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RONALDINHO, INDISCUTÍVEL

A campanha do Atlético MG nessa Libertadores é tão digna de elogios que até o cruzeirense mais fanático deve dar o braço a torcer.

São 15 pontos em 5 jogos, com 16 gols marcados. É tudo o que de melhor acontece nessa edição da maior competição de clubes das Américas.

É tudo de melhor, sem que eu ainda tenha mencionado o que há de melhor nisso tudo, na representação e no impacto desses números: Ronaldinho Gaúcho.

O melhor do mundo por duas temporadas anda jogando o fino do fino do mais refinado trato que ele sempre teve com a pelota. Desde seu retorno ao Brasil ele nunca jogou tanto. Desde sua saída do Barcelona ele nunca havia jogado tanto.

Passa por seus pés e por sua simples presença em campo a força desse Galo. Passa por seus pés e sua genialidade, pinturas como a que ele fez ontem contra o Arsenal de Sarandí, em mais um massacre por 5X2.

Enche os olhos ver este incrível Galo. Sempre encheu os olhos assistir este indiscutível Ronaldinho.

http://www.youtube.com/watch?v=Yg6XGlCSNrk

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JUAN ROMÁN RIQUELME

Em 2012 o Boca Jrs montou o que foi considerado por muitos o pior Boca dos últimos 15 anos. Ainda assim chegou a final da Taça Libertadores, onde foi superado pelo que é considerado um dos melhores Corinthians de todos os tempos.

A presença daquele fraco Boca Jrs na final da principal competição de clubes do mundo (ao lado da Champions) se deu única e exclusivamente pelo brilhantismo do futebol de Juan Román Riquelme.

Foi aquela derrota para o clube paulista na final a última partida do camisa 10 até agora. E assim foi por opção do próprio jogador. O Boca Jrs tentou até a semana passada demovê-lo da idéia de não vestir mais a camisa do clube. Tecnicamente Riquelme vinha atuando ainda em alto nível

E ir contra este cenário é desmerecer o êxito do clube alvinegro. O Corinthians foi campeão contra um Boca que ainda contava com um fora de série jogador de 34 anos. E neste caso cabe dizer “ainda” 34 anos, pois seu histórico é de pouquíssimas lesões e de raros momentos onde seu futebol não brilhou.

Riquelme deve ser reforço de Palmeiras, Fluminense ou Atletico MG para a temporada 2013. E estes seis meses sem atuar devem ser sim levados em consideração. Mas a sua vida nos gramados lhe credencia a confiança dos que enxergam futebol pouca coisa além de uma rasa análise de momento.

Surpreender é o que difere o craque do jogador comum. Riquelme sempre surpreendeu, mesmo em times fracos como o Boca de 2012. Craque que sempre foi. Craque que ainda pode ser.

NOSSO CALENDÁRIO FORJA CAMPEÕES SEM BRILHO.

Por mais que pareça absurdo, ainda existem os que são contrários a adequação do calendário da pelota verde e amarela ao europeu.

Ainda que eu possa compreender os que gostam de que a temporada 2012 termine em 2012 e não em 2013, não dá pra aceitar que existam os que estejam felizes com as coisas do jeito que estão. A não ser o empresariado da bola que fazem seus pés de meias nas pré-temporadas européias, que são exatamente no meio das nossas.

Quem gosta de futebol não pode gostar do calendário atual.

No Linha de Passe da ESPN da última segunda-feira, Fernando Calazans comentou algo dito por outro jornalista, que me foge agora o nome, mas que dizia algo como: “Falta agora ao já campeão Fluminense apresentar enfim um futebol de campeão”.

A frase solta aos ventos não traz grande significância, mas trazida aqui para nosso contexto sim.

O Fluminense não apresentou até o presente momento um futebol de “campeão” simplesmente por não ter precisado.

Quem precisou foi o Atlético MG e este sim fez partidas de um grande campeão, ainda que tudo indique que não será.

