Arquivo da tag: GOLA

GOLAÇO LITERÁRIO – O JOGO DA MINHA VIDA.

Por: Fábio Vanzo

Além de bom zagueiro – Bola de Prata em 2011 –, Paulo André, que atua pelo Corinthians, e já teve passagens por Guarani, Atlético-PR e Le Mans (França), é quase um homem da renascença futebolística: mantém um blog [ http://pauloandre-13.blogspot.com.br ] com textos muito bem escritos, dá boas entrevistas, sem aquele papo decorado de sempre, joga tênis, pinta quadros (!) e ainda se envolve em questões sindicais de sua categoria profissional. Nada mais justo que ele expressasse suas reflexões também em livro.

Longe de ser um intelectual no sentido estrito – e é exatamente esse o ponto, não há pseudofilosofias, nem citações empoladas, apenas um cara que usa o cérebro que tem – vamos acompanhando uma trajetória comum a muitos jogadores que não são acima da média. Se um craque como Neymar é descoberto cedo ou tarde e sua carreira tem tudo para despontar, não há nenhuma garantia de que um jogador que não seja extraordinário, mas apenas competente, consiga lugar ao sol.

E lá vão temporadas em alojamentos precários, peneiras e mais peneiras, empresários espertalhões, falsos amigos dando maus conselhos e a permanente angústia de apostar tanto em algo tão incerto. Como ele mesmo diz em uma de suas reflexões:

“Eu pensava muito sobre o valor das escolhas e das prioridades que havíamos assumido tão cedo. Pergunto-me até hoje por que eu e tantos outros tivemos de passar tanto tempo ali, alojados, concentrados? Por que treinar em dois períodos nessa idade, tão jovens? Por que se especializar tão cedo em uma área e deixar todo o resto de lado? Na minha cabeça éramos tratados como cavalos que comem e descansam para depois correr… até hoje penso no deixamos de viver e aprender nesse período. Por que não desenvolver outras habilidades além do futebol?”

Uma vez profissionalizado, não pense que a coisa sossega: além de os empresários espertalhões e os falsos amigos continuarem rondando, surgem as contusões, as transferências para o exterior que nem sempre dão certo, a insegurança de precisar disputar lugar no time (lembre-se de que ele não é um craque incontestável, que chega jogando em qualquer time) e as intermináveis concentrações.

Tudo isso vivido por pessoas muito jovens – Paulo André tem apenas 28 anos e tanto para contar – que precisam amadurecer muito cedo e que têm no esporte, muitas vezes, a única garantia de não passar fome e de dar uma vida digna aos pais e irmãos.

Tendo como eixo sua própria carreira, Paulo André aproveita sua trajetória para contar os inevitáveis “causos” (quando sua postura contida até demais se torna um pouco mais solta) e dar conselhos para jovens jogadores e seus familiares. É uma tentativa de que seus erros e acertos sirvam de exemplo aos mais jovens.

Num universo que se divide entre marrentos, bonzinhos evangélicos e aqueles que só repetem o que o assessor manda, o livre-pensamento de Paulo André é mais do que bem-vindo. E com certeza você passará a respeitar mais aquele jogador do seu time que, se não é um craque, dá conta do recado com seriedade, pois ele ralou muito para estar ali.

 

O jogo da minha vida: histórias e reflexões de um atleta
Paulo André

Editora leYa | 306 páginas | Preço médio: R$ 35