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A LIBERTADORES HOJE CANTA DE GALO

Somos dez os campeões da América, da Libertadores, do continente, campeões. Somos dez os namorados dela, da taça, aquela volúvel de sempre, que passa de mãos em mãos, sempre buscando o maior da ocasião. Mudou, mais uma vez, o seu galanteador, agora o seu novo amor. Um pretendente nem sempre muito convicto, quase sempre posto de lado pelos outros candidatos, pelos que em suas mãos já a tiveram por longo prazo.

Nada muda para ela, sempre tão objetiva, tão conclusiva. Com ela está o melhor, o maioral. De agora, dos próximos 365 dias. Quem de galo agora canta é aquele cuja crista é intrínseca. Mas ele que não se cuide, e no próximo ano ela não permitirá mais a ele ter o prazer de seu desfrute.

O que não se tira de seus namorados é a lembrança, a história, a vivência de um dia tê-la possuído. Cada qual com sua retórica, sua particularidade, com sua vivência mais mágica.

Alguns a tiveram mais de uma vez, outros por uma única. Desses, alguns a tiraram das mãos de seu principal rival na disputa pelo seu amor em mais de uma ocasião. Outros a abraçaram de maneira tão avassaladora que não houve quem ameaçasse destruir aquela paixão.

A indiferença da taça não serve de indiferença na vida. Ela, a taça, seguirá sua volúvel existência, sempre escolhendo aquele que de melhor lhe ofereça, aquele que seja, ao menos por ora, o melhor. Este, por sua vez, mesmo no dia em que ela se for, guardará em suas lembranças aquele gozo de vida, aquela vivência tão única, aquela temporada que valeu esperar por toda uma vida.

Hoje a Libertadores é dele, do Galo, que acordou cantando forte e vingador. Pregando uma vingança que parecia que nunca viria, mas que mostrou ser, mais uma vez, que nunca será tardia.

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POR ORA, O BRASIL NÃO VIROU ESPANHA. E ISSO É BOM

A derrocada são paulina na temporada 2013, somada ao sucesso do Atlético MG, independente de taças ou descensos, nos dá uma amostragem de preservação significativa e positiva a respeito de uma característica peculiar ao futebol brasileiro: não estamos virando Espanha. Em muitos aspectos, “virar uma Espanha” seria positivo, mas em muitos outros, sobretudo neste que aponto, não.

É histórico e inerente ao nosso futebol o grande número de clubes grandes em nossas competições nacionais. Diferente de outros e mais badalados campeonatos, onde por mais estrelas e dinheiro que circulem e desfilem por seus gramados, são sempre dois ou três os clubes com possibilidades reais de obter êxito nas temporadas, por aqui as nossas competições contam sempre com meia dúzia de clubes para mais. Óbvio, ao longo dos certames a organização diretiva, tática e o investimento bem aplicado acabam diminuindo naturalmente esse número.

O Brasil é grande, como grande é o número de clubes grandes, de histórias ricas e importantes na construção de nossas retóricas futebolísticas. E ainda que as novas políticas de distribuição de rendas televisivas e mesmo a arquitetura por busca de parceiros comerciais, hoje muito baseadas em retorno midiático, tenham nos dado a impressão de que veríamos ser criado um abismo entre equipes e o surgimento de um novo grupo de gigantes, a realidade nos mostra outro cenário.

É vertiginosa a discrepância entre os orçamentos de São Paulo e Atlético MG, por diversos fatores. Mas isso não impediu que Alexandre Kalil recolocasse o Galo no caminho de triunfos há tempos afastados do imaginário de seu torcedor. Em contrapartida, o São Paulo de Juvenal Juvencio, com a alegada terceira maior renda do país, se dissolve em uma velocidade assustadora. .

É um cenário péssimo para o são paulino, mas para o futebol brasileiro é salutar. Não necessariamente tendo estes personagens como protagonistas, mas nos servem de exemplos para ainda acreditar que por mais que alguns se beneficiem dos novos tempos mercadológicos, a aura e a essência de nossos grandes clubes continuam valendo. Basta boa vontade, visão estratégica e, sobretudo, ter respeito às próprias origens e histórias. O que é bem nítido no atual Galo e uma realidade bem distante do atual tricolor paulista.

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CUCA GUARDA O URUBU NO BOLSO E ERGUE SUA CRISTA DE GALO

Cuca guardou o urubu no bolso e ergueu sua crista de Galo. Com louvores, derrubou de vez a tese de que é fadado ao fracasso. Não é e não é de agora. Embora tenha sido nessa classificação de seu Atlético para as finais da Libertadores que ele enterrou de vez qualquer argumento dos que ainda sustentavam a tese da piada pronta.

