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DE TITO A TATA

A dramática saída definitiva de Tito Vilanova do comando técnico do FC Barcelona por motivos de saúde força os dirigentes blaugranas a irem ao mercado em busca de novo treinador e o escolhido é o argentino Gerardo “Tata” Martino, fortemente vinculado ao Newell’s Old Boys, a exemplo do supercraque Lionel Messi, além de bom trabalho na Seleção Paraguaia. A contratação evidencia a boa reputação de treinadores sul-americanos argentinos e chilenos na Europa em detrimento de seus correspondentes brasileiros que não se firmam no Velho Continente.

Gerardo Martino
Gerardo Martino

Clima de comoção e tristeza em toda a Espanha pela saída de Tito Vilanova que necessitará de total dedicação aos tratamentos para sua enfermidade. Algo que impossibilita a conciliação com os trabalhos no Barça. Fãs, adversários, colegas, todos desejam pronta recuperação a Tito.

Situação que obrigou os dirigentes catalães a procurarem de última hora um bom treinador que se encaixasse dentro dos padrões de trabalho do clube.

Eis que surge o nome de Gerardo “Tata” Martino, 50 anos, argentino de Rosário, como Lionel Messi, com carreira absolutamente vinculada ao Newell’s Old Boys, novamente como Lionel Messi nos primórdios, discípulo de Marcelo Bielsa que goza de reputação de possuidor de idéias inovadoras e adepto de trabalhar com gente oriunda das bases do clube. Nada mais Barcelona que isso.

Martino estreiou nos idos de 1980 como jogador de meio de campo aos 17 anos de idade. É o recordista de partidas disputadas pelo NOB com 505 participações e 35 gols.

Os vínculos de Tata com Bielsa proveem do início dos anos 90 quando El Loco surgia no cenário de novos e talentosos treinadores argentinos. O NOB do treinador Bielsa, que contava com Martino atuando no meio de campo, sagrar-se-ia campeão do Torneio Clausura de 1992.

Gerardo Martino e Marcelo Bielsa: tudo a ver
Gerardo Martino e Marcelo Bielsa: tudo a ver

O título nacional conduziria o time de Rosário à Copa Libertadores daquele ano. Bielsa voltaria a mostrar competência ao atingir a final da competição contra o São Paulo FC de Telê Santana. Após uma vitória por 1×0 para cada lado, os brasileiros levariam a taça nas penalidades. Martino estava lá atuando contra os tricolores paulistas tanto no Parque Independência quanto no Morumbi.

Martino atuando pelo NOB em 1992 e marcado pelo volante Pintado na final da Libertadores contra o São Paulo na partida de ida em Rosário.
Martino atuando pelo NOB em 1992 e marcado pelo volante Pintado na final da Libertadores contra o São Paulo na partida de ida em Rosário.

Como treinador, Gerardo Martino deu início à carreira em 1998, tendo se destacado com títulos nacionais conquistados no futebol paraguaio. Desempenho que o alçou à posição de selecionador nacional daquele país mais tarde, em 2007.

Martino permaneceria no cargo até 2011 quando teve seu grande momento na Copa América disputada na Argentina.

O Paraguai de Martino não seria derrotado pela Seleção Brasileira de Mano Menezes. Foram dois confrontos com dois empates em jogos difíceis (2×2 na fase de grupos e 0x0 nas quartas de final com vitória paraguaia nas penalidades mais toscas da história do futebol sul-americano de seleções). A queda somente viria na final contra o Uruguai de Oscar Tabarez (3×0).

Neymar Jr. lamenta eliminação brasileira na Copa América de 2011 contra o Paraguai de Martino, próximo treinador do craque no Barcelona.
Neymar Jr. lamenta eliminação brasileira na Copa América de 2011 contra o Paraguai de Martino, próximo treinador do craque no Barcelona.

Em seguida, Martino retornaria às origens ao assumir a direção técnica do NOB, atingindo as semifinais da Copa Libertadores de 2013 após eliminação frente ao Atlético/MG nas penalidades.

Agora, Tata recebe chance de ouro ao assumir o Barcelona. Mais uma vez, o futebol europeu vem em busca dos conhecimentos de um treinador argentino.

Argentinos, chilenos, Gerardo Martino, Diego Simeone, Manuel Pellegrini, eis a armada sul-americana em ação no comando técnico de equipes europeias de expressão. Mais uma vez, treinadores brasileiros são esquecidos pelo mercado do Velho Continente. Exceções a Luiz Felipe Scolari ou Vanderlei Luxemburgo, que sequer foram bem-sucedidos nos clubes que trabalharam (é bem verdade que há o ótimo trabalho de Felipão na Seleção Portuguesa), há este abismo de afirmação entre treinadores brasileiros e sul-americanos do Cone Sul.

