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NO RECIFE, PAUL MCCARTNEY EMOCIONA UM POVO ARRETADO

Por Tiago Pimentel

Ainda sem voz, e ainda atônito por ter visto o concerto de um ídolo, tento nessas parcas linhas imprimir minhas impressões da noite de 21 de abril de 2012.

Para um público de cerca de 50000 pessoas, o ex-beatle Paul McCartney realizou o primeiro de dois shows na capital pernambucana, parte da turnê On The Run, que também passará por Floripa.

O local escolhido foi o Mundão do Arruda, estádio do queridíssimo Santa Cruz, que ficou tomado por gente de todos os estados do Norte e Nordeste. Apesar do pequeno atraso para a abertura dos portões, o evento ocorreu sem problemas, provando que a capital pernambucana está preparada para eventos desse porte, inclusive na questão do transporte, já que foi criada uma linha de ônibus especial para o show.

Dentro do estádio a ansiedade crescia na medida em que a hora do show se aproximava. Por volta de 21: 10, o telão passou a exibir uma sequência de imagens de diversos momentos da carreira de Paul McCartney, ao som de várias canções dos Beatles (teve até a versão de Stevie Wonder para “We Can’t Work it Out”). Cerca de vinte depois uma vinheta dizendo que ‘in the end the love you take is equal to the love you make” indicavam que chegara o tão esperado momento. A apresentação começou com “Magical Mistery Tour”, seguida por “Junior’s Farm” e “All My Loving”. Durante todo o show, Paul, um verdadeiro gentleman, saldou a plateia pernambucana (“povo arretado”), se esforçando para se comunicar em português.

A apresentação seguiu alternando canções dos Beatles, do Wings, e da carreira solo, enquanto um suado Sir Paul tocava baixo, guitarra, violão, piano, e arriscou até um ukelelê em “Something”, uma homenagem a George Harrison. Vale ressaltar o vigor físico do quase septagenário Paul McCartney, que levou as três horas de apresentação como se ainda fosse um garoto tocando no Cavern. E como ainda canta bem esse garoto!

Muito embora a platéia respondesse melhor às canções dos Beatles, as músicas do Wings funcionam muito bem ao vivo. “Jet”, ainda no começo do show, foi um petardo. “Band on the Run” foi sublime.

Fizeram parte do repertório – de quase 40 canções –  “Got To Get You Into My Life”, “Let me Roll It” (linda!), “Live and Let Die” (com show pirotécnico), entre outras.  Canções como “Blackbird”, “Here Today” e a nova “My Valentine”, deram um toque intimista para determinados momentos do concerto. Também teve “Maybe I’m Amazed”, que ao vivo é de arrepiar. A primeira parte do show foi encerrada com “Hey Jude”, momento em que o Arruda entoou em uníssono o famoso “nananana”.

Para o bis, Paul entrou no palco empunhando uma bandeira de Pernambuco. O público, ou “povo arretado”, que já estava em sua mão, nesse momento vibrou como se fosse um gol da seleção brasileira numa final de Copa de Mundo contra a Argentina. O bis foi todo composto por canções dos Beatles. Teve “Day Triper”, “Get Back”, “Yesterday” e uma execução sensacional de “Helter Skelter”. Para finalizar, Paul e sua banda tocaram a sequencia “Golden Slumbers/Carry that Weight/The End”.

Os músicos que acompanham Paul há mais de uma década também merecem reverência. Composta por Abe Laboriel Jr (bateria), Paul Wickens (teclados), Rusty Anderson (guitarra) e Brian Ray (guitarra e baixo), a banda apresenta, além da técnica refinada, um entrosamento monstruoso, daqueles em que os músicos se comunicam com uma simples troca de olhares.

Ponto interessante da noite foi o público. Como é de se esperar, havia gente de todas as idades, famílias inteiras. E havia parcela considerável que não conhecia a fundo o trabalho de McCartney, mas não queria perder o show de um ex-beatle. Eu poderia aqui reclamar dessas pessoas, a exemplo das resenhas da Folha de São Paulo e da Rolling Stone. De fato, o público não cantou todas as músicas, mas por outro lado, arrisco a dizer que essa parcela do público foi a mais tocada pela apresentação. Quem é fã, de certa forma, já sabia o que esperar. Esse público que, digamos assim, caiu de para-quedas no Arruda, levou um solavando e saiu de lá com um sorrisão de orelha a orelha. Um comentário que eu pesquei na saída do Estádio resume bem esse sentimento: “nem conhecia direito, mas foi o melhor show que já vi.”

Quem pode estar no Arruda, ou esteve nas recentes apresentações dele em terras brasileiras, sabe que palavras são insuficientes para descrever tamanha emoção, mas tomo emprestado , para finalizar, um trecho de uma das canções do show: “I can’t tell you how I feel/My heart is like a Wheel/Let me Roll it”