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O ARREPENDIMENTO DE FELIPÃO

Que Felipão reuniu um grupo de jornalistas dia desses para esclarecer algumas situações da preparação da seleção e pontuar outros, todo mundo já está careca de saber.

Fez certo o Bigode?

A meu ver, não fez errado. O que é diferente de ter feito o certo. Complicado? Explico.

Reunir jornalistas para conversas informais em meio a competições não é novidade, nem mesmo em se tratando de Felipão. Parreira já fez, Tele já fez. Se o intuito é colocar a par da situação e bater um papo, não há problemas. Se for para pautar a imprensa, sim. Se for para clamar por um “jornalismo parça”, tá errado ele e quem aceitar fazê-lo.

Não parece ter sido isso. Então legal, prossigamos.

Chegamos então às impressões dessa conversa toda. Vendo ontem o Linha de Passe, da ESPN, PVC, um dos jornalistas presentes na reunião, disse que Felipão deixou escapar que havia se arrependido de convocar somente um jogador entre os 23 que buscam o hexa.

Depois de todo o parto da classificação contra o Chile, os choros por todos os cantos, tremedeiras nas penalidades, o líder da equipe tornar isso público é erro crasso. Não para Neymar, David Luiz, Hulk, Julio Cesar, Oscar e alguns que são peças fundamentais desse time, mesmo que não estejam jogando bem. Mas pense em como pode receber uma informação dessa um Hernanes da vida? Jogador que sequer é cogitado para entrar ao longo das partidas, mesmo a disposição tática do time muitas vezes implorar por um jogador com suas qualificações.

Paulinho está mal, entra Fernandinho, Ramirez, William, entra até Henrique, improvisado, mas nunca o jogador da Inter de Milão.

Se me perguntarem se eu acho que seja ele o arrependimento de Felipão, eu vos respondo que sim, acho que seja. Mas se não for ele, alguém será. E essa dúvida pairando em um ar pesado como tem sido dessa seleção, jovem seleção, com um peso de 200 milhões de cornetas nas costas, não tem como reverberar bem.

Não sei se existe alguma tática scolariana genial nesse contexto todo e que eu não esteja conseguindo captar. Não duvido, conheço bem o trabalho de Felipão e não me surpreenderia ser surpreendido por ele. Mas sem o viés da conspiração, não consigo entender onde tornar essa informação pública possa beneficiar essa assustada equipe.

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O jogo contra o Chile aconteceu no sábado, às 13:00. O time voltou a trabalhar hoje, quarta-feira, antevéspera do jogo contra a Colômbia. Imaginemos terem sido usados esses dias sem trabalho de campo para recuperar o moral do time. Ainda assim, dos cinco dias que teria para acertar o time em campo, a CT abdicou de metade deles para “descanso”.

Se não me parece momento apropriado para declarações desnecessárias, menos ainda para descansar mais do que trabalhar.

Espero me enganar, claro. Mas enquanto espero, vou achando tudo isso muito errado.quem será

EXISTE TRABALHO SENDO FEITO

Da conquista da Copa das Confederações por parte da seleção da CBF, muitas ponderações podem e devem ser feitas, muita coisa ganha espaço, exceto o pachequismo e o desdém ao adversário. Sobretudo em uma época em que o levante popular por buscas de melhorias em searas tão mais importantes que as do futebol nos dá a sensação de vivermos o despertar de uma geração mais crítica e analítica, que deixou de aceitar o pão e circo, bem como o de viver o factível, ante as suposições e os achismos oportunistas. Devemos sim usar dessa nova maneira de enxergar a vida para aplicar ao nosso esporte tão amado.

O tom da crítica ao trabalho realizado até a final do último domingo se deu dentro daquilo que víamos em campo e também fora dele. Ao analisar o jogo jogado dentro de campo, não estamos excluindo a necessidade de continuar de olho nos trâmites do jogo de interesse jogado fora dele. A realização das Copas com suas obras faraônicas sustentadas com dinheiro público continuam, não mudaram em nada. Mas o jogo do time de amarelo praticado no campo de jogo, sim. E é esse o tocante de hoje.

Desdenhar da Espanha é uma tremenda burrice. Seja você um pacheco assumido ou alguém mais contido. Ao diminuir os feitos espanhois nos últimos anos, joga-se por terra qualquer mérito enxergado no time de Felipão. Afinal, a seleção cebeéfiana triturou os atuais campeões mundiais, os bicampeões europeus, que vinham de uma longa e merecedora invencibilidade.