Cuca chora na vitória e na derrota, pois vive de futebol e vive o futebol. Existem os líderes que pregam a sobriedade ou a frieza diante de situações, mas não estes os exemplos mais enfáticos das emoções que o esporte Rei gera nas pessoas.

O multicampeão Felipão chora ainda hoje com suas conquistas. Muricy Ramalho e Abel Braga também. Tite, até outro dia era uma amálgama do que hoje tentam estampar na testa de Alex Stival, o técnico finalista da Libertadores de 2013, também. E com ele as piadas feitas também já eram injustas.

Tanto Tite quanto Cuca não possuem, ou não possuíam, o cartaz dos outros supramencionados. Não tinham a retórica profissional para “escolher” onde trabalhar. E nem por isso deixavam de fazer grandes trabalhos.

Tite já em 2006, em sua breve, mas positiva passagem pelo Palmeiras, praticamente livrou o time do rebaixamento. Acabou sendo demitido injustamente por bater de frente com a direção que então comandava o clube. A troca em meio a disputa daquele BR quase fez o rebaixamento que viria em 2012 ocorrer seis anos antes. E essa indiferença toda por parte da daquela direção alviverde se deu mesmo já tendo o técnico gaúcho títulos respeitáveis como o Gauchão de 2000, onde com o seu humilde Caxias bateu o forte Grêmio nas finais. Feito que repetiu no ano seguinte pelo próprio Grêmio, conseguindo ainda a Copa do Brasil contra o Corinthians. Podemos citar também sua primeira passagem pelo Corinthians, quando em 2004 tirou o time da zona do rebaixamento e o conduziu a um honroso quinto lugar. Mas Tite, assim como Cuca, talvez não fizesse uso de media training, não se preocupava com a ostentação, mas sim com seu trabalho. Tanto que mesmo após salvar o time do rebaixamento que viria mais tarde, foi desdenhado por Kia e cia limitada da MSI, que não enxergavam nele a condição de conduzir o forte time que viria a ser montado no ano seguinte.

O resto da história, a contabilizar sua passagem positiva pelo Inter e o sucesso atual no Corinthians, todo mundo conhece. Tite tornou-se grande, mas precisou emplacar uma conquista inédita pelo Corinthians para conseguir essa afirmação. Pelo Corinthians (e poderia ser o São Paulo, o Grêmio ou o Inter, o Cruzeiro, o Fluminense), onde sabemos – e aqui não cabem ponderações acerca de teorias conspiratórias, apenas constatações – tudo acontece muito mais facilmente do que pelo Atlético Mineiro ou pelo Botafogo, por exemplo.

Clubes onde Cuca desenvolveu trabalhos respeitáveis. Mas antes, em clubes com dificuldades e exposição ainda menores, ele já mandava bem na arte do riscado. Pelo Goiás em 2003, salvou o alviverde de rebaixamento certo, aceitando assumir a bronca com o time na última posição na virada do turno e o entregando ao final daquele BR na nona colocação e com vaga na Sulamericana. Na temporada seguinte conduziu o São Paulo, que não disputava a Libertadores há dez anos, às semifinais, onde foi eliminado pelo Once Caldas, que viria a ser o campeão. Como não tinha “cartaz”, foi descartado pela direção tricolor. Mas deixou a semente de seu trabalho com as presenças de Danilo e Grafite, que no ano seguinte seriam campeões da Libertadores pelo time do Morumbi.

Depois de passagens medianas por Grêmio, Flamengo e São Caetano , Cuca assumiu um Botafogo combalido por temporadas consecutivas de insucesso e descaso por parte de enorme parcela da imprensa e descaso do torcedor adversário. Formou um conjunto forte e reconduziu o Fogão às disputas em certames nacionais. Se não conseguiu títulos, devolveu parte da dignidade perdida pelo clube ao longo dos anos.

E foi em sua passagem pelo Botafogo, após duas derrotas em finais de cariocas para o Flamengo, ao chorar dignamente a derrota, que Cuca ganhou um apelido de “chorão”. E para o torcedor médio, enxergar com profundidade o trabalho de profissionais como Cuca, torna-se desnecessário diante da possibilidade de se fazer piada. Com enorme ajuda da imprensa, óbvio.

A pergunta que fica até aqui é: Quem mais conseguiu naqueles anos todos emplacar um trabalho tão emblemático com o Botafogo? Autuori no longínquo 1995?

