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COPA NÃO REDUZ A POBREZA DOS PAÍSES POR ONDE PASSA, DIZ PESQUISA SUL-AFRICANA.

Por Andrea Dip
Segundo artigo do Human Sciences Reserch, megaevento de 1994 nos Estados Unidos gerou prejuízo entre $5,5 e $ 9,3 bilhões de dólares para as cidades sede

Preocupado com o rumo que os preparativos para Copa do Mundo no Brasil em 2014 têm tomado, o jornalista e documentarista Rudi Boon – autor do documentário “A FIFA manda” sobre a Copa de 2010 na África do Sul, que o Copa Pública mostrou – nos mandou uma série de estudos e documentos sobre os impactos dos megaeventos nos países onde ocorreraram. O primeiro, “Megaeventos como resposta para a Redução da Pobreza: A Copa de 2010 da FIFA e suas implicações no desenvolvimento da África do Sul” que apresentamos hoje, foi realizado por pesquisadores do instituto sul-africano Human Sciences Reserch (Conselho de Pesquisa em Ciências Humanas), na época em que o país se preparava para receber a Copa de 2010. Baseando-se na documentação de outros pesquisadores a respeito do legado da Copa em alguns países, o artigo defende que é praticamente impossível que a pobreza seja reduzida com a chegada de um grande evento e que os benefícios propagandeados pelos governos como projetos de mobilidade urbana e aumento do número de empregos são pouco funcionais, efêmeros e concentrados em pequenas áreas, e que muitas vezes acabam gerando crises e prejuízos ainda maiores para os países anfitriões. O exemplo mais chocante usado no texto, citando um estudo recente feito por Robert Baade & Victor Mathesondois, pesquisadores americanos, talvez seja o da copa de 1994 nos Estados Unidos, que teria gerado um prejuízo entre $5,5 e $ 9,3 bilhões de dólares para as cidades sede, ao invés do lucro estimado em 4 bilhões.

Expectativa

O texto começa explicando que o anúncio da Copa na África do Sul gerou muita expectativa, já que seria o primeiro grande evento em todo o continente. Na época, o presidente Thabo Mbeki, anunciou que aquele não seria apenas um evento sul-africano mas de toda a África. Além disso, o país passava por um momento de reconstrução e a Copa seria o “empurrãozinho” que faltava para o investimento no crescimento das cidades. Já nesta introdução, os autores alertam que em muitos países que receberam o megaevento, o que se viu como consequência da passagem da FIFA foram graves crises para as economias nacionais, geradas pelo grande volume de investimentos estatais – exatamente como está sendo feito no Brasil, como o ministro do TCU admite nesta entrevista. A preocupação dos pesquisadores, no caso da África do Sul, era com um crescimento muito rápido porém desordenado e desigual. Havia na época expectativa de crescimento de 65% em cinco anos, porém apenas nas cidades com maior concentração  de PIB e ainda assim de forma díspare, com muitos investimentos em áreas nobres e poucos investimentos nas áreas pobres. Isto também já pode ser visto no Brasil, como mostram os dossiês “Mega-eventos e violações de Direitos Humanos no Brasil” e Megaeventos e violações dos direitos humanos no Rio de Janeiro”

Desta forma, afirmam os pesquisadores, este crescimento é colocado como um “desafio”, pouco importanto se o país ou as cidades sede têm de fato a possibilidade de investir tanto em um megaevento.

As promessas feitas para a África do Sul também eram muito parecidas com as feitas por aqui, segundo o documento: “Em primeiro lugar, o megaevento é colocado como um catalisador para melhorar a condição de vida das pessoas historicamente desfavorecidas. Sugere um novo sistema de transporte público e uma agenda significativa de desenvolvimento, com promessas de geração de emprego”.

O que se viu, segundo esta entrevista com Eddie Cottle, autor do livro “Copa do Mundo da África do Sul: um legado para quem?” foi bem diferente disso: “O número de postos de trabalho foi estimado em 695.000 para os períodos pré e durante a Copa do Mundo. E o que aconteceu na realidade? No segundo trimestre de 2010, as taxas de empregabilidade diminuíram em 4,7%, ou seja, perdemos 627.000 postos de trabalho. No setor da construção civil, onde se tinha a sensação de que os ‘bons tempos’ seriam sentidos por todos, o emprego diminuiu 7,1% (ou 54.000 postos de trabalho) neste período. Na verdade, o ano de 2010 testemunhou com menos 111.000 postos de emprego na construção”

Outras Copas

O texto coloca que um dos pontos mais criticos em sediar um megaevento é a dívida que se cria ao deslocar recursos públicos que iriam para necessidades básicas das cidades – como saneamento, transporte público, educação, etc. – para estádios e obras específicas de mobilidade. Como exemplo, usa a Copa de 1994 nos Estados Unidos: “Estudos mostram que ao invés do lucro de 4 bilhões esperados com o megaevento, as cidades sofreram perdas que variaram entre $ 5,5 e $ 9,3 bilhões”. E continua: “Em Barcelona, o que se viu depois das Olimpíadas de 1992, foi um aumento significativo do custo de vida [de 20%, segundo pesquisa da Universidade Autônoma de Barcelona]. A cidade também sofreu com o desemprego, porque foram criados muitos postos temporários, com baixos salários. Com o fim do evento, havia uma massa de desempregados. Nas Olimpíadas de Montreal (1976) além do desemprego, a cidade sofreu com o corte de investimentos em áreas essenciais. Com isso sofrem os pobres, que são os que menos aproveitam os megaeventos”. Em Atlanta, após as Olimpíadas de 1996, o que ficou, segundo o artigo, foi um projeto de mobilidade urbana que não ajudou os cidadãos.