Ponderações acerca da condição física com que os espanhóis chegaram para enfrentar os brasileiros são justas, mas não eliminam o ótimo jogo de Neymar e cia. O time do Felipão variou taticamente. Da marcação pressão implacável nos primeiros minutos, passando pela atuação da dupla de volantes que anulou Xavi e Iniesta, chegando ao perfeito jogo tático de Hulk e Oscar. Recuou quando necessário, fazendo uso enfático de um contra ataque mortal, sobretudo pela esquerda com Marcelo e o genial Neymar. Impossibilitou a fluência do jogo espanhol, que mesmo quando teve posse de bola, pouco ou quase nada produziu. E quando o fez, como no quase gol de Pedro – na única grande jogada do ainda melhor time do mundo – encontrou uma barreira intransponível formada por um revigorado Julio Cesar e uma dupla de zagueiros fenomenal com Thiago Silva e um exuberante David Luiz, que foi ao lado de Neymar e Fred o grande nome da final. Perfeito na marcação, implacável na cobertura e preciso nas antecipações.

Não cabe mais desconfianças a respeito da condição técnica de extraterrestre de Neymar. Se nos times de Mano Menezes e mesmo no início de trabalho de Felipão, sem padrão tático, o cara já era o artilheiro isolado, bastou o acerto do time para que ele enfim brilhasse como dele sempre se espera. Melhor jogador do torneio, autor dos mais belos e decisivos tentos. Incontestável!

O time da CBF termina a Copa das Confederações bem mais bonito. Mas pés no chão são mais que necessários. O resultado não serve para transformar esse no melhor time do mundo. Ele não é, ainda. Espanha e Alemanha continuam alguns passos adiante, com trabalhos muito mais consistentes que este iniciado por Felipão. O título em uma Copa como esta também não é parâmetro para projeções. Nenhuma seleção campeã do torneio repetiu o feito na Copa do Mundo a seguir. O próprio time da CBF de Parreira e depois de Dunga nos serve de espelho. E mesmo esse time de Felipão oscila muito. De bons jogos contra Japão e Itália, a um péssimo diante dos uruguaios e depois um jogo brilhante diante dos espanhóis.

Por ora o que fica é isso. Existe trabalho sendo feito. Ele é bom e tende a ficar ainda melhor.

 

neymarfred

 

TRISTE E INTERMINÁVEL QUINTA-FEIRA

Não foi somente mais uma das tão corriqueiras derrotas. Foi uma derrota da alma alviverde. O desmantelamento de uma das mais significativas e emblemáticas bandeiras de um clube tão recheado delas em seu passado. Com ínfimas em seu presente.

Não questiono a necessidade da demissão. Algo precisava ser feito pra ontem. Não sei se demiti-lo. Juro por Deus que ainda não sei.

Nas parcas palavras que me utilizei nessa infeliz quinta-feira, nenhuma foi capaz de me nortear.

O sentimento é de ultraje. É de perda. É como se eu – sim, eu! – tivesse cometido a maior injustiça da minha vida.

Cada um que grita “Palmeiras minha vida é você!” assina sua parcela de colaboração na vida do Palmeiras. Talvez isso explique meu sentimento.

É como se eu tivesse dado as costas para alguém que tão bem proporcionou a minha vida, ao meu mundo.

Ele nunca marcou gols, nunca fez defesas milagrosas. Mas ainda assim é muito mais importante do que todos os ídolos de vidro que ousam hoje sugerir ao mundo que escreveram ou escrevem páginas gloriosas do meu alviverde imponente.

Seu retorno em 2010 foi tão festejado quanto hoje está sendo dolorosa sua despedida. Talvez para sempre.

Nesse período convivemos muito mais com as tristezas do que com as alegrias. Mas ainda assim o breve período de alegria já foi maior que tudo o que seus antecessores puderam nos oferecer. Só não superando as alegrias que ele mesmo já havia nos dado 12 anos no passado.

Nunca imaginei que as palavras “demissão”, “Felipão” e “Palmeiras” fossem alguma vez ser utilizadas pelos noticiários na mesma mensagem. Nunca pensei que eu estaria aqui neste momento escrevendo essa carta de despedida ao meu grande comandante.

Poucos foram tão Palmeiras na vida. E com ele o Palmeiras pode muitas vezes ser de fato Palmeiras. Ainda que não estivesse sendo.

Independente do merecimento da ocasião. Scolari não merecia isso da vida. O Palmeiras não merece passar pelo que passa. E eu não sei até agora por que estou aqui me sentindo tão mal e me penitenciando por algo que se dependesse de mim nunca teria chegado onde chegou.

Volto a frisar. Não sei se acho correta ou não a demissão. Só sei que eu gostaria que nada disso tivesse acontecido

Essa quinta-feira será longa e triste.

Obrigado por sempre, Felipão!