Do goleiro ao centroavante o Fluminense é mais time que o Galo. O tricolor é mais time que Grêmio e São Paulo também. Mas não é mais que o Corinthians, por exemplo.

Se estivesse o Corinthians verdadeiramente no páreo e aí sim o Fluminense seria obrigado a fazer ao menos duas partidas de campeão. As duas contra o campeão da Libertadores. Não que o Galo não pudesse ter sido mais adversário do que vem sendo, mas ai já entramos em outros méritos técnicos. O São Paulo dessa reta final também poderia ser, o que não vejo no Grêmio.

O alvinegro paulistano não disputou o título pois o calendário fez com que as fases decisivas da Libertadores acontecessem exatamente quando o BR12 estava em suas primeiras rodadas. Só que as primeiras rodadas de um torneio de pontos corridos valem tanto quanto todas as outras. Abdicou de usar sua força máxima no início do BR12 para centralizá-la na Libertadores. Deu certo, mas eliminou qualquer chance de briga pelo bicampeonato nacional.

O calendário atual pune a competência. Pune os diferentes. Que o diga também o Santos, que com Neymar servindo a insossa seleção da CBF, atuou sem o seu diferencial em quase metade do campeonato. A média do time com sua estrela em campo dá margem para acreditarmos que o Peixe poderia estar brigando por Libertadores, pelo menos.

O Palmeiras não brigaria pelo título do BR 12, mas o invicto Campeão da Copa do Brasil é melhor que pelo menos metade dos times envolvidos. Não utilizou tantos reservas assim no início do BR 12, já que o elenco não permite, mas nitidamente tirou o pé do acelerador nas primeiras rodadas, enquanto nas fases finais da Copa do Brasil entrou com a faca entre os dentes. Depois por uma série de erros próprios, mas muito também devido aos insucessos do começo de BR12, hoje se vê diante de iminente rebaixamento.

Em 2011 assim também ocorreu e o Corinthians campeão não precisou ter um embate direto contra o Santos, então campeão da Libertadores e melhor time do país.

O titulo do Fluminense, se vier (e deve vir) será justíssimo. O time de Abel Braga atuou como precisou, da maneira com que a competição se apresentou. Não precisou brilhar, mas sim ser eficaz.  Precisasse ser e certamente teria sido. Precisasse fazer frente ao Corinthians ou qualquer outro dos prejudicados pelo calendário e certamente teria feito.

O calendário agrada somente ao que se aproveita por ora. Hoje ao torcedor tricolor, isso basta. Ao torcedor de futebol , isso é bosta.

ÁRBITRO PRA QUE?

No último 23 de setembro, Atlético MG e Grêmio duelaram em partida nervosa e de muitas jogadas ríspidas. Muito por conta em não da vitória do já líder Fluminense, que na noite anterior havia batido o Náutico por 2X1.

Em um dos lances, Ronaldinho Gaucho deu uma entrada dura em Kleber. Lance passível de expulsão direta. Mas Heber Roberto Lopes assim não considerou e nem amarelo aplicou.

Como todo lance polêmico que acontece em toda rodada desde que o mundo é mundo, o lance foi discutido ao longo de toda aquela semana e a decisão do juiz criticada. Muitos disseram que se fosse o contrário e certamente Kleber teria sido expulso. Por conta dos antecedentes do sujeito e bla, bla, bla.

Mas a decisão do árbitro foi aquela. Como é dele a decisão de validar gols em impedimentos, anotar pênaltis inexistentes e por aí vai. O que vem depois são os elogios ao acerto ou criticas ao erro.

Ontem o STJD decidiu que entende mais de apito do que o assoprador em questão e tirou Ronaldinho do confronto do Galo de amanhã, contra o Internacional, lá no Beira Rio.

Cabe ao STJD interpretar o que é gol ou não? O que é pênalti ou não? O que é de cartão amarelo ou vermelho? E o que não é de cartão algum?

Está valendo do que ser árbitro no Brasil?

