Arquivo da tag: Émerson Sheik

A MERECIDA VITÓRIA DO SÃO PAULO

Nem todos, mas muitos coleguinhas da imprensa e do convívio tentam, desde a noite da quarta-feira, 22 de abril, desqualificar a qualificada e, ao meu modo de ver, indiscutível vitória do São Paulo sobre o Corinthians.

A expulsão de Emerson Sheik foi exagerada, sim. Mas quem em sã consciência não concorda que o experiente atacante foi, no mínimo, juvenil?

Toloi forçou uma barra incrível? Sim. E eu teria dado amarelo pela simulação. Certamente o jogador se lembrou do que ocorreu entre ele e Dudu, no último Choque-rei, onde na ocasião ele foi o “infrator” e acabou expulso.

“Ahhh, mas tendo o Sheik em campo ele puxaria os contra-ataques”. Meia verdade e que não nos garante nada. Já antes da expulsão de Sheik o São Paulo sobrava em campo e nada nos leva a crer que a presença do atacante mudaria o cenário. No campo das probabilidades, o São Paulo abrir o placar com Emerson em campo e tudo era muito mais factível.

Sobrou ontem ao São Paulo o que tanto lhe faltou até aqui na temporada – gana, raça, acreditar em si próprio. Do time sempre entregue antes do apito inicial, ao menos ontem, quando mais precisou até aqui, tivemos um tricolor que venceu o rival na vontade de vencer. Dai em diante, a qualificação técnica, que nunca se duvidou faltar ao time do Morumbi, se fez valer diante de um Corinthians que é sim superior, mas não tanto quanto se tenta vender e que, ao que parece, o time e o torcedor acreditam.

O ~ano sabático~ de Tite não parece ter lhe fornecido trato para até aqui corrigir a falha crônica em seu sistema defensivo. Exatamente onde Palmeiras e São Paulo reforçaram suas armas contra o até então imbatível adversário. Quem diria que um time do Adenor sofreria com bolas aéreas?

A vitória são paulina foi incontestável, mas a sequencia de ambos na Libertadores ainda é muito mais ingrata aos vencedores de ontem, que agora encaram o Cruzeiro. Já o Corinthians pega o Guarany, num duelo exorbitantemente mais tranquilo, para um time já muito bom e que é sim, apesar dos resultados recentes, ainda a melhor equipe do país. Muito embora a diferença já não seja assim tão grande em relação aos seus principais rivais.

expulsão

O LIBERTADOR

A temporada, enfim, começou. Não só para o corintiano, mas para o brasileiro.

Confesso: fiquei ansioso pelo jogo do Corinthians. Não pelo adversário colombiano, que seria fraco demais diante do “cascudo” time alvinegro, como, de fato, foi. Estava é com saudades da Libertadores. Em 2015 “estarei mais uma vez de fora”. Porém, nada que me impeça de curtir bons jogos. E o melhor: vibrar com eles. Mesmo que em um deles esteja o meu maior rival.

É impressionante como a maioria das partidas dessa competição costumam ser boas mesmo quando a técnica não é protagonista. A atmosfera que cerca o torneio é, por si só, o grande barato. Por outro lado, é impossível ignorar as lacunas e irregularidades da péssima administração por parte dos amadores da Conmebol – o câncer do futebol sul-americano.

A intensidade de Corinthians 4 x 0 Once Caldas prova que essa Libertadores será inesquecível. Principalmente porque há 14 campeões entre os 32 participantes. E, todos, com equipes competitivas.

Na mesma medida em que exaltamos a beleza que impera – com merecimento – na Champions League, muitas vezes, criticamos o descaso visto constantemente em nossos quintas – também com merecimento – porém com ressalvas a serem feitas: nem tudo é essa porcaria toda.

A Libertadores ainda é diferente de qualquer outra competição.

Quando digo isso não falo das tradicionais (infelizmente) cusparadas ou dos casos de racismo que sujam a imagem do campeonato mundo afora. Falo do jogo jogado. Aqui é diferente, sim. É preciso saber jogar como pede a Libertadores. Com raça, atitude, malandragem e muito coração. O segredo para vencê-la ainda é o mesmo: jogar futebol. Mas um futebol que não se ganha somente com os pés. E, sim, com a cabeça.

Assim como na final em 2012, Emerson Sheik soube usá-la corretamente durante os 90 minutos da última quarta, na Arena, tornando-se peça fundamental na vitória corintiana. Não só pelo gol-relâmpago. Mas sim pela postura gigante. Típica de jogador decisivo que sempre foi. Daqueles que conhecem o caminho. Que sabem como chegar. E funcionou de novo. Em um momento de risco. Até porque, durante parte do primeiro tempo o Timão se encolheu e chamou muito o adversário, que quase chegou lá. Parando em Cássio.

Muitos torceram o nariz e previram o pior quando Guerrero foi pouco inteligente e saiu de cena mais cedo. Sorte do Bando de Loucos que lá estava Sheik, o comandante de um time que fez uma partida tanto na parte tática, quanto individual impecável. Deixando boas impressões para um temporada árdua.

