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O MEDO DE PERDER SUPRIMIU A VONTADE DE GANHAR

No 1° post ainda no dia da fatídica final do Mundial tentei resumir o sentimento de cada santista e procurei enaltecer a força do adversário e a história belíssima do Santos Futebol Clube que não será minimizada por essa derrota.

Hoje com a cabeça mais fresca, porém com a mesma desolação tentarei ser mais pragmático e destrincharei cada personagem que esteve em campo frente ao Barcelona.

Sinceramente a dor maior não foi o placar, ou a derrota em si, já que a superioridade do Barça era evidente. A forma como Santos atuou em uma partida esperada há mais de 48 anos pelos torcedores que motiva minha tristeza e isso certamente foi como uma facada no coração de cada santista que mal conseguia dormir de tanta ansiedade, que lotou o aeroporto no embarque do time e cantou sem cessar no estádio de Yokohama e que ao ver o Santos passivo e inofensivo a todo futebol imposto pelo Barça sofreu como nunca e como sofreu…

Talvez houvesse poucas armas para lutar contra uma equipe tão qualificada, porém dificultar o inevitável era o mínimo que os apaixonados por esse clube tão grandioso esperavam. Faltou um carrinho na bola, um grito na orelha do adversário, um zagueiro que comesse grama, um técnico que esbravejasse, um drible ousado e é óbvio que tudo isso provavelmente não brecasse o Barcelona, mas o recado seria dado e mundo inteiro veria quem estava do outro lado, o respeitado Santos Futebol Clube.

As 11 camisas brancas que desfilavam pelas relvas do mundo inteiro e que um dia eram admiradas assim como o Barcelona é pela nossa geração, ontem estavam vestidas por jogadores apáticos e sem brio que tiveram tanto medo de perder que simplesmente esmagaram a vontade de ganhar. Não quero crucificar nenhum deles, pois são seres humanos que também erram e se afligem, mas na partida da vida deles não souberam como ratificar a grandeza deste clube.
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Abaixo um breve comentário e uma nota sobre cada personagem do Santos:

RAFAEL – Simplesmente o melhor santista em campo, se a sua garra contagiasse o time inteiro, talvez a história fosse outra.
Obrigado guerreiro ! Você foi o relampejo de raça e talento que consagraram esse gigante chamado Santos. — Nota: DEZ !

DANILOSempre foi o ”cara” dos gols decisivos, mas ontem sofreu uma lesão e não pode mostrar muita coisa. — Nota: 4,0

EDU DRACENA – Faltou a liderança de um capitão, tecnicamente todos sabíamos de sua limitação, mas o mínimo esperado era compensar a falta de qualidade com disposição e nem isso foi capaz de fazer.  — Nota: 1,0

BRUNO RODRIGO – Talvez o zagueiro mais calmo da defesa, não comprometeu. — Nota: 5,0

DURVAL – Com todo respeito, um zagueiro acuado e sem brio não pode vestir a camisa do Santos. Sentiu o peso da decisão e falhou em 2 dos 4 gols. — Nota: 1,0

LÉOSempre foi guerreiro e talvez ninguém tenha representado melhor essa camisa na atualidade, mas se esqueceu de tudo isso na partida de ontem. — Nota: 2,0

HENRIQUE – Não mostrou a que veio desde a sua contratação, não merece vestir o manto no ano do centenário. — Nota: 1,0

AROUCA – Não está em grande fase, mas tem créditos e merece ficar. — Nota 4,0

GANSO – É um jogador nota 6, porém como começou 2010 jogando como um ”nota 8” e já diria o ditado: ” a primeira impressão é a que fica”, todos até hoje esperam mais dele e jogam muita responsabilidade em suas costas e não é bem assim. Contudo na partida de ontem… — Nota: 5,0

ELANO – Se continuar jogando dessa forma vai ofuscar seu status de ”ídolo” por tudo que já conquistou. — Nota: 2,0

NEYMAR – Se o Santos ganhasse o jogo com uma bela atuação do craque não mudaria nada o fato do Messi, hoje, ser melhor do que ele (aliás não deveriam nem compara-lo) e nem o Barcelona deixaria de ser o melhor time do mundo, portanto a atuação discreta também não pode apagar o que ele já conquistou e proporcionou a todos nós santistas. — Nota: 4,0

BORGES – Com 25% de posse de bola, um centro-avante que necessita que a bola chegue pouco pode fazer. — Nota: 4,0

MURICY RAMALHO – Foi contra o que ele mesmo prega que é não executar mudanças mirabolantes em jogos decisivos. Escalou mal a equipe e assistiu do banco a derrota da sua equipe sem mover uma palha sequer. Não soube nem mexer com o brio dos jogadores para que ao menos o seu grupo entrasse em campo com raça e disposição. — Nota: 1,0

TORCIDA – A mesma que lotou o aeroporto no embarque da equipe para o Japão e não parou de cantar durante toda a partida merece todo respeito e aplausos. — Nota: DEZ !
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De qualquer maneira, o craque Neymar conquistou a chuteira de bronze do torneio, o que serve de consolo para alguém que ainda tem muito o que a aprender e evoluir. Continue indo pra cima deles Neymar, pois você tem 9 milhões de torcedores ao seu lado.