Fato é que Cuca carregou o estigma da derrota injustamente, quando muitos outros antes dele sequer conseguiam dar o respeito ao clube. E o técnico seguiu assim, sem fortalecer seu cartaz, sem conseguir transformar seus respeitosos trabalhos até então em argumento para assumir clubes com condição real de lhe dar títulos. E nem por isso se fez de rogado. Tanto que em 2009 assumiu o Fluminense. E talvez em um dos trabalhos mais importantes dentro da história do tricolor, salvou o clube de mais um rebaixamento tido como certo por todo mundo. Todo mundo e a matemática, que apontava em 99% as chances do time ir para a série B. Mas com um trabalho que certamente foi muito além do técnico – é inimaginável acreditar que naquela altura do campeonato fosse possível fazer grandes modificações táticas em um elenco destroçado – mas possivelmente de convencimento de que era possível, algo impensável em se tratando daquele Cuca, ele e aquele time conseguiram uma sequencia inacreditável na reta final do BR09 e se livraram da queda. No mesmo ano ainda foi vice campeão da Copa Sulamericana.

Como se pode ver, só trabalhinho tranquilo, coisa suave, em clubes super bem estruturados, sem margem para elogios. Todos eles para Cuca, por favor.

Nesse meio tempo antes de assumir o Atlético Mineiro, Cuca levou o Cruzeiro ao vice campeonato brasileiro de 2010. E então veio o Galo.

O início não foi bom, com derrotas consecutivas e entrega do cargo por sua parte. Mas além de competente, Cuca deve ser gente boníssima, já que o elenco o segurou no cargo. Naquele ano o time se recuperou e fugiu do rebaixamento.  Já no ano seguinte foi campeão mineiro invicto, caindo nas graças do sofrido torcedor atleticano. Talvez tenha rolado identificação mutua. Um técnico injustiçado e um clube com uma torcida massacrada por ano de ostracismo e de sucesso do maior rival.

A identificação virou sucesso quando naquele mesmo ano Cuca conduziu o Galo ao vice campeonato brasileiro. Mas melhor do que exaltar o feito, a grande maioria preferiu dar sustentação ao coro do fracasso e evidenciar a perda do título.

Quando havia sido a última vez que o Galo tinha se visto como protagonista em âmbito nacional mesmo? E vaga (direta) em Libertadores, quando?

Pois bem, Cuca levou o Galo à sua 5ª participação na maior competição do continente e mesmo diante da indiferença dos rivais, além da falta de vivência em certames internacionais, emplacou um time de futebol vistoso – de longe o melhor do país – e se classificou, com sobras, tendo a melhor campanha da 1ª fase. Mas aí o futebol bonito e o jogo de resultados irrefutáveis não valiam tanto quanto a retórica de “insucessos”.

E então o time que se classifica em 1º não chega nunca a uma final, ou não chegava desde 1996, com o River Plate. E de fato, nenhuma equipe que tenha feito a melhor campanha na 1ª fase da Libertadores desde então chegou mesmo a uma final.

E “pô, time do Cuca, sem chance”.

Não apenas conduziu o time à final, como o fez ajoelhado, chorando, rezando, como manda a cartilha de “derrotado” de Cuca. Mais que isso tudo. Rezando a cartilha da coragem. Ou qualquer outro professor brazuca teria saco roxo para sacar os dois melhores atacantes do time, com a vaga indo para o brejo, por pura convicção tática?

Cuca sacou Bernard e Tardelli, presos taticamente (palavras do próprio Cuca) e mandou Guilherme e Alecssandro. E não é que Guilherme fez o gol que levou a decisão para as penalidades?

Sorte? Amuleto? Reza? Superstição? Eu prefiro chamar de competência e confiança.

Cuca entende da arte do riscado e não é de agora. Não é de agora que merece os louros da glória. E que ela venha com ele ajoelhado, rezando, agarrado ao seu amuleto de sorte. E se não vier, nada muda. Do outro lado terá um Olimpia tricampeão da Libertadores, também querendo o título. Mas que ele e o Galo merecem, disso eu não tenho dúvidas.

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A DEFESA QUE VALEU UM GOL E, QUEM SABE, O TÍTULO

Confesso ter sido difícil começar a escrever este texto.

No meu último post, sobre o jogo épico da final do campeonato mexicano entre América-MEX e Cruz Azul, falava sobre a imprevisibilidade deste esporte apaixonante que atende pelo nome de Futebol.

