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PORQUE NEM EU NEM VOCÊ (PROVAVELMENTE) DAMOS A MÍNIMA PARA A SELEÇÃO BRASILEIRA?

A seleção brasileira deveria nos encher de orgulho e despertar em nós o maior interesse futebolístico do mundo, sem ufanismo, pachequismo e afins, o que particularmente abomino; a questão é que ao longo dos anos, o Brasil produziu times tão incríveis que a seleção acabou por ultrapassar os limites do esporte e se tornou uma expressão cultural, que continha o próprio jeito do povo brasileiro levar a vida e principalmente o nosso jeito de jogar um jogo que é idolatrado pelo planeta inteiro. Nós fomos os melhores um dia, os mais belos e a inspiração para uma geração de craques e técnicos do mundo inteiro que marcaram história no esporte.

Porém de forma muito melancólica não é o que acontece hoje com o time da CBF, com uma seleção que conta com jogadores “chineses”, um técnico testa de ferro que tem raiva da própria sombra, um craque mimadão e jogadores psicologicamente despreparados, o Brasil mais do que nunca vai se apequenando como seleção não pelos maus resultados, mas pela indiferença que transmite e que causa em sua torcida.

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Eu e você, provavelmente, não damos a mínima para a seleção, convenhamos, preferíamos assistir nosso clube do que ter que ver Galvão Bueno, Ronaldo e companhia tentando vender uma farsa na TV, xingamos quando o melhor jogador do nosso time de coração é convocado para esquentar o banco de algum jogador mediano provido de algum time sem expressão da Europa ou da Ásia e vemos o 7×1 mais como piada do que tragédia. A própria CBF demonstra desprezo pela sua “propriedade” ao não parar  o calendário do futebol nacional durante competições internacionais como a recém iniciada Copa América Centenário, como se seleção e futebol brasileiro não tivessem qualquer ligação, é um toca o futebol de vocês dai que a gente toca a nossa seleção daqui.

Mas porque a seleção não nos interessa tanto mais?

Alguns fatores podem ser apontados, e o primeiro tem a ver com sua gestora, a digníssima Confederação Brasileira de Futebol. A CBF perdeu o pouco da confiança que tinha com a população brasileira com os casos de corrupção que vieram a tona 2 anos atrás, que digamos assim, não deixou ninguém perplexo, a instituição se mostrou um balcão de negócios imundo, a prática dos diretores da Confederação Brasileira de Futebol são inaceitáveis pra dizer o mínimo, olhamos para o time do Brasil e vemos o reflexo de uma instituição sem nenhuma identidade, que segue contaminando cada vez mais os laços entre povo e seleção.

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Porém isso não é um fator decisivo visto que a corrupção no futebol dá sinais claros de ser global, é preciso muito mais do que corrupção para minar a relação entre um time nacional e sua população, a gente sabe que paixão e moralidade não andam exatamente de mãos dadas.

As confederações de futebol da América do Sul são tão corruptas quanto e mesmo assim o cenário é oposto nos nossos vizinhos sul-americanas por exemplo, que tem torcidas apaixonadas e apaixonantes, dá gosto de ver, enquanto a torcida da seleção brasileira, se é que podemos chamar a maioria de torcida, dá sono, preguiça.

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A atividade de torcer perde espaço para as selfies e tchauzinhos para os telões. E esse é um sintoma claro da ligação rompida entre seleção e população, a festa que vem da arquibancada sempre anda lado a lado com uma identidade forte do time nacional com as suas raízes, um belo exemplo é a estreia nesse fim de semana da seleção mexicana na Copa América contra o Uruguai, em que o estádio em Glendale, Arizona foi tomado por camisas verdes que cantaram os 90 minutos embaladas por um jogo ótimo que terminou 3 a 1 para os mexicanos, com um ritmo alucinante compatível com o bom futebol praticado hoje, que como disse Juca Kfouri, conseguiu ofuscar no próprio EUA o segundo jogo da final da NBA vencido de lavada pelo Golden State Warriors contra o Cleveland Cavaliers

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Produzimos seleções sem identidade e deveríamos fazer o que então? Olhar e nos inspirar na conexão torcida/time através da raça e da vontade dos uruguaios e dos argentinos, NÃO! É preciso afirmar isso em letras garrafais pois esse pensamento nos produziu episódios bizarros como a escolha do bronco Dunga para técnico por duas vezes.