Contudo, a ferida dessa derrota vai demorar pra cicatrizar e o aprendizado deve ser absorvido, já que ano que vem é o centenário do clube  e a luta deve ser intensa para que ao final dele possamos ter outra chance de mostrar a força do Santos Futebol Clube.

O BARCELONA VIVE HOJE NO MUNDO QUE É SÓ SEU

Por: João Paulo Tozo

Quando no futebol se diz que tal time possui alma, entende-se que aquele escrete possui força para superar momentos de adversidades técnica, numérica, histórica.

Ao longo desses meus pouco mais de 30 anos vi uma série de grandes esquadrões que venciam batalhas árduas na bola, mas também na garra e na vontade.

Foram times que muitas vezes testemunharam contra a tradição do clube para atingir um objetivo maior ou talvez inalcançável naquele momento.

Times que duraram ou duram poucas temporadas, pois possuem uma filosofia que não é a do clube e o clube, grande culpado nesse processo todo, não plantou sua essência na formação de seus jogadores. Jogadores que crescem sem identificação com clube e saem para outro qualquer antes de sequer chegar ao topo da cadeia. Clubes com times que jogam de uma forma hoje e de outra amanhã, sob tutela de um comandante diferente a cada nova temporada.

Cada clube nesse planeta chamado futebol possui a sua assinatura, a sua marca registrada, aquele diferencial que o distingue dos demais. Mas somente um parece respeitar esse processo e elevá-lo a potencias hoje inalcançáveis.

Poucas vezes na história do futebol um clube elevou a um grau tão alto a chamada “alma” como esse Barcelona. Não o Barça do Guardiola, apenas.

Alma não do time, mas do clube. Em essência, um clube preparado e preparador de esquadrões.

Não um clube de estrelas, mas uma constelação formada pelo clube e para o clube. Um diferencial tremendo em relação a todos os demais e que o torna hoje algo único no planeta bola.

Não simplesmente a base da atual seleção campeã do mundo, mas a base de filosofia intrínseca e moldada desde a 1ª esfera preparatória do futuro profissional do clube.

Não há preparação tática. Há preparação filosófica. Há a preparação para o encantamento ao qual o futebol se propõe como esporte.

O treinamento tático do garotinho de 8 anos é o mesmo que recebe o maior de todos os homens do atual cenário da pelota e é a mesma que ele também recebeu quando chegou ao clube com 13 para 14 anos.

A transição de categoria é definida pela idade, não pelo jogo. É por essas e tantas que ninguém se assusta quando estréia para jogar ao lado de Messi. É por isso que o patamar do jogo do time de cima não muda, mesmo que mude a qualidade individual, já que isso a filosofia instaurada na alma do clube não consegue inserir no individuo.Mas o individuo é preparado para ser parte do todo.

Rasgue tudo o que você aprendeu na vida sobre 4.4.2, 4.3.3, 3.5.2 e mesmo nos  4.3.1.2 e suas variáveis.

Passe a compreender o 3-7-0 que prepara a jogada para ser finalizada com êxito pelo 3-0-7 ou ser defendido pelo 10-0-0.

Esqueça a velha escalação do goleiro ao centroavante. Esqueça o conceito de zagueiro, de meia, de atacante.

Volte a pensar em futebol total. Em futebol maioral.

Entenda o quanto pode ser normal o lateral direito ser meia direita e ponta na mesma jogada e na seguinte já estar na ala esquerda preparando a jogada para que o maior de todos de nosso atual cenário possa finalizar como um centroavante que não é – ou é também.

Comece a assistir os jogos do time azul e grená olhando para o setor do campo onde a bola não está. É lá que tudo está acontecendo. É lá que a movimentação e troca incessante de posições acabam por trucidar o esquema tático do pobre adversário que ainda enxerga o jogo por setor, por posição, por marcação.

Entenda o porquê um centroavante fantástico e de técnica refinada como Ibrahimovic não deu certo por lá. Por que um magistral Ronaldinho Gaucho, de história ímpar dentro do clube, foi simplesmente dispensado. Entenda que para fazer parte desse todo o sujeito precisa ter muito mas do que técnica, mas sobretudo entender a filosofia do clube e não somente do time.

O Barcelona hoje forma indivíduos, enquanto seus adversários são formados pelos indivíduos.

Os 4X0 inapeláveis diante do melhor time da América voltou a definir a condição de cada um.

O Santos é um belo time, mas compará-lo ao Barcelona foi além de leviano, pouco inteligente. Tentar postar o cracaço Neymar na condição de postulante a vaga de extraterrestre de Messi foi infantil por parte de todos os que entraram nesse oba-oba.

Existe um mundo que separa os times e suas estrelas. Um mundo de 75% de posse de bola. Um mundo de inapeláveis 4X0 que saíram ainda baratos diante da monstruosa diferença.

