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REVISITANDO SANTOS x PEÑAROL NA LIBERTADORES

A hora está chegando. Final da Taça Libertadores da América batendo à porta. Só que desta vez com ingredientes especiais que atendem pelas alcunhas de Santos Futebol Clube e Cub Atlético Peñarol. O que muitos ignoram é que a final da Libertadores de 2011 traz a reedição de duas disputas parelhas entre estes dois monumentos do futebol sul-americano. Disputa que está empatada no torneio continental. Um final feliz para cada lado e muita luta entre ambos.

Equilíbrio nos confrontos diretos gerais. 5 vitórias para o Santos, 4 vitórias para o Peñarol e 3 empates. Foram 24 gols santistas e 19 da equipe uruguaia. Na Libertadores, foram 6 confrontos com 3 vitórias cada. Os encontros ocorreram nas edições de 1962 e 1965. Sim, equilíbrio é a palavra. Uma vitória para cada lado em jogos de ida e volta que forçaram a realização de jogos extras. Pois é, era assim naqueles tempos. Nada de prorrogações, decisões por pênaltis e adjacências. Igualdade total no duelo significava jogar novamente até a solução da controvérsia. Fórmula de disputa que teria vida longa (foram também em 3 partidas que o Flamengo foi campeão contra o Cobreloa em 1981). O inchaço dos calendários e das competições não permitiriam mais tal luxo. Isso posto, nada melhor que recordar os confrontos entre Santos e Peñarol nas edições da Libertadores de 1962 e 1965.

1962 – O primeiro título do Santos

Capa de Pot Luck

Em 1962, Brasília já era a capital federal, o Chile era sede da Copa do Mundo e o planeta já conhecia seus “reis”. Enquanto que no Brasil, Pelé, já consagrado na Seleção Brasileira, reinava absoluto nos gramados, os Estados Unidos da América do presidente John Kennedy idolatrava um novo estilo musical. Filho do blues, o rock’n’roll dominava as paradas de sucesso do país. O grupo de New Jersey “The Four Seasons” ganhava as paradas da Billboard com seu hit “Big girls don’t cry”. Mas tanto quanto cá, os americanos já tinham entronizado um ícone: Elvis Presley. Nos idos de 62, Elvis já se tornara ídolo não só na música, mas também no cinema. E, atacando em duas frentes, dois álbuns do rei do rock bombavam nas paradas. “Pot Luck” trazia o hit “Kiss me quick”. Já na dobradinha música-cinema, o álbum trilha sonora “Girls! Girls! Girls!” para o filme de mesmo título alavancava ainda mais o nome do astro nas duas mídias. Elvis sabia das coisas. É só dar uma olhada abaixo para entender.

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Girls girls girls

Eis o cenário cultural para a Libertadores. Um torneio bem diferente do atual. Apenas 10 equipes lutando pelo caneco, sendo a primeira fase disputada por 9 times divididos em 3 grupos de 3. Cada campeão de grupo avançaria para as semifinais e  juntar-se-iam a Peñarol, campeão de 1961.

 O Santos, vencedor incontestável de seu grupo, eliminaria o Universidad Católica chileno (1 a 1 e vitória por 1 a 0). O Peñarol, entrando pela via rápida graças às prerrogativas de campeão, encararia o rival local Nacional. Em três jogos (derrota por 2 a 1, vitória por 3 a 1 e empate por 1 a 1), os atuais campeões passariam à final.

Final definida e o primeiro jogo no estádio Centenário de Montevidéu. Vitória santista por 2 a 1 de virada. Sem Pelé, Coutinho encarregou-se de fazer as honras com dois gols.

Galera na Vila para Santos x Peñarol em 1962

O jogo de volta na Vila Belmiro seria marcado por uma garrafa arremessada a campo, por 90 minutos jogados, apenas 51 valendo e volta olímpica santista por nada. Alegando falta de segurança e pressão da torcida santista, o árbitro chileno Carlos Robles não considerou os 39 minutos restantes. Pepe faria o gol de empate no período. Ninguém do Santos sabia da decisão peculiar da arbitragem e os jogadores trataram de comemorar. Tudo em vão. Placar final oficial: 3 a 2 para o Peñarol.