No campo e na bola o Fluminense caminha a passos largos rumo ao merecido título. Não vou ser leviano em sugerir beneficiamento.

Mas que cheira mal, cheira.

SOBRE PARTES E TODOS

É costume dizer que as árvores nascem das sementes. Mas como poderia uma sementezinha engendrar uma árvore enorme? As sementes não contém os recursos necessários ao crescimento de uma árvore. Esses recursos devem vir do ambiente onde ela cresce. Mas a semente provê um elemento crucial: o ponto a partir do qual a árvore como um todo começa a se formar. À medida que recursos como água e nutrientes são absorvidos, a semente organiza o processo que propicia o crescimento. A semente é, em certo sentido, o portal de onde emerge a possibilidade futura da árvore viva”. – introdução do livro “Presença – propósito humano e o campo do futuro”, Peter Senge, C. Otto Scharmer, Joseph Jaworski e Betty Sue Flowers.

Na última terça-feira, no programa de rádio do Ferozes Futebol Clube, o nobre Alan Terriaga me perguntou se eu considerava que o time do Atlético Mineiro tinha fôlego para se manter na liderança e conquistar o Campeonato Brasileiro 2012. Começamos todos nós a discorrer a respeito do elenco do Galo e seus valores individuais. Natural, claro.

Mas a história recente mostra um cenário bem mais complexo do que esta análise. Longe aqui de comparar a proporção de cada um destes, mas as conquistas do Mundial de 2011 pelo Barcelona, o Brasileirão 2011 e a Libertadores 2012 pelo Corinthians, e – de certo modo – a Copa do Brasil 2012 pelo Palmeiras, têm seu ponto em comum: um todo maior do que a soma das partes.

No caso do Palmeiras treinado por Felipão, com o elenco muito mais modesto do que os demais, fez-se valer a reedição compacta da “Família Scolari”, termo com o qual o bigodudo atingiu o ápice de sua carreira, conquistando pentacampeonato da Seleção Brasileira de 2002. Tudo bem que esta família tem seus problemas e traumas, mas nunca esteve tão unida, especialmente após a saída do “filho rebelde” Kléber, e a minimização de problemas como o do meia Valdívia, que após a crise desencadeada por um sequestro-relâmpago, teve o apoio da diretoria e da comissão técnica para se manter comprometido com o grupo ao menos até a conquista da Copa do Brasil. Hoje, há problemas, e o time ainda tropeça demais no campeonato nacional, mas há mais tranquilidade no ar.

O pensamento sistêmico do Barcelona serviu de case para diversas áreas.

O grande frisson do futebol mundial no ano passado, o estilo de pensamento sistêmico adotado pelo Barcelona foi inspiração para cases em todas as áreas de conhecimento. Surpreendentemente, até o momento não houve no Brasil quem de fato se inspirasse no esquema de jogo do Barça. Talvez por falta de jogadores versáteis.

O todo maior do que as partes foi a inspiração do Corinthians na conquista da Libertadores 2012

Finalmente, o Corinthians de Tite venceu não só pela qualidade de seus jogadores (e aí neste ponto prevalecem os valores individuais, já que não é exatamente um elenco de supercraques), mas também pela união de seus jogadores, que se mostra não só nas conquistas, mas por exemplo na despedida de um colega do grupo, como foi o caso de Liedson, que ganhou festa-surpresa após seu desligamento, e a recepção aos novos companheiros, como Guerrero, que já parece estar altamente integrado ao grupo (e nisso conta até a permanência de Ramirez, antes cotado para reforçar o Sport-PE, mas que acabou por ficar e ajudar seu compatriota na integração). Além dele, o argentino Martínez também já vem conhecendo como é a rotina no Parque São Jorge.