Dentre os destaques individuais da estreia corintiana na Libertadores, não há como negar que o camisa 11 roubou a cena, demonstrando o que todos já conhecem dele. Rejeitado em 2014, Sheik é, com certeza, o cara do time. Tite sabe muito bem disso. Ontem, o autor dos gols que libertaram o Corinthians há 3 anos, foi, também, o cara da primeira grande partida do futebol brasileiro no ano.  O mesmo cara que pode novamente reescrever sua história onde já faz parte dela.

Em meio a vários destaques, Sheik foi o melhor em campo na goleada sobre o Once Caldas, pela primeira fase da Libertadores (Foto: Ari Ferreira/LANCE!Press)
Em meio a vários destaques, Sheik foi o melhor em campo na goleada sobre o Once Caldas, pela primeira fase da Libertadores (Foto: Ari Ferreira/LANCE!Press)

 

PRESENTE DE ANIVERSÁRIO

Há quem diga que a verdade está nas conversas em mesas de bar, bancas de jornais e nos papos informais antes do início de expediente nas empresas. Habitual frequentador destes ambientes, ouvi em um deles que Douglas era o parceiro ideal para armar as jogadas que fariam Alexandre Pato finalmente brilhar no Corinthians. Embasado em algum estudo ou não, fato é que o autor da sentença acertou na mosca. Os lançamentos em profundidade do meia foram determinantes para que o atacante fizesse dois gols na partida contra o Flamengo no Pacaembu, no dia em que o Timão completou 103 anos de sua fundação. Comemoração de gala, com uma goleada de 4 x 0, dois gols anotados pelo supracitado Pato.

Tudo bem que parte desta bela atuação se deve também pela instabilidade do Flamengo de Mano Menezes, junto a um grupo que tem muito do Corinthians – 2009 em suas fileiras. Mesmo assim, a equipe rubro-negra ainda não lembra aquele tal equilíbrio. Especialmente André Santos, muito perdido em campo, até sem função definida no estranho esquema de Mano, e com Elias sendo o mais lúcido da equipe, com boa movimentação. Foi muito pouco, frente à eficiência do clube aniversariante.

Havia Douglas muito inspirado, e como disse antes, em boas jogadas com Pato, com aqueles lances em profundidade que faziam falta ao Corinthians. Me pergunto se, após a vitória, Tite continuará com o discurso ‘não temos elenco’  (em tempo: se levarmos em conta a falta de laterais, não temos mesmo).

De resto, ainda há para o Corinthians a boa atuação da defesa, sempre com Gil, um gigante ao longo do ano, e Felipe fazendo bem o papel de Paulo André, que se não é brilhante, atua com segurança. Fábio Santos desta vez não comprometeu, e Alessandro, seu improvisado substituto jogou pouco tempo. É nesta posição que temos a maior limitação, isso é claro. Além disso, temos a dificuldade no meio de campo em relação a Ibson, que não vem aparecendo muito nos jogos.

Paradoxo: em oposição ao ‘não temos elenco’, como Adenor solucionará a questão de quem deve sair da equipe titular, já que parece impossível que Douglas seja preterido neste momento? Se sair Romarinho, o meio de campo fica mais lento? E Danilo, corre risco de perder espaço com Tite?

O próximo compromisso do Timão é contra o Internacional, na quarta-feira, e todas estas questões poderão ser respondidas. Vamos aguardar.

Atualização de última hora: com o corte de Fred da Seleção, devido à grave lesão que sofreu, Pato foi convocado por Felipão e desfalcará o Corinthians por pelo menos três jogos, a começar por este de quarta-feira. Pois é.

Pato foi convocado por Felipão após a atuação de gala no clássico contra o Flamengo.
Pato foi convocado por Felipão após a atuação de gala no clássico contra o Flamengo.

O QUE O TÍTULO DA RECOPA NOS EVIDENCIA?

Mais uma vez, esta seção conta com a colaboração do amigo Samuka, que assistiu no Pacaembu a final da Recopa, e a quem encomendei este texto, que ficou incrível. Confiram.

Por Samuka Araújo

É impressionante como a Conmebol tem a capacidade de desvalorizar seus produtos! Marcar para o mesmo dia e horário os jogos de duas competições continentais é o mais recente exemplo do fogo amigo da confederação que “cuida” do futebol na América do Sul.

A Recopa Sul-Americana não tem, obviamente, o mesmo valor de uma Copa Libertadores, mas tem sua importância. No caso do Corinthians, a Recopa 2013 teve tripla importância. Primeiro, por ser uma disputa direta com um rival (freguês, mas rival). Em segundo lugar, por ser um título internacional, algo que até pouco tempo era o calcanhar de Aquiles do Timão. Por fim, por reafirmar a capacidade do grupo corintiano que, mesmo com modificações de algumas peças titulares, mantém seu padrão tático e técnico.

