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O FUTEBOL ESTÁ FEDENDO

O futebol brasileiro anda tão emocionante quanto uma ida ao Poupa Tempo – ops, hoje é dia de ir ao Poupa Tempo. Quanta alegria!

Abro os cadernos de esportes, os portais especializados, ligo a rádio, vejo nos noticiários da TV, recebo em sms, via twitter e facebook da vida: “Seleção Brasileira vence amistoso contra Gana”; “Mano Menezes convoca somente jogadores que atuam no Brasil para amistosos contra a Argentina”; “Flatulência em preleção provoca racha entre Luxemburgo e elenco flamenguista”; “Valdívia volta da seleção lesionado e desfalca Palmeiras por 30 dias”; “Cruzeirense Gilberto, alegando ser perseguido pela arbitragem, anuncia aposentadoria no domingo e na segunda anuncia que não vai mais se aposentar”; “Neymar é vendido pela 47ª vez ao 98º clube em menos de dois anos”; “Atacante Henrique pede valorização para renovar com São Paulo”; “Ainda líder, Corinthians perde mais uma. Adversários solidários também perdem”.

Não é de hoje que as grandes novidades no nosso futebol residem nas transferências de nossos jogadores para o exterior.

Nosso campeonato é equilibrado? É sim. Mas por baixo, muito por baixo. Há anos que o campeão brasileiro é o “menos pior”. É aquele que vacila menos, não o que brilha mais.

Desde quando o campeão brasileiro não vence a Libertadores?

Os clubes que triunfam no 1º semestre buscam apenas a sobrevivência no 2º.

Os clubes brasileiros habituaram-se a muleta da vaga na Libertadores e projetam seus elencos para essa pífia finalidade. A taça de campeão é uma conseqüência de planejamentos piores que o seu.

Saudosos os tempos em que só campeões (do Brasileirão ou da Copa do Brasil) disputavam a Libertadores. Elencos qualificados que em princípio buscavam serem os melhores do país, para então buscarem a América.

Hoje os pseudos craques tomam conta do noticiário. Hoje eles manipulam instituições históricas conforme seus interesses. Cobram valorização sem que tenham prestado nenhum grande (médio, pequeno, minúsculo) serviço ao clube. Pulam de clube em clube, ganhando cada vez mais trocados com camisas cada vez menos gloriosas.

Luxemburgo, Felipão, técnicos remanescentes da última era de ouro do nosso futebol, acostumados a lidar com craques, com elencos qualificados e que hoje estão a mercê de jogadores flatulentos, descompromissados, que fazem biquinho via twitter.

O futebol virou negócio. Virou política, virou isenção fiscal, virou máfia, virou casa da mãe Joana.E está virando um negócio muito do sem graça.

DESPREZO ETERNO AO FUTEBOL MODERNO

Amadureci meu lado torcedor em uma década muito legal para o futebol brasileiro – a dos anos de 1990.

Meu clube de coração formou uma série de timaços que ganhou muita coisa depois de 17 anos sem comemorar nada. A seleção foi tetra depois de 24 anos sendo coadjuvante.

Foi também a última geração em que torcedores puderam vibrar na arquibancada de cimento, sacudir suas lindas bandeiras de mastros, enquanto seus ídolos podiam extravasar o momento mais sublime do futebol, o do gol.

Viola imitando porco. Depois imitando gavião. Donizete imitava a Pantera. O embala neném de Bebeto. As faixas comemorativas de Paulo Nunes, entre muitas outras.

Ganhavam com isso o carinho do seu torcedor e a raiva do adversário. Sentimentos que juntos dão sustentação as rivalidades. RIvalidades que são sim o verdadeiro motor que impulsiona o futebol a ser o gigante em meio ao resto dos esportes.

Tudo promovido e possibilitado por uma época onde o futebol não era essa chatice em que está se tornando.

Bandeiras com mastros, que é uma das coisas mais bonitas que o torcedor da arquibancada pode promover, não são mais permitidas em São Paulo e em muitos outros pontos do planeta. Isso com a desculpa de reduzir a violência, que pelo contrário só cresce e mostra a cada dia que não é no estádio que ela encontra o seu reduto.

A própria arquibancada está com os dias contados. Veja, não sou contra a modernização dos estádios, do esporte como um todo. Apenas acho que cabe a manutenção da tradição dentro da modernização.

Poderiam perfeitamente destinar um setor nas modernas arenas para o pessoal do gargarejo. Mas não. Em breve deixaremos de ser torcedores de futebol e seremos diplomatas engravatados enxugando o suor da testa com lenços de papel. Enquanto nossos ídolos ao invés de comemorarem os gols, irão prestar 1 minuto de silêncio pela morte do futebol visceral.

Rooney sofreu punição de dois jogos porque ao marcar importante gol, proferiu palavras que bacharéis jamais devem incluir em seu repertório. Ontem Neymar foi expulso porque ao marcar um belo gol, pegou uma das máscaras que sua torcida usava em sua homenagem e a vestiu. Senhores, é o fim do mundo. É o fim do mundo do futebol como o conhecemos e como aprendemos a gostar.

Jogador não pode contestar arbitragem após o jogo, não pode praticar o seu direito a opinião, correndo o risco de ser impossibilitado de praticar sua profissão, pois os senhores do apito são entidades magnânimas, intocáveis, que devem manter-se imaculadas. Um nojo!

O futebol como o conhecemos caminha para a extinção. Caminha para uma pasteurização que irá jogá-lo na mesma vala comum dos outros esportes. Ele foi o que foi até hoje por ser tão distinto, por ser tão democrático. Por permitir em todas as suas esferas a exacerbação da alegria a que ele se propõe gerar.

Deixo aqui o meu desprezo eterno ao futebol moderno.