Despejos

“Estima-se que as Olimpíadas de 1988 em Seul resultou no despejo de 700.000 pessoas. Para os Jogos Olímpicos de Pequim, 300.000 foram expulsos de suas casas” diz o artigo. Em 2010, a ONU também fez um levantamento a respeito destes despejos, como a relatora especial da ONU para a moradia adequada, Raquel Rolnik, escreveu em seu blog em 2010: “Em Seul, em 1988, a Olimpíada afetou 15% da população, que teve de buscar novos locais para morar – 48 mil edifícios foram destruídos. Em Barcelona, em 1992, 200 famílias foram expulsas para a construção de novas estradas. Em Pequim, a ONU admite que 1,5 milhão de pessoas foram removidas de suas casas. A expulsão chegou a ocorrer em plena madrugada. Moradores que se opunham foram presos”.

Dinheiro público, beneficio privado

No Japão, estádios e espaços construídos com dinheiro público para a Copa do Mundo de 1992 foram parar nas mãos da indústria do entretenimento, que hoje os usa para espetáculos e jogos privados com ingressos caros, segundo o documento. Caso semelhante aconteceu no Rio de Janeiro: criada para sediar jogos do Pan-americano de 2007, a Arena Olímpica, que depois foi renomeada de HSBC Arena, hoje é administrado pelo HSBC e sedia eventos e espetáculos de empresas privadas.

Migração e desemprego

Para os pesquisadores, com pouco ou nenhum recurso sendo destinado às cidades que não sediarão os jogos, muitos migram destes lugares, atrás da oferta de empregos temporários gerados pelos megaeventos. Quando o trabalho temporário acaba, estas pessoas tendem a não voltar para suas cidades de origem, engrossando a massa de desempregados nas cidades. Este processo é agravado pelo aumento do custo de vida e pelos baixíssimos salários, que muitas vezes não permitem que estas pessoas voltem as cidades de origem.

 

MARACA NOSSO OU MARACA DELES?

Por Ciro Barros

O Maracanã ainda é o nosso Maraca? A pergunta martela a cabeça do torcedor acostumado a frequentar “o maior do mundo” e que assiste aflito às reformas que transformam o estádio para sediar a Copa do Mundo de 2014.

O futuro do estádio mais querido do Brasil também inquieta a torcida, depois da decisão do governo do Rio de entregá-lo à administração privada pelos próximos 20 anos.

Não é a primeira vez que o Maracanã muda de cara – essa é a terceira reforma em treze anos – mas agora os setores populares da arquibancada perderam espaço. Desde abril de 2005, quando o estádio foi fechado para a reforma do Pan-Americano, a geral, o tradicional espaço popular do estádio, foi extinta e o campo rebaixado um metro e meio. No novo projeto, é preciso espremer os olhos para procurar os lugares populares.

Por isso, há alguns dias, torcedores e movimentos sociais integrantes da campanha “O Maraca é nosso”, realizaram um apitaço em frente ao prédio do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, com a intenção de garantir assentos em setores populares e barrar a privatização do estádio, enquanto o Brasil era derrotado pelo México, por 2 a 0.

Cobiçado pela iniciativa privada, o estádio, que foi construído e sucessivamente reformado com dinheiro público, é alvo do onipresente Eike Batista, depois que a Delta Construções, de Fernando Cavendish, amigo pessoal de Cabral, teve que deixar o comando da empresa após denúncias de envolvimento nos esquemas de corrupção de Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal. Em seu blog, o jornalista Juca Kfouri, deu detalhes da transação: “A empresa IMX, de Eike Batista, foi a única a apresentar estudo de viabilidade econômica para assumir o controle do estádio. Dados do TRE confirmam que Eike Batista doou 750 mil à campanha de Sergio Cabral ao governo do estado, em 2010; segundo o jornal Folha de S. Paulo, o empresário anunciou ainda a doação de cerca de 139 milhões a projetos de interesse de Cabral”.

DINHEIRO PÚBLICO A RODO 

O volume de dinheiro público já investido na polêmica reforma reforça o questionamento sobre a privatização – $ 808 milhões de reais, de acordo com o último balanço do Governo Federal. Somadas às anteriores – para o Mundial de Clubes da Fifa foram, à época, R$ 106 milhões de reais, e para os Jogos Pan-Americanos de 2007, R$ 304 milhões, já com a justificativa de adaptá-lo às exigências da Fifa para a Copa 2014. Somando as três reformas e atualizando os valores, R$ 1,442 bilhão de reais saíram dos cofres públicos para essas obras, segundo levantamento feito pelo jornalista João Carlos Assumpção em conjunto com o economista Francisco Pessoa.