A perda de importantes jogadores foi suprida com boas peças de reposição trazidas recentemente (não contemos o Ibson) ou que já estavam em período de gestação, como é o caso do bom volante Guilherme. A evolução do substituto de Paulinho demonstra que a saída do ídolo será sentida, mas com menos intensidade do que imaginávamos. Outro que encontrou seu espaço foi Romarinho. O garoto se confirma como um jogador que não é craque, mas é extremamente importante em jogos decisivos. Uma espécie de Tupãnzinho do século XXI! Ele tem jogado bem taticamente, mas ainda precisa fechar um pouco mais na marcação, ao estilo Jorge Henrique. Outro jogador decisivo, Emerson renovou contrato e voltou a jogar bem. Que seus últimos dois anos de carreira sejam tão bons e vitoriosos quanto as duas temporadas que ele já jogou no Timão. E o que falar de Danilo? Suas jogadas e gols falam por si…

Chegar próximo ao nível técnico do time que em 2012 conquistou o continente e o mundo ainda requer tempo. Porém, um dos pontos altos do Corinthians, a liderança de Tite sobre o grupo, ainda é forte, mesmo após os problemas com Jorge Henrique ou depois de ter colocando jogadores como Chicão e Pato no banco. Tais elementos demonstram que o segundo semestre pode ser promissor e alcançar o objetivo de jogar a quinta Libertadores seguida é algo tangível.

                “Chegar ao topo é difícil e mais difícil é se manter lá”, diria o clichê. O Corinthians 2013 já faturou dois títulos, mas não atingiu seu maior objetivo: repetir as importantes conquistas do ano anterior. Conquistar, novamente, uma vaga para a Taça Libertadores é o mínimo que o torcedor espera do segundo semestre. Mal acostumado que está, aguarda a referida vaga com as mãos para cima, pronto para levantar mais um troféu, seja ele da Copa do Brasil ou do Brasileirão. Menos que isso, deixará a sensação de que 2013 poderia ter sido melhor. Quem mandou nos acostumar assim?

samuka

Nota: Tão bacana quanto acompanhar in loco o Timão campeão, foi conhecer os ferozes (e corintianos) Tozo e Viana.  Demais, meus caros!

samukaferozes

RECOPA SUL-AMERICANA: DEU A LÓGICA

Em torneio realizado em momento equivocado da temporada entre os campeões da Copa Libertadores da América e da Copa Sul-Americana do ano de 2012, o ótimo Corinthians, sem se esforçar, venceu o medíocre São Paulo por 2×0 (após outra vitória por 2×1 na partida de ida) e conquistou com máxima justiça o torneio de unificação continental de clubes.

A Fiel agradece o presidente rival pelos serviços prestados
A Fiel agradece o presidente rival pelos serviços prestados

Sim, momento equivocado da temporada. Desnecessário relembrar, ou pelo menos seria não fossem as idiossincrasias da CONMEBOL, que torneios de unificação com a participação de campeões continentais do ano anterior servem como abertura, aperitivo da temporada vindoura e nada mais.

Quanto ao duelo entre rivais locais paulistanos, nenhuma novidade na justíssima conquista corintiana. Venceu o melhor time, com melhor estrutura, melhor gestão e melhor comissão técnica.

O Corinthians iria a campo ao lado de sua torcida com motivação extra após a confirmação de renovação de contrato de um dos seus novos ídolos, o atacante Emerson Sheik, que tinha propostas de Flamengo e Vasco para retornar ao Rio de Janeiro. Ademais, a perspectiva de conquista de novo título internacional movimentava ainda mais a fiel torcida.

A superioridade corintiana ficaria evidente desde o início, tanto sob o aspecto técnico quanto tático da equipes.

Ciclo de ouro corintiano completo
Ciclo de ouro corintiano completo

Maior precisão de passes, melhor posicionamento em campo, maior disciplina tática dos jogadores, além de maior controle emocional, eis a gama de superioridades do Timão sobre o rival enfraquecido.

No final, o grande nome, entre tantos destaques, seria Danilo, autor de um dos gols corintianos.

O título da Recopa é coroamento definitivo de verdadeiro ciclo de ouro do Corinthians Paulista que iniciaria verdadeiro processo de reconstrução a partir de 2008. Sucesso total de um clube que se tornou referência de organização administrativa no Brasil.

Caminho inverso percorrido pelo São Paulo FC. O ex-grande tornou-se pequeno, fraco, desorganizado e medíocre. Tomada de decisões que, ao longo do tempo, revelaram-se erradas e não surtiram efeito. Comissões técnicas mal contratadas e mal demitidas. Jogadores que deveriam ser os pilares de um time, converteram-se nos maiores problemas do elenco. Fundo do poço para o Tricolor? Incrivelmente não, haja vista a possibilidade de rebaixamento no Brasileirão atual.

Agora, para o Corinthians resta o desafio motivacional. Como se manter com fome de títulos após a conquista de todos eles? Uma boa sugestão é concentrar-se na reconquista do Campeonato Brasileiro, vencido em 2011 e perdido no ano seguinte.