Em entrevista ao jornal Lance!, o atacante Emerson Sheik mostrou que é bem por aí mesmo: Tite privilegia quem estiver bem. Do elenco, o único que nunca esteve no banco foi o volante Ralf, até porque em termos de marcação ainda é o melhor em atividade no Brasil, e segundo Mano Menezes, só não está na Seleção porque o treinador prefere jogadores com melhor saída de bola (não acho sinceramente que essa sentença seja verdadeira, discordo totalmente do Mano, mas que seja).

Em suma, aproveitando de uma tese do livro que inspira este texto, pode-se dizer que uma equipe de qualquer natureza é um sistema vivo. E sistemas vivos não são uma simples reunião de peças: estão sempre crescendo e se modificando juntamente com seus elementos. Jogadores de futebol chegam e saem de equipes, mas as coisas funcionam muito melhor quando há uma mentalidade que não é desfeita independente de quem chega ou sai. Os novos integrantes de uma equipe chegam e acabam se integrando a esta mentalidade; os que saem, por uma proposta melhor, saem gratos pela experiência.

Voltemos ao ponto de início desta discussão: o Atlético-MG é favorito ao campeonato? Talvez. Muito próximo do estilo de seu principal concorrente nesta meta, o Vasco, o Galo manteve seu treinador e vem trabalhando com um bom elenco. Tem boas peças no time titular e no reserva (neste ponto os vascaínos saem em desvantagem). O grande ponto a se considerar é que ao contrário do corintiano Tite, com estilo mais bonachão e conversador, Cuca é bom estrategista, mas tem fama de sofredor nas derrotas, o que pode contagiar seu grupo em alguns momentos. E isso pode fazer a diferença no campeonato (curiosamente, no Galo o meia Ronaldinho Gaúcho vem fazendo boas apresentações, mas divide as atenções com seus colegas de grupo, não parece ser a grande atração). É acompanhar pra ver até onde chega.

Cuca tem um bom grupo, mas sabe motivá-lo?

Não por acaso, os clubes onde os valores individuais têm sido mais privilegiados são os que mais vêm sofrendo no campeonato. Está aí o Santos, penando pela falta de Neymar, e o desesperado time do Flamengo, que atira para todos os lados, em busca de gente que possa ajudar o atualmente solitário Vágner Love no ataque. Curiosamente, o antes famoso por ser agregador, Joel Santana, apelidado de “Papai Joel”, vinha tendo atitude muito diferente na condução da equipe rubro-negra. Talvez por isso tenha dado lugar a Dorival Junior, que pouco antes havia sido dispensado do Internacional-RS, para ser substituído por um santo de casa, Fernandão, em sua primeira experiência como treinador. Outro caso é o São Paulo, que só achou seu rumo após a volta de um grande ídolo, Rogério Ceni, que fez justamente o papel de agregador e incentivador do elenco. Vem dando certo, tanto é que o próprio goleiro já reencontrou o caminho do gol.

Finalizo com mais um trecho do livro, para exemplificar um pouco mais sobre o todo que é muito maior do que a soma das partes. Um abraço a todos.

Para avaliar a relação entre as partes e os todos nos sistemas vivos, não precisamos estudar a natureza no nível microscópico. Se você contemplar o céu noturno, verá dele toda a porção que se pode ver do ponto onde se encontra. No entanto, a pupila do seu olho, completamente aberta, tem menos de um centímetro de diâmetro. De algum modo a luz do céu inteiro penetra o espaço diminuto de seu olho. E, se sua pupila fosse metade ou mesmo um quarto do que é, o mesmo aconteceria. A luz do céu noturno, em sua inteireza, está presente em qualquer espaço, por mínimo que seja. Fenômeno idêntico se observa no holograma. A imagem tridimensional criada por raios laser reunidos pode ser cortada ao meio indefinidamente e cada pedaço, por menor que seja, ainda conterá a imagem inteira. Isso aponta para o que talvez seja o aspecto mais misterioso das partes e todos: como diz o físico Henri Bortoft, ‘Tudo está em tudo’

SENGE, Peter [et. Al.] Presença: propósito humano e o campo do futuro. São Paulo: Cultrix, 2007.