Tudo isso sem debater com a sociedade os rumos das mudanças que atingem o estádio mais querido do Brasil, mesmo fora do Rio de Janeiro: o Maracanã é um patrimônio histórico, arquitetônico e cultural brasileiro – cuja cobertura é inclusive tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Por isso o Copa Pública reuniu um time de aficionados pelo estádio para falar sobre sua relação com o “maior do mundo” e o que pensam dessa situação. Dos jornalistas esportivos como Mauro Cezar Pereira e Lúcio de Castro ao geógrafo norte-americano e membro da Associação Nacional de Torcedores (ANT), Chris Gafney, passando pelo capitão da mítica Seleção Brasileira de 1970, Carlos Alberto Torres e o integrante do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas que participou do apitaço em frente a casa de Cabral Gustavo Mehl. Sem esquecer de entrevistar um torcedor que mostra a que ponto chega a paixão pelo Maraca: Luiz Antonio Simas, mestre em História Social pela UFRJ, que escolheu seu primeiro apartamento pela proximidade do estádio, tamanha sua afeição.

AMOR

“A minha relação com o Maracanã é intensa e cheia de boas lembranças”  diz de cara o ex-jogador Carlos Alberto Torres. “Foi onde eu joguei profissionalmente pela primeira vez, no Fluminense, em 63, onde conquistei meu primeiro título profissional como jogador (64) e como treinador (83). E é também o lugar onde eu fiz a minha estreia na Seleção Brasileira. Só me traz boas lembranças”.

Do outro lado, na arquibancada, o historiador apaixonado Antonio Simas, sonhava com o dia em que iria morar perto do Maraca: “O Maraca é uma referência de infância, das minhas relações de afeto familiar. E lá eu vi os jogos mais inacreditáveis. Até pelada de garçom eu vi no Maracanã” define. “Quem mora aqui no Rio procura um apartamento próximo à praia, mas com sinceridade um dos critérios que eu usei para comprar um apartamento foi ele ser perto do Maracanã.”

Já para os jornalistas Lúcio de Castro e Mauro Cezes Pereira, trabalhar com esporte foi consequência de um amor quase religioso ao estádio: “Mal comparando, era a igreja que eu frequentava nos fins de semana. Eu tenho amigos até hoje que conheci no Maracanã, na arquibancada, na geral …” explica Mauro Cezar. Lúcio de Castro completa: “O Maracanã encerra alguma das minhas maiores lembranças. Tardes de domingo, o ritual da passagem com o pai, os bons amigos juntos, um dos mais caros pedaços de minha identidade e memória. A síntese de uma cidade que é a formadora da minha alma e identidade.”

Gustavo Mehl, do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas que participou do apitaço em frente a casa de Cabral vai além e diz que se não fosse o Maracanã, hoje seria uma pessoa bem menos interessante: “Eu e alguns amigos costumamos dizer que somos formados no estádio de futebol. Nas arquibancadas do Maraca dividi espaço e me relacionei com o mais pobre e o mais rico, o mais velho e o mais novo, reconheci pessoas e atitudes amigáveis e outras desprezíveis. Ali tive lições incríveis sobre nossa cultura e nossa forma de se comunicar, se relacionar, criar vínculos. Foi no Maracanã e em São Januário, não tenho dúvidas, que aprendi a me identificar como brasileiro, como carioca, como torcedor, como vascaíno, como pessoa. Como o filho do meu pai, meu companheiro no estádio. Se não fosse o Maracanã, hoje eu seria outra pessoa, certamente bem menos interessante”.

MAIOR DO MUNDO

Para Luiz Antonio Simas, falar sobre a importância do Maracanã para o Rio e para o Brasil é mais fácil quando a gente pensa na importância do próprio futebol para o povo brasileiro:”A gente tem que entender que o futebol para o Brasil tem uma dimensão muito grande. Nós somos um país que tem um passado escravocrata, um país com dificuldades sociais, e o futebol foi um dos meios que as camadas populares conseguiram pate obter uma ascensão. Então acaba sendo um traço de identidade nacional. O futebol aqui acaba sendo uma coisa que vai além do jogo. E o Maracanã é um ícone da cidade do Rio de Janeiro. Ele está tão entranhado na cidade, é uma referência tão grande, que parece que é um elemento da natureza do Rio como a praia”.

Gustavo Mehl engrossa o coro: “O Maracanã já não era um estádio: era um monumento vivo da cidade, patrimônio de todos os cariocas, espaço mítico e sagrado onde milhões de brasileiros de diversas gerações passaram algumas das experiências mais fortes de suas vidas. Demolir o cimento daquelas arquibancadas, da antiga geral, remover as velhas cadeiras, foi como demolir a memória de nosso povo, de nossa gente”.

