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FUTEBOL, ESSA CIÊNCIA NEM UM POUCO EXATA

A estratégia no futebol é complexa e talvez não possa ser explicada com pranchetas e setas. Tem a ver também com o aspecto físico, fisiológico, emocional e metafísico, talvez.

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Antonio Carlos jogou usando a camisa do São Paulo, seu clube, mas marcou os dois gols do Corinthians.

O que explica um jogo em que – dos cinco gols marcados na vitória de 3 x 2 do São Paulo sobre o Corinthians – todos os tentos tenham sido marcados por jogadores do mesmo time? O que explica o fato de Antonio Carlos, zagueiro tricolor que vem marcando muitos gols ao longo do campeonato, especialmente nesta partida, ter sido o responsável pelos dois gols do adversário?

O que explica o fato da zaga corintiana – imbatível nos jogos anteriores e considerada ideal pela torcida – ter perdido a força ao longo do jogo, vulnerabilizando o setor defensivo?

O que explica o aparente esquecimento de Cássio sobre como se bate um tiro de meta?

O que explica o golaço de Paulo Henrique Ganso, que até pouco tempo vinha penando para conseguir um lugar na equipe titular, por não estar rendendo?

O que explica o Corinthians, num acordo verbal esdrúxulo, não considerar pagar a ‘multa’ (sobre um jogador de quem detém parte dos direitos, vejam bem) para que Jadson, em excelente fase e hoje peça-chave no esquema, jogasse contra o ex-clube (aqui, façamos valer a regra do custo-benefício: Alexandre Pato custou R$ 40 milhões, aos cofres corinthianos, e ainda tem metade de seu salário pago pelo clube – sem jogar)?

O que explica a ira de torcedores contra o já citado Alexandre Pato, pelo fato de o jogador ter comemorado a vitória de seu atual clube no Twitter, mas o silêncio aparente com relação à bizarra negociação que faz o Corinthians desembolsar uma bela quantia, a fim de que o jovem treine no São Paulo?

Pato apagou o tweet da discórdia.
Pato apagou o tweet da discórdia.

O que explica o destempero de Mano Menezes, expulso por reclamação?

Por fim, o que explica o fato de o Corinthians agora depender do rival que o derrotou, quebrando um tabu de doze jogos, para se classificar para a próxima fase do Campeonato Paulista?

Cartas para a redação.

A VITÓRIA ESCAPOU PELAS MÃOS

Paradoxo: no empate por 1 x 1 do Corinthians com o Palmeiras neste domingo, Mano Menezes foi o ganhador e o perdedor, tudo por conta da forma como mexeu no time. Acertada a decisão de iniciar o jogo com três volantes e um único armador, no caso o estreante Jadson, aquele que foi envolvido em uma troca com o São Paulo por Alexandre Pato, sendo que este último sequer jogará o Paulistão, por já ter atuado pelo Corinthians na competição além do limite permitido.

Jadson foi apresentado e já estreou.
Jadson foi apresentado e já estreou.

Jadson, talvez pelo calor da estreia, ou pela empolgação dos novos ares, jogou bem. Correu, armou, deu passes, chutou. Não sentiu o tal ‘peso da camisa’, tampouco a falta de ritmo, ao menos pelo tempo em que ficou em campo, até ser substituído por Renato Augusto, que há muito não jogava e entrou pra fazer sua nova estreia.

A responsabilidade pelo empate vai cair na conta de Mano.
A responsabilidade pelo empate vai cair na conta de Mano.