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A seleção brasileira recuperará a conexão e a torcida dos brasileiros quando entender que deve investir em recuperar nossa identidade, e não copiar a de outros, raça e vontade são atributos emocionais, nossa identidade é a de jogadores técnicos, habilidosos, de diferenças individuais que conseguem resolver um jogo em um conjunto que pode encantar o mundo. O problema do futebol brasileiro hoje é um problema de pensamento, estrutura e de filosofia.

Falhamos na formação de jogadores e isso evidencia que o problema é conceitual, hoje as bases dos clubes brasileiros só formam volantes, zagueiros e afins para exportação. Não se vê aquele moleque habilidoso, que nos jogos de rua deixava a vizinhança inteira no chão chegar a base de algum clube, certa vez um jovem de 12 anos da base de um time grande de São Paulo foi perguntado por um comentarista se ele se divertia jogando, e sua resposta foi a de que era muito chato ser da base, reclamou do excesso de treinos táticos e das repetidas vezes que tinha que furar o dedo e entregar uma gota de sangue para uma máquina que dizia o quanto seria o seu crescimento ósseo em um ano. Ou seja, não se produz mais no Brasil material humano para atender uma filosofia de jogo que condiz com a nossa identidade, isso representa a morte do nosso futebol, e nem vou citar casos de corrupção e venda de vagas nos times de formação dos grandes clubes.

Outro fator grave é que fisicamente a seleção também vai ficando cada vez mais distante, por conta de contratos muitas vezes fraudulentos, de origens estranhíssimas, jogos do Brasil são realizados na China, na Inglaterra, e não em Recife, São Paulo, Porto Alegre, que laço crio com um time que sequer joga no meu continente?

Sem contar que a seleção brasileira hoje é uma seleção gourmet, quando acontece do Brasil jogar no Brasil, os ingressos da “Seleça” (sim, soube que esse é o apelido para a seleção dado pelos minions de Thiago Leifert por ai) são cada vez mais caros e afastam o torcedor comum do estádio. Que sentido tem uma seleção que muitos brasileiros não podem ver, inclusive o presidente da CBF quando o jogo é fora?

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O problema é que países como China e Inglaterra continuam pagando muito alto para ter jogos da seleção brasileira, enquanto essa prática continuar e o Brasil seguir tendo esses mercados ricos facilmente, a CBF não mudará seus modelos de gestão, que claramente precisam ser descontruídos.

Ter um presidente da CBF que sequer pode ir para jogos internacionais, mostra a total falta de moralidade da instituição, não é a toa que sua camisa, que deveria ser usada como homenagem aos grandes que a vestiram como Rivelino, Pelé, Garrincha, Zico, Sócrates, hoje é vestida por movimentos que tem a intenção de atentar contra a democracia do país.

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A consequência pode ser gravíssima e acho que nem damos muita bola, a única seleção a disputar todas as copas do mundo corre o risco mais sério de todos os tempos de não embarcar para a Rússia. O mais triste é saber que existe muito brasileiro torcendo para isso, e esse é o pior sintoma, a falta de interesse da torcida brasileira em uma seleção que é um patrimônio, que teve times que facilmente poderiam ter sido eleitos como a 8a , 9a, 10a maravilhas do mundo moderno.  Que mostrou o Brasil ao mundo através de quadros belíssimos, não deveria ser normal ouvir que odiamos quando tem jogo da seleção, deveria ser um dia de festa, de comunhão.

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Longos jogos horríveis virão pela frente e não devemos nos iludir com o fato de que o 7×1 esta ficando cada vez mais pra trás por hoje termos escalado um time sem mais nenhum remanescente do Mineirazo, até porque o problema do Brasil é o de negar suas próprias raízes.

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Títulos como os de 94 e 2002 vieram, e virão, mas como disse Djalminha no Resenha ESPN dessa semana, eles não importam, o que importa é um time que seja referência, que seja um norte, que encha os olhos como foi o Brasil de 82, até hoje reconhecido como uma das tragédias mais lindas do futebol, é esse tipo de conexão que faz com que um moleque descalço pegue sua bola surrada e vá pra rua perder o tampão do dedo tentando imitar a bica do Carlos Alberto Torres em 70 ou mesmo o chapéu seguido de gol do Ronaldinho Gaúcho contra a Venezuela, o Brasil precisa reencontrar esse moleque, o Brasil está em dívida com esse moleque, porque é esse moleque que representa o que é o futebol brasileiro, não uma Confederação corrupta, um sentimento vazio de raiva e mágoa travestidos de raça e garra ou um pragmatismo futebolístico europeu.