Para a terceira partida, o Estádio Monumental de Nuñez do River Plate foi o palco escolhido para o tira-teima. É incrível, mas muitos no Brasil não acreditavam mais no Santos. Vários eram os motivos: jogo em Buenos Aires, local próximo a Montevidéu, possível animosidade da torcida local (os dirigentes santistas queriam jogar em Lima), enfim, aquelas coisas extra-campo. Pois é, esqueceram que Pelé estaria de volta após recuperar-se de contusão. Aí já era, fatura liquidada. O maior do mundo estava lá, de volta para detonar. E não somente Pelé. O maior ataque do mundo estava em ação em terras portenhas. A escalação era de impor respeito, temor e tudo mais: Gilmar, Lima, Mauro e Dalmo, Zito e Calvet, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. 4-2-4 puro. Logo aos 10 minutos Coutinho (com o toque final de Caetano anotando contra) abriu os serviços. Pelé acabou com o 2º tempo, marcando aos 3 e aos 44 minutos. Santos 3 a 0 e campeão da Libertadores. Confira alguns momentos.

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1965 – A revanche “carbonera”

Passariam três anos até que o Peñarol tivesse a chance de devolver a derrota de 62. O tão esperado momento chegaria para os uruguaios nas semifinais da Libertadores de 1965. Quase tudo como em 1962. Seriam necessárias três partidas para a definição do adversário do Independiente, que eliminaria o Boca Juniors na outra chave.

Três anos também foi tempo suficiente para várias mudanças. Brasília já estava nas mãos dos militares. Castelo Branco presidente. A história diz que Castelo era bem intencionado, que pretendia devolver o País aos civis. Enfim, oficialmente, o golpe militar já tinha rolado e fato é que seus sucessores recrudesceram a situação. Nos Estados Unidos, Martin Luther King marchava por direitos civis.

O rock’n’roll deixara a adolescência descompromissada de 1962 para se tornar “mainstream”, não apenas divertido mas crítico, música engajada a serviço de um mundo melhor, mais justo e livre. Revolução em ambos os lados do Atlântico.

Capa de Highway 61 revisited

Na América, Bob Dylan lançava discos que o colocavam anos-luz à frente de seus congêneres. Só em 65 foram dois clássicos: “Bringing it all back home” e “Highway 61 revisited”. Daí surgiram canções como “Like a rolling stone” e “Subterranean homesick blues”. Sob influência de Dylan, bandas como The Byrds tornaram-se sucessos comerciais no país ao lançar, ainda em 65, o álbum “Mr. Tambourine” (regravação de autoria de Bob Dylan). A California dava as caras com os Beach Boys dentro da vertente soft. Confira Dylan em ação em vídeo inovador para a época.

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Rubber soul, 1965.

No Reino Unido, os Beatles e os Rolling Stones já estavam nas cabeças das paradas de sucesso. O quarteto de Liverpool vinha com “Rubber soul”, atacando com os hits “Drive my car” e “Nowhere man”. Genialidade de sempre da dupla dinâmica Lennon-McCartney e capa psicodélica para o LP. Sem falar no The Who, que trazia toda ira adolescente ao lançar “My Generation. The Beatles e The Who a seguir.

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 Estádio do Pacaembu, São Paulo. No primeiro jogo, placar típico da época: 5 a 4 para o Santos. Com apenas 7 minutos, o Peixe havia marcado 3 gols. Os 3 a 0 parciais deram falsa impressão de goleada e jogo fácil. Ledo engano. Bobeada santista e reação carbonera. No final, placar apertado. Veja algumas imagens de pouca qualidade da partida.

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 Para a partida de volta, em Montevidéu, muita polêmica. O Santos vencia a partida por 2 a 1 até os 34 minutos do 2º tempo, mas permitiu a virada. O empate carbonero nasceria de pênalti duvidoso. Pelé ainda sofreria pênalti não confirmado e marcaria gol de empate segundos após o árbitro argentino Luis Ventre assinalar fim de jogo. Tudo ao melhor estilo Libertadores. Arbitragens e deslealdades à parte, não havia sido uma grande exibição do Santos e tudo acabou com vitória do Peñarol por 3 a 2. Alguma poucas imagens deste jogo abaixo.

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Peñarol versão mid-sixties

E mais uma vez as atenções da América do Sul voltavam-se para o Monumental de Nuñez em Buenos Aires. Como em 62, a terceira e definitiva partida. Em mais um jogo equilibrado, o Peñarol abriria o placar somente no 2º tempo, aos 14 minutos, com Joya. Aos 30 minutos, Pelé empataria. Mas o Santos teria problemas naquela 2ª etapa de jogo. O craque Zito, jogando de volante, sentiu contusão e jogou no sacrifício. Dorval deixou o ataque para cobrir a defesa. Substituições não existiam na regra. No final dos 90 minutos, 1 a 1 e prorrogação. Aos 7 minutos da 2ª parte do tempo extra, o artilheiro carbonero Pepe Sasía marcaria o gol da classificação. Pouco depois, na final, o Peñarol cairia frente ao Independiente.