Se por um lado Jadson e o também estreante Bruno Henrique, terceiro volante na equipe titular armada por Mano (numa estratégia muito bem montada: os laterais Uendel e Fagner apoiam bastante, e é interessante ter alguém fazendo a cobertura; além disso, Guilherme teve mais liberdade para ir à frente, quase um meia, como eram seus antecessores Paulinho e Elias) tiveram sucesso, o mesmo não podemos dizer de outras peças da equipe: o zagueiro Felipe, escolhido do treinador para substituir o ex-capitão Paulo André, que partiu para o futebol chinês, foi muito mal, deu espaços, perdeu a bola, não pareceu seguro. Me parece que a escolha dele como titular se deu muito mais pela estatura do que pela técnica. Cléber, reserva-imediato desde que chegou, parece mais preparado e experiente pra assumir a função, vejamos como isso será administrado ao longo do campeonato. Também não correspondeu em campo o ataque: Paolo Guerrero, fazendo jus à máxima da sorte no amor e azar no jogo, não conseguiu acertar nada do que tentou, e Romarinho teve mais brilho: fez o gol e manteve o estigma de carrasco do Palmeiras. Fez pouco, errou muito, mas diga-se: quando saiu, o placar ainda era a favor do Timão.

Mas Mano, num rompante da velha mentalidade de segurar resultados, com aquela atitude que costumávamos criticar em seu antecessor, resolveu trocar Bruno Henrique por Ramirez e Romarinho por Jocinei, e a mudança se fez perceptível logo em seguida: gol de Allan Kardec para o Palmeiras, selando o empate.

De positiva, tiramos então a postura da equipe, muito mais organizada e voluntariosa, sobretudo a atuação de Jadson, melhor em campo pela equipe, e o fato de não ter perdido. Ainda assim, seria melhor ter ganhado. Vamos em frente.

Sobre a saída de Paulo André, inegável que não havia mais clima para ele, já que o Bom Senso FC não deve ser algo que agrade dirigentes de qualquer clube que seja. Afinal, o clube aceitou liberá-lo de graça antes do fim de seu contrato. Zagueiro titular e capitão do time. Pensemos. Não obstante, o contrato oferecido ao atleta pelo time chinês deve ser mesmo irrecusável. Para um jogador que pode estar perto do final de sua carreira, é de se pensar.

Sobre Alexandre Pato, só saberemos quando houver sua estreia no São Paulo. Financeiramente, me pareceu uma péssima ideia: o Corinthians vai pagar metade de seu salário para que jogue no rival, e terá de torcer para que ele atue bem a ponto de render uma boa venda no futuro. Equação um tanto complicada para adversários diretos.

PARA LAVAR A ALMA!

Partidas ruins, escassez de gols, time desorganizado e muita desconfiança marcaram o inicio de temporada santista.

Com a saída de Montillo, a contusão de Edu Dracena e a falta de reforços, o que restou para o técnico Oswaldo foi escalar a molecada.

Gabriel virou o dono da camisa nove, Geuvânio completou o trio de ataque santista com Thiago Ribeiro. Na zaga, a dupla Jubal e Gustavo Henrique e completando o meio de campo, o volante Alan Santos.

Apesar da instabilidade e da falta de opções, a equipe conquistou 7 dos 9 primeiros pontos disputados,  com gols nos acréscimos e muito sufoco é bem verdade, mas o suficiente para se manter no G2 de seu grupo.

Faltava então uma partida para engrenar de vez, para afastar a  desconfiança da torcida e acima de tudo, dar moral para os garotos recém promovidos.

E ela aconteceu…

O dia 29/01/2014 marcou não apenas uma possível arrancada alvinegra, mas principalmente a ascensão de mais um punhado de moleques ousados e promissores.

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Contra ataques fulminantes e sabedoria para definir, tudo isso frente a um time cascudo, campeão do mundo e que há mais de 6 anos não sofria 5 gols em uma partida.

É claro que não dá para dizer ainda que essa molecada irá vingar e que estamos diante de mais uma geração de craques, mas a goleada imposta sobre o Corinthians é um belo cartão de visitas e ao menos enche de esperança o torcedor santista, outrora tão desconfiado.

Mais do que isso, dá moral a um time que ainda sofre com a ausência de seu maior ídolo dos últimos tempos, um time que precisa se adaptar a um novo estilo de jogo, começar do zero e apostar no coletivo.

De fato, se hoje ainda não existe um “Neymar” para desequilibrar e decidir as partidas, tem-se ao menos um esquema de jogo evidente, uma forma de atuar que exclui a dependência de um único jogador.

