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OS DOIS LADOS DO RIO LA PLATA

O camarada Raphael Prado fez uma viagem por Buenos Aires e Montevidéu e relata as curiosidades e histórias futebolísticas que ouviu e presenciou em sua passagem por aquelas bandas.

Por Raphael Prado

Lá no serviço um colega de trabalho perguntou o que eu ia fazer durante a viagem pra Buenos Aires e Montevidéu, ai quando eu passei pra ele um mini roteiro do que eu pretendia ele me respondeu que todas minhas viagens eu faço coisas relacionadas a futebol e a música.
Na realidade essas duas atividades são as que me movem sair de casa, por conta de futebol e shows eu conheci outras cidades, estados, países, fiz amizades, conheci comida e bebida dos locais visitados e até em algumas poucas vezes tive a chance de conhecer (melhor) mulheres.
Essa viagem da qual voltei semana passada traduz bem a importância que um desses elementos tem, tanto que nesse post em especifico falarei disso e não farei um “guia de sobrevivência” ou “conheça as cidades”.

 Montevidéu

Essa foi minha segunda visita à capital Uruguaia, e dessa vez eu consegui ver um jogo. Infelizmente não foi no lendário e histórico Estádio Centenário mas sim no simpático, modesto e porque não bucólico estádio Luiz Franzi onde o time do Defensor manda seu jogos.
É um estádio que aos moldes do que conhecemos aqui na capital paulista seria semelhante ao também simpático estádio da “Rua Javari” do Juventus na Mooca. O jogo foi Defensor Sporting 2×0 Cruzeiro, valido pela primeira fase da Copa Libertadores da América. Das várias situações curiosas que ocorreram durante o jogo, destaco que o estádio fica às margens do Rio La Plata e conforme vai anoitecendo nota-se um belíssimo pôr-do-sol atrás de um dos gols do estádio, formando uma vista bem bonita das arquibancadas e o sol se pondo atrás do rio. Os “Barras” (como são conhecidos os que no Brasil chamamos de Torcidas Organizadas), do Defensor vão munidos dos tradicionais instrumentos músicas e de inusitados guarda-chuvas que fica aberto durante o jogo todo. A parte de alimentação dentro do estádio também é algo que chama atenção, pois há vendedores de café que andam pelas arquibancadas com maquinas de café em suas mochilas e vendem um expresso quentinho e passado na hora. Na lanchonete do estádio vendem enormes hambúrgueres (lá é hamburguesa), super recheados e que dá de 10 em vários fast-foods famosos. E por fim não posso deixar de falar dos tradicionais mates, torcedores andam com suas garrafas térmicas com agua quente e suas bombas e cuias por toda a dependência do estádio bebendo seu mate.
Só posso dizer que pra quem gosta de futebol e vai aos jogos sem nenhum cunho clubistico ou só pensando em rivalidades, mas vai ao estádio em outros locais que não onde seu clube de coração joga, esse tipo de experiência é fundamental, recomendo muito que pessoas que amam o futebol façam isso, se tiver a chance de num país que estiver visitando de ver jogos locais, vá, é enriquecedor.

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No Estádio Centenário fui fazer a clássica visitação ao Museo del Futbol que fica dentro do estádio (algo como o Museu do Futebol que temos no Pacaembu). Já havia feito esse passeio em 2010, mas fui novamente pois com a recente evolução do futebol uruguaio na Copa de 2010 e o Título da Copa América de 2011 sempre tem novidades. Infelizmente não havia nenhuma partida marcada para o período que eu estava na cidade, mas havia a exibição do filme “Maracaná” que conta a história do título da Celeste em território brasileiro em 1950. Imaginem uma tela gigante como esses telões que tem shows, no meio do gramado do Centenário passando um filme sobre a maior conquista que o futebol dele tiveram. E essa sessão foi vista das arquibancadas do estádio, revivendo um clima de jogo.

