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JOGO DO ANO?

Por: Almir Breviglieri

A palavra mito possui uma série de significados que vão desde os mais simples e óbvios aos mais elaborados filosoficamente. Entre as diversas interpretações do vocábulo em questão, pode-se dizer que se trata de uma personalidade ou fato que, por ser irreal, simboliza algo possível apenas por hipótese.

Pois bem, é exatamente o que a imprensa brasileira criou ao longo do semestre – um mito chamado Barcelona x Santos, o jogo do ano.

Os 4×0 do Barça sobre o Peixe deste domingo em partida decisiva do mundial de clubes da FIFA evidenciou o patamar ao qual pertence cada equipe.

Talvez a dura realidade de Yokohama não teria sido tão dura se o Santos que tivesse ido a campo contra o melhor time do mundo fosse aquele do mês de junho, embalado e reconfigurado através do dedo de Muricy Ramalho, aliando à habilidade da dupla Neymar e Ganso um sistema defensivo sólido e protegido. Foi a alma do negócio para o Santos faturar a Libertadores.

Na sequência do título veio a repetição de erros que outros clubes brasileiros já cometeram no passado: relaxamento e “abandono” do campeonato nacional.

Resultado da brincadeira: perda de ritmo de jogo, de pegada, falta de sequência de prática do jogo em alto nível.

E deu no que deu.

Quanto ao Barcelona, não há muito mais a acrescentar. É a prática de um futebol que mais lembra futsal, com troca de passes perfeitos, rápidos e com movimentação constante de seus jogadores. Nada de lançamentos em profundidade, jogadas de linha de fundo e jogo aéreo. Que Carles Puyol, Gerard Piqué e Javier Mascherano não levem a mal, mas a zaga não é um primor, já que o sistema defensivo da equipe é simples: manutenção absurda da posse de bola. Afinal, como ser atacado se o adversário não vê a cor da bola?

Ah, o jogo!

Pois é, repetindo alguns erros do Manchester United na final da Champions League, o Santos não foi páreo para o hegemônico time da Catalunha.

Ao retomar a posse de bola, a equipe santista falhava nos passes. O que significou o desperdício das poucas chances para mostrar seu jogo.

Ainda no item “queimando a posse de bola”, o bom goleiro Rafael Cabral, talvez com o intuito de evitar marcação sobre pressão na saída de jogo, rifava a bola na reposição.

Paulo Henrique Ganso permaneceu sem ação, estático em campo. Aliás, era nítido nos jogadores santistas, até mesmo nos mais descontraídos do time como Neymar, o peso e o medo nos momentos que antecederam o início da partida.

Ao final, os 4×0. Sim, goleada com show de Andrés Iniesta, Lionel Messi e Xavi.

Seria muito pedir a um clube brasileiro, que teve seu auge técnico no mês de junho, para enfrentar em condições de igualdade o Barcelona de Josep Guardiola. Os mais conceituados do mercado como Real Madrid e Milan, demonstrando alguma competitividade, já haviam falhado.

Jogar contra o Barcelona atual faz lembrar o boxe dos tempos de Mike Tyson no auge de sua carreira.

Tyson era devastador. Aniquilava seus oponentes em poucos rounds de luta. Colocaram-no contra os melhores, mas os melhores, atemorizados com a superioridade do campeão, mudavam sua forma de atuar e falhavam clamorosamente. Provavelmente teriam fracassado se tivessem mantido seus respectivos estilos. Aí residia a interrogação. Como parar Tyson?

E como parar o Barcelona?

De qualquer maneira, superioridade flagrante à parte, os jogadores do Santos não podem utilizar a desculpa de que jogaram contra os melhores para justificar a atuação do time em Yokohama.

Faltou sim mais pegada, determinação, faca nos dentes.

O que fica deste mundial da FIFA é a confirmação de uma hegemonia global chamada FC Barcelona. Em contrapartida, o que se espera é que surja, o mais breve possível, alguém que possa contrabalançar a potência hegemônica.