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CORINTHIANS PAULISTA CONQUISTA LIBERTADORES DE FORMA IMPECÁVEL

Taticamente perfeito, eis a grande definição do novo campeão da América do Sul, Sport Clube Corinthians Paulista, para delírio de uma das maiores torcidas do mundo do futebol.

 

Capitão Alessandro ergue a tão esperada Taça Libertadores
Capitão Alessandro ergue a tão esperada Taça Libertadores

A tão esperada Copa Libertadores foi conquistada nesta quarta-feira frente ao tradicional Boca Juniors argentino através de vitória apoteótica por 2×0 no Estádio do Pacaembu, São Paulo, com dois gols do predestinado e vitorioso Emerson Sheik aos 8 e 27 minutos do 2º tempo. Conquista com campanha invicta do Todo Poderoso Timão de Parque São Jorge.

Contar a saga corintiana rumo ao topo é algo que requer breve viagem ao passado recente do clube mais popular do Brasil juntamente com o Flamengo.

Em 2007, o Corinthians conhecia seu pior momento ao ser rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro. Tragédia e dor que se transformaram em fonte de ressurgimento.

No ano seguinte, já sob comando do técnico Mano Menezes, o retorno à elite do futebol nacional tornara-se realidade com a conquista do 1º lugar na Série B.

Em seguida, era a vez de uma das maiores apostas do clube: a articulação e chegada do craque multimídia Ronaldo Nazário. Aposta que revelar-se-ia bem sucedida com a entrada de investidores e patrocinadores e com o Fenômeno correspondendo em campo.

Aquele ano de 2009 marcaria o retorno às grandes glórias corintianas, com a conquista do campeonato estadual e, principalmente, a Copa do Brasil.

Gozando de enorme influência política no tapetão, além do saneamento financeiro graças à descoberta do gigantesco potencial mercadológico do clube, o Corinthians tornava-se uma superpotência de fato no futebol brasileiro. Mano Menezes deixava o clube rumo à Seleção Brasileira pós fiasco da Era Dunga na Copa do Mundo da África do Sul em 2010. Chegava em seu lugar outro gaúcho, Adenor Bacchi, o Tite.

Mas ainda faltava algo que ratificasse toda a alavancagem pela qual o clube passava. Lacuna que se chamava projeção internacional, ainda que pese a conquista do 1º Mundial de Clubes da FIFA em 2000. Tal projeção seria conquistada via certo torneio em formato de copa que se chama Libertadores da América, a principal competição de clubes promovida pela CONMEBOL, já devidamente vencida pelos três principais rivais locais. Algo que aumentaria demais a cobrança pelo título.

A perda inesperada do título brasileiro de 2010 seria negativa, mas não por completo, afinal a classificação para a edição seguinte do torneio continental estava garantida, no entanto com obstáculo extra pelo caminho, a Pré-Libertadores.

Pequeno obstáculo que representaria sério tropeço nas pretensões corintianas, a eliminação precoce contra o modesto Tolima em 2011, que teria efeito de furacão no clube, culminando com a saída do consagrado Roberto Carlos e a aposentadoria de Ronaldo.

Se a saída de cena do Fenômeno poderia representar perdas de marketing para o clube, os benefícios revelar-se-iam fundamentais para o time dentro de campo.

A partir daí, Tite começaria a atingir seus objetivos, colocando suas ideias de jogo em prática. O elenco favorecia a mudança. Sem mais estrelismos, todos trabalhando como verdadeiros operários incansáveis dentro de campo. Estava formatado o Corinthians forte, tático, incansável na marcação, sem falhas de posicionamento em campo, roubador de bola e saindo para o jogo com velocidade. Artigos raros no indisciplinado futebol tupiniquim.

Em dezembro de 2011, o primeiro grande fruto colhido por Tite e seus comandados, a conquista do Campeonato Brasileiro. Quis o destino que fosse no dia do falecimento de Sócrates Brasileiro, craque histórico do clube e da Seleção, um dos grandes símbolos da Democracia Corintiana dos anos 80. Tudo isso contra o maior rival, o Palmeiras.

Era chegada nova oportunidade na Copa Libertadores em 2012.

Desta vez, mais calejada, sem astros medalhões, lá ia o esquadrão de Adenor Tite rumo a nova aventura continental.

E havia algo de diferente no ar. Algo que ficou evidente desde o início da saga vitoriosa corintiana contra o Deportivo Táchira na Venezuela quando o Timão obteria bom empate por 1×1 marcando nos acréscimos.