Por fim, o santista sai de alma lavada do clássico e na torcida por uma nova geração de meninos da vila. E convenhamos, não há motivos para desacreditar, afinal de contas, na Vila Belmiro, um raio costuma cair várias vezes no mesmo lugar…

A PASSO LENTO

Pois bem, meus caros,

Depois de algumas mudanças e a incerta sensação de que as coisas poderiam melhorar, a realidade entrou de sola: pouco mudou no Corinthians. Não vou aqui fazer o papel da viúva, clamar pela volta de Adenor, tampouco irei pedir a cabeça de Mano Menezes, recém-chegado para sua segunda jornada à frente do Timão. O trabalho está no início, e agora já se sabe que será árduo.

Primeiramente, há um caso aparentemente sério a ser tratado na parte de preparação física. O mesmo clube que supostamente recuperou Alexandre Pato, hoje em boas condições físicas, embora não tão bem na parte técnica, não conseguiu fazer experientes jogadores, alguns campeões mundiais, acompanharem a correria da nova geração de meninos da Vila, alguns até estreantes no clássico.

Acontece que a apatia contaminou todos os jogadores do Corinthians. Desde o bom goleiro Walter até o ontem apenas esforçado, mas pouco produtivo Paolo Guerrero, passando por Guilherme, que fez um golaço. Infelizmente, para o panorama da partida, um golaço foi muito pouco. Na lateral, no lugar do negociado Edenilson e o ainda impossibilitado de estrear Fagner, atuou Diego Macedo, o qual precisamos descobrir em que posição joga. Talvez seja um fenômeno em alguma posição. Como lateral é um fiasco. A maioria das jogadas do Santos passou pelo seu lado. Mas não quero focar apenas em um jogador. Como eu disse, o time todo pareceu não exatamente desligado, mas sem energia para alcançar os jogadores santistas, não apenas os jovens, mas também os experientes Thiago Ribeiro e Arouca (este, que já esteve em situação de ser visto como moeda de troca, e que eu adoraria ver jogando pelo meu time). Arouca inclusive foi quem abriu o placar, após rebote.

Há quem diga que o revelado e admitido atraso em pagamentos a jogadores seria o responsável pela carga extra que pesou as pernas dos jogadores e fez com que todos ficassem desatentos quanto ao tempo de bola. É uma hipótese. Aceitável? Não sei.

Por fim, não posso encerrar sem algumas palavras sobre Alexandre Pato, a quem até depositei alguma esperança de gols desde que chegou ao Corinthians. Não vai mais dar certo. A estratégia a ser adotada é a de redução de danos. Negociar por valor inferior ao que pagou pode ser a solução. Não vejo modo de recuperar o que foi gasto (veja bem: ‘gasto’, não ‘investido’). Há rumores de um pedido de empréstimo sem custos pela Juventus. Eu emprestaria. Ao menos para livrar os cofres dos salários a serem pagos a alguém que não está interessado em fazer algo de útil por si mesmo e pelo clube que representa.

De resto, além de ficar de olho no velocímetro, recomendo ao Corinthians que observe também o retrovisor e o GPS.

Sigamos.

Time de Mano decepcionou.
Time de Mano decepcionou.

PODEM LEVANTAR A PLACA DE ‘EU JÁ SABIA!’

Com uma campanha muito abaixo do esperado no Campeonato Brasileiro, dado o sucesso do passado recente de ambos, e alheios à guerra judicial em que se transformou a competição neste aparentemente interminável ano de dois mil e treze, Santos e Corinthians começaram a apresentar as novidades para iniciar os trabalhos do próximo ano, aquele que talvez tenha chance de ser ainda mais monótono para os campeonatos nacionais e estaduais, visto que haverá o evento maior da Fifa para capturar todas as atenções.

