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TORCEDOR MOSTRA NAS URNAS QUE NÃO É BABACA.

Nas searas da convivência humana, talvez por intolerância ou por serem embasados por sentimentos exacerbados, alguns assuntos são tidos como “indiscutíveis”: Religião, política e futebol.

Mera cortina de fumaça de quem desconhece ou teme debatê-los. Por ignorância ou por rabo preso.

De fato, quando misturados, se não houver parcimônia esses assuntos tendem a ser pura nitroglicerina.

Tenho para mim que são sempre discutíveis, mas jamais passíveis de mistura.

Tomando por base o tema que faz nosso canal existir, não são poucos os exemplos onde misturados a religião, o futebol sofreu ou gerou danos.

O movimento dos “Atletas de Cristo” tomou conta de boa parte da boleirada, sobretudo em meados dos anos 90. Sob a roupagem de índoles impávidas (e em alguns casos de fato eram), jogadores passaram a promover cultos, estudos bíblicos e orar nas preleções dos jogos.

Até aqui nenhum problema. Passou a ser problema quando alguns mais radicais passaram a criar problemas e muitas vezes boicotar aqueles que não dividiam da mesma ou de nenhuma fé. Isso fatalmente implicou em perda de rendimento coletivo, em problemas internos e muitas vezes externos, que prejudicavam diretamente ao time envolvido.

Vide a rota de colisão entre Roberto Brum e Vanderlei Luxemburgo, quando ambos atuavam pelo Santos. Brum era declarado um atleta de cristo e usava disso em qualquer discurso onde o futebol deveria ser o tema central. Luxemburgo deflagrou o problema, que já gerava descontentamento em parte do grupo de jogadores e afastou Sandro.

Já a política vive o dia a dia dos clubes. Políticas que em princípio deveriam ser internas, mas ganham força e perdem moral quando as urnas das ruas chamam pelo poder de apelo dos clubes.

Não é de hoje que ex jogadores, ex dirigentes ou qualquer personagem com ligação com algum grande clube usa desse artifício para conseguir suas cadeiras na política nacional.

Patrícia Amorim, hoje presidente do Flamengo, tentou em 2012 sua reeleição como vereadora.

Ademir da Guia, ídolo bandeira do Palmeiras, também já conseguiu sua boquinha na política em outros tempos. Em 2012 buscou a vaga como vereador.

Os ex jogadores Marcelinho Carioca e Dinei, além do jornalista Chico Lang, todos com enormes laços corintianos, tentaram alavancar suas carreiras na política. O primeiro um ídolo sem igual, o 2º com forte ligação e o 3º uma figura folclórica ligada ao Corinthians.

Marco Aurélio Cunha e Aurélio Miguel, ambos com ligações estreitas na política do São Paulo, voltaram à carga na busca pela reeleição.

O Flamengo de Patrícia Amorim é um retumbante case de fracasso administrativo. O time briga para não cair para segundona e vem de micos homéricos com os casos Ronaldinho Gaucho e Adriano, só para citar os mais recentes.

Ao invés de lutar para recuperar todas as patacoadas que fez como presidente do Flamengo, Patrícia Amorim focou sua força na tentativa de ser reeleita como vereadora. O que conseguiu foi perceber o tamanho da insatisfação do torcedor rubro-negro, que lhe negou o direito de usufruir da marca do “mais querido do Brasil” mais uma vez.

No último derbi paulistano, com o Palmeiras beirando o precipício da segundona, Ademir da Guia ao invés de usar sua força sem igual como ídolo bandeira do Alviverde Imponente e lutar contra a pálida administração de Arnaldo Tirone, encheu os arredores do Pacaembu de banner, santinhos e coisas do tipo, sempre de camiseta verde, na expectativa de comover o sofrido torcedor alviverde em lhe conceder seu voto.

Pela 2ª eleição consecutiva o torcedor palestrino não misturou alhos com bugalhos e Ademir da Guia continua sendo “apenas” o eterno Divino da história do Verdão.

Apesar de ter recebido apoio de quase todo o atual elenco corintiano, do técnico Tite e do próprio clube, que abriu as portas do CT para a gravação dos testemunhos do grupo de jogadores e comissão, Marcelinho Carioca, o eterno pé de anjo, maior vencedor da história do Timão, não conseguiu convencer sua enorme torcida de que era digno de receber seu voto. O mesmo ocorreu com Dinei, além do jornalista Chico Lang, que em sua campanha frisava seu vínculo com o clube e pedia voto do torcedor corintiano.

Já Marco Aurélio Cunha e Aurélio Miguel, ambos com fortes ligações políticas com o São Paulo, obtiveram êxito e foram eleitos. Marco Aurélio conseguiu inclusive ser reeleito.

O futebol nos serve mais uma vez como espelho da sociedade. Ainda que com desvios de conduta e moralidade, dizer “não” para os que tentam usar indiscriminadamente da sua paixão clubistica como instrumentos de manipulação é um tremendo golaço.

Aliado ao resultado do pleito para prefeitura, onde a sociedade paulistana aplicou um belíssimo chute nos fundilhos de quem tentava se aventurar onde não se deve ter aventureiros, mostra que de tanto apanhar a população vai aprendendo a lidar e a separar as coisas.  A validar sua condição de cidadão pensante.

Futebol, religião e política são sim assuntos que devem ser discutidos. Sempre. Só não podem ser misturados. Nunca.