Ontem, no temido Independência, em Belo Horizonte, o Atlético-MG, melhor time até aqui da Libertadores-2013, suou para “matar” o novato e bom time do Tijuana.

Foi dramático. Emocionante.

Entretanto, dentro das quatro linhas tudo foi diferente do imaginado antes da pelota rolar. Tijuana é bom time. Jogou melhor.

Confundindo velocidade com pressa, o Galo não conseguiu desenvolver seu estilo de jogo habitual e penou para obter a classificação às semifinais da principal competição de clubes do continente.

Saindo atrás no placar, a equipe brasileira igualou o marcador ao final do primeiro tempo, porém durante o restante do duro embate a vaga nunca esteve totalmente assegurada. Até porque bastava apenas um gol para que os mexicanos deixassem o Horto vivos e, sobretudo, classificados. E eles quase conseguiram, causando “pânico” nos donos da casa em vários contra-ataques.

Em contrapartida, a grande veio aos 48′ da etapa final, após pênalti cometido por Leonardo Silva. Neste momento, Victor, que já havia realizado ao menos três milagres, fez história.

Riascos, autor do tento dos Tolos, se encarregou para cobrar o penal. Caso convertesse, poderia ali jogar por terra todo um trabalho árduo dos mineiros e colocar seu time na próxima fase.

O silêncio tomou conta das arquibancadas, a única esperança estava nas mãos de Victor.

O juiz soprou o apito, o atacante do Tijuana cobrou e…Victor defendeu de maneira espetacular, desviando a bola com o pé esquerdo.

Com o pé, Victor defende pênalti cobrado por Riascos (Foto: Reuters)
Com o pé, Victor defende pênalti cobrado por Riascos (Foto: Reuters)

O Independência veio abaixo!!! Em meio a combustão de alegria devido o milagre operado por Victor, o êxtase foi de arrepiar até o mais frio torcedor. Seja ele atleticano ou não.

Talvez uma das imagens mais singulares da épica classificação foi do presidente Alexandre Kalil, que chorou copiosamente em seu camarote.

No campo, o árbitro encerrou a partida e a festa em torno do goleirão do Galo foi linda! Linda como, por enquanto, está sendo a campanha quase impecável do Clube Atlético Mineiro, que, inclusive, vem fazendo jus ao seu hino – sendo  forte, vingador e, quase campeão. Agora, restam 4 jogos para o Atlético atingir seu ideal!

Fato é que a defesa de Victor, que valeu por um gol, pode ter sido a defesa do título.

Que venha o Newell’s!

Confira a narração espetacular de Marco de Vargas, da Fox Sports, no momento da defesa de Victor!
http://youtu.be/mx3RZ6aZGkc

AZAR DO GALO

No que me cabe ser sincero, até às 22:00 da quarta-feira, 17/04/13, eu tinha a convicção de que o São Paulo estava eliminado da Libertadores.

Convicção não, até por que lidamos com futebol, que é essa “enorme” pequena caixa de kinder ovos. Mas numa escala de 0 a 10, onde zero é eliminado e 10 está na barca, eu diria que a classificação do tricolor paulista estava na casa do 1,3.

E este “1,3” só se dava pelo fato de ser o São Paulo em campo, tricampeão e de tradição incomparavelmente maior que a do Galo na competição. Em todo o resto, de qualquer tocante e variante possíveis, o Atlético MG era favorito destacado.

As campanhas corroboram com minha análise. Os momentos de ambos me auxiliam no pensamento.

Sob risco de ter que encarar novamente o tricolor na fase seguinte, cabia ao Atlético de campanha irretocável, de time de técnica e futebol exuberantes, eliminar um time que, ainda que de campanha medíocre e moribundo, poderia ressurgir das cinzas e das cinzas formar corpo, se restabelecer mediante a sua retórica, sua capacidade técnica até aqui quase nada explorada.

E assim se deu, diante de um “apequenamento” tático e técnico, de certa empáfia até, o Galo até então tão forte e vingador, se postou como um aventureiro que não é, mas que bastou para dar ao antes descartado e escrachado São Paulo a brecha necessária para renascer e retomar, agora que tudo fica zerado na fase seguinte, sua condição de protagonista que a sua história na competição lhe compete.

Azar do Atlético, que nas 8ª´s de final volta a enfrentar o tricampeão da América no terreno onde ele mais gostar de estar e onde o Galo até hoje não conseguiu de galo cantar.

O São Paulo não virou favorito no duelo, mas equilibrou forças. Dignificou-se a fazer valer o que dele todo mundo sempre espera que aconteça em se tratando de Libertadores.

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