Novidades que não são assim tão novas: ambos apostaram em nomes conhecidos para assumir o comando e a reformulação de suas equipes. O Peixe vai de Oswaldo de Oliveira, com passagem curta pelo clube, de janeiro a março de 2005. De lá para cá, é inegável que o treinador tenha ganho mais experiência, seja em experiências nacionais e internacionais (Oriente Médio e Japão). No Botafogo, levou o time à pré-Libertadores. Fez bom campeonato, se é que podemos chamar de boa esta competição com nível técnico tão baixo.

Se na Vila Belmiro existe a premissa de uma evolução em termos de experiência, o novo escolhido para comandar o Corinthians vem fazendo o caminho contrário (veja bem, meu caro leitor, isto que aponto aqui não desmerece o profissional, tampouco o clube). Senão vejamos: quando em 2010, Mano Menezes deixou o Timão para atender ao chamado da Confederação Brasileira de Futebol, o treinador estava na crista da onda: havia tirado o time da série B com louvor, sendo campeão, e ainda conquistou um Campeonato Paulista invicto e mais a  Copa do Brasil de 2009. Se não teve uma passagem exatamente desastrosa, também não encheu de esperança o torcedor brasileiro, e deu lugar a Felipão em 2013. Seu último trabalho foi no Flamengo, este mesmo Flamengo que foi campeão da Copa do Brasil recentemente pelas mãos de Jayme de Almeida, o qual Mano deixou no meio do caminho. Uma saída meio sem explicação. Especulou-se que as tratativas com o Corinthians já haviam sido iniciadas naquele momento.

Só que agora existe um legado no Timão. Legado este que Mano ajudou a construir, mas que é muito mais de Tite, por força dos títulos conquistados: Brasileiro, Libertadores, Mundial, Paulista, Recopa. Adenor sai, mas o Corinthians muda pra não mudar: treinador gaúcho, identificado com o clube, passagem vitoriosa. A diferença é que talvez o novo treinador não tenha o mesmo carisma, o mesmo tipo de tratamento com o grupo: é mais sério, sisudo.

Os desafios de Mano: construir uma história de sucesso, no mínimo tão vitoriosa quanto sua primeira passagem. Mas não só isso: Mano volta menor que seu sucessor (não contando a curta passagem de Adilson Batista pelo clube), por força da grandiosidade dos títulos conquistados. Cabe a Mano Menezes também a reformulação do grupo, altamente desgastado pelos resultados negativos de um ano pra esquecer. O primeiro a sair é Maldonado, carta fora do baralho praticamente desde que chegou e cujo contrato não foi renovado. Mas é pouco. Muitos jogadores já estão sem clima para continuar. Há a informação de que Alexandre Pato tem lugar cativo com Mano, dada a convivência que tiveram nos tempos de Seleção. Comenta-se de uma proposta do Napoli por Edenilson. Há quem diga que os empresários de Romarinho batem de porta em porta procurando novo lugar para o jovem, que jogou muito aquém do que apresentou no ano anterior. Douglas teve problemas com o treinador em sua passagem pela Seleção e pode não ficar. Alessandro se aposentou. Emerson Sheik quase foi para o Flamengo. Tendo proposta, deve sair. Danilo quer ficar. Pode ser difícil (eu manteria).

Sobre os reforços, fala-se em Rafinha, disputando o Mundial pelo Bayern, Marcelo e Everton do Atlético Paranaense. Ventila-se uma disputa com o São Paulo por Jucilei, que em sua primeira passagem teve atuação de boa para regular. Mas é um bom reforço.

E ainda há a tarefa de rejuvenescer a equipe. Guilherme e Gil são os principais ícones deste trabalho, que deve ser continuado. Jovens revelações deve surgir entre as contratações.

Enfim, no Corinthians e no Santos, a sorte está lançada. Num 2014 que promete ser complicado, por causa da Copa do Mundo e do desgosto causado pelas decisões estranhas dos tribunais, o desafio para os  treinadores é grande. Esperemos.

Mano e Oswaldo estão de volta ao futebol paulista.
Mano e Oswaldo estão de volta ao futebol paulista.