Ser quem somos nos traz identidade, e só sabendo a beleza de ser o que somos que podemos viver histórias tão incríveis e emocionantes quanto as que já vivemos antes, de Garrincha a Sócrates, e porque não, de Ghiggia a Paolo Rossi.

Ah é, o Brasil, 6o nas eliminatórias para o mundial, estreou na Copa América Centenário com um futebol pequeno que virou seu habitual e empatou em 0 a 0 com o Equador, 2o nas eliminatórias, que foi operado e viu a justa vitória ser arrancada de seus braços. Mesmo resultado do último jogo do Brasil no Rose Bowl em Los Angeles, contra a Itália em 94.

Corinthians Hexa Campeão, e a saga do homem que mudou o ano do futebol brasileiro!

E o Corinthians finalmente faturou o seu hexacampeonato na noite dessa quinta-feira!

O título veio nos momentos finais do jogo contra o Vasco, que ficou no empate em 1 a 1 em São Januário, e contou com uma “colaboração” do rival São Paulo que meteu 4 a 2 no Galo.

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Em um ano de desmanches e reorganização financeira, o desacreditado time do Parque São Jorge, que alguns disseram até, que lutaria para não cair, conquista o Brasil pela 6ª vez.

O ano começou positivo, com o time jogando um belo futebol, até que no meio da Libertadores, veio a pancada, eliminação em casa para o Guarany do Paraguai, dai pra frente o time começou a sentir demais as dificuldades financeiras fruto de contratações irresponsáveis por parte da antiga diretoria, como Alexandre Pato, por exemplo, e a construção de um estádio bilionário completamente fora de contexto financeiro, e até histórico, diriam alguns, mas isso é papo para outros posts.

E ai veio o desmanche, Guerrero e Sheik foram os primeiros a deixar o clube e acertarem contratos altíssimos com o Flamengo, Petros arrumou as malas rumo ao Betis, Mendoza foi negociado com a Índia e Fábio Santos, que recentemente disse sentir saudades até da Gaviões quebrando seu carro, foi jogar no Cruz Azul

Fora outras negociações frustradas que com certeza teriam mudado o destino do Brasileirão de 2015, Gil estava praticamente acertado com o Wolfsburg, Elias era sondado por diversos clubes e rejeitou uma proposta do Flamengo, Jadson quase aceitou uma proposta milionária da China e foi convencido a ficar pelo Tite, e Renato Augusto quase foi envolvido em uma troca com Samir, para o Flamengo, que só deu errado pois a Udinese fez uma oferta de R$ 14 mi pelo zagueiro e fez o time carioca recuar na negociação.

Todo esse cenário fez com que a imprensa e os “especialistas” apontassem o Corinthians como um sério candidato ao rebaixamento.

Mas assim é o Corinthians, quando não é para ser é, quando todo mundo fala que não vai dar ele vai lá e contraria toda a lógica futebolística e vence um Brasileirão com propriedade. Já quando parece fácil…

Mas não falemos disso, porque agora é hora da torcida corintiana soltar aquele grito preso na garganta, o Corinthians é hexa campeão brasileiro! E dentre os principais fatores que o fez conquistar mais esse título e igualar São Paulo e Flamengo em campeonatos nacionais, um é  unanimidade.

Tite.

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Adenor Leonardo Bachi administrou o vestiário como poucos, recusou receber o próprio salário enquanto o elenco não recebesse os seus direitos atrasados, assim ganhando o vestiário e unindo os atletas ainda mais, tatuou na alma o espírito corintiano como nenhum outro técnico que eu tenha visto em qualquer outro clube, remontou a equipe do Corinthians, teve a paciência de após cada resultado controverso analisar, repensar, variar o jogo na próxima rodada, explicar a imprensa e a torcida com a elegância de sempre que estava reformulando um time. E conseguiu.

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Conseguiu mais do que muitos esperavam. Vágner Love era contestadíssimo por torcida e imprensa, de fato quando ele estava em campo passava a sensação de atrapalhar o time, Tite o trouxe de volta para o futebol e o transformou em peça importante no time. Hoje ele é vice-artilheiro do campeonato e artilheiro do time, empatado com Jadson, que antes também sofria com a desconfiança da torcida e se tornou peça de suma importância na equipe, é apontado por muitos como o melhor jogador do Brasileirão ao lado de Renato Augusto, ou como a torcida gosta de chamá-lo, “Deusnato” Augusto, que foi às lágrimas ontem após o título e não foi por menos, declarou após a partida que pensaria que nunca mais jogaria em alto nível, em algum mercado importante, e hoje se tornou o melhor meio campo do Brasil, na minha opinião, e foi peça importante na vitória da seleção Brasileira contra o Peru na terça por 3 a 0, inclusive marcando gol.

