Os Dois Lados da Moeda: Chile 0 x 3 Brasil. A história que se repete.

Acompanho a seleção brasileira desde 1982. Sempre é a mesma história. O técnico que está no cargo nunca é bom, seja ele quem for. Daí ele é retirado, o sucessor chega enchendo a torcida de esperança, é esculachado e, se for o caso, somente é redimido após uma competição selar a qualidade de seu trabalho. Se a seleção ganha o sujeito é bestial, se perde, é uma besta, como já dizia Otto Glória.

Foi assim com Tele Santana em duas Copas. Foi assim Carlos Alberto Silva. Lazaroni, à época um grande técnico no Vasco, conseguiu uma grande vitória na Copa América de 1989, disputada no Brasil. Em 1990, na Copa da Itália, foi decretada sua imbecilidade. Depois veio Falcão, incensado de forma semelhante a do Dunga após a desastrosa campanha na Copa de 2006, comandada por Parreira. O mesmo Parreira que foi achincalhado até, 24 anos depois, conduzir o Brasil a vitória no Mundial. Luxemburgo já era tido como o “melhor técnico do Brasil” quando chegou a seleção e saiu pela porta dos fundos depois de um trabalho sem resultados. Felipão foi contestado antes da Copa de 2002 e voltou do oriente como Rei. Mas ninguém deve saber melhor sobre esse cargo do que Zagallo e seu “vocês vão ter que me engolir”.

A mídia esportiva, em esmagadora maioria, é francamente incoerente acerca do trabalho do técnico da seleção. Por vezes – raro, mas acontece – a seleção exageradamente elogiada de antemão. Em 2006 viemos com a idéia do “quadrado mágico”. Eu assistia alguns treinos e achava tudo meio esquisito: era um fazendo embaixadinha, outro dando autógrafo. A mídia onipresente, cobria tudo com largo sorriso. “Olha a habilidade” desse, “olha o carisma” daquele…. “ah, o futebo brasileiro é uma beleza, não”? A mídia é a primeira a se encantar com os efeitos da mitificação que cria em torno de certos personagens. Trabalha-se seriamente em tais circunstâncias?

Por outro lado, a manutenção de um discurso racional nos momentos de derrota não deve vender jornais, deve baixar a audiência da TV, é um mistério.

Vamos ficar com as lembranças mais próximas. Lembro-me de um programa da TV a cabo acerca dos problemas para a preparação da seleção na Copa 2006. Uma das causas apontadas para o fracasso da seleção nesse programa foi o a falta de concentração do time derivada do público e da mídia onipresente. Ora, a mídia oniprsente, nesse caso, compunha-se também, e justamente, dos repórteres desse canal. Vai entender.

Talvez, se eu expusesse essa minha tese à diretoria do de uma rede de Tv, ele diria: bem, se a Seleção entende que isso lhe é prejudicial, ela não deveria permitir as filmagens dos treinos. O argumento seria ótimo, mas não foge de um contra-argumento: a pecha de antipático, inacessível, não estaria lançada no discurso da imprensa sobre o técnico e os jogadores do time imediatamente? O Dunga já sofre com isso por dar umas patadas a perguntas muitas vezes, sem-pé-nem-cabeça que lhe são feitas em coletivas.

Não joguemos tudo sobre os ombros da mídia no entanto. Nossos técnicos muitas vezes são cabeças-duras ao extremo. Parecem preferir morrer abraçados a uma má idéia do que mudá-la. Fiquemos em 2006. Só o Parreira não queria ver que aquele time, em campo, era horroroso. Só o Dunga não queria ver que o time do Brasil, com 4 volantes, não tinha condição alguma de furar as defesas armadas pelos times adversários nas Eliminatórias. De alguma forma, parece que técnico da seleção gosta de ser criticado, quando chega no limite faz um bem-bolado com as propostas que lê nos jornais e vamo-que-vamo. Se ganhar, o técnico e a midia fica felizes e tudo é perdoado. Se perder, perdemos todos.

Bem, chegamos aqui ao jogo de ontem. O Brasil entra em campo com a sua formação mais ofensiva até o presente momento num jogo de eliminatórias da Copa – como toda a mídia exigia. Já nos primeiros minutos o Chile mostra que não entrou em campo para se defender. Com pouco tempo de jogo já tinha locutor dizendo que o Brasil tinha que reforçar a defesa. Mas como só 11 podem jogar, se reforçamos a defesa o poder de ataque se reduz, como estava acontecendo antes. Dunga resolveu arriscar e manteve sua formação ofensiva. Para a sorte do bom futebol a investida valeu a pena. Resultado Final, Chile 0x3 Brasil.

No fim parece que o Dunga teve que ler na imprensa o óbvio: que com 4 volantes brucutus não se joga futebol. 3×0 Brasil. Ainda bem. Baseado na insensatez e falta de paciência geral da imprensa, se o time perdesse hoje já leríamos nos jornais que o certo seria um quadrado trágico de gladiadores para jogarmos contra a Bolívia no Rio de Janeiro.

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