"A vitória apaga tudo" ou "em boca fechada nao entra mosca’

Refletindo sobre a atual seleção brasileira, um pequeno texto sobre a classificação do brasil para a copa de 2002, publicado na FSP em 15.11.2001. Não assisti o jogo de ontem. Deve ter sido horrivel… tão horrivel quanto jogos da eleimintória para 2006, para 2006, para 1994…

BRASIL 3 x 0 VENEZUELA

Ufa!

Reservas e titulares do Brasil se abraçam na comemoração de gol da seleção na vitória sobre a Venezuela, ontem, no estádio Castelão

Após 18 jogos, 6 derrotas, 4 técnicos e quase 2 anos, seleção se classifica à Copa-2002 na partida final das eliminatórias

FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A SÃO LUÍS

Apesar de tudo, vamos à Copa.

Ontem, em São Luís, Maranhão, aos gritos de “olé” e “daqui do Maranhão, a seleção vai pro Japão”, o time comandado por Luiz Felipe Scolari impôs 3 a 0 na Venezuela e se classificou para mais uma Copa do Mundo de futebol.
Três gols, os três no primeiro tempo, para alívio da torcida, dos cartolas e dos executivos da bola.

Dois de Luizão, novo salvador da pátria, recém-recuperado de uma contusão, e um do sempre criticado Rivaldo, sem as tradicionais chuteiras brancas, artilheiro da equipe nestas eliminatórias -oito gols, o mesmo que o preterido Romário fez em três jogos.

Apesar de se classificar apenas no 18º dos 18 jogos da mais longa eliminatória sul-americana da história, de ter ficado apenas em terceiro lugar na competição, de ter o pior aproveitamento de pontos de sua história (55,5%) e de ter perdido definitivamente sua hegemonia no continente, a seleção brasileira vai a mais uma Copa.

Apesar de ter sofrido seis derrotas, algumas para adversários com pouca tradição como Bolívia, Equador e Paraguai, apesar de não conhecer uma base para seu time titular e de ter colocado em campo nada menos que 59 jogadores, número recorde, o Brasil vai à sua 17ª Copa.

Apesar da falta de padrão, apesar de ter consumido três treinadores diferentes -Wanderley Luxemburgo, Emerson Leão e Scolari-, apesar de ter sido vaiada por seus próprios torcedores na maioria dos jogos que realizou em seus domínios e de produzir verdadeiros fiascos, o Brasil continuará sendo o único país do mundo a ir a todas as Copas.

Apesar de ter perdido pontos para oito dos nove adversários -a Venezuela foi a única exceção-, apesar de ter sofrido derrotas acachapantes para equipes como o Chile e de ter sido vazada 17 vezes, outro recorde negativo, a seleção tentará seu quinto título, o penta, em mais uma Copa.

Apesar de a Confederação Brasileira de Futebol, entidade máxima da modalidade no país, estar sem comando desde que seu presidente, Ricardo Teixeira, passou a ser alvo de duas CPIs no Congresso, apesar de o jogo decisivo ter sido disputado no Maranhão para agradar à família Sarney e do PFL ser o partido que pode decidir o futuro das investigações, o Brasil vai à Coréia e ao Japão.

Apesar de o velho vício de misturar política com futebol não ter sido esquecido, apesar de o resultado de ontem projetar que boa parte dos problemas do futebol continuará sem solução, o Brasil já sonha em voltar para São Luís com mais uma Copa na mão.

Apesar da desorganização da CBF e das consecutivas derrotas para os clubes europeus na guerra para contar com os atletas, apesar do pequeno período de treinamento que seus técnicos tiveram para montar as equipes, apesar de ter sido um saco de pancadas quando jogou fora de casa -só ganhou uma vez, em Lima, contra o Peru-, o Brasil será cabeça-de-chave na próxima Copa.

Apesar de não ter um time de verdade, apesar de ter apenas seis meses para se preparar, apesar de não ter um comandante definido em campo e apesar de não saber nem se o técnico vai durar até 31 de maio, dia em que o Mundial tem início, o Brasil vai à Copa.

Enfim, apesar da crise e apesar de tudo, o país do futebol tentará a sorte em mais uma Copa.

Vamos. Todos juntos.

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