“Quando o Maracanã foi imaginado, ele iria representar a democracia brasileira” compara Chris Gafney. “A forma mítica, a grandeza e a monumentalidade do estádio representavam um país emergente, se industrializando, entrando em democracia a todo vapor, na década de 50. Ao longo do tempo, o estádio figurava como um lugar público, popular e abria suas portas para outro mundo. Um dos poucos lugares da cidade onde o rico e o pobre se misturavam, se tocava, se gritava junto”, explica o geógrafo.

REFORMA

A paixão dos aficcionados pelo estádio se transforma em indignação quando o assunto é o tanto de reformas que ele tem sofrido nos últimos 13 anos. E alguns nem são totalmente contra elas, mas contra a forma com que foram conduzidas, como Mauro Cezar Pereira: “Determinadas transformações pelas quais o estádio passou eram necessárias porque são novos tempos, questões de segurança, que, de fato, por mais marcantes que fossem aqueles públicos monumentais de quase 200 mil pessoas, era evidente que aquilo não era seguro. Mas não a ponto de fazerem o que fizeram, que é uma descaracterização quase que total do estádio. O Maracanã está sendo violentado de uma maneira que desrespeita inclusive a própria história. E aí quem mostra como as coisas devem ser feitas são os alemães, que passaram antes da Copa de 2006 pelas pressões que o Brasil passou.”  Ele lembra que houve pressão por parte da Fifa para  descaracterizar o Estádio Olímpico de Berlim, mas que os alemães não se curvaram a isso: “Fizeram reformas e modernizaram o estádio. Mas você vai lá dentro e vê que aquela escadaria atrás dos gols, onde ficou a pira olímpica, onde aconteceu aquela cena marcante do Hitler em 1936 se recusando a cumprimentar atletas negros medalhistas de ouro. E olha que a Fifa até quis fechar aquele anel com alegações do tipo: ‘lembra o nazismo’. O estádio preserva traços originais. E vale lembrar que há estádios que foram usados por exemplo na Copa de 2010, na África do Sul, que não eram melhores que o Maracanã, como o Ellis Park.”

Chris Gafney acredita que o novo Maracanã deve representar a nova forma de mercantilizar a cultura: “O Maracanã é um sítio de conflito nas representações agora. Acho que o governo quer representar o Brasil para o mundo afora como um país ‘civilizado’. Então tem que ter a torcida comportada, tem que ter cadeira cativa, tem que ter camarote, ar condicionado, sala VIP…  Estamos pagando pelo estádio três, quatro vezes e por isso vamos ter que pagar ingressos mais caros, e também a manutenção é mais cara no estádio. O povo está sendo abusado nesse sentido, está sendo afastado de seu lugar popular e proibido de participar de sua cultura futebolística.”

“O crime é ainda mais violento porque é feito sem qualquer processo de consulta pública e participação popular, ignorando completamente os torcedores, que são os verdadeiros donos do estádio” acrescentaGustavo Mehl. “Impor cadeirinhas acolchoadas em todo o estádio, com lugares marcados, impossibilitando de assistirmos ao jogo onde e como quisermos, é o mesmo que matar um século de história e de desenvolvimento de nossa cultura, em nome de uma perspectiva de assistência europeia dos jogos”.

PRIVATIZAÇÃO

“Assim é fácil ser empreendedor! O Estado banca os custos e quando tudo estiver pronto, entrega-se para a iniciativa privada. Assim eu também escrevo um livro dando conta do belo empreendedor que sou, um midas.” Reflete Lúcio de Castro sobre a possibilidade de o estádio ser privatizado.

Luiz Antonio Simas  lembra que o Maracanã não é apenas um estádio: “O Maracanã tinha um projeto ligado à utilização como espaço público, por exemplo, tem um parque aquático, o Parque Júlio De Lamare, tem uma pista de atletismo, você tem um projeto social ligado ao Estado de permitir à população de baixa renda fazer atletismo, fazer natação de graça, e você está usando um bem que foi construído e reformado com dinheiro público para preparar isso e entregar à iniciativa privada. Qual é o retorno disso?”

Chris Gafney é mais sucinto: “O governo quer privatizar o estádio e dá-lo ao Eike Batista. Esse é um abuso de dinheiro público.”

“Aí vão dizer: ‘Ah, mas o Estado não pode administrar um equipamento tão caro’. Então por que faz a obra? ‘Ah, mas a Fifa exigiu’. Mas por que a gente tem que se curvar à Fifa? ‘Ah, então não teria Copa do Mundo aqui no Brasil’. Então não vamos ter Copa do Mundo no Brasil. Eu posso querer comprar uma Mercedes conversível não posso?” questiona Mauro Cezar Pereira.

Gustavo Mehl acredita que há interesses políticos poderosos envolvidos nesta questão: “A começar pelos interesses dos grupos empresariais da construção civil. Não é coincidência que a Delta, empreiteira do amigo pessoal do governador, denunciada no esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira, estivesse no consórcio construtor do novo Maracanã. Outros grupos também serão beneficiados pelo modelo oligopolista de controle de camarotes e espaços VIPs. As empresas são donas destes espaços e distribuem os ingressos de acordo com seus interesses”.

E O POVO? 