O jogo do time era forte, consistente, concentrado e quando nada mais adiantava, eis que o fator sorte de campeão, inerente a todos eles e, portanto, sem demérito algum, entrava em campo. Que o digam Diego Souza e seu Vasco da Gama, ou Cvitanic e seu Boca Juniors na partida de ida em Buenos Aires. Gols incrivelmente perdidos pelos adversários.

E veio a perna final de São Paulo contra o tradicionalíssimo Boca Juniors.

Após o 1×1 consagrador para o jovem Romarinho, o Corinthians chegava com esperanças elevadas ao epílogo, sem jamais esquecer ou subestimar o histórico bem sucedido dos xeneizes de conquistas em terra brasilis.

Mas o que se viu novamente no Pacaembu foi uma equipe aplicadíssima taticamente. O Boca foi inoperante.

A epopeia corintiana teria final brilhante em questão de tempo.

 

Emerson Sheik: herói eterno
Emerson Sheik: herói eterno

E a glória veio com os pés de um predestinado, Emerson Sheik. Atleta megacampeão. Flamengo, Fluminense e agora o segundo e mais importante título pelo Corinthians Paulista. Além de competente, Sheik possui a estrela dos vencedores do mundo da bola. Seus dois gols o alçam à condição de eterno herói corintiano, assim como Basílio pelo feito de 1977 (tirando o Corinthians de longa fila sem títulos) ou Tupãzinho em 1990 (dando ao clube o primeiro título brasileiro, base 1971).

E a nação corintiana comemora seu título tão desejado em 4 de julho. Data que coincide com o Aniversário dos Estados Unidos da América, a Independência. Pois é o 4 de julho da independência da Nação Corintiana frente ao estigma, ao monstro do fracasso da Copa Libertadores.

Que o Dia da Independência seja também lembrado, por corintianos ou não, como o dia em que o futebol brasileiro deixou de engatinhar em matéria de disciplina tática, necessário sim no futebol moderno e altamente competitivo, quesito em que o jogo local fica devendo, e muito, em relação à Europa.

E que venha o Mundial de Clubes da FIFA e o provável confronto contra o Chelsea FC inglês. Eis o verdadeiro topo para Tite e seu obstinado e vencedor grupo de guerreiros alvinegros.

Para encerrar, nada melhor que recitar o simpático mantra que se espalhou pela cidade afora há muito: “Vai Corinthians”!

O HISTÓRICO DE CORINTHIANS VS. BOCA JUNIORS NA LIBERTADORES

A poucas horas do início do confronto mais importante na história do Corinthians contra o Boca Juniors pela Copa Libertadores, nada como rever o histórico deste confronto na grande competição sul-americana de clubes.

 

José Ferreira Neto, grande astro do time do Corinthians em 1991, esforçou-se para reverter placar adverso no Morumbi

Os confrontos diretos entre ambos não é extenso. Além da partida de ida desta final, terminada em 1×1 em Buenos Aires, a história registra apenas duas outras partidas válidas pelo torneio, realizadas em 1991, mais exatamente pela fase oitavas-de-final.

Além da Libertadores, houve dois confrontos oficiais pela extinta Copa Mercosul quando o Boca derrotou o Corinthians por 3×0 em Buenos Aires seguido de empate por 2×2 no Brasil.

Voltando ao que interessa, na Copa Libertadores de 1991, os representantes brasileiros eram Corinthians (campeão brasileiro em 1990) e Flamengo (campeão da Copa do Brasil também em 1990).

Na fase de grupos, Flamengo e Corinthians disputaram duas vagas no grupo 3 que também contava com Nacional e Bella Vista do Uruguai. No final, o Flamengo levaria o 1º lugar com 9 pontos e o Corinthians conseguia a 2ª vaga com 6.

Posição que fez o Corinthians ter que encarar o temível Boca Juniors nas oitavas-de-final.

Naquela época, o Timão contava com a base campeã brasileira de 1990 com destaques para José Ferreira Neto, principal jogador daquela equipe, e para Nelsinho Baptista, técnico que conduzira o clube a seu primeiro título brasileiro (desde 1971).

 

BOCA JUNIORS 3×1 CORINTHIANS

17/4/1991

Buenos Aires, Argentina

No dia 17 de abril, Boca Juniors e Corinthians entravam em campo no mítico estádio La Bombonera de Buenos Aires para disputar a 1ª perna da chave eliminatória.

Aquelas oitavas-de-final tinham nomes que ressoam até hoje no mundo da bola, seja positiva ou negativamente.

