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A TRISTE HISTÓRIA DO MENINO DA RUA TURIASSÚ

No ano de 1914 nascia um menino franzino, filho de imigrantes italianos, morador do bairro da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.

Sua infância foi difícil. Porém, ainda criança ganhou prestígio entre os colegas de escola. Na adolescência, rapidamente tornou-se importante. Imponente. Bonito e bem nutrido, chamava a atenção de todos por onde passava.

Em 1942, um marco. Foi separado à força dos pais, devido a 2ª Guerra Mundial. No mesmo dia, uma mãe brasileira o adotou e lhe deu um novo nome. Uma nova identidade. A partir dali, sua grandeza seria sinônimo de glórias. Formou-se em duas acadêmias, ensinando a todo povo tupiniquim uma nova forma de desempenhar um esporte. De se enxergar este esporte.

Já rico e famoso, após anos de domínio, a idade foi chegando e a escassez de glórias se instaurando. Embora ainda saiba ser brasileiro como poucos, sua família de italianos sempre costumou ser a pedra em seu sapato.

Nos anos 90, devido a um tratamento profissional, voltou aos holofotes. Ganhou vida. Novos fãs surgiam na mesma medida em que ganhava prêmios por sua conduta dentro de sua área de atuação. Emplacou quase dez anos como protagonista. Parecia estar de volta na praça.

O tal tratamento acabou e a verdade veio à tona: a família interesseira, aquela que sempre desfrutou de seus louros, fingiam não saber que o filho estava doente desde o fim dos anos 70.

O século 21 chegou e, para a tristeza de milhões, nosso herói foi internado. Em 2002, quase morreu. Entrou em coma, mas acordou um ano depois. Rejuvenecido, parecia ser capaz de voltar a triunfar.

Entre alguns sustos e recaídas, brilhou um pouco em 2008, na cidade onde sempre foi rei. Entretanto, os cuidados médicos novamente não foram suficientes e, ele fez algumas visitas ao hospital, para exames rotineiros.

Um ano depois, brigou de frente contra todos os rivais nacionais pelo posto de melhor do país. Quase chegou lá. Mas sucumbiu de forma vexatória.

De 2009 a 2012 ficou inoperante, deitado na cama, vendo o tempo passar.

Em 2012, foi do céu ao inferno em pouco tempo e acabou sofrendo outro infarto. Outro coma. Desta vez, mais grave. Com séquelas irreparáveis. Principalmente na alma.

Muitos acreditam que essa doença crônica seja por conta daqueles que nunca tomaram conta dele. Aqueles que veêm o “ragazzo” apenas como uma vitrine para manter os interesses da grande família. Uma família de grandes empresários, grandes senhores, grandes sangue-sugas.

Mesquinhos e praticantes da política do amadorismo, seus tios, primos e netos, sequer, conseguem administrar a herança deixada pelo filho nos arcervos da história. A cada ano, a cada investimento falho, a ferida cresce, tornando-se cada vez mais irreversível. Para não dizer incurável.

Em 2013, próximo de seu aniversário, despertou do sono profundo nos confins de um inferno que tem a sigla B. Entretanto, os entraves famíliares se indispunham novamente em seu caminho, impedindo sua evolução. Seu progresso.

Sempre que ia ao salão de festas alugado onde já fomos felizes juntos, notei que todos estavam lá. Menos ele. Afinal, esse que veste um verde desbotado não é o mesmo gigante de outros tempos. De outros verdes. Verdes tempos em que a cor esmeraldina significava esperança, glórias e grandeza. Não melancolia. Tristeza profunda. Desespero retumbante.

Atualmente, o centenário filho dos italianos da Turiassú encontra-se enfermo. Vários especialistas já tentaram curá-lo. Alguns até estrangeiros, como, recentemente, o doutor argentino, Ricardo Gareca. Todos falharam e deixaram o CT da Barra Funda sem entender direito as razões que assolam o velho-menino vencedor.

Nem mesmo aqueles que torcem a cada dia por sua recuperação sabem direito o que acontece. Por outro lado, sabem que não podem desistir. Sabem que, mesmo após goleadas, desclassificações e rebaixamentos, sempre estarão lá, prontos para uma visita íntima. Para um ombro amigo. Para um apoio incodicional. Regado à fé das cores que nos personificam e caracterizam.

As inúmeras e, seguidas, mazelas políticas colocam o clube num patamar impensável. Inaceitável. O apequenamento de ideias e ideais é refletido em campo, onde o Palmeiras é presa fácil aos seus rivais. Tanto dentro, como fora das quatro linhas. Não somos mais respeitados. Nem a nossa camisa pesa ao ponto de produzir milagres. Envergar varais.