Chris Gafney lamenta que os movimentos sociais tenham demorado para começar a agir: “Quando anunciado que o Brasil sediaria a Copa, em 2007, era o momento de começar a agir. Em 2007 e 2008, quando estava sendo planejado o projeto olímpico era o momento para a gente vir à cena e não deixar a coisa rolar. Agora estamos vendo o que vai acontecer com o Maracanã  ficamos chocados e estamos reagindo. Acho que o problema é o seguinte: as pessoas não querem entender o futebol, o ato de torcer, como uma coisa política porque não queremos politizar nosso lazer, nossas próprias identidades. Mas para mexer com o futebol e suas estruturas, para humanizar o futebol de novo temos que politizar nossos atos de torcer.”

Os novos donos de Curitiba?

Via Agência Pública: http://apublica.org/2012/05/os-novos-donos-de-curitiba/
Comitê Popular denuncia acordo em Curitiba para construir estádio que dá à empresa privada direito de usar como garantia bens do próprio Estado.
Por Andrea Dip

O convênio entre poder público e a CAP/SA – empresa que pertence  ao Atlético Paranaense – para a reforma da Arena da Baixada, o estádio do clube que receberá jogos da Copa de 2014 em Curitiba, está sendo contestado pelos movimentos  populares. Por esse acordo, parte dos R$ 185 milhões previsto para as obras seria emprestada pelo Estado do Paraná e parte doada pela prefeitura, que concedeu à empresa ligada ao clube 90 milhões de reais em títulos de potencial construtivo.

Através desse instrumento,  a CAP/SA pode vender a empreiteiras, imobiliárias, construtoras e quem mais tiver dinheiro para comprar, o direito de construir além dos limites previstos nas leis federais e municipais. Por exemplo: se em determinado bairro, o limite para a construção de um prédio é de três andares, com o uso dos títulos da Outorga ele poderá ter cinco.

Em entrevista, Julia Franzoni, assessora jurídica da Organização Terra de direitos, e membro do Comitê Popular da Copa de Curitiba, explica os pormenores do acordo, as consequencias que pode trazer para a população e para a cidade, e os motivos que provocaram a nota de repúdio do Comitê Popular da Copa de Curitiba, lançada recentemente.

Leia até o fim e segure o queixo no lugar:

Por que o Comitê soltou esta nota de repúdio?

Porque saiu uma matéria no jornal Gazeta do Povo dizendo que a CAP/SA, que é a empresa que está administrando a reforma da Arena da Baixada, solicitou mais 30 milhões de reais do fundo estadual para as obras, além da verba prevista no convênio. E a notícia dizia que o Mário Celso, que é o secretário especial do Estado para assuntos da Copa e que também é do conselho do Atlético Paranaense, da diretoria do clube, manifestou a impossibilidade de pagar estes empréstimos. Inclusive o Tribunal de Contas do Estado suspendeu o repasse de verbas estaduais. Na verdade toda a engenharia prevista neste convênio já vem sendo criticada pelo comitê há algum tempo.

O que há de errado neste convênio? O que é o potencial construtivo que está sendo utilizado como moeda para arrecadar dinheiro para as obras?

Existe no Estatuto da Cidade, que é a lei federal que regulamenta a política urbana, um instrumento que se chama Outorga Onerosa do Direito de Construir, popularmente conhecido como solo criado. Isto também está previsto no plano diretor de Curitiba. É um mecanismo que permite construir acima dos índices previstos na lei de uso e ocupação. Por exemplo: segundo a lei, você pode construir três andares. Se você compra o solo criado junto à prefeitura, você pode construir mais dois. Toda esta operação é regulamentada pela legislação. O Plano diretor de Curitiba prevê este instrumento e cada operação de compra tem que ser acordada junto ao município. Isso tem que ser visto caso a caso porque depende da infraestrutura que tem cada bairro, cada região. Quando você constrói a mais do que o permitido, você aumenta a demanda por transporte público, água, luz, etc. O que aconteceu no estádio do Atlético foi que a prefeitura doou até 90 milhões em potencial construtivo para ser usado em parte como garantia ao próprio Estado pelo repasse de fundos públicos e também para vender para construtoras, imobiliárias, empreiteiras, etc. fazerem seus empreendimentos.

Então o título é vendido pela CAP/SA a qualquer um?

Sim. A prefeitura fez um convênio junto ao Estado do Paraná e a CAP/SA dizendo que a reforma seria financiada parte por um empréstimo que sairia do fundo estadual e da prefeitura, que cederia até 90 milhões em potencial construtivo. A prefeitura está dando um direito da CAP/SA usar esta ferramenta como forma de ganhar dinheiro, vender no mercado imobiliário. Isso constitui uma espécie de banco do direito de construir. Quem quer construir a mais não vai mais procurar a prefeitura e comprar o direito como está previsto no plano diretor de Curitiba.  Pior: ao que tudo indica, o potencial construtivo está sendo negociado sem levar em conta contrapartidas sociais exigidas por lei. Toda operação deve ser seguida desta contrapartida porque quando você cria solo a mais, você aumenta a demanda por infraestrutura urbana. A lei de Curitiba prevê exatamente essa contrapartida que é, por exemplo, investimentos em unidades habitacionais, preservação de patrimônio histórico etc. Essa doação não foi seguida de um estudo de impacto. Onde estes títulos vão ser utilizados? Quais serão os impactos? As contrapartidas que foram previstas no convênio nem podem ser consideradas sociais! Elas vão desde a concessão de camarotes para o governo do Estado do Paraná e para a prefeitura, até intensificar as atividades da escolinha do Atlético Paranaense. Não houve qualquer preocupação com os impactos sociais. Estes estudos já deveriam ter sido feitos no contrato e até hoje nada. Um pouco antes do convênio ser firmado, houve uma audiência pública na qual a sociedade exigia este estudo. E até agora não foi feito.

