Todos os dias, por volta das 13:00 horas, eu saio para almoçar com quatro amigos da empresa.
“Em qual padaria iremos almoçar?”
“Que tal um japa food hoje?”
“Rodízio de carnes, o que pensam a respeito?”
São as dúvidas que pairam de segunda a sexta, sempre nesse 13º giro do ponteiro do relógio.
O prato do dia sempre varia, o local idem. Menos o assunto: Futebol, sempre.
E nessa eu levo enorme desvantagem. Do time de cinco, sou um isolado e “acossado” palmeirense em meio a quatro corintianos de estirpe. Dos que gostam de bradar “maloqueiro e sofredor”, quando na verdade o verdadeiro sofredor dos atuais dias da boleiragem brazuca sejamos nós – eu, neste caso – palmeirenses.
A exaltação aos feitos alvinegros é a pauta de todos os dias. Se perde é por que jogou com time reserva. Se ganha de pouco é por que o estilo do Professor Adenor é pragmático, mas de destacado sucesso.
Quando sobra algum espaço mixuruca a abordagem passa a ser alviverde. Geralmente para caçoar, espezinhar, tratar da vitoria com algo raro e da derrota como corriqueiro. Que tristeza.
Venho adotando então a estratégia do silencio. Por vezes a discussão acontece apenas entre os quatro, enquanto fico ligado no meu filet mignon.
Oras, por vocação e tesão eu já sei o que acontece com o Corinthians – São Paulo, Santos, Lusa (meus sentimentos). No momento de distração, se não rola falar do Verdão, prefiro o canto da mesa e a minha amiga solidão.
Claro que estou exagerando, mas a real é que creio ter encontrado a razão pelo patético espetáculo protagonizado ontem pelo Palmeiras de Felipão.
Corintianissimo, um dos meus quatro camaradas de empresa e almoço é também meu sogro. A filha dele, como não poderia deixar de ser, é palmeirense, claro. Êxito materno, derrota paterna. Que sorte a minha.
Com viagem marcada e que irá lhe tomar algo em torno de duas semanas, perderá meu sogro a chance de acompanhar a última partida de seu Corinthians na 1ª fase da Libertadores. Jogo que pode valer a 1ª colocação geral da competição. Aquela que ainda lhes falta.
Com o ingresso adquirido com grande antecedência, dedicou ele a mim uma missão.
“JP, entregue o ingresso do jogo do Timão para o Cris (outro dos corintianos da hora do almoço), por favor”.
E então no sábado peguei o tal ingresso e o guardei em minha carteira.
Como pude não me atentar ao fato de que aquele simples ato traria uma zica do tamanho do alvinegro?
Domingo, Pacaembu, Palmeiras enfrenta o já rebaixado Comercial de Ribeirão Preto com dois meses de salários atrasados e ameaça de greve. Com desfalques, Felipão armou o Verdão com Carmona, Maikon Leite, Chico, essas coisas.
O tempo se passa, o time se arrasta, o Comercial se anima com a inoperância alviverde e se mete a besta. Abre o placar, escancara a fragilidade dos donos da casa, abre a temporada de vaias.
No segundo tempo os rebaixados perdem ainda dois jogadores expulsos. O Palmeiras perde gols, perde a dignidade.
Surge o gol de empate e a virada era questão de tempo. “Não merece, mas é importante terminar entre os quatro primeiros”. Pensamento tacanho, mas realista.
Tão realista que na sequencia pinta o 2º gol – do Comercial.
E então me dei conta do culpado pelo fiasco. Lá pelas tantas abro a carteira para pegar um documento e vejo o vilão ali instalado, muito bem aconchegado.
“Poutz! Como não me dei conta disso antes?” Estava explicada a desastrosa partida do Palmeiras. Era, na verdade, uma enorme zica alvinegra dentro de meus domínios.
Enquanto isso Felipão tirava Carmona, Maikon Leite e afins e colocava Vinicius, Fernandão, coiso e tal e Tinga. Mas eu já havia achado o culpado.
Tanto é que bastou eu pensar nisso e Henrique empatou para o Verdão. “Ufa!”
O juizão vai lá e manda levantar a placa com 5 minutos de acréscimos, depois acrescenta mais 1. E Henrique marca o gol da virada, mas o juizão anula em erro clamoroso.
E então mais uma auto penitência. “Por que não tirei a zica de dentro da minha carteira? Certeza que o gol seria validado”.
É certo que se o ingresso do Corinthians não estivesse em minha carteira o placar seria outro. Semana que vem, contra o Guaraní, lá em Campinas, já sem a zica dentro da minha carteira, o resultado será outro. Vocês vão ver só.
Pra cima deles Carmona, Chico, Patrick, Fernandão…Tinga.