SELEÇÃO BRASILEIRA: NEYMAR, UFANISMO E A DURA REALIDADE

Falar de futebol parece fácil, mas não é. O futebol é passional. Buscar racionalidade em um esporte no qual a palavra razão praticamente não existe é algo quase impossível. Requer, além de bom senso por parte de quem o tenta fazer, conhecimento, comprometimento, seriedade e, sobretudo, responsabilidade.

Quando o assunto é seleção brasileira e uma copa se aproxima, por mais que nos últimos tempos a mais vitoriosa das camisas da história do Planeta Bola tenha sido defasada devido à interesses de quem a administra, o brasileiro, apaixonado de um jeito singular pelo melhor dos esportes, volta total atenção para a amarelinha.

Às vésperas do início da Copa das Confederações, temos visto descaradamente – e já era de se esperar – um “oba oba” criado por parte da mídia para tentar mascarar os muitos erros cometidos pelo ainda em formação time do Brasil.

No último domingo, na belíssima Arena do Grêmio, em Porto Alegre, a atuação da equipe de Felipão contra a França B pode ser considerada satisfatória. Ponto. Nada além disso. Nada, por exemplo, que justifique o ufanismo barato em cima do resultado. A impressão, após o apito final, era de: “Demos o troco! E com o mesmo placar de 98: 3 a 0, fora o show”! Muita calma, minha gente. Você, caro leitor, não pense que estou diminuindo a vitória da seleção. Pelo contrário. Apenas tome cuidado e não engula o que lhe forçam. NÃO CAIA NESSA!

Oscar foi o melhor em campo e abriu o caminho para a vitória brasileira sobre a França (Foto: Flavio Florido/UOL)
Oscar foi o melhor em campo e abriu o caminho para a vitória brasileira sobre a França (Foto: Flavio Florido/UOL)

Outro problema, este seríssimo a meu ver, é Neymar. O recém-contratado pelo Barcelona atravessa, talvez, a pior fase de sua vitoriosa, porém ainda curta e promissora carreira. E no pior momento. No entanto, mesmo sem ser Neymar, o agora camisa 10 da seleção ainda é o nosso melhor jogador. Entretanto, a velha e injustificável polêmica em torno dele ainda é grande e incompreensível.
Por mais que seja tratado como ídolo (e, de fato, é,) Neymar ainda não alcançou status de unanimidade entre a grande massa tupiniquim. Ao sapear os principais meios de comunicação esportivos via web é incrível (e até assustadora) a massiva quantidade de pessoas que simplesmente não suportam o ex-santista. Até parece que temos um monstro perna de pau jogando.

Hoje, Neymar é odiado pela maioria em um país onde deveria receber apoio por ser simplesmente o suprassumo de qualidade; por ser o “diferente”. Por ser o símbolo isolado do real significado do futebol brasileiro. Sim, ele deve ser cobrado pelas atuações ruins, mas estão pegando muito pesado, e cedo demais. Atualmente, tem aquela galerinha maneira que assiste aos jogos da seleção apenas para criticar o “Neymarketing”, como dizem. Virou moda falar mal do garoto. No Brasil, parece que o cara que joga bem e aparece na mídia (algo completamente natural) não serve, é mala e etc. NÃO CAIA NESSA! A grande questão é que Neymar faz parte de um time ainda inexistente.

Neymar ainda não foi Neymar com a camisa amarelinha (Foto: UOL)
Neymar ainda não foi Neymar com a camisa amarelinha (Foto: UOL)

Outro entrave ligado à seleção ocorre na escolha dos jogadores e escalação da equipe. Como em todo time, um atleta em especial é eleito, devido a motivos questionáveis, para ser o saco de pancadas. No elenco de Felipão, a bola da vez é Hulk. O atacante do Zenit, da Rússia, desconhecido de grande parte do público brasileiro, foi demonizado de forma estapafúrdia e injusta nos últimos dias por alguns da imprensa e quase todos da torcida. Não acho Hulk um primor. Acho mesmo uma injustiça o que vem fazendo com o ele. Talvez nem jogaria em meu time, caso fosse o técnico, porém o camisa 19, além de “bom jogador”, reflete perfeitamente a realidade de nosso futebol: razoável para bom. Basta olhar em volta, e você verá que temos vários “Hulks” no plantel verde e amarelo, mas nem todos recebem o mesmo tratamento. Temos muitos jogadores nota 7. Não temos nenhum nota 10.

Assim como fizeram com Felipe Melo, estão fazendo com Hulk, e novamente de maneira prematura. Infundada. NÃO CAIA NESSA!

Hulk é o jogador mais contestado da nova era Felipão (Foto: UOL)
Hulk é o jogador mais contestado da nova era Felipão (Foto: UOL)

Fato é que estamos totalmente desesperados e sem rumo por não possuirmos mais o melhor futebol do mundo. Regredimos. Estacionamos. Nosso gingado deu espaço a força física. Nosso improviso virou excesso de comprometimento tático. Nossos camisas dez sumiram, e se transformaram demasiadamente em volantes e zagueiros. Nossos centroavantes, recentemente produzidos à rodo por aqui, foram extintos. Não somos mais exportadores. Não somos mais o País do Futebol. Ainda temos a qualidade, mas não sabemos onde está e tampouco como usá-la. Como adaptá-la.

Atualmente, somos algo parecido com uma pessoa que perdeu a memória e busca através de fragmentos perdidos no tempo recuperar suas vivências e conseguir lembrar-se quem era. Somos o Brasil. Somos mesmo?

Esta é a seleção brasileira (Foto: UOL)
Esta é a seleção brasileira (Foto: UOL)

 

 

 

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