COM SCOLARI EM PORTUGAL, PALMEIRAS PERDE NA CASA PORTUGUESA

Com Felipão em Portugal acompanhando o casamento do filho, o Palmeiras perdeu em casa para o Fluminense por 2X1. Esse “1” fruto de um dos pênaltis mais mandrakes dos últimos tempos. Ainda assim o Palmeiras segue sendo o time mais prejudicado pela arbitragem entre os 20 da série A, segundo alguns levantamentos do site Placar Real (http://placarreal.com.br/index.asp).

A cronologia dos fatos é ingrata demais com o clube. A viagem a Portugal está acertada entre técnico e direção desde fevereiro, mas o momento em que ela acontece é de uma infelicidade tremenda. A chiadeira interna e externa que já era monstruosa, parece agora beirar o insuportável.

Felipão tem larga culpa no cartório pela situação do time. Ao contrário do que muitos dizem, ele não tem tirado leite de pedra. Até tirou em determinado momento da temporada, hoje não mais. O time ocupa uma posição que condiz com o status técnico e moral da equipe, o que não aponta mérito algum do treinador. Entretanto é bom frisar que as pedras do elenco não foram exatamente aquelas pedidas por ele no início da temporada. Diz a boca pequena que Felipão entregou uma lista com 4 ou 5 nomes por posição carente, elencados do 1º ao 4º ou 5º de acordo com a preferência do treinador e em todos os casos lhe foi dado o 4º ou 5º da lista.

No discurso da direção e do próprio técnico o trabalho segue normalmente em 2012, inclusive já com uma lista de indicações de Felipão. A diretoria tem prometido abrir os cofres e trazer, no mínimo, 3 jogadores de peso. Mas em relação a Kleber o discurso não parece afiado. Enquanto Felipão e Frizzo dizem que o ciclo do jogador no Palmeiras terminou, Tirone afirma que ainda haverá uma reunião para buscar uma melhor solução, onde a possibilidade de reintegrá-lo existe.

Como eu já havia dito na semana passada, entendo nesse discurso de Tirone muito mais uma manobra para evitar dar a Pepe Dioguardi e Kleber argumentos que possam usar para uma quebra de contrato sem pagamento de multa, sem que o clube recupere o valor investido. Não acho que seja possível ver Kleber e Felipão se aturando no mesmo time. A não ser que na verdade o discurso de Tirone aponte para um rompimento amigável com Felipão ao término do BR11. O próprio treinador já deixou essa possibilidade aberta, sem pagamento de multa para ambos os lados. Ao que tudo indica, a grande maioria do elenco demonstra maior afinidade com o camisa 30 do que com Scolari. Embora São Marcos não pense da mesma forma.

Mas a realidade é que Felipão não quer sair. Tem um salário fantástico, mora muito próximo ao CT, já trouxe a família para viver em São Paulo e ele sabe que nenhum outro clube lhe dará um salário compatível e nem mesmo a manutenção de seu trabalho caso os resultados não apareçam, como não vem aparecendo no Palmeiras.

Fato é que a “família Scolari” dessa vez não emplacou. Se “papai” Scolari continuar em 2012, os filhos certamente serão outros. Embora seja complicado se desfazer de todas as “ovelhas negras”.

Tenho algumas teses em relação ao Palmeiras que podem soar polêmicas demais, mas prefiro deixá-las para outra coluna, em outro momento.

O que quero sim trazer aos leitores foi a experiência que tive no sábado. Dentro do curso de Radiojornalismo Esportivo que estou cursando e que é ministrado pelo excelente Alexandre Praetzel, da Rádio Bandeirantes, tive a chance de participar de uma coletiva com a lenda viva, Profº Valdir Joaquim de Moraes. Figura íntegra, um legítimo gentleman das eras de ouro do futebol, das épocas mágicas do Palmeiras. Ao final da coletiva, tive o prazer de trocar meia dúzia de palavras com ele e tive uma aula de humildade que por pouco não me levou as lágrimas. Na verdade levou, mas estas ficaram contidas na alma. O diálogo foi mais ou menos assim:

-Sr Valdir, podemos tirar uma foto?

-Claro, filho.

-É uma satisfação enorme estar ao lado de uma lenda viva como o Senhor.

-Que isso filho. Isso que vocês fazem aqui comigo faz eu me sentir importante.

Incrédulo e já segurando a emoção:

-Mas o Senhor é importante.

E ele pode tranquilamente dar lição de moral em todo o elenco do atual Palmeiras (exceto no Marcão, o qual o próprio disse ser uma raríssima personalidade e que poderia se juntar ao Profº na lição aos pequenos de história do atual elenco).

Despeço-me da camaradagem feroz que me acompanha com um petardo do Stone Roses – Sally Cinnamon:

Cheers,