Vocês já sabem de alguma concessão que já tenha sido vendida?

Não, o que a gente sabe é que parte delas foi usada como garantia para o empréstimo feito pelo Estado. É muito bizarro: O estado do Paraná faz um empréstimo para a empreiteira. A empreiteira dá como garantia o potencial construtivo da prefeitura! O Estado está dando como garantia bens do próprio Estado! Não tem lógica. E você concorda que ceder camarotes no estádio não tem nada a ver com minimizar impactos de obras na cidade? Os riscos graves que nós estamos correndo são: que a CAP/SA constitua um verdadeiro banco de direitos de construir e que a população arque sozinha com as consquências destas construções.

Isto está acontecendo em outras cidades sede da Copa?

Sim. Porque parece que o potencial construtivo é uma fórmula mágica para ganhar dinheiro sem gastar nada. No Rio isto está acontecendo para a revitalização do Porto Maravilha e em Porto Alegre na construção do Estádio do Grêmio.

O que a gente está pedindo é que exista este estudo de impacto, que a gente saiba onde este potencial vai ser aplicado, como vai ser utilizado. Já deveria estar estabelecido, está previsto no convênio e não foi feito.

RJ: AS CASAS VÃO CAIR.

Por: Andrea Dip
No morro da Providência, casas continuam sendo marcadas e demolidas para a construção de um teleférico para turistas destinado à Copa do Mundo. Com aluguel social de 400 reais, as famílias que deixam suas casas não encontram onde morar. Por isso, muitas ainda resistem
A casa de Neusimar, trabalhadora autônoma que mora com a família de sete pessoas no Morro da Providência, no Rio de janeiro, está marcada com a sigla SMH (Secretaria Municipal de Habitação). Isso significa que ela vai cair. Todas as casas e prédios vizinhos já foram demolidos porque os moradores aceitaram o aluguel social oferecido pela prefeitura, no valor de 400 reais.

O morro vai sediar o projeto Porto Maravilha, com teleférico e plano inclinado para os turistas que virão para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 – como a Pública mostrou em janeiro. Por isso a comunidade tem sofrido remoções compulsórias.

Neusimar resiste porque não quer sair da casa onde sua mãe nasceu e cresceu com toda a família para um futuro incerto: “Onde vamos achar uma casa para alugar por  400 reais? Quem vai querer alugar uma casa para mim? Estou desempregada, minha mãe é doente, temos uma família grande. Não estamos aqui por teimosia, mas não vamos sair para ficar como as pessoas que a gente vê sair e ficar na rua porque não conseguem alugar nada” explica. Ela conta que sente a sua situação mais complicada a cada dia: “Está tudo no chão ao redor da minha casa, afetou a estrutura, agora estamos mesmo em situação de risco”.

Histórias como a dela são contadas no vídeo Morro da Providência, do coletivo #Entre Sem Bater, formado por alunos da Escola Popular de Comunicação Crítica (Espocc) – projeto do Observatório de Favelas que oferece a jovens e adultos, moradores de espaços populares do Rio de Janeiro, acesso a diferentes linguagens, conceitos e técnicas na área da comunicação. O mini documentário foi feito como um trabalho de conclusão de curso, mas o coletivo cresceu e os envolvidos continuam a pesquisar e documentar as remoções no Morro da Providência e outros lugares.

Além das remoções, o vídeo mostra os preparativos para a demolição da quadra do morro, onde eram feitos campeonatos de futebol e os ensaios da escola de samba da comunidade. Leo Dias, fotógrafo e integrante do Entre Sem Bater, conta que logo após a conclusão do filme a quadra foi abaixo e deu lugar à construção da torre do teleférico.

 

 

MINO CARTA CONTA A COPA DE 50: “A FIFA NÃO ERA ESTA COISA VERGONHOSA”

Mais uma matéria trazida ao Ferozes FC mediante parceria com a Agência Pública.

Por Andrea Dip

O jornalista e diretor de redação da Carta Capital cobriu o evento quando tinha 15 anos para veículos italianos: “O Brasil era o país ideal”

Em entrevista à Pública, o jornalista e diretor de redação da Carta Capital lembra a cobertura que fez aos 15 anos para veículos italianos sobre a primeira Copa depois da Segunda Guerra: “O Brasil era o país ideal”. Ali começaria sua longa carreira como jornalista.

