Na medida em que tenta ser exemplo fora de campo, o futebol brasileiro deixa de ser o exemplo dentro dele.
Fora de campo com suas readequações estruturais, reposicionamentos econômicos, medidas que afastam o antigo torcedor e trazem uma nova plateia aos estádios. Tenta com ações “politicamente corretas” transformar o futebol em ferramenta de adequação moral. O que ele até pode ser, mas não necessariamente perdendo suas características históricas.
Nessa seara, a conversa do dia é a possível punição que o STJD pode aplicar ao meia Valdívia. Tudo por conta de sua assumida tentativa em receber o terceiro cartão amarelo para ficar de fora de um jogo onde o Palmeiras já não contaria com seu principal jogador, por conta de sua apresentação à seleção chilena.
É um exemplo de moralidade e conduta social a ser aplicado por pais de família? Não. O chileno vacilou ao assumir a intenção? Sim e não. Sim, por ser essa uma prática tão antiga quanto a regra dos cartões e que quase nunca ou nunca mesmo tenha dado ao “infrator” qualquer tipo de penalização, mas geralmente por ser também mascarada pela boleirada com a sabida malandragem. Ele não a teve. Ou a teve e se teve, pode ser que não tenha errado tanto assim. Ao assumir deliberadamente a tentativa, o camisa 10 trabalhou com uma característica pouco aplicada pela cena do boleiro: a sinceridade.
Pode ter sido por conduta própria, mas pode perfeitamente ser pelo conhecido descaso com que os órgãos regulamentadores do esporte bretão costumam ter com esse tipo de prática. Por uma simples questão de retórica.
Valdívia pode ser pego de bode expiatório para servir de exemplo em um mundo onde o exemplo contrário está ai aos montes para quem tiver bons olhos de ver.
Bons olhos de ver que também devem servir ao torcedor para enxergar a amostragem mais pura do atual (baixo) nível do certame nacional. O exemplo abaixo tornou-se regra, mas não há muito como fugir dele.
Há duas semanas o Santos trouxe para a baixada santista um pacote de 8 gols made in Barcelona. Um assombro ao mundo, uma afronta à história do Peixe, a certeza de que esse time alvinegro estaria fadado ao descenso ao término desta temporada. Duas semanas depois e o mesmo Santos empatou contra o campeão mundial, em uma partida onde esteve muito mais próximo da vitória. Na sequencia enfrentou o atual líder do BR13, na casa do adversário e trouxe de lá um empate.
Óbvio que cada jogo é uma história, cada competição tem a sua particularidade. Mas o desenrolar desses jogos não deixa muita margem para dúvidas. O mesmo time que levou 8 gols e foi humilhado perante o mundo, encarou de igual e poderia ter vencido duas das equipes mais qualificadas do país poucos dias depois.
Qual é a realidade que isso nos mostra? O time santista comeu uma feijoada antes de entrar em campo contra o Barcelona ou o nível do futebol brasileiro é de uma pobreza poucas vezes vista?
A distância entre os times na tabela de nossa competição nacional, bem como os jogos equilibrados entre a galera do G4 contra a do Z4 me dá a certeza de ser a segunda a realidade aplicada. Uma tristeza.