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Fez Ralf voltar a jogar o grande futebol de sempre, desarmando o time adversário a todo momento e entregando a bola limpa para o início de praticamente todas as jogadas ofensivas, fez Elias, que para muitos havia deixado o futebol em algum lugar de Portugal, reencontrar a bola e se tornar um dos craques do campeonato e titular da seleção, o mesmo fez com Gil que já vinha jogando bem e que hoje faz parte de uma defesa quase impenetrável ao lado de Felipe, mais um milagre de Tite, que pode ser somado a outros como fazer um time ser campeão tendo Edílson na lateral e ao milagre de ter feito Uendel e Fágner se tornarem jogadores importantes no time. Sem contar o controle que tem do grupo, ninguém no banco do Corinthians chia de não jogar, o que colabora para um time que realmente veste a camisa alvinegra como se fosse a segunda pele. Aliás, outro belo fenômeno nesse time, mais da metade do elenco é corintiano de sangue, desde criança, e isso gera uma identificação de time com torcida que raramente vemos no futebol brasileiro.

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Graças ao Tite o Corinthians passou de time candidato a rebaixamento, para o time que hoje começou a fornecer peças fundamentais a seleção brasileira.

Seleção que ele deveria estar no comando se a CBF fosse uma instituição honesta com o futebol, porém eles não conseguem ser honestos em nenhum departamento, é demais então exigir isso, Tite, íntegro que é já dá sinais de que sob essa gerência ele jamais assumirá a seleção. Mesmo sendo unanimidade até entre torcedores rivais.

Azar de uma nação, sorte de outra, que hoje conta com o melhor técnico do país, um cara que aprendeu como ganhar, dentro e fora do campo, rico em repertório, que evolui a cada dia que passa e que faturou seu 6ºtítulo pelo Timão e se tornou, de fato e de direito o maior técnico do Corinthians! Não vi o também gaúcho Osvaldo Brandão, nem Rivelino, Sócrates ou Luizinho Pequeno Polegar, mas vou poder contar aos meus netos que vi Tite. E que vi o Corinthians ser hexa campeão com um time que joga por música.

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Aos outros times que fique o exemplo que o Corinthians deu em investir em um profissional competente, e o desprezo à administração de algumas agremiações pela tentativa de deslegitimar uma conquista incontestável através de acusações estúpidas de favorecimento por uma arbitragem tão patética que não conseguiria beneficiar alguém nem que quisesse, há que se respeitar um grande trabalho e calar o mimimi que desrespeita um clube e sua torcida inteira, não passem mais essa vergonha e respeitem não só o Corinthians e sua história, como a história de seus próprios clubes, a grandeza de suas próprias agremiações

Aos corintianos, o campeonato não acabou e o Corinthians caminha a passos largos para bater todos os recordes da era de pontos corridos disputados entre 20 clubes, mas graças a um time que encanta a sua torcida a cada jogo já posso dizer:

Parabéns bando de loucos, como disse o professor, comemore com os amigos, com a família, tome sua caipirinha, fique pronto para o Ralf levantando a taça no domingo contra o São Paulo em Itaquera, porque, perdão os altos níveis de clubismo, O TIMÃO É HEXA CAMPEÃO BRASILEIRO, VAI CORINTHIANS!!!

E vai ai o recado do Tite!

https://www.facebook.com/corinthians/videos/1005567902815735/

E o Corinthians não foi campeão neste domingo… Ainda bem!

A frase poderia vir de um torcedor de algum rival, mas veio de mim, um cara que é corintiano a mais tempo do que pode lembrar. E por isso sei bem quanto seria frustrante, ver pela primeira vez na minha vida meu time ser campeão sem entrar em campo. O que poderia ter acontecido neste domingo, onde o Corinthians bateu o Coritiba por 2 a 1, e o Atlético Mineiro venceu o Figueirense em Santa Catarina pelo placar de 1 a 0. O gol do Galo no finalzinho do jogo contou com uma certa satisfação da minha parte, algo bizarro visto que, como torcedor, esse foi o time que mais sequei o ano inteiro, na verdade foi mais um alívio que acabou com a indecisão do momento de pular do sofá gritando feito um louco “é campeão” para o nada, ou guardar a euforia, o próprio fato de ter essa dúvida  demonstra a total falta de espontaneidade da ocasião, beirou o absurdo.

Um absurdo que superficialmente pode ser explicado a partir do total desprezo que tem pelo futebol brasileiro a instituição que organiza o campeonato mais importante do país, a digníssima CBF. A leitura de que talvez houvesse um time campeão do Brasileiro de 2015 sem que ele sequer entrasse em campo poderia ter sido feita há semanas, e prontamente corrigida, mas a impressão que a entidade passa é de que ela não liga muito pra futebol, de que na real futebol por vezes até atrapalha o funcionamento dela, também é de se entender, o esporte agora é o de menos, visto que seu presidente não se atreve a sair do país e de que FBI e CPI são preocupações maiores do que o esporte bretão no momento.

Mas devemos atribuir essa bizarrice, entre outros fatores, primordialmente ao formato do campeonato. Sim meus amigos, irei por esse caminho, pois enxergo o conceito por trás da eleição do formato de campeonato com pontos corridos como o problema central do esporte no país.

O futebol brasileiro hoje não tem uma identidade, já não se formam jogadores técnicos, habilidosos, existe hoje uma demanda para suprir no mercado, mercado esse guiado por técnicos de filosofia europeia, baseada na Itália campeã de 82, onde primordial mesmo é não perder, jogar bonito fica para depois, a beleza do esporte se perde frente ao medo da derrota, e ninguém parece perceber que essa é a grande derrota do futebol brasileiro, maior que qualquer 7×1.

Tão tradicional quanto jogadores técnicos e habilidosos no Brasil, eram as finais, aquele clima de que aquele era o dia do tudo ou nada, o frio na barriga ao acordar, a vizinhança com bandeiras, o estádio entupido de gente, aquela tensão de ou vai ou racha no ar. Isso é tradicional brasileiro, esse formato de campeonato que privilegia o confronto direto, o sangue quente. Quando resolvemos importar o formato futebolístico europeu, ignoramos por completo parte da identidade futebolística brasileira.

O futebol brasileiro tem sangue latino, é vida ou morte, é drama imperfeito, não poesia justa como o europeu. Me arrisco a dizer que se os pontos corridos fossem o formato do Brasileirão desde o início talvez não tivéssemos uma invasão corintiana em um ano onde tivemos o jogo histórico entre Atlético Mineiro e Inter na decisão, um Coritiba e Bangu decidindo nos pênaltis uma final no Maracanã lotado, uma das decisões mais emocionantes da história entre São Paulo e Guarani em 86, um gol salvador do Tupãzinho, uma final tão linda quanto foi Palmeiras e Corinthians em 94 (pro lado verde…), uma história tão dramática quanto Santos e Botafogo em 96, o acaso não dá muito as caras em pontos corridos, e sim a média, o mérito, conceitos muito valorizados na sociedade do lado de lá do Atlântico, mas não é a mediocridade que move nossas paixões por aqui. Não há, depois de 13 campeonatos disputados nesse formato no Brasil, histórias tão ricas quantas essas citadas acima. Fato.

A identidade do futebol no Brasil é o coração na ponta da chuteira, não tem a frieza europeia dos números correndo em nossas veias futebolísticas. Ser campeão brasileiro sem estar se quer em campo não tem a cara da paixão de um clube como o Corinthians, ou qualquer outro clube brasileiro. Essa seria a grande mancha no campeonato que dirigentes e o técnico do Atlético Mineiro tanto falaram durante a competição, o campeonato de fato seria manchado caso a torcida do Corinthians fosse obrigada a comemorar um título sentada no sofá enquanto assistia à partida morna do seu rival São Paulo pela televisão, não comemorando o título corintiano com o Corinthians e sim com o Figueirense

Sobre o descaso da CBF com o campeonato, pensem o quanto é ótimo o Corinthians não ter sido campeão neste domingo, pensem quantas histórias são possíveis com esse Corinthians e Vasco, jogo que praticamente decretou o rebaixamento do time paulista em 2007, e que agora pode decretar o descenso do time carioca e a glória do hexa brasileiro corintiano.

Sobre o descaso da CBF com a identidade do futebol brasileiro, pensem em quantas histórias perdemos por não ver uma final com todas as nuances de uma final jogada entre os dois melhores times do Brasil hoje, Timão e Galo. Pegando como base o último jogo desses dois rivais, pensem em quanto seria multiplicado o golaço de voleio do Lucca, as defesas no primeiro tempo do Victor, o abafa que a torcida corintiana deu em pleno Horto na torcida atleticana, ou indo mais longe, uma final entre aquele Flamengo de Adriano e Petkovic contra o Inter de D’Alessandro, Guiñazu e Nilmar no Beira-Rio e no Maracnã lotados, em um dos campeonatos mais equilibrados da história.

Você, caro leitor, pode discordar do formato que penso ser o ideal para o campeonato nacional, mas provavelmente concorda que perdemos nossa identidade futebolística, identidade essa intimamente ligada as finais, as grandes decisões, seja qual for a sua opinião, leve isso em conta:

Os três maiores eventos esportivos do mundo, os três que mais pessoas ao redor do globo assistem são o Super Bowl, final do futebol americano, a final da Copa do Mundo, e a final da Copa do Mundo de Rugby. Porque não ter o coração na boca todo ano no futebol brasileiro, porque não recuperarmos nossa identidade, nossas histórias. Porque não voltamos a nossa tradição de mata-mata que vem desde Rio-São Paulo (esboço de um campeonato nacional), Taça Brasil e Robertão. O futebol brasileiro, ou o futebol em geral vive de momentos gigantes, e não de justiça, não de mérito, regularidade ou média.

A mídia elitista em sua eterna síndrome de vira-lata vira a cara para a identidade do futebol brasileiro, já a CBF não está preocupada em criar uma identidade do futebol brasileiro, ou com o futebol em si, isso a gente já sabe há muito tempo. Mas no país da seleção pachecona das selfies e dos pastores evangélicos caça-níquel em concentrações, que saudade de ter o coração na boca de novo e não dormir a noite em uma final de Brasileiro.

Só sei que eu nunca mais quero ter o risco de passar pela triste e fria alegria de ver o meu time campeão sem nem calçar as chuteiras, sem nem ouvir um “Vai CORINTHIANS”, domingo então o Corinthians não foi campeão, ainda bem!

O BOM PAI A CASA TORNA!

Segunda-feira, 19 de janeiro de 2015, Hotel Trianon. Era para ser um evento secreto, mas como bem disse um torcedor para o diretor do filme “Vai Corinthians”, o inglês Chris Watney, surpreendido pelo número de pessoas presentes muito a cima do esperado, nada com o Corinthians é segredo por muito tempo. Tratava se de uma sessão de autógrafos de um time da oitava divisão inglesa que é protagonista de uma das maiores histórias do futebol, time que, apesar de amador, tem no seu currículo uma goleada por 11 a 3 sobre o Manchester United, que foi o único clube a fornecer um time base a seleção da Inglaterra em toda sua história, seleção essa que usa branco por conta dele, time que foi inspiração, também, para a camisa branca do Real Madrid.

Chris Watney e seu desejo por contar a maior história do futebol sendo realizada.
Chris Watney e seu desejo por contar a maior história do futebol sendo realizada.

Time que foi o maior do mundo no começo do século XX e que 100 anos atrás teve que abandonar no meio do caminho a primeira visita ao seu filho brasileiro para que seus jogadores ou qualquer um que tivesse identidade britânica, fosse lutar a primeira guerra mundial que começou na Europa enquanto o time estava no navio a caminho do Brasil, quase todos os jogadores foram mortos e a história desse clube mudou para sempre. Trata-se do pai do Corinthians e de uma das maiores paixões do futebol mundial, o Corinthian-Casuals.

Aliás, paixão e histórias foi o que não faltaram nessa quente tarde de segunda. O Corinthian-Casuals vem ao Brasil enfrentar o Corinthians ou, o “Póulishta”, como eles mesmo dizem, em um amistoso que visa financiar um filme que vem sendo rodado sobre sua história, enquanto se cantava o hino corintiano e os ingleses com a cara rosada pelo calor tentavam entender e participar do “poropopó”, eu conversava com o diretor e um dos organizadores do jogo Chris Watney que se dizia surpreendido com a recepção e mal via a hora do time entrar em campo para contar, o que ele considera, a maior história do futebol. E conversando sobre o jogo entre os dois times que aconteceu em 88, ele solta que logo ali no hall do hotel havia um senhor que entregou a camisa para um jogador que trocou de time no meio desse jogo.

Empolgação e emoção do elenco do Casuals deu o tom durante todo o evento "secreto"
Empolgação e emoção do elenco do Casuals deu o tom durante todo o evento “secreto”

Seu nome era David e o jogador em questão era nada mais nada menos do que a lenda Doutor Sócrates. Cheguei em dois homens que observavam a festa de longe e perguntei quem era David, um senhor tímido, magro e já nos seus 70 e poucos anos com uma voz rouca diz que é ele e conta que entregar a camisa do Casuals para Sócrates jogar os 15 minutos finais do amistoso de 88 foi uma das maiores honras da sua vida, já com lágrimas nos olhos ele diz que nada foi maior do que aquele momento. Enquanto ele contava isso, o homem ao seu lado, M. Maidment, que se apresentou como o coordenador das categorias de base do Casuals, conta que na sede, ao sul de Londres, logo na entrada há uma foto enorme do eterno doutor vestindo com a classe de sempre a camisa rosa e chocolate do clube, completa dizendo que no Corinthian-Casuals, todos consideram que aquele foi o maior momento da história, deixando para trás outros incontáveis momentos notáveis do clube.

Maidment me conta mais sobre o seu trabalho e na dificuldade de implantar a filosofia de jogar futebol apenas pelo prazer de se jogar futebol nas crianças, que hoje em dia crescem encantadas com jogadores como o Tévez, que atuou pelo seu outro time, o West Ham, e que troca qualquer clube por alguns milhões a mais em sua conta. Ele também fala com orgulho sobre o Corinthian-Casuals ter sido sempre amador, aliás, foi um dos clubes que brigou com a FA no início do século XX para que a profissionalização do futebol fosse proibida. Futebol acima de tudo, eles dizem.

É quando vem outra surpresa, Maidment aponta para David e diz, ele pode te falar melhor sobre essa paixão pelo futebol amador. A razão? Acontece que esse senhor não só foi o homem que entregou a camisa do Casuals ao Sócrates, mas foi também um jogador do clube por anos, estreou em 1953, e participou da conquista da Surrey Senior Cup, um dos raros títulos do clube, desde então, nunca deixou o Corinthian-Casuals, 62 anos dedicados a uma paixão.

Por um momento todos param e observam emocionados a festa incrível entre jogadores, diretores e torcida, e eu em um inglês tão atrapalhado quanto o centroavante Jamie Byatt, digo que não há grandeza de clube ou dinheiro nesse mundo que pague o que estávamos vendo, e que é uma honra imensa recebermos eles aqui. Nesse momento vejo lágrimas nos olhos dos dois e consigo enxergar como nunca a ligação entre os dois clubes, entre Corinthian e Corinthians. É a ligação de um pai e um filho, é aquela paixão que meu pai me passou quando me levou nos ombros ao Pacaembu pela primeira vez, é a paixão pela simplicidade da bola que o pai inglês passou ao seu filho brasileiro o carregando nos ombros a mais de 100 anos atrás. Dei um abraço no David e pedi uma foto, o que o surpreendeu, talvez tenha o feito se sentir como uma lenda, um ex-jogador do Corinthians Paulista, essa foi a intenção!

David Harrison, a lenda que conheci do Corinthian-Casuals. De jogador ao homem que entregou a camisa ao Sócrates em 88.
David Harrison, a lenda que conheci do Corinthian-Casuals. De jogador ao homem que entregou a camisa ao Sócrates em 88.

Foi quando mais empolgado ele disse seu nome completo em um tom muito claro, como se fosse para eu nunca mais esquecer, e eu nunca irei, Mr. David Harrison, nem dos seus olhos cheios de lágrima denunciando a paixão de ser Corinthians, a mesma paixão que dividimos mesmo separados por um oceano, a simples e inexplicável paixão pelo Corinthians.

O jogo desse sábado é extremamente necessário para a alma corintiana no momento, é uma chance de lembrar de suas raízes, de viver a “corintianiedade” de forma mais intensa e esquecer arena, discussões financeiras e outros assuntos sem vida do futebol moderno e elitizado. Sábado será dia de lembrar e reviver Corinthians, duas paixões se encontrarão para contar a maior história do futebol.

Sai do hotel com uma camisa Rosa e Marrom no ombro e uma certeza, que a paixão é o principal personagem dessa história. O Corinthians hoje é gigante enquanto o Corinthian-Casuals foi e sempre vai ser um time amador, porém a paixão pelos Corinthians vão sempre ser um sentimento simples, divididos por dois países tão distintos, pois como disse a lenda Sócrates.

“O Corinthians é um estado de espírito”.

Os Corinthians são um estado de espírito!

Vai Courântiãns!!

Obs: Agradecimentos especiais ao Felipe Reis! Valeu!

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DIRETORIA ISOLADA E CRIATIVIDADE ZERO INTENSIFICAM FASE SONÍFERA CORINTIANA

E o Robin Hood do Brasileirão 2014 atacou mais uma vez esse domingo em Porto Alegre, bateu o vice Inter no novo Beira-rio ao sol das “15 horas” por 2 a 1, totalizando assim 20 pontos ganhos dos 24 disputados com os quatro primeiros colocados da competição. Não gosta de números? Pois é, eu também não, mas segure a paciência só um instante porque nesse caso a aritmética nos diz muito.

O Corinthians junto ao Cruzeiro é o time que menos perdeu no campeonato, 6 derrotas, porém tem o dobro de empates do líder, 10 enquanto a Raposa tem 5, foi responsável por um terço das derrotas cruzeirenses no Brasileiro. E dos 15 pontos disputados com os times presentes hoje na zona de rebaixamento, ganhou apenas 4, é forte contra os times de cima da tabela, mas fraco e improdutivo contra os times de baixo, o que vem sendo uma tradição corintiana de uns anos para cá.

Seria o Corinthians um time de alma tão caridosa, de um coração tão grande que nem cabe dentro do peito? Não. A questão é que não há padrão de jogo no alvinegro, o Corinthians hoje é um time sem um pingo de criatividade, existe um deserto entre Cássio e Guerrero, aliás, os dois maiores destaques do time nos últimos meses, mas o real problema do time é que ele não tem qualidade o suficiente, tanto técnica quanto tática, de propor o jogo, de dominar e ditar o ritmo, por isso sofre na mão de times ruins, porque criativamente é tão pífio (abraço Mauro Cezar) quanto esses times de campanhas fracas, o jogo se equilibra e na vontade, geralmente os times que lutam para saírem da zona de confusão (abraço Pofexô), acabam superando a equipe do Parque São Jorge. Já contra os melhores do campeonato a banda toca diferente porque o Corinthians tem a possibilidade de ser “malandro”, aceita ser agredido, dá espaço para o adversário, assim encontrando campo para jogar e criando chances, mesmo que escassas, de definir o jogo.

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Grande parte da torcida parece já ter escolhido o responsável por seu sono/raiva pós jogo corintiano, Mano Menezes, e já pede por seu pé na bunda. Não acho o Mano um técnico ruim apesar de ter um ódio brando pela escola gaúcha (brando graças ao Tite), na realidade acho Mano Menezes um dos técnicos mais ofensivos desse estilo e seu trabalho na seleção e no Corinthians da era Ronaldo me agradaram, porém ele precisa repensar sua carreira, fracassou nas 3 principais instituições futebolísticas brasileiras e já parece não ter muito o que oferecer ao mundo da bola, talvez seja o caso de se reciclar assim como fez o Tite anos atrás, penso que ares novos seriam interessantes ao gaúcho, mas não coloco o peso da má fase do Corinthians totalmente em suas costas.

Pois parte da culpa dessa fase sonífera corintiana deve recair sobre os ombros da diretoria, que deveria ter se atentado e atendido melhor os sinais claros de que o plantel precisava ser renovado e reforçado, trouxe Pato por uma fortuna que abalou os cofres e depois o cedeu gentilmente ao rival São Paulo, trouxe Lodeiro que já mostrava ineficiência e desagradava a torcida do Botafogo, tudo bem que deu azar no caso do Elias que parece ter esquecido o futebol dele em terras lusitanas e com as seguidas lesões do Valdívia corintiano, Renato Augusto, que em campo vem tendo atuações apagadas, mas não poderia jamais entregar à torcida corintiana um elenco tão fraco para a temporada.

Toda essa crise me parece consequência do crescente isolamento do presidente Mário Gobbi no clube que já não conta com o apoio de muita gente, inclusive gente que era ligada a ele, fato é que seu mandato vem chegando ao fim de forma melancólica, e sem o delegado no 5º andar do Parque São Jorge, a exclusão de Mano Menezes do comando da equipe é dada como certa. Só um milagre não deixaria Mano desempregado, me arrisco a dizer que só o título do Brasileirão 2014 já dado como certo para os lados de BH e distantes do alvinegro o fariam continuar no Corinthians. Mas isso é só um palpite, resta esperar até o fim do campeonato, são 9 rodadas até lá e o Corinthians enfrenta agora o fraco Vitória em Cuiabá, seguindo a lógica dessa temporada prevejo um jogo difícil e sonolento, mesmo sendo ele logo mais as 19h30, no elefante branco do Pantanal, com o 16º colocado da competição e o time que também parece ser um elefante branco, com muita pompa e pouca efetividade. É esperar para ver.

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