Mino fala das muitas mudanças que ocorreram nesses 62 anos no mundo do futebol. A Fifa, por exemplo, não tinha nada a ver com esta de hoje, “que se tornou o que é graças a João Havelange, que, digamos, na Sicília estaria perfeito, dirigindo a máfia”.

E explica que apesar do “Maracanaço”, como ficou conhecida a dolorosa vitória do Uruguai sobre o Brasil no estádio com quase 200 mil pessoas, aqueles eram tempos tranquilos e felizes para o país.

Sobre a Copa de 2014, o jornalista não se mostra otimista. E dispara: “Mazelas mil. Porcarias variadas e mentiras… É uma floresta de enganos”. Senhoras e senhores, com a palavra, Mino Carta:

Você cobriu a Copa de 50 aos 16 anos. Foi seu primeiro trabalho? Como foi parar lá?

Na verdade, foi assim: meu pai detestava futebol e recebeu um pedido de jornais italianos para escrever uma série de artigos sobre a preparação para o Campeonato Mundial de 1950. Eu ainda tinha 15 anos, meu pai detestava o balípodo [futebol]. Me convocou e disse: “Olha, você que gosta dessa porcaria, você gostaria de escrever algo a respeito?”. Eu disse: “Quanto vale?”. Ele disse x e como esse x daria para encomendar um terno azul marinho num alfaiate de muita boa qualidade, eu disse “perfeito!”. Nesse tempo íamos aos bailes de sábado de terno e gravata. 

O terno azul era o objeto de desejo?

No meu caso, era o terno azul marinho. Então eu escrevi seis artigos sobre a preparação da Copa. Fui pago, fiz o terno azul marinho e depois quando vieram as equipes dos jornais para os quais eu tinha escrito– que, na verdade, eram dois jornais irmãos, um de Roma e outro de Gênova – o pessoal me usou como intérprete, como ajudante, como contínuo, mil coisas. 

A Fifa era menos exigente?

A Fifa não era essa Fifa, que se tornou o que é graças a um brasileiro ilustre que se chama João Havelange, que, digamos, é um concorrente do Totò Riina, do Provenzano. Ele na Sicília estaria perfeito, dirigindo a Máfia. A diferença é que ele está solto e Totò Riina e Bernardo Provenzano estão na cadeia. Esse Blatter é outro. Esse Ricardo Teixeira é outro. Aliás, aprenderam tudo com o João Havelange, que foi o autor desta Fifa vergonhosa. Agora, o campeonato de 1950 funcionou muito bem. Não houve problema algum. 

Foram construídos estádios na época?

O Maracanã. Basicamente, o Maracanã, que eu saiba. Eu me lembro porque São Paulo tinha o Pacaembu, que havia sido construído em 1942 e que era um estádio novo e bonito. O Pacaembu aguenta 50 mil espectadores com tranquilidade. São Paulo, nesse momento, beirava os 2 milhões de habitantes. Era um outro mundo. São Paulo tinha 50 mil carros. A gente se locomovia pela cidade com perfeição. Ainda funcionavam os bondes.

O Brasil não parou por causa da Copa, então?

De jeito nenhum. E veio muita gente de fora. O jogo da final, no Maracanã, que foi uma tristeza, um momento de enorme tristeza… Mas também, sabe?, o jogo começou com a distribuição de postais que mostravam o time brasileiro como se já fosse campeão.

Foi mais vergonhoso…

Não, não foi vergonhoso, porque o Uruguai, além de tudo, tinha um time excelente. O Uruguai tinha um time melhor que o do Brasil. Você não perde por acaso. Você perde porque tem pela frente um time que pelo menos, naquele jogo, jogou melhor. Tinha craques incríveis o time do Uruguai, jogadores excelentes. E o Brasil, como frequentemente acontece, era um time desequilibrado. Na defesa, havia muitas falhas. Tinha atacantes excepcionais e uma defesa… Um meio campo muito bom e uma defesa que deixava a desejar. Bom, não foi culpa do goleiro. O marcador do ponta direita do Uruguai não segurava o homem, chamava-se Bigode, o nosso. O outro chamava Ghiggia e corria bem mais. Então, é por aí. Mas enfim, foi um campeonato tranquilo, sem desordem. 

O senhor estava lá?

Estava. Triste, foi muito triste. O que tinha de gente chorando na rua era impressionante… 

Como foi o clima do estádio nessa hora?

Silêncio. Silêncio aterrador. A alegria de uma pequena torcida uruguaia e silêncio. Porque também os estrangeiros torciam pelo Brasil, os que tinham vindo e tinham ficado muito impressionados. Sobretudo com as duas vitórias por goleada e a exibição de gala, então imagine… Foi triste.

Os torcedores eram pessoas comuns? Os ingressos eram baratos?

Totalmente. Mas olha, o que é impressionante é que (risos) Eu lembro quando eu ia ao Pacaembu, antes quando eu era menino, tinha uns 13, 14 anos, uma ofensa dirigida ao árbitro que eventualmente, na opinião do torcedor, roubava contra o time dele era “tuberculoso!”. Era muito raro ouvir um palavrão no estádio. As pessoas portavam-se de outra maneira. O Brasil virou um país muito vulgar. 

