Para enfrentar uma maratona de shows de um festival é preciso desarmar o espírito, se você realmente quer ver seu artista favorito. É sair de casa sabendo que o tempo pode virar de repente, e o sol que queima sua pele, porque você esqueceu de passar o protetor solar, pode se transformar em uma tempestade de molhar a alma.
Todos os contras de um grande evento já sabemos de cor: Grandes filas, preços abusivos, banheiros químicos de péssima qualidade, entre outras coisas. O que nos resta então é irmos atrás dos pontos a favor.
E quem se aventurou em pegar a estrada rumo a Paulínia, para o SWU, certamente deve ter encontrado os seus, se não, deveria. Eu encontrei os meus.
E como um velho garimpeiro indie que sou, consegui encontrar varias pepitas de ouro no meio do lamaçal que se transformou o ultimo dia de festival. Pepitas essas que se não me deixaram milionário do dia para a noite, me deixarão com um sorriso nos lábios por um bom tempo.
Das atrações que eu havia programado para assistir somente a apresentação do Ash passou batido, culpa da total falta de informações que não encontramos dentro do espaço em que o evento foi realizado.
Se era para não cortar mais arvores o motivo que eles não fizeram distribuíram um programa com horários e mapas para nos localizarmos, o certo seria ter ao menos um painel luminoso, posicionado em um lugar estratégico, passando essas informações ao publico que se notava meio perdido.
No mais, foi super digna a despedida? dos veteranos do Sonic Youth, que enceraram a sua apresentação de uma forma sublime com Teen Age Riot, um verdadeiro hino dos chamados bons sons.
E ainda deixou muita gente na duvida de quem foi a decisão pela separação do ex casal Kim Gordon e Thurston Moore, já que os dois pareciam não estar nada bem, mas que de forma nenhuma prejudicou o bom andamento de um dos melhores shows que eles fizeram por aqui.
Teve a ótima performance do Black Rebel Motorcycle Club, que em um show sem firulas, tocando pesado e acelerado, mostrando que não precisa habitar um palco e que com somente três integrantes, com destaque para a linda baterista Leah Shapiro, que deixou a apresentação mais bonita, se pode sim, fazer um excelente show de rock.
Misturando seus hits com musicas menos conhecidas, sem esboçar sorrisos, e sem gritar erradamente o nome da cidade em que estavam tocando, o BRMC ganhou o publico, aqueles que estavam ali para vê-los e aqueles que estavam ali por acaso.
No final da apresentação, o baixista Peter Hayes desceu próximo a platéia-torcida e bateu no peito como se tivesse ganho um campeonato.
Mas a pedra mais preciosa desta garimpagem sem duvida foi a apresentação da psicodélica banda texana Black Angels, foi o momento em que mais choveu e o que menos me molhou.
Foi no palco New Stage, onde o piso estava mais castigado, mas não foi motivo de sair um minuto sequer da frente do palco.
Com seus delays e reverbs e sem medo de exagerar em efeitos barulhentos nos vocais, o quinteto de Austin, mostrou, na sua primeira apresentação por aqui, um cartão de visita que uma banda pode fazer o publico viajar alem da sonoridade, com imagens.
No telão atrás do palco era mostrado vídeos antigos e desbotados que faziam um acompanhamento mágico a cada musica executada pela banda, dando a elas um efeito maravilhoso.
Algo que não é muito utilizado, principalmente em festivais, em que muitas das bandas nem se preocupam em colocar o próprio nome escrito em um pano para identificá-los.
Se levarmos em consideração que todos os produtos da banda que estavam sendo vendidos nos postos oficiais, camisetas, cds e os discos de vinil, foram todos vendidos, a apresentação deles foram mais do que bem aceitas.
Eu que havia desarmado meu espírito e voltei para casa de alma lavada.
Ps. Em um festival cujo o mote é a sustentabilidade, não pode haver desperdícios assim:
The Black Angels – Telephone
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=d52ivtvhyDY[/youtube]