Resta esperar o que Martino fará com o estilo de toque de bola primaz que o Barcelona apresentou no passado próximo. Poderá ser reeditado nas mãos do argentino? Ou o Barça definitivamente mudará seu estilo de jogo?

LIGA EUROPA PARA O ATLETICO MADRID E O CONTRASTE DE SENTIMENTOS DA FINAL

O Atletico Madrid é o campeão da UEFA Europa League, o segundo torneio de clubes do Velho Continente em importância, com atuação decisiva do colombiano Radamel Falcao, que fez dois gols da vitória por 3×0 sobre o Athletic Bilbao, em Bucareste, Romênia.

Alegria de um lado e desolação do outro

Se os espanhóis fracassaram em alcançar a final da Champions League, ao menos conseguiram fazer a final da Liga Europa. Madrilenhos e bascos estavam lá, na Arena Nationala de Bucareste, perfilados para a grande final.

E não era somente a Espanha com presença maciça na final. Ambas as equipes contam com treinadores argentinos em seus quadros técnicos. No Madrid, o consagrado ex-atleta Diego Simeone que tem trazido força ao time da capital espanhola. Já no Bilbao, Marcelo Bielsa, ex-técnico da seleção de seu país, chegou para trazer maior refinamento no futebol dos bascos.

Mas era dia dos comandados de Diego Simeone, que começaram a definir o título logo aos 7 minutos de jogo em belo gol de Falcao em chute colocado e angulado.

O Bilbao repetia o que fizera em toda a temporada ao impor toque de bola na criação e desenvolvimento de suas jogadas.

A demonstração de dia de fortuna para o Atletico teve prosseguimento aos 34 minutos quando Arda Turan anula saída de bola do adversário ao roubá-la e servir Falcao, o colombiano aplicou corte nos zagueiros e bateu para ampliar.

Na 2ª etapa, o que se viu foi enorme esforço e superação do time basco na sua tentativa de buscar o resultado adverso. Várias foram as chances de gol, mas, ora o goleiro Thibaut Courtois fazia grandes defesas, ora a trave fazia o papel de goleiro e ora a defesa do time de Madri abafava. Definitivamente, não era dia do time de Bielsa.

O golpe de misericórdia nas pretensões do Athletic veio através dos pés de Diego Ribas em contra-ataque fatal. O ex-santista deixou dois zagueiros para trás e bateu para finalizar os 3×0. Atletico Madrid campeão da UEFA Europa League.

Atmosfera emocional em Bucareste com o contraste escancarado no gramado e na arquibancada.

De um lado, a joia da alegria dos jogadores e comissão técnica do Atletico Madrid com especial destaque ao jovem treinador Diego Simeone que mostra ter competência e espírito de campeão.

Do outro, a dor e frustração da derrota. Afinal, o que talvez fosse pouco para uns (e foi, de fato, como, por exemplo, para a dupla de Manchester que não deu a devida importância ao torneio após eliminações na UCL), significava muito para outros, como o Athletic Bilbao. Equipe de pequena para média do País Basco, que admite apenas jogadores oriundos da região em seus quadros, vencer um torneio europeu seria a glória.

Mas veio a derrota. E com a derrota a tristeza, a dor, a amargura.

Espírito de luta não faltou, o Bilbao até merecia melhor sorte no placar. Bielsa, apesar dos apelidos portenhos de El loco, é sujeito sério, conhecedor do futebol e articulador de boas equipes de futebol.

Os 3×0 finais expuseram o contraste da alegria e da tristeza. Não que seja inédito no esporte.  Nada disso, obviamente. Mas, o que mais chamou a atenção talvez tenha sido o fato de o derrotado em questão ter sido alguém que lutou, e muito, para vencer.

O comportamento antagônico e natural em tal circunstância, o do vencedor e aquele do derrotado, talvez seja um grande retrato da vida. Afinal, no modo, por vezes perverso, de vida que as sociedades criaram, para alguém vencer, outros tantos perderam, foram deixados para trás, tiveram seus sonhos alijados, claro, por diversas razões.

Mais uma vez o futebol representa uma faceta da vida, um aspecto da sociedade, uma pintura de todos os nossos sonhos que, por vezes, transformam-se em pesadelo na jornada humana por este planeta.