E como foi sua cobertura? Como foi essa experiência?

Foi ótima. O que eu realmente escrevi foram os artigos de preparação. Depois, quando o campeonato se deu eu estava ali como ajudante dessa equipe de jornalistas italianos e fiquei como tal. Quer dizer, era sobretudo, um ajudante, um menino. Ali eu já tinha 16 anos e era um menino esforçado, ajudava no que podia.

Os artigos ainda estão por aí?

Eu não guardo nada. Não tenho uma única coleção de alguma coisa que eu tenha feito. Do mundo nada se leva, é minha convicção granítica.

O senhor torcia para o Brasil?

Nesse tempo, sim. Hoje eu mudei muito minha postura. Me irrita pensar que em 70 os presos da ditadura gritavam gol juntamente com os carcereiros. Essa debilidade moral me irrita sobremaneira, hoje em dia. Naquele tempo, não. Ao contrário: eu torcia, sim, pelo Brasil. É claro, lógico. Mas eu tentava ser frio na análise. Porque, realmente, por exemplo, o Uruguai tinha um grande time. Tinha alguns jogadores ali soberbos. No fundo, melhores que os nossos. Schiaffino era um jogador excepcional, por exemplo. Muita cabeça, muita inteligência, via o jogo. Não era só habilidade individual, era capacidade de mentalizar, de no campo mudar a estratégia. Então tinha alguns jogadores excepcionais.

O que o senhor espera pra essa Copa de 2014?

Parece-me que as coisas não estão bem postas. Primeiro, o roubo é absolutamente inegável. Um roubo deslavado, escancarado, transparente. Está ali, para todo mundo ver, mas ninguém dá a mínima. Também é difícil imaginar que em menos de dois anos e meio as cidades brasileiras, sobretudo São Paulo, Rio, Belo Horizonte, consigam montar um esquema que facilite o deslocamento das pessoas para jogos. Não vejo como… As cidades são completamente desequipadas, são miseráveis em certos pontos. Temo um desastre, do ponto de vista da organização. E como teremos eleições em 2014 me parece que esse desastre não vai facilitar em nada para quem do governo quiser continuar aí. Isso vai acabar repercutindo no resultado eleitoral. Acho que, do ponto de vista técnico, o Brasil não tem time para jogar esse mundial, em relação a alguns times europeus que praticam um futebol, hoje, muito mais eficaz para que os bolsos daquele ou desse se encham. Eu não tenho boas perspectivas. Eu acho que foi uma decisão populista do Lula. Uma decisão errada. E nem se fale das Olimpíadas. Tivemos um exemplo que devia ter sido aproveitado, que devia influenciar nas decisões de hoje, que foi o Panamericano do Rio, que foi um roubo, uma coisa monstruosa. 

E aquelas obras nem vão servir para as Olimpíadas…

Claro. E veja: estava prevista uma despesa de 400 milhões e a despesa chegou a 4 bilhões. É uma coisa…Dolorosa. Se a Copa for um desastre, o mundo vai ser perguntar “por que as Olimpíadas?”. “Temos de repetir aquela tragédia?”. É isso. O de 50 foi apenas triste porque o Brasil esperava a vitória, mas era um Brasil ingênuo e simples. De uma forma, tenro e um pouco patético, né? Mas nada a ver com o Brasil de hoje.

Então a gente pode dizer que a Copa de 50 foi benéfica pro Brasil?

Foi ótima. Pena que muita gente chorou. Isso que foi pena.

E a segurança? Como era feita?

O Brasil era um país ideal. As pessoas viviam numa boa. Não existiam os medos e receios de hoje. 

Então não foi feita uma segurança de guerra como eles estão querendo fazer agora?

Eu tive a sorte e o prazer de assistir a parte final do campeonato europeu realizado em Portugal em julho de 2004. À parte o fato que gosto de Portugal, gosto da comida portuguesa e gosto dos vinhos portugueses, à parte esse detalhe, que não deixa de ter sua importância – foi uma coisa impecável. Uma polícia fantástica, portando-se com fidalguia, com cortesia. Olha, uma coisa impecável! E tinha ali torcidas além de eventualmente muito ruidosas e muito fortes, como a torcida holandesa, por exemplo, que é um pessoal imponente, mas de comportamento impecável. Fiquei muito bem impressionado. Uma organização perfeita. Realmente, parece que para essa ocasião construíram alguns estádios, sobretudo em Lisboa e no Porto, dois estádios muito bonitos e muito modernos. Mas vejam, um detalhe: esse estádio que a Fiat construiu para o time dela, o Juventus de Turin. Eles construíram um estádio moderníssimo, foi inaugurado há menos de um ano. Esse estádio, moderníssimo, a última palavra em termos de estádio, custou um quinto do que vai custar esse estádio de São Paulo (Itaquerão). Um quinto. Imagina? Imagina o que que ali tem de superfaturamento. Mazelas mil. Porcarias variadas e mentiras… É uma floresta de enganos. É isso.

Colaborou: Jéssica Mota