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CONFISSÕES CORINTHIANAS

Dando sequência aos posts de convidados, segue o relato do nosso amigo Tiago Pimentel, que conta sobre sua vida dividida entre os livros de Direito e os jogos do Corinthians, com momentos em que ambos se cruzavam. Confiram.

CONFISSÕES CORINTHIANAS

Por Tiago Pimentel

Quando o Márcio me convidou para tecer algumas linhas sobre a mais recente conquista do nosso Todo Poderoso Timão, me vi diante de um grande desafio, pois tudo o que poderia ser dito e escrito a respeito já o foi, inclusive aqui no Ferozes, e por gente que conhece muito, mas muito mais de futebol do que eu. Mas como aqui é Corinthians, mano, topei escrever essa crônica em tom de desabafo.

Confesso que demorei para entrar na “pilha” do Mundial de clubes, ao contrário da Libertadores – quando passei meses de noites intranquilas. Estava até um pouco blasé, veja só!

No entanto, após a tensa estréia diante do fraco Al Ahly, eu não conseguia mais pensar em outra coisa. Me assustava a superioridade econômica do adversário da final. Me assustava o fato de que no lado inglês só houvessem jogadores que atuam por suas respectivas seleções. Me assombrava a muralha Petr Cech (ah, as ironias do destino…). Me assustava também a expectativa em torno desse torneio.

Mas ecoava em minha cabeça o mantra “Vai, Corinthians!”. Portanto, a confiança estava presente. Ocorre que, supesticioso que sou, costumo não externar qualquer demonstração de confiança antes da hora (xô, zica!).

Pois bem. No dia da grande final, após uma noite em claro, ao abrir as cortinas me deparei com um céu cinzento, que me remeteu ao “sinal” dado pela lua cheia de São Jorge do dia 04 de julho de 2012. Só podia ser um recado, pois se o céu do Recife, em pleno verão, se recusou a ficar azul, coisa boa vinha por aí.

E o que se viu foi um baita jogo, digno de uma final, cantado pela imensa massa alvinegra que atravessou o mundo para apoiar o Timão. A primeira etapa foi marcada por uma certa afobação corinthiana, que desperdiçou bons ataques, apesar do volume de jogo equilibrado. A equipe inglesa  era mais aguda em suas investidas, mas o abençoado Cassio tratava de tranquilizar a nação corinthiana. Ou depois da defesa de mão trocada no chute colocado de Moses alguém ainda achou que a rede corinthiana seria estufada? A propósito, depois da atuação de Rogério Ceni em 2005 e dessa partidaça de Cassio, o técnico Benítez quer ver o inominável pela frente, mas não quer mais encarar um goleiro brasileiro.

No segundo tempo a equipe do Parque São Jorge impôs seu estilo de jogo, e quando Guerrero cabeçeou a bola espirrada para os fundos da meta inglesa, minha vida inteira de torcedor passou pela minha cabeça, principalmente os momentos difíceis (nesse ponto, abro um parentêse para confessar que cheguei a imaginar que a melhor solução tática para a final seria sacar o peruano, e jogar com Jorge Henrique e Emerson abertos pelas pontas. Disparate que não passou pela cabeça do professor Adenor).

Pois é, caro leitor. Era como se eu tivesse que ter passado por cada tristeza, cada gozação e, por que não dizer, cada vexame para ter o direito de soltar aquele grito de gol. E fui corinthiano naquele momento da mesma maneira que fui quando Marcos defendeu aquela cobrança de penalty de Marcelinho Carioca. Fui corinthiano da mesma forma que fui quando das eliminações diante do River Plate. Fui tão corinthiano quanto fui diante do Tolima. Fui tão corinthiano quanto… ah, você já entendeu. Sempre corinthiano, nem mais, nem menos. Isso porque ser corinthiano é um estado absoluto, que não comporta qualquer forma de escalonamento.

