o time joga mal é só descer a lenha e servir de canal para uma catarse coletiva em nome dos milhões de torcedores sem voz.

Quanto ao Dunga. Não acho que com outro lá a coisa estaria muito melhor. Já tivemos outros. Nos últimos 10 anos tivemos uns 5. Pergunta: em que momento a coisa foi melhor? Japão 2002, talvez – e apenas pelo resultado podemos assegurar isso.

O fato é que o povo não é bobo – ou cansou de sê-lo. As cadeiras vazias do Engenhão ontem são o testemunho disso. Não adiantou a festa e os salamaleques pós Chile. Não adiantou distribuir ingresso nas ruas do Rio de Janeiro.

Há algo de muito errado com esse negócio que chamamos de Seleção Brasileira. Podemos demitir o treinador – se isso resolve um problema ou tapa o sol com a peneira é outro papo.

É isso.

Ao som de Crosby Stills Nash & Young

Os dois lados da moeda: O trivunvirato e a farsa

Após marcar dois gols no primeiro jogo do São Paulo no campeonato paulista – curiosamente contra o líder Garatinguetá – Adriano, “o Imperador”, afirmou que não queria mais esse tal apelido lhe fosse atribuído. Queria ser, simplesmente, Adriano. Mas, como não se pode ser tudo o que se quer, será que o “Imperador” poderia tornar-se “plebeu”?

Adriano veio ao São Paulo para recuperar-se após péssimas temporadas na Itália. O clube alardeia seu potencial para fazê-lo, diz que sua infra-estrutura está aberta para o atleta que estiver disposto a utilizá-la. Em um segundo momento, como parte dessa recuperação, pareceu interessante que o jogador passasse seis meses atuando pelo time do Morumbi.

Dai o projeto de “recuperação” de Adriano começa a misturar-se com idéias menos “pudicas”.

O São Paulo é o time mais competente no Brasil no que se refere a marketing. Imediatamente foram tomadas as medidas para capitalizar em cima do “Imperador”, ofertando-lhe a camisa 10. Em poucos dias o produto já estava nas lojas, sucesso de vendas garantido. Fosse Adriano o plebeu, tal medida seria tomada? Obviamente não.

A mídia também quis sua fatia e, em momento algum, deixou de atribuir-lhe o codinome. Não seria possível ignorar a presença do “Imperador” entre nós, tapuias, cada vez mais acostumados a ver em nossas equipes frutos promissores ainda verdes ou heróis de outrora que há muito caíram do pé. Adriano imperou nos noticiários e, tal qual o título que lhe é atribuído impõe, um séqüito de repórteres – inclusive importados da Europa –
formou-se em torno do jogador.

E a tal “recuperação”? Parole, parole…

Não apontamos o time e a mídia para excluir a responsabilidade do próprio jogador pela situação em que se encontra. As benesses que se oferece a um Imperador são sedutoras e deve ser difícil não ouvir o cantar das sereias. Com todas as facilidades que tal condição lhe confere, que como dissemos, ao invés de contestada foram, sim, fomentadas, Adriano voltou a imperar, infelizmente não nos gramados.

Um triunvirato (clube, mídia, jogador) insano que jamais conduziria alguém do trono para as ruas – ou, no caso, para os campos. Uma metáfora para se compreender como, em nossos dias, é elevado à realeza alguém que não tem meios de sustentar tal condição.