Um mundo onde hoje reside somente um clube. O mesmo mundo onde viveu a seleção de 70, o Santos de Pelé, A Laranja Mecânica de Cruiyff (responsável pela implementação da atual filosofia barcelonista), a Academia Palmeirense de Ademir da Guia, o Flamengo de Zico, o Inter de Falcão, o Madrid de Di Stefano e podemos aí citar mais alguns que não devem ultrapassar as duas dezenas.

Se as gerações passadas puderam se orgulhar de seus esquadrões, a nossa tem o seu para usar como referencial.

Eu que gostava de entender o 4-4-2 contra o 3-5-2, hoje estou adorando não entender absolutamente nada do que faz esse incompreensível e magnífico Barcelona.

UMA LIÇÃO DA BOLA

A final do Mundial de Clubes 2011 pode ser interpretada de diversas formas, mas talvez nenhuma delas seja 100% correta. Por exemplo, ao defini-la como ”vexame” logo relacionamos ao placar elástico e a facilidade encontrada pelo Barcelona durante a partida, mas há de se ressaltar e enaltecer o longo e díficil caminho percorrido pelo Santos até alcançar um posto como esse, além é claro da disparidade imensa na qualidade das equipes.

Porém seria hipocrisia dizer que apenas o fato do Barcelona ser o melhor time do mundo serviria de justificativa para os santistas se conformarem com o vice-campeonato, muito pelo contrário. Ora, se os catalães são os melhores do planeta, cabia ao Santos ao menos dificultar o inevitável e nem isso foi capaz de fazer.

Seria falta de luta ?  Talvez não houvesse armas pra lutar.
Tática mal definida ? Ainda não se descobriu uma que possa brecar esse time.
Dia ruim dos principais jogadores ? Com 25% de posse de bola fica difícil até para eles.

Tentar encontrar respostas para o revés talvez seja tão difícil quanto parar o Barcelona, por isso prefiro tratar a derrota como um aprendizado não só para o Santos, mas para qualquer clube brasileiro que um dia sonha em ter essa oportunidade de encarar um time comparado a seleção de 70 e até ao Santos de Pelé.

Seria exagerar demais fazer tal comparação ? Provavelmente não, já que o privilégio da geração que acompanhou esses dois timaços, hoje é desfrutado por quem acompanha o Barcelona de Messi e Cia.

Uma equipe repleta de jogadores talentosos que alia técnica e uma estrutura tática perfeita é digna de tal comparação, até porque do zagueiro ao atacante mais avançado a tranquilidade e a confiança são as mesmas dando a impressão que nada pode abalar um time como esse. A disparidade é tamanha que vencer gigantes europeus como Manchester United, Arsenal, Milan, além de goleadas em cima do maior rival (Real Madrid) ou dar uma aula de futebol em uma final de Mundial de Clubes parecem coisas tão simples quanto vencer uma pelada de fim de ano. De fato, a postura da equipe não muda contra nenhum adversário, seja ele qual for, por isso aplaudir de pé um esquadrão como esse é o que nos resta a fazer.

Em relação ao sentimento do torcedor santista nessa hora vale uma comparação interessante, que consite no seguinte: imagine um ente querido que está com uma doença em estado terminal, por amar demais tal pessoa você acredita com todas as forças na sua recuperação, porém quando o inevitável ocorre o conformismo é maior.  Com o Santos foi a mesma coisa, o amor que toma conta da alma de cada santista nos cegou completamente e a vitória parecia algo tão próximo que por alguns momentos era esquecida a superioridade absurda do adversário e quando o inevitável aconteceu o abatimento foi grande, mas se conformar não foi tão difícil assim.

Por isso sentir orgulho do nosso clube em um momento como esses é mais do que justo, pois esses jogadores que hoje não jogaram o que se esperava deles foram os mesmos que nos alegraram o ano inteiro com muita disposição e talento na conquista de dois títulos e nos proporcionaram um momento tão grandioso que é estar em uma final de Mundial de Clubes.

O Santos Futebol Clube que outrora ensinou o mundo e encantou os amantes do futebol, hoje aprendeu e aplaudiu, mas pode voltar pra casa de cabeça erguida e continuar o seu caminho de glórias, já que essa foi apenas uma batalha perdida.

Por isso a ordem é: orgulho

Essa é a palavra que deve reinar no coração de cada santista e é com essa inspiração que vestiremos nossas camisas, colocaremos nossa bandeira no mastro e mostraremos ao mundo que o gigante alvinegro está de pé com a dignidade e a força de sempre, pois nenhuma derrota pode apagar nem ofuscar a história mais linda do futebol mundial.

Por fim, de alma lavada eu posso gritar pelos quatro cantos do mundo: ”Nascer, viver e no Santos morrer é um orgulho que nem todos podem ter…”

Obs: Em breve mais posts sobre a trajetória do Santos no Japão e as projeções para o centenário do clube.