E diante do Chelsea, o Corinthians de Tite foi apenas o Corinthians. Mas um novo Corinthians, que renasceu na série B para impor uma filosofia de futebol. E isso bastou pra enlouquecer ainda mais uma nação de loucos. Loucos por ti, Corinthians!

P.S. – No corrente ano, uma passagem muito importante da minha vida foi motivada, de certa forma, pelo Timão. Em setembro e outubro fiz minha primeira tentativa no exame da OAB (primeira e segunda fase, respectivamente). Meus cadernos de anotações eram cadernos oficiais do Corinthians. Cada vez que eu, cansado , após horas de estudo, fechava o caderno e via o escudo do Timão eu dizia pra mim mesmo: “Aqui é Corinthians, vou estudar mais um pouco”. O resultado dessas horas a mais de dedicação foi a aprovação no temido exame. Vaaaaaaaaai, Corinthians!

O escudo do Timão inspirou o autor do texto como símbolo de raça e dedicação.

UMA NAÇÃO DE GUERREROS!

Como já é de praxe em época de comemorações, é hora de dar espaço para convidados expressarem a sua emoção a respeito da conquista do Mundial de Clubes da Fifa 2012. Começo da mesma forma que comecei na ocasião do título da Libertadores. Com o amigo Felipe Cabral Santana. Vamos que vamos.

“Uma nação de Guerreros”, por Felipe Cabral Santana

Guerrero, um nome que neste domingo simbolizou o nascimento de mais um desses jogadores emblemáticos que marcaram a história do Corinthians! Na verdade, Guerrero não é apenas o nome deste centroavante peruano brindado pelo destino para ser o responsável pelo gol da conquista deste tão sonhado bicampeonato mundial. Hoje o mundo é preto e branco, hoje, o mundo é dos Guerreros! E de Guerreros é recheada a história do nosso Corinthians. Guerreros como os de 1990 como Márcio Bittencourt, Wilson Mano, Ezequiel, Neto, Tupãzinho e cia. que há exatamente vinte e dois anos conquistavam o primeiro título brasileiro da história do Corinthians e mudavam o Timão de patamar. Guerreros como Sócrates e os heróis da Democraria que enfrentaram um sistema político e fizeram do futebol algo muito mais representativo do que um simples esporte! Guerreros como Basílio e os heróis de 1977, que tiraram a angústia da nação, num título paulista que valeu mais que uma Copa do Mundo pelo seu significado! Guerreros como os craques mais antigos, do título do quarto centenário que eu não vi, mas ouço os antigos falarem. Guerreros como Sheik, Romarinho, Caaaaaaaaaaaaaassio, Tite e todos os outros, que conquistaram o título mais cobiçado para a fiel naquele 4 de julho de 2012 no templo sagrado do Pacaembu. E Guerreros como o próprio Paolo, que hoje deu o mundo ao Corinthians!
 
Mas não é só de jogadores Guerreros como os desse time de 2012 que se constróe uma nação alucinada por um time. Guerrero sou eu, Guerrero é você, Guerrero somos todos nós torcedores corintianos que fazemos parte de uma nação que suportou 23 anos de fila crescendo e se multiplicando numa paixão sem medidas, que invadiu o Maracanã em 1976, em 2000 e que hoje se apresentou ao mundo, em todas as TVs, nos quatro cantos do planeta terra, gritando em alto e bom som, gritos uníssonos, que fizeram do Yokohama Stadium o Pacaembu da Fiel! A invasão de Guerreros, samurais, que se endividaram, fizeram sacrifícios, loucuras (afinal, são loucos de um bando), simboliza um sentimento que transcende as esferas do futebol, algo que só o corintiano pode explicar, aliás, nem nós podemos explicar, apenas sentir e nos orgulhar. Hoje, a nação de Guerreros ensinou ao Chelsea e ao mundo que o dinheiro pode comprar tudo, mas jamais pode comprar um sentimento, uma paixão inexplicável, que forma praticamente uma seita.
 