Cortes de cabelo mullets imperavam entre os boleiros e o Boca Juniors contava com um certo Gabriel Batistuta que daria o que falar. Graciani seria jogador fundamental para o time argentino contra os brasileiros. Além deles, o treinador xeneize era Oscar Tabárez, atual treinador da Seleção Uruguaia.

Já no Corinthians, o destaque para a primeira partida era a ausência do meia Neto e o jogador Guinei que falharia em lances capitais da partida. Outros destaques eram o goleiro Ronaldo Giovanelli e Paulo Sérgio (futuro campeão do mundo pela Seleção Brasileira em 1994).

O Boca jogaria com Navarro Montoya, Sonora, Simon, Marchesini (Rabina) e Moyá, Pico, Giunta, Apud (Stafuza) e Latorre, Graciani, Batistuta. O técnico era Oscar Tabárez.

O Corinthians foi a campo com Ronaldo, Giba, Marcelo, Guinei (Édson) e Jacenir, Márcio, Jairo e Tupãzinho, Fabinho, Dinei e Paulo Sérgio (Viola). Técnico: Nelsinho Baptista.

No estádio, como de praxe, estava Diego Maradona, na época ainda jogador do Napoli e suspenso pela FIFA por 15 meses devido a doping.

Nelsinho Baptista havia feito os jogadores entrarem em campo para aquecimento cerca de meia hora antes do início do jogo com o intuito de fazê-los se acostumar com a pressão da torcida contrária.

A tentativa do treinador corintiano, apesar de louvável, foi ineficaz. O time demonstrou muita garra, mas Guinei teve noite infeliz. O Boca venceria por 3×1 com gols de Graciani aos 11 minutos após Guinei tropeçar sozinho ao tentar fazer a cobertura, Giba empatando de pênalti aos 40 minutos, Gabriel Batistuta fazendo o segundo também de pênalti aos 5 minutos do 2º tempo e voltando a marcar o gol final após nova falha de Guinei aos 29 minutos.

Confira alguns lances da partida.

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=cV4DUFfjANM[/youtube]

 

CORINTHIANS 1X1 BOCA JUNIORS

24/4/1991

São Paulo, Brasil

Após os 3×1 de Buenos Aires, a situação corintiana na Libertadores tornava-se difícil. Tirar a diferença no placar agregado contra uma equipe talentosa e tarimbada era missão inglória.

O goleiro Ronaldo Giovanelli no Morumbi sob chuva na partida de volta contra o Boca Juniors

Mas, nem por isso o torcedor corintiano desanimou e sob um Morumbi chuvoso, no dia 24 de abril, lá estavam mais de 65 mil fiéis para empurrar o Timão.

Neto voltava à equipe e a única saída corintiana era marcar o mais rapidamente possível. Algo que não aconteceu.

O Corinthians começaria com Ronaldo, Giba, Marcelo, Guinei (Édson) e Jacenir, Márcio, Wilson Mano e Neto, Fabinho, Tupãzinho (Dinei) e Paulo Sérgio. Técnico: Nelsinho Baptista.

O Boca tinha a seguinte escalação: Navarro Montoya, Sonora, Simon, Marchesini e Moyá, Pico, Giunta, Apud e Latorre (Abranovic), Graciani (Tapla) e Batistuta. Técnico: Oscar Tabárez.

O astro do time, Neto, teve as melhores oportunidades na 1ª etapa, inclusive com suas jogadas de bola parada. Mas, para desespero da fiel torcida, o jogo continuaria no 0x0.

Veio o 2º tempo, e com ele nova infelicidade de Guinei. O defensor corintiano escorregaria e Graciani ficaria livre para avançar e marcar aos 18 minutos.

O empate corintiano viria 10 minutos mais tarde com chute de Paulo Sérgio e falha do goleiro Navarro Montoya.

Insuficiente para o Corinthians, placar final 1×1 e Boca Juniors classificado.

Veja como foi.

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=zvP87dpoBlM[/youtube]

 

 

Não era a primeira Libertadores do Corinthians, mas foi a primeira grande lição que o time de Parque São Jorge aprenderia a respeito do torneio. Seguramente, parte da bagagem que faz o clube chegar aonde chegou neste ano de 2012.

O resto da história contou com o Boca Juniors eliminado mais adiante nas semifinais contra o Colo-Colo. A equipe chilena sagrar-se-ia campeã naquele ano em final contra o Olímpia paraguaio.

História dos confrontos diretos entre Corinthians e Boca Juniors que hoje poderá escrever a revanche corintiana contra os algozes de 1991.