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Estava caminhando pelo bairro de Palermo rumo a Rambla Argentina pra dar um passeio pela orla do Rio La Plata, quando vejo um senhor, saindo de sua casa com a camisa do Corinthians, não me contive e fui conversar com ele. Sr Javier, me contou que adora futebol brasileiro, que era maratonista e que diversas vezes foi correr em Porto Alegre e Florianópolis. Uma conversa agradável com um senhor que é amante de futebol. Sensacional.

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Buenos Aires

A capital argentina respira futebol e muito diferente do imaginamos não é só de Boca Juniors e River Plate que os portenhos falam, pois há sim muitos torcedores dos outros times espalhados pela capital. Obvio que os dois gigantes concentram a maioria dos “Hinchas” mas não podemos desprezar de forma alguma a paixão que os demais tem por Independiente e Racing (ambos de Avellaneda), Velez e San Lorenzo (capital) e porque não os times de Rosário e La Plata.
Tive quatro experiências relacionadas a futebol em Buenos Aires. A primeira, foi ver Racing 1×2 Boca Juniors em um pub e conhecer como os torcedores de lá se comportam nos bares. Achei bem bacana, é bem semelhante ao nosso modo, muita bebida, os gritos de “uhhh” enfim é bem parecido. De quebra fiz amizade com dois torcedores no pub.

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Museo de lá Pasion Boquense e Visitação as dependências do mítico estádio de La Bombonera é das atrações que todo apaixonado por futebol deve fazer. Conhecer um pouco da história do clube mais popular da Argentina, visitar as arquibancadas do estádio, pisar ao gramado, sentar no banco de reservas e por fim levantar a Copa são as experiências vividas nesse passeio. Confesso que após “turistar” pelo estádio, fiquei sentando ali na arquibancada por uns 10 minutos talvez, incrédulo, olhando para aquela trave (da entrada principal do estádio), pensando, lembrando, imaginando como foi ao vivo o que eu vi na TV, que foi um dos gol mais importantes que eu comemorei na vida (não só pelo contexto esportivo, histórico e clubistico em relação ao Corinthians, mas sim na minha vida pessoal que não estava lá muito boa) que foi aquele gol do Romarinho aos 39 minutos e 56 segundos do segundo tempo da primeira partida final da Libertadores 2012. Não há muito o que falar sobre isso, apenas lembrar o que senti.

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Sempre ouvi histórias sobre a pressão que a torcida do Boca faz nos jogos em La Bombonera, que o estádio pulsa, que o clima do jogo por vezes faz que o time (em alguns momentos com elenco até inferior que seu adversário) se sobressaia na partida, enfim, várias e várias histórias. Pude conferir um jogo in loco pela oitava rodada do Torneio Final do Campeonato Argentino que foi Boca Juniors 1×1 Argentinos Juniors, realmente a torcida do Boca é um espetáculo a parte ao jogo, comandados pela principal “Barra” que é a La 12, o estádio todo canta a mesma música que a La 12 puxa, não tem essa de cada canto estádio cantar uma coisa diferente como ocorre em alguns lugares.

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A última coisa e a mais inusitada de todas foi que estava andando pela Plaza San Martin com a camisa do Corinthians quando um cara me aborda, se diz torcedor do River (na hora eu achei que ele ia me espancar) e me pergunta qual era o melhor jogador do mundo? Eu já meio medo de tomar umas pancadas a toa entrei na brincadeira dele e disse que não sabia, ai ele olhou pra mim e disse: “É Romarineo, pois calou aquele lugar.” Sem mais.

Vou deixar aqui umas explicações sobre expressões usadas pelos Hermanos.

Hincha – Torcedor
Barras – Torcida Organizada
Copa – Libertadores
Mundial – Copa do Mundo
Mundial de Clubes – Intercontinental

Por fim digo apenas que futebol é o único esporte possível, o resto é educação física.