Parabéns Nação Corintiana, somos Guerreros como o Paolo, como o Gigante Cássio e como São Jorge Guerreiro, o nosso padroeiro!
 
Vaaaaaaaaaaaaaaaaaai Corinthians!

SPORT CLUB CORINTHIANS PAULISTA, BRASILEIRO, SUL-AMERICANO, MUNDIAL!

És grande no esporte bretão, 
O passado ilumina tua história. 
Ciente de tua missão: 
Vitória, vitória, vitória.

Toquinho, “Corinthians do meu coração”

Não tenho palavras. O Corinthians é o Campeão Mundial de Clubes da Fifa 2012. No momento em que a bola começou a rolar em Yokohama, eu estava em outro lugar, mas não menos importante para o nosso Timão: eu terminava uma corrida de rua próximo ao Estádio do Pacaembu. Corrida que continuou muito depois da linha de chegada. Corri para chegar em casa e acompanhar com os olhos o que eu já acompanhava com os ouvidos. Muitos amigos estranharam o meu check-in no estádio de Yokohama, uma brincadeira séria: eu estava lá, meus amigos. Ao menos o meu coração estava.

Corinthians campeão do Mundial de Clubes da Fifa 2012.

E o coração corintiano sofreu alguns testes. O jogo foi disputadíssimo. Se Cássio quase não sujou o uniforme na semifinal contra o Al Ahly, contra os ingleses comandados por Rafa Benitez a coisa foi diferente: nosso gigante goleiro fez defesas difíceis e salvou o time em vários momentos. Bola de ouro do Mundial merecidíssima para o arqueiro alvinegro.

O outro destaque foi o autor do único gol, Guerrero, nome mais do que sugestivo para um jogador deste time. Desacreditado por onze entre dez corintianos quando foi contratado, o peruano foi aos poucos mostrando seu valor e se encaixando no esquema de Tite, e neste jogo fez jus ao nome, lutando o tempo todo em busca do objetivo principal. Não fez golaço. Fez o que tinha de fazer.

O autor do gol do título, Paolo Guerrero.

Confesso que estranhei a atitude do treinador do Chelsea, ao deixar Oscar, destaque do jogo passado, contra o Monterrey, no banco de reservas. Mesmo assim, o Chelsea foi agudo, jogou bastante, mas esbarrou na boa atuação de Cássio e também na limitação (ao menos neste jogo) de Fernando Torres, que não acertou nada do que tentou.

E o Corinthians foi o Corinthians! Clichê dizer isso? Alguns clichês são inevitáveis. Como sempre discutimos no grupo do Ferozes Futebol Clube, é diferente a importância dada ao Mundial de Clubes pelos brasileiros, em comparação com os times europeus. Mesmo assim, desta vez, para o Chelsea este jogo talvez tivesse uma importância maior, já que seria uma forma de esquecer a eliminação precoce da Champions League sofrida pelo campeão do torneio. Seria também talvez a redenção para o técnico Rafa Benitez, contestado pela torcida pelo seu passado à frente do rival Liverpool e por declarações dadas naquela época. Não deu.

Cássio, Bola de Ouro do Mundial da Fifa 2012. Alguém discorda?

Merecidíssima a conquista para uma torcida que fez do Yokohama Stadium um Pacaembu japonês e fez uma festa inigualável.

Pra terminar o meu relato, queria lembrar do momento da conquista do Campeonato Brasileiro, há pouco mais de um ano, em que eu imitei a pose clássica do Doutor Sócrates. Na época, na comemoração, descobri que eu tinha problemas de pressão alta e precisava emagrecer. Fui à luta. Em 2012, o ano foi do Corinthians, e também foi meu. Pois bem, assisti ao jogo de hoje com a mesma camisa retrô, desta vez um pouco mais folgada (tenho dez quilos a menos), a mesma felicidade. Um abraço!

O autor deste texto em 2011.

 

O autor deste texto hoje. A camisa está mais folgada.