 Duas decisões, duas séries eliminatórias, uma vitória para cada lado. Duelo parelho entre Peñarol e Santos. O desempate da saga? Na próxima quarta-feira, em São Paulo, no Pacaembu.

La Mano de Díos – O Imperador e o Mestre

O Imperador e o Mestre

Pois é, meus camaradinhas, ontem foi um dia de rei. Tive duas alegrias na mesma noite, em dois lugares diferentes. Como não sou clone, já adianto aqui: estava fisicamente em um lugar e em espírito em outro. E graças às benesses da modernidade pude acompanhar os dois acontecimentos de um modo bem feito. Aliás, antes que as pedras sejam atacadas, já adianto: vi o jogo do Tricolor hoje de manhã, aproveitando a folga do trabalho. E eis aqui o que tenho a dizer:

Estive no show do Mestre. Na minha opinião, o último gênio da música vivo, já que Miles Davis e Frank Zappa estão se divertindo em outro lugar há algum tempo. Mas ontem vi o Mestre Dylan, na altura de seus 70 anos, dar canseira em muito moleque por aí.
Dylan é o tipo de cara que tem perfeita noção do que fez e do que representa, e por isso sabe de toda a responsabilidade que tem, diferentemente de muitos “artistas” por aí e – oras, por que não? – atletas. Seus shows são um momento à parte em sua carreira, e o de ontem não foi diferente. Reinventando seus clássicos, apresentando ao vivo novas canções de seu excelente último disco, Dylan mostrou porque é um dos artistas mais influentes do século XX, apresentando um espetáculo muito mais do que meramente musical. Ouvir Dylan ao vivo é uma experiência única.

E no momento em que os primeiros versos de Leopard-Skin Pill Box Hat eram cantados com sua voz rouca, longe dali meu espírito se agitava. Entrava em campo o time do São Paulo Futebol Clube, no primeiro jogo da Libertadores no Morumbi esse ano. Como é difícil estar em um lugar formidável e lamentar não estar também em outro!
E no Morumbi a coisa foi um pouco diferente do que estava sendo no Via Funchal. O Tricolor não correspondia às expectativas. Com Richarlyson e Zé Luís improvisados e sem um meia de ofício, a ligação com o ataque era feita à base do chutão na zaga, e mais uma vez foi Jorge Wagner quem assumiu a responsabilidade. Vale dizer que Zé Luis mostrou raça e explorou pela direita aquilo que desde o começo todo mundo vêm pedindo, as jogadas de linha de fundo.
Um que está sobrando nesse time tricolor é o Fábio Santos. O careca não acerta um passe, anda perdidão ali no meio de campo e – pior de tudo! – é o grande responsável pelo desmanche da dupla de volantes de 2007. E por falar em volante, convenhamos, Richarlyson em 2008 não está rendendo nem em sua posição, quanto mais na lateral. Um time que tem pretensões de ser campeão da América não pode jogar com laterais improvisados. Abre o olho, Muricy!

Mas se no Via Funchal a noite era do mestre Dylan, no glorioso Cícero Pompeu de Toledo quem roubava a cena era o Imperador Adriano. Foram dele os dois gols, um de cabeça, à la Adriano, e uma sobra de um petardo de Hernanes. Ontem, Adriano convenceu e mostrou futebol, brigando o jogo todo, tentando de todo o jeito e no fim conquistando seus merecidos gols. Ontem ele fez valer o título que reivindica, mas falta muito para o time do Tricolor justificar a que veio.

No fim da noite, posso dizer que estava feliz. Feliz porque vi um show de Dylan – um cara que não precisa mais provar nada e mesmo assim encheu os olhos – e um espetáculo de Adriano – esse sim que ainda tem que mostrar serviço, mas pelo menos provisoriamente calou este que vos fala.

Pois é, amiguinhos, a coluna de hoje não poderia terminar sem antes dar os devidos parabéns a uma das figuras mais sensacionais do futebol: felicidades, Zico! Que seu futuro seja repleto de tantas glórias quanto é o seu passado e está sendo seu presente! É para você as duas músicas do dia: Jorge Ben – Camisa 10 da Gávea e Bob Dylan – Forever Young.