Após mais uma temporada inglória nesses 100 anos de glórias, sabemos que o molecote nascido em agosto de 1914 hoje não se reconhece mais. E o motivo não são os 100 anos. São os 100 vergonhas. Os 100 noção. Que em 2015 estarão lá de novo. Sem o novo. E, nós, novamente, sem o Palmeiras.

Luigi Cervo, Vicenzo Ragognetti, Ezequiel De Simone e Emanuelle Marzo, os caras que começaram tudo isso. (Créditos: www.geraldinos.com.br)
Luigi Cervo, Vicenzo Ragognetti, Ezequiel De Simone e Emanuelle Marzo, os caras que começaram tudo isso. (Créditos: Os Geraldinos)

UM LINDO PAINEL DE VISLUMBRES

O Allianz Parque parece um OVNI, uma enorme nave mãe prestes a decolar. É linda, tudo funciona, tudo sobressai aos olhos, tudo realça a expectativa de novos tempos.

Mas ao final do dia 19 de novembro ela não decolou, seu motor falhou. E olha que não faltou gente para empurrar. Os novos tempos vivem ainda no vislumbre. A realidade, no entanto, continua dura.

Se a estreia atabalhoada pelo momento do time foi eleitoreira, o tiro saiu pela culatra. E é essa a única explicação plausível para entender a razão de sua inauguração ontem, do jeito que foi, com o time do jeito que está, com o time que tem.

Não se pode e ninguém tem o direito de desmerecer a festa e a emoção do torcedor pelo retorno ao seu lugar no mundo. Pode-se preferir o antigo Palestra, mas o lugar é o mesmo, o canto é aquele de sempre e para sempre.

O Allianz Parque não apenas é o mais belo e moderno estádio de futebol do país, mas surge para o Palmeiras como um referencial de onde se pode e se deve querer chegar. Torna-lo palco de novas conquistas, de novos capítulos da magnitude do clube. Mas ele ainda é um painel de vislumbres. O time que joga nele está ainda com os dois pés fincados no retrocesso, na balburdia administrativa. Um protagonista muito aquém de seu palco.

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OBERDAN CATTANI – DOS GOLEIROS, O PRIMEIRO

Ontem, dia da Libertação Palmeirense, foi também dia de um dos maiores e mais significativos expoentes da grandeza do Imponente Palmeiras: Oberdan Cattani, o primogênito na honrosa e qualificada Escola de Goleiros Verde. O “arqueiro das mãos gigantes” comemorou sua 94ª primavera.

Nascido em Sorocaba, Oberdan chegou ao Palestra Itália em 1941, para a realização de um teste. Por mais que tenha sido vazado quatro vezes na peneira, no ano seguinte, o atleta que logo mais se tornaria ídolo, já defendia a meta do clube comemorando um título, o de campeão paulista.

Sem luvas, o eterno camisa 1, de estatura elevada e mãos capazes de parar Leônidas da Silva, um dos melhores atacantes da história do futebol brasileiro, foi peça fundamental nas conquistas de taças dos campeonatos paulista de 44, 47 e 50; do Torneio Rio- São Paulo de 51, além da Copa Rio do mesmo ano, este, segundo ele, o marco mais importante da história do Palmeiras.

Ao todo, foram quase duas décadas dedicadas com amor à camisa verde e branca. “Eu sempre tive muito carinho por essa camisa. Jogava machucado, com febre, sem unha, não importava. Valia qualquer sacrifício para defender o Verdão”, lembra, em entrevista concedida ao site Verdazzo, ano passado.

Além da conquista do “Mundial de 51”, Oberdan participou da partida histórica contra o São Paulo – na qual o Alviverde sagrou-se campeão -, que marcou o fim do Palestra Itália e o surgimento da Sociedade Esportiva Palmeiras. Para quem não sabe, o Verdão foi obrigado, em meio à Segunda Guerra Mundial, a mudar de identidade. Na época, nenhuma agremiação poderia levar consigo qualquer nome que lembrasse o país liderado naquele tempo por Benito Mussolini, aliado de Adolf Hitler no conflito.

Apesar dos 14 anos de ótimos serviços prestados ao Palmeiras, por imposição do então presidente, Pascoal Giuliano, Oberdan encerrou sua carreira no Juventus da Mooca. E esta decisão impediu que fosse realizada a honraria de um busto na entrada do Parque Antárctica. De acordo com o estatuto do clube, nenhum jogador que tivesse atuado contra o Palmeiras seria merecedor de tal homenagem.

Conselheiro vitalício e morador de uma casa verde, localizada no bairro da Pompéia, Zona Oeste de São Paulo, Oberdan segue sua vida de maneira tranquila, contando a todos que lhe cercam as memoráveis histórias dos tempos vindouros vividos intensamente com o manto palestrino.

