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VISCERALIDADE ANTE A SUPERFICIALIDADE

Na última semana aproveitei o caso da suposta ofensa do técnico Roberto Fonseca contra o atacante Neymar para defender que haja diferenciação no linguajar da prática desportiva do linguajar da prática do preconceito. Não julguei um e outro, até porque Neymar retirou a acusação. Se por um lado o futebol vive seus dias mergulhado na tendência do insuportável politicamente correto, também é bem verdade que ele vem servindo de vitrine para práticas nada elogiosas de discriminação de todo tipo. Há de se saber separar um e outro sem que isso torne o futebol em algo enlatado.

De lá para cá ganharam espaço na mídia a polêmica em torno da comemoração do torcedor gremista, a tal da avalanche. Bem como a preleção de Oswaldo Oliveira no vestiário botafoguense. E ambos me servem para ilustrar ainda mais o saber diferenciar dessas situações.

A avalanche não é exclusividade gremista. E daí?

E daí que quando é a torcida do Boca Jrs ou outra argentina todo mundo acha o máximo e os riscos – que existem, sim – nunca são lembrados.

Li a pouco o post do Vitor Birner tratando do tema e ele menciona outras situações onde existe uma série de riscos, mas nem por isso se impede a prática. Um exemplo bem emblemático é o das rodas em shows de heavy metal ou outras vertentes musicais que a adotam.

Desde sempre se abrem rodas. Desde sempre gente se machuca, mas outras apenas se divertem. Saindo de olho roxo ou não. Simplesmente estão ali no meio, pois ali querem estar.

Birner é fanzaço das vertentes do metal. Eu já gosto mais de rock industrial. E ambos preferimos não entrar em rodas. Vez ou outra pego uma grade. Simples opção, ninguém me obriga a estar ali.

O torcedor que quiser ser parte da avalanche, que seja. Os que não quiserem têm todos os outros setores do estádio para acompanhar sua peleja. Mas sendo sabedor dessa prática de anos, devem sim os dirigentes e administradores do estádio gremista criar mecanismos que possibilitem a prática. Enfiar uma grade delimitadora, um cerco com cadeiras ou seja lá o que for, não irá dar certo. Já se teve uma demonstração clara na estréia da Arena gremista em jogos oficiais. Que se destine um espaço para a dispersão desses torcedores. Quem ali está sabe bem o risco e/ou o prazer que o espera.

O vestiário de um time de futebol é sagrado. É nele que o treinador faz a sua famosa preleção e tenta contagiar seus jogadores. E cada um tem um repertório diferente. Só não vejo muito espaço para cânticos gregorianos. Para inflamar aquela trupe toda, o linguajar do campo de futebol é muito mais propício. E foi dele que “O.O” se fez valer.

Felipão sempre fez isso. Luxemburgo também. E tantos e tantos outros, em outros tempos onde não havia essa moda do politicamente correto que tenta a todo custo pasteurizar e elitizar o esporte do povo.

Geninho sofreu com isso quando dirigia o Corinthians. O seu famoso “pega, pega, pega” foi classificado pelo pessoal do ar-condicionado como abominável. O “pega, pega, pega” poderia ter sido tantas outras coisas, dentre as quais uma simples ordem para fechar o espaço de marcação. A interpretação do jogador pode ter sido errada, como pode também ser errada a opção de um passe, um cruzamento ou um chute fora de hora. Geninho é hoje muito mais lembrado pelo “pega, pega, pega” do que como o técnico campeão brasileiro pelo Atlético PR.

Para o apaixonado pelo esporte o futebol de outrora é lembrado com muito mais saudosismo do que esse atual do politicamente correto é exaltado.  É a visceralidade ante o superficialidade.

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