Palmeirense e entusiasta do bom futebol, só me resta dizer:
94 vezes obrigado, Oberdan! Principalmente por dignificar esta camisa com suas defesas e, sobretudo, por abrir espaço para que outros pudessem usá-la. Dentre eles, um tal de São Marcos!

Vida longa ao nosso eterno camisa 1!

Oberdan Cattani, dos goleiros, o primeiro (Foto: site de todos os tempos)
Oberdan Cattani, dos goleiros, o primeiro (Foto: site Futebol de Todos Os Tempos)

 

[PALESTRA ITALIA.DOC] E BOAS NOVAS MUSICAIS

Sou mesmo um eterno e embasbacado apaixonado pelos dois assuntos que permeiam o Ferozes FC.

Novidades vindas desses dois mundos geralmente me deixam exaltado. O sangue ferve, a razão se esvaece. Portanto tomo mais uma vez a liberdade em exacerbar meus sentimentos referentes aos temas, as novidades.

E hoje são duas as novidades. Uma no futebol, outra na música.

Estréia hoje, no Museu do Futebol, o documentário “1º TEMPO”. O doc tem por objetivo traçar os 93 anos de história do estádio Palestra Italia, tendo como linha central o último jogo oficial realizado no antigo e já saudoso Palestra.

Dia 22 de maio de 2010 e eu lá estava, embebido e embebedando o senso crítico que por vezes me assolava com um “auto” discurso de que o fechamento viria por um bom motivo – ótimo, como hoje bem sabemos. Mas ali, diante do meu jardim suspenso, do meu palco de sonhos e realizações, em meio aos amados abraçados a causa da nossa amada residência do alviverde e imponente, a última coisa que eu queria ter era senso crítico. Pois bem, consegui deixá-lo na outra calça.

O momento do time não era dos melhores, como não vem sendo há tempos. Mas como num sopro de disposição, num resgate dos bons tempos de outrora, como numa comunhão de gênios do passado e bagres daquele presente, o time fez o que dele se espera sempre, o que dele a velha casa acostumou-se a abrigar – bom futebol, entrega verdadeira.

Os 4X2 que o antigo placar eletrônico apontava ao final da peleja era exatamente o que precisávamos para trazer de volta a tona o mote daquele 14 de setembro de 1942, na transformação do clube de Palestra Italia para Sociedade Esportiva Palmeiras. Era o gigante que morria vencendo e que irá renascer vencedor (“O Palestra morre líder e o Palmeiras nasce campeão”, no original). É o Palestra copiando o Palmeiras, na mais sublime das comunhões que a dupla pode gerar em todos nós.

Palestra Italia em 1921

E é exatamente onde o Doc tenta tocar o espectador.  Serve para toda a população paulistana, mas é certeiro no coração do alviverde. Em meio a alternância das imagens daquele jogo, depoimentos de algumas das bandeiras do Verdão: Oberdan, Cesar Maluco, Evair, São Marcos e as mudanças históricas que a região onde está localizado o Palestra sofreu, na mesma proporção em que o estádio adequava-se aos novos tempos.

“1º Tempo” tem a duração de 45 minutos e o próprio conceito já dá a certeza de que a continuação virá. Este, porém, contará a história do nascimento da nova Arena, o renascimento do Palestra eternamente Italia, convictamente Brasil. 2013 está logo aí. O “2º Tempo” dessa peleja eterna e histórica ganhará enfim sua continuação.

Recibo da COMPRA do Palestra Italia

Os dois docs fazem parte do projeto “Palestra Italia.Doc”.

Que ganhem então novos e vitoriosos capítulos o doc. Capítulos que corroborem com a sina vitoriosa dos mais de 96 anos de história do Palmeiras e dos 93 do Palestra.

O doc “1º Tempo” foi produzido pela OKA Comunicações.

Veja o trailer:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=knrtZb6_GPU[/youtube]

 

A novidade musical a qual me refiro na introdução é a confirmação do show da banda Beady Eye no Festival Planeta Terra.

Para muitos um braço do que foi o Oasis, sem Noel Gallagher. Para mim a afirmação de que apesar da genialidade do guitarrista e compositor da espetacular banda de Manchester, seu irmão Liam Gallagher pode dar continuidade a sua vida pelas estradas do rock n roll com muita competência.

Marrento, encrenqueiro, bom bebedor de cerveja e fã confesso de futebol – é fanático torcedor do City, de Manchester – Liam Gallagher é a síntese de tudo o que o Ferozes FC tenta promover. Além de ser uma das vozes dos anos 90.

Voz marcante, mas que infelizmente não esteve plenamente em forma nas duas apresentações do Oasis em que estive presente, em 2006 e 2009. Desde que o Beady Eye saiu em turnê é notório o quanto ele tem se destacado nos mics. Não sei se batalhou para isso, até para provar que sem o Noel as coisas podem caminhar bem ou se foi obra do destino.

Sou fã confesso do Oasis. É das bandas que ao longo dos anos moldaram meu perfil musical, certamente também o comportamental, para o bem e para o mal.

O disco de lançamento do Beady Eye, “Different Gear Still Speeding”, traz uma sonoridade sessentista, que não tenta em momento algum soar como uma banda contemporânea. Soa rock n roll, simples e puro.

Tem momentos de Oasis sim, como em “The Roller”, faixa composta por Liam Gallagher e oferecida para constar em algum dos últimos discos do Oasis, mas que fora rechaçada por Noel. O Beady Eye a aproveitou muito bem e a faixa tornou-se carro chefe na divulgação do disco.

A presença do Beady Eye no line-up do Festival Planeta Terra fortalece um time que já vinha jogando no ataque desde a confirmação dos Strokes, e dá mais ainda a certeza de tratar-se do melhor festival do país. Em termos de organização, nunca restaram dúvidas. Os line-ups fortalecem essa afirmação também na questão musical.

Ouça “Beatles & Stones”, do Beady Eye:

 

Cheers,

Palestra Italia – Um sentimento que em todos nós se fortalece.

Vou falar de um amor. Do nosso. O maior amor de nossas vidas. De nossas vidas alviverdes.

Amores cada um tem os seus. Mas existe um único que é verde e de todos nós. Um amor inexplicável, enorme, infinitamente crescente, independente de fase, de momento, de time. Um amor gigantesco que nos abraçou desde o nascimento, talvez já determinado antes disso.

Amor – a palavra. É ela que explica o abraço coletivo, de milhões, de cada um que compõe esses milhões.

O Palmeiras é o amor da minha vida que eu compartilho com todos os verdes do mundo. Com os 20 mil que se despediram de nosso teto, de nosso território, de nossa casa, de nosso santuário. Dos 20 mil vezes milhões em suas casas, com seus ouvidos no radinho, com os olhos na TV, com o coração na boca, com o Palmeiras na alma.

A fase não é da melhores. E daí?

Quem é que tem o privilégio de ter um Palmeiras na vida?

Só quem tem o Palmeiras em sua vida sabe dar o valor as nossas histórias, aos nossos ídolos, a nossa casa. Suada casa. Histórica. Memorável. Palco de lindas passagens, de outras nem tanto. Mas ela é nossa. Muito nossa.

Assim como eu tenho, acredito que cada um dos verdes do mundo tem o seu canto no Palestra. Ou tem todos. Todos têm o Palestra acolhedor. Lindo, simpático, único. Só nosso.

Na despedida vencemos o imortal por 4X2 em nosso território eterno.

Mas cadê a crise? Que crise?

Imortal é o sentimento que nos conduz. Imortal é a razão desse sentimento.

Aqui é Palmeiras! Aqui é “Parmera!”, como dizia o meu saudoso e corintianissimo avô Tozzo. Aqui é Palestra – Italia.

Ouvindo narrações do Pai do Gol eu escrevo essa coluna. Passagens históricas. De “Paulistinhas” (como dizem alguns adversários). De Brasileirões. De Copas. De Libertadores. Aliás, Paulistinha “aqui para vocês!”. É Paulistão. Com o coração aberto. Enorme, orgulhoso. Sendo verde, sendo Palmeiras.

A saudosa casa fecha. Irá reabrir linda, moderna, do tamanho de seu proprietário. Do tamanho dos que a abraçam. Ela irá reabrir nossa. Como sempre foi. Como sempre será.

O velho Palestra não sai de cena. Sai de férias. Sai de foco. Não tem inferno de sapo nenhum por lá. Tem emblema. Tem torcida. Tem Palmeiras.

Não sai de cena. Não sai da minha cabeça. Não se desprende do meu coração.

Está nas emocionadas lagrimas que se desprendem dos olhos desse fanfarrão que lhes descreve essa epopéia. Das que saíram ontem dos olhos do meu sobrinho Fellipe. Palestrinamente educado. Da minha sobrinha Babi. Do meu pai Gilberto, que ao lado da tia Rita continua acompanhando o nosso Palmeiras lá do céu. Da tia Nenê. Do tio Jura. De toda a minha estirpe palestrina.

Nosso Palestra Italia irá seguir sua sina. Seguirá crescente. Como o time que nele desfila os seus encantos